Evangelho segundo Mateus - cap. 10

Nomes dos apóstolos. Suas vocações

(Marcos, 3:13,14; 16-19; Lucas, 6:12-16)

1. Tendo reunido os doze apóstolos, Jesus lhes deu poder sobre os Espíritos impuros, a fim de que os expulsassem e o de curar todas as doenças e enfermidades. 2. Estes são os nomes dos doze apóstolos: o primeiro, Simão, que é chamado Pedro, e André, seu irmão; 3, Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão; Filipe e Bartolomeu: Tomé e Mateus, o Publicano; Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu; 4, Simão Cananeu e Judas Iscariotes, o. que o traiu.

Jesus, para os homens, fora a um monte, a fim de orar, e aí passara toda a noite orando a Deus. Na realidade, porém, Ele voltara, como acontecia todas as vezes que desaparecia das vistas humanas, às regiões superiores de onde preside à marcha da Humanidade terrena, conforme anteriormente ficou explicado.

Quanto à escolha dos apóstolos, presidiu a essa escolha, bem como à distribuição dos nomes que lhes deu o divino Mestre, o caráter de cada um deles e a natureza da missão que a cada um tocaria.

Entre os doze escolhidos estava Judas Iscariotes, que traiu a Jesus. Era um Espírito elevado em inteligência, mas que, pedindo para assistir o Mestre, tomara a si missão superior às suas forças, do que resultou falir.

Na continuação destes estudos, veremos qual foi o seu procedimento ulterior e como se deu a sua reabilitação.

Missão, poder, pobreza e pregação dos apóstolos. Instruções que lhes foram dadas

(Marcos, 3:15; 6:7-13; Lucas, 9:1-6)

5. E enviou esses doze, depois de lhes haver dado as instruções seguintes: Não procureis os Gentios e não entreis nas cidades dos Samaritanos: 6, ide antes em busca das ovelhas perdidas da casa de Israel; 7, ide e pregai, dizendo: O reino dos céus está próximo; 8, curai os doentes, ressuscitai os mortos, limpai os leprosos, expulsai os demônios; dai de graça o que de graça recebestes. 9. Não tenhais ouro, nem prata, nem qualquer moeda nos vossos cintos, 10, nem saco para a viagem, nem duas túnicas, nem sandálias, nem bordão; porquanto, o obreiro merece sustentado. 11. Ao entrardes em qualquer cidade ou aldeia, perguntai onde há um justo e em sua casa permanecei até que partais de novo. 12. Ao penetrardes na casa, saudai-a, dizendo: Que a paz esteja nesta casa. 13. Se a casa for digna disso, vossa paz descerá sobre ela; e, se o não for, a vossa paz voltará para vós. 14. Quando alguém não vos quiser receber e não vos escutar as palavras, ao sairdes da casa ou da cidade onde tal se deu, sacudi a poeira dos vossos pés. 15. Em verdade vos digo: No dia do juízo, menos rigor haverá para com a terra de Sodoma e de Gomorra do que para com essa cidade.

Jesus mandou que os apóstolos primeiramente anunciassem o reino de Deus e curassem os enfermos da sua nação humana, para que mais se apertassem entre eles os laços de família, de fraternidade e de pátria. Recomendou-lhes que nada levassem consigo, pois que tudo deviam confiar dele; que abençoassem os lugares onde fossem bem acolhidos e sacudissem dos pés a poeira, onde fossem repelidos.

Como missionários do Senhor, protegidos por este, nenhuma importância deviam dar às comodidades materiais, cumprindo-lhes estar persuadidos de que o Mestre os seguia, ligando, ou desligando o que eles ligassem, ou desligassem, isto é, sancionando o que fizessem.

Aos apóstolos e discípulos de Jesus cabia espalhar o conhecimento da verdade. O mesmo compete hoje aos espíritas fazer; mas, para que sejam verdadeiros sucessores dos discípulos do Cristo e disponham de autoridade e poder idênticos aos destes, necessário é adquiram a pureza que eles possuíam. Só assim lograrão elevar-se ao Senhor e se acharão em condições de ligar e desligar, na Terra, certos de que ligaram e desligaram igualmente no céu.

Mister, porém, se faz compreendam bem o em que consiste esse ligar e desligar.

Sem dúvida, não consiste em absolver e condenar, porque isto compete unicamente ao Juiz supremo. Consiste, sim, em sentir em si mesmo o encarnado, o que, aliás, só é possível a Espíritos que já atingiram certo grau de elevação moral, o julgamento que será proferido e, pela sinceridade do arrependimento do culpado, a indulgência com que o juiz sentenciará. Tal o sentido em que devemos compreender aquelas palavras, que o orgulho humano falseou, fazendo-as exprimir um ato de arbítrio do homem que, desde então, se arrogou o poder de absolver e condenar, de perdoar ou deixar de perdoar pecados, não como simples declaração, mas como sentença proferida em julgamento. E não é tudo: a cobiça humana as tomou para justificativa de um tráfico vergonhoso o das indulgências.

Os discípulos fiéis de Jesus eram Espíritos elevados, que se não deixavam dominar pelo sentimento da animosidade pessoal, médiuns inspirados que, sob a influência espírita, se achavam em condições de apreciar o valor daqueles a quem se dirigiam. Do conjunto das virtudes que possuíam e que lhes asseguravam a assistência, a inspiração, a proteção, o amparo e o concurso dos Espíritos superiores, é que lhes advinha a infalibilidade naquela apreciação, infalibilidade de que a Igreja Romana pretendeu fazer-se herdeira, mas esquecendo-se de chamar a si a herança de santidade, de virtudes e de elevação moral por eles legada aos que lhes aspirassem à concessão. Ao invés disso, voluntariamente cega, ela se engolfou cada vez mais nas trevas que o orgulho e a confiança em si mesmo geram.

A Igreja, porém, despertará, disseram os Evangelistas MATEUS, MARCOS, LUCAS e JOÃO, numa de suas comunicações insertas na obra A Revelação da Revelação. Despertará e o sonho, em que ainda se compraz. dissipar-se-á ao clarão da nova aurora.

A trombeta do “juízo final” vai retumbar para ela nos quatro cantos do mundo, Os anjos do Senhor aparecerão em sua glória, não do modo por que ela o diz nas suas errôneas interpretações, mas na glória da pureza; e os discípulos de Jesus, reencarnando novamente, para concluir a obra que começaram, virão ainda ligar e desligar na Terra e o Senhor ligará e desligará no céu, pois que tal será deles a missão, e o juízo não se achará inquinado de nulidade.

E com as seguintes palavras terminaram aqueles altos Espíritos a sua bela comunicação explicativa:

“Coragem, filhos da nossa Igreja, da Igreja do Senhor. Aproximam-se os tempos em que os discípulos e o Mestre aparecerão de novo entre vós, em que vossos olhos desvendados verão o Justo nas nuvens do céu em que os anjos os Espíritos purificados descerão à Terra, para mais eficazmente vos estenderem seus braços fraternais.

“Entoai cânticos de alegria; rejubilai, rejubilai: os tempos se aproximam.

Dai de graça o que de graça recebestes. Isto, que Jesus disse a seus discípulos, ensinando-lhes que as coisas de Deus jamais devem constituir objeto de tráfico, de especulação, de meio de existência material, se aplica hoje a todos os espíritas e, particularmente, aos que, médiuns, investidos das faculdades mediúnicas, são chamados a servir de intérpretes aos bons Espíritos e a pregar, inspirados por eles, a lei de Jesus, em espírito e verdade. Pelos seus mensageiros de luz, do mesmo modo que pelos seus Evangelhos, o Cristo lhes repete a eles, assim como a todos os que nos dizemos profitentes da Nova Revelação: Dai de graça, seguindo as pegadas dos Apóstolos, o que de graça haveis recebido, porquanto, para vós, como para eles, tudo vem de Deus e vos é concedido graciosamente, a fim de desempenhardes a vossa tarefa.

Atentando nessas palavras suas, lembremo-nos de que também disse o divino Mestre: No dia do julgamento, menos rigor haverá para com a terra de Sodoma e de Gomorra, do que para com os que recusam a luz que Ele a todos envia. Mais severo, portanto, do que o daqueles povos, que não tiveram socorro algum direto, para sair das trevas em que viviam imersos, será o julgamento dos que, como nós, hoje recebem os ensinos claros e os copiosos auxílios que trazem seus emissários celestes.

Longa será, para os que recusarem esses ensinos e auxílios, ou fizerem mau uso deles, a duração das provas e expiações. Haverá, para os que assim procederem, eternidades de sofrimentos, correspondendo a eternidade de faltas.

É claro que o termo eternidade - se acha aqui empregado em sentido relativo, como correspondente à locução - penas eternas -, para exprimir prolongadas expiações na erraticidade e através de sucessivas reencarnações, em mundos inferiores mesmo à Terra. A única eternidade real, que se possa citar, é Deus.

Prudência. Simplicidade. Desassombro diante dos homens. Assistência e concurso do Espírito Santo

16. Eis que vos envio como ovelhas para o meio de lobos; sede prudentes, pois, como as serpentes e simples como as pombas; 17, mas guardai-vos dos homens, pois que eles vos farão comparecer perante seus juízes e vos flagelarão em suas sinagogas. 18. Sereis levados, por minha causa, à presença dos governadores e dos reis para dardes testemunho de mim diante deles e das nações. 19. E, quando vos fizerem comparecer, não vos cause inquietação o como haveis de falar, nem o que direis; o que houverdes de dizer vos será dado na ocasião. 20. Porquanto, não sois vós quem fala, é o Espírito do vosso Pai quem fala em vós. 21. O irmão dará morte ao irmão e o pai ao filho; os filhos se revoltarão contra os pais e lhes darão a morte; 22, e todos vos odiarão por causa do meu nome; mas aquele que perseverar até ao fim será salvo.

Jesus se referia especialmente às perseguições de toda sorte que, naqueles tempos de ignorância e crueza, se desencadeariam. Contra seus apóstolos e discípulos. Suas palavras, no entanto, foram ditas também com relação aos que, nos tempos atuais, viriam a ser os pregoeiros da Nova Revelação, os porta-vozes do Consolador por ele prometido ao mundo. Elas, pois, alcançam os espíritas que, se bem pouco devam temer as perseguições físicas, se acham, contudo, expostos às perseguições morais, partindo estas, por um lado, dos escribas e fariseus dos nossos dias, e, por outro lado, dos materialistas e dos incrédulos.

Os primeiros, previa-o Jesus, os perseguiriam com seus ódios e injúrias, formulando contra eles as mesmas acusações que contra o Mestre divino formulavam os fariseus e os escribas de outrora: as de serem instrumentos do demônio, charlatães e loucos, Os segundos os perseguiriam com seus sarcasmos, zombarias e insultos. É o que, de fato, se verifica, tanto da parte de uns, como de outros.

Para triunfarmos de tais perseguições, precisamos munir-nos das armas indicadas pelo manso Cordeiro de Deus, quando recomendava a seus discípulos que fossem prudentes, como as serpentes, e simples, como as pombas. Essas armas são o raciocínio, com que devemos enlear os nossos perseguidores, e, sobretudo, a prática das boas obras e o exemplo das virtudes cristãs. Empregadas que sejam essas armas, no cumprimento do dever que nos corre de proclamar a verdade e só a verdade, aqueles para com quem delas usarmos, quando perceberem que os queremos ganhar, não mais poderão fugir ao contágio benéfico da moral prática.

Não vos cause inquietação como haveis de falar, nem o que direis. O que houverdes de dizer vos será dado na ocasião, porquanto não sois vós quem fala, é o Espírito de vosso Pai quem fala em vós. Era preciso que os apóstolos e discípulos, homens saídos do povo, sem educação, sem desembaraço perante as autoridades, confiassem na inspiração que lhes viria do Alto, a fim de poderem avançar no desempenho da missão que lhes cabia. Médiuns que eram, inspirados seriam pelos Espíritos puros, pelos Espíritos superiores e pelos bons Espíritos, a cuja assistência aludia Jesus, ao lhes declarar: “é o Espírito de vosso Pai quem fala em vós”, porquanto a. locução Espírito de Vosso Pai exprime o mesmo que estoutra Espírito Santo, de cuja significação já tratamos, mostrando que indica o conjunto dos Espíritos puros, superiores e bons.

É exatamente o que se dá nos tempos de hoje, em que os bons médiuns veem, sentem, ouvem e falam, traduzindo o que lhes transmitem do plano invisível os enviados do Senhor. Fato é este que confirmamos com o testemunho do que sabemos, do que temos presenciado e mesmo recebido.

Imitemos, pois, os discípulos do divino Mestre: sejamos prudentes e humildes, dóceis aos seus ensinamentos e conquistaremos lugar entre os bons servos do Senhor, segundo o grau de pureza e elevação moral que adquiramos.

Fugir às perseguições. Imitar a Jesus. Predição da revelação nova

23. Quando, pois, vos perseguirem numa cidade, fugi para outra. Em verdade vos digo: Não tereis percorrido todas as cidades de Israel antes que o filho do homem venha. 24. O discípulo não está acima do mestre nem o servo acima de seu senhor. 25. Basta ao discípulo ser como o mestre e ao servo como o senhor. Se ao pai de família chamaram Belzebu, quanto mais a seus domésticos. 26. Não os temais, porém; porquanto nada de oculto há que não venha a ser revelado e nada secreto que não venha a ser conhecido. 27. O que vos digo nas trevas, dizei-o vós às claras, e o que escutais no ouvido, pregai-o de sobre os telhados.

Estas outras palavras de Jesus se referiam, especialmente, às perseguições físicas que se desencadeariam contra os apóstolos e seus continuadores ou imitadores, até a época do advento da liberdade e do livre exame. Por outro lado, atenta a profecia da vinda do filho do homem, aludiam aos tempos da revelação do Espírito da Verdade, à era espírita, que havia de preceder o novo advento do Filho de Deus. Sob todos os demais aspectos, referiam-se àquela época e ao futuro, em todos os séculos.

Devemos imitar àquele que nos conduz. Coloquemo-nos, como servos que somos, à altura moral do nosso senhor e seremos quais o senhor e teremos chegado à culminância da felicidade eterna.

As cidades de Israel, de que fala o texto acima, representam alegoricamente todas as nações da Terra.

Jesus Cristo, diretor, governador e protetor do nosso planeta, a cuja formação presidiu, encarregado do nosso progresso e de nos conduzir à perfeição, recebeu do Pai três missões, ou, melhor, recebeu do Pai uma missão, a ser desempenhada em três fases sucessivas.

A primeira, cumprida há dois mil anos e continuada do plano invisível, e a segunda, iniciada com o advento do Espírito da Verdade, caracterizando a era espírita, consistiram em preparar e promover o progresso físico do nosso planeta e o progresso físico, moral e intelectual da nossa Humanidade e a sua regeneração. A terceira consistirá em completar a execução dessa obra, levando-nos à perfeição.

A primeira Ele a cumpriu, desempenhando entre os homens o seu Messianato e continuou a cumpri-la, na condição de Espírito invisível, com o concurso do Espírito Santo, agindo este sob a sua direção.

A segunda, cujo desempenho se verifica presentemente, abrindo-nos a era da Revelação Espírita, Ele a cumpre por intermédio dos messias, isto é, de enviados especiais e missionários, encarnados e errantes, com o objetivo de conduzir as gerações humanas ao conhecimento da verdade, ensinando-lhes todas as coisas e anunciando-lhes as que hão de vir.

A terceira virá Ele cumpri-la, nos tempos preditos, como Espírito da Verdade, como complemento e sanção da Verdade, para mostrá-la sem véu. Manifestar-se-á então aos homens em todo o seu poder, em toda a majestade da sua pureza perfeita e imaculada, o que se dará quando aqueles estiverem capacitados para o receber e para suportar a verdade na sua integral limpidez.

Quer dizer que Ele nos preparou a infância que hoje nos prepara o desenvolvimento da inteligência, característico da maturidade, e que, dentro de mais algum tempo, virá Ele colher os frutos do seu trabalho e receber na sua glória aqueles de seus discípulos que bem aproveitado hajam de seus ensinamentos.

O discípulo não está acima do mestre. Aos olhos do Senhor, Eterno, iguais são todas as condições sociais; logo, o amo não é mais do que o servo. Maior valor só tem o que pratica, com humildade, a lei de amor.

Mister se faz aprendamos, compreendamos bem e não esqueçamos nunca o princípio fundamental, o objetivo e os efeitos da lei divina e, portanto, natural, da reencarnação e, conseguintemente, que, pela pluralidade das existências e conformemente ao grau de culpabilidade, as expiações e as provações, tendo por fim a purificação e o progresso do Espírito, são apropriadas às faltas cometidas nas encarnações precedentes. Assim, por exemplo, o senhor de ontem, duro e arrogante, que, como tal, delinquiu, falindo em suas provas, será o escravo, ou o servo de amanhã. O sábio de ontem que, materialista e orgulhoso, abusou da sua inteligência, da sua ciência, pervertendo as massas populares, será o cego, o idiota, ou o louco de amanhã. O orador de ontem ou de hoje, que se utilizou da sua eloquência para arrastar homens e povos a erros graves, será o surdo-mudo do dia seguinte. Aquele que ontem teve saúde, força e beleza física e de tudo isso abusou, será amanhã sofredor, doente, raquítico, deserdado da natureza, enfermo; porquanto, se é certo que os corpos procedem dos corpos, não menos certo é que eles se formam apropriados às provações e expiações por que o Espírito haja de passar e que a encarnação será no meio e nas condições adequadas a umas e outras.

É o que explica por que e como, na mesma família, dois filhos, nascidos do mesmo pai e da mesma mãe, se apresentam em condições físicas, morais e intelectuais tão diversas, mesmo tão opostas.

Saiba o homem e jamais o esqueça que o parente de ontem, o mais caro amigo da véspera podem vir a ser e muitas vezes são o estranho, o desconhecido do dia seguinte, que ele poderá a todo instante encontrar, acolher, ou repelir.

Todos, pois, nos devemos considerar irmãos e ajudar-nos mutuamente.

Só temer a Deus, sem cuja vontade nada sucede

28. Não temais os que matam o corpo, mas que não podem matar a alma; temei sim aquele que pode precipitar tanto o corpo como a alma na geena. 29. Não é verdade que dois pássaros se vendem por um asse? Pois, nenhum deles cai na Terra sem ser pela vontade do vosso pai. 30. Até os cabelos das vossas cabeças estão todos contados. 31. Nada, portanto, temais; bem mais valeis do que muitos pássaros.

Apropriando sempre sua linguagem à época e ao estado das inteligências, de modo a impressionar fortemente aqueles a quem falava, Jesus dirigia essas palavras a seus discípulos, para lhes infundir a confiança de que necessitavam, para, livres dos temores que os assaltavam ante as provas e perigos das missões que lhes eram confiadas, as desempenharem com desassombro, afrontando todos os percalços e perigos. Disse-as, igualmente, para inspirar aos homens a confiança sem limites que devem depositar em Deus, que olha com vistas paternais para todas as suas criaturas, sem exceção.

Não temais os que podem matar o corpo, mas que não podem matar a alma.

Jesus, com estas palavras, chama a atenção do homem para a inteligência de que é possuidor e que, filha de Deus, a Deus tem que voltar, na individualidade e na imortalidade.

Quanto à geena, alguns a tomaram por um lugar de suplício, por um inferno, à maneira do Tártaro do paganismo, das crenças gregas e romanas, onde os culpados eram punidos, ou à maneira da cloaca dos Judeus, caverna que o rei Josias mandara construir em Jerusalém, para despejo das imundícies da cidade, bem como dos cadáveres a que negavam sepultura, e onde era mantido um fogo contínuo, para consumir os detritos ali atirados.

Assim o entenderam os que se ativeram à letra. Manifesta, entretanto, é a erronia de semelhante interpretação, pois não se compreende que o Espírito, o princípio inteligente, dotado de individualidade e personalidade, cuja natureza íntima ainda desconhecemos, possa estar sujeito a permanecer indefinidamente num lugar material circunscrito e a ser queimado pelo fogo. Vê-se, portanto, que se trata de uma expressão alegórica, de significação complexa.

A geena, o inferno, é a imensidade onde, quando errante, o Espírito culpado passa pelos sofrimentos ou torturas morais apropriados e proporcionados às faltas que haja cometido. Aquele termo abrange também, na sua significação, as terras primitivas e todos os mundos inferiores, de prova e expiação, onde, pela encarnação ou reencarnação, se veem lançados os Espíritos culpados, e onde o corpo que os reveste por si só também é para eles uma geena, como o são, na erraticidade, aqueles sofrimentos ou torturas morais.

Ora, atendendo a que o corpo, como envoltório do Espírito, não é mais do que o instrumento das provas necessárias à sua purificação e progresso, é claro que a criatura nada deve temer dos que, quando muito, podem apenas destruir esse instrumento, ao passo que deve sempre temer que a parte verdadeiramente importante do seu ser mereça condenada à geena de que acabamos de falar. Assim sendo, evidente se torna que o homem deve preferir a perda do seu corpo, sempre que se encontre em risco de, para o salvar, perder o seu Espírito, isto é, incorrer em falta de que lhe resulte a condenação à geena.

Todos os cabelos das vossas cabeças estão contados. Não devem estas palavras ser tomadas ao pé da letra, pois que, em tal caso, envolveriam a negação do livre-arbítrio do homem e justificariam o entregar-se ele ao fatalismo. Quer dizer que, admitidas no sentido literal, elas sustentariam um erro, porquanto, para ser responsável, como de fato é, preciso se faz que o homem goze de liberdade no seu proceder. Com efeito, ele é livre de praticar um ato qualquer, mas esse ato tem seu princípio de origem e seus corolários regulados pelas leis naturais, imutáveis e eternas, cuja execução e aplicação o aludido ato provoca, tornando o homem sujeito a experimentar as consequências do seu procedimento.

O que as palavras que estamos apreciando querem dizer é que nada sucede que não tenha sido previsto pela infinita sabedoria do Senhor, a qual, entretanto, deixa que os acontecimentos da vida humana sigam seu curso, conformemente ao uso que o homem faz do seu arbítrio.

É igualmente certo, porém, que a bondade infinita de Deus vela incessantemente pelas suas criaturas e faz sentir sobre estas a sua influência, por intermédio dos Espíritos bons, auxiliando-as em se forrarem aos efeitos funestos do mau uso do livre-arbítrio de que Ele as dotou.

Assim, pois, nem um só ato nosso, nem um só dos nossos mais secretos pensamentos escapam ao Senhor, que nunca abandona a qualquer de seus filhos, não esquece nenhuma de suas ações boas e não deixa impune nenhuma ação má de modo que, chegada que seja a hora da prestação de contas, cada um encontrará, no livro da vida, a sua página escriturada com exatidão.

Jesus veio trazer fogo à Terra. Não veio trazer a paz e sim o gládio, a divisão, a fim de que chegue a ser conhecido e até que o seja

32. Aquele que me confessar diante dos homens, também eu o confessarei diante de meu pai, que está nos céus. 33. Aquele que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante de meu pai que está nos céus. 34. Não penseis que vim trazer paz à Terra; não vim trazer a paz e sim o gládio; 35, porquanto, vim separar de seu pai o homem, de sua mãe a filha e de sua sogra a nora; 36, e o homem terá por Inimigos os de sua própria família.

Jesus é a personificação da moral sublime que Ele trouxe ao mundo, para a nossa salvação. Praticar essa moral é estar no carreiro por Ele traçado, é confessá-lo. Aquele que, ao contrário, se embrenha pelos caminhos tortuosos, que são os do orgulho, do egoísmo, da hipocrisia, dos vícios e das paixões que degradam a Humanidade, esse se afasta da senda da verdade, renega o bom Pastor, repudiando-lhe a lei. Ora, a esse o bom Pastor não o pode receber na categoria dos Espíritos bons, nem apresentá-lo ao Rei dos reis, enquanto não dê testemunho dele, praticando a sua moral.

Jesus veio pôr fogo à Terra, com o trazer ao mundo uma doutrina que saparia os abusos, os preconceitos e as tradições sustentados pelos escribas, fariseus e sacerdotes orgulhosos e cúpidos. E esse fogo Ele o queria bem aceso, para que ao seu derredor se grupassem os homens, a fim de aprenderem, praticarem e espalharem pelo exemplo os ensinamentos cuja difusão constituía o objeto da sua missão, que seria sancionada com o sacrifício do Gólgota, destinado a fazê-la frutificar e preparar o advento da nova revelação.

Com efeito, trazendo aos homens, Espíritos atrasados, esse progresso, Ele veio dar causa a lutas, no seio mesmo das famílias, lutas a que ainda hoje presenciamos, entre os que desejariam enveredar pela nova estrada e os preguiçosos ou obstinados, que quereriam permanecer estacionários. Todavia, seu objetivo era santo, pois que consistia em substituir a fé cega e falsa, pela observância da lei de amor, pela prática da caridade e da fraternidade, que serão os alicerces da paz universal, ainda muito distante, é certo, mas que se 193 há de realizar, porque essa é a vontade do nosso Pai celestial.

O Espiritismo é Jesus presente de novo entre nós, é Ele ainda a influir sobre nós, impelindo-nos para o progresso e a dar lugar a novas lutas, que somente cessarão quando Ele próprio vier completar a sua obra pela separação do joio e do bom grão, isto é, pela elevação dos bons à posse do reino que lhes está preparado e pela repulsão dos rebeldes e cegos voluntários para as terras em que possam decidir-se a encetar a obra da sua purificação. Só então a sua missão se tornará de paz. Depois de ter sido até aí rei da justiça, Ele será o rei da paz.

Trabalhai, pois, espíritas, com ardor, diz-nos o Senhor pela boca de seus emissários, por arrancar os parasitas que abafam a sua vinda; esclarecei as inteligências obscuras, sustentai os fracos, ajudai os vossos irmãos a chegarem ao ponto em que vos achais, a fim de que todos, vendo a luz, ela a todos igualmente ilumine.

Amor da família. Cumprimento do dever acima de todas as coisas. Paciência e resignação nas provações terrenas

37. Aquele que ama a seu Pai ou a sua mãe mais do que me ama, não é digno de mim; e aquele que ama a seu filho ou a sua filha mais do que me ama, de mim não é digno. 38. Aquele que não toma sua cruz e me segue não é digno de mim. 39. Aquele que acha sua vida a perderá e aquele que perder a vida por minha causa a encontrará.

Os santos Evangelhos são o código, ou a tábua dos preceitos e sentenças do Divino Mestre. Para bem se conhecerem esses preceitos e sentenças, necessário se faz estudá-los, interpretando-os, de modo a lhes alcançar o sentido profundo. Para isso, não basta ter deles a compreensão literal ou gramatical; é preciso pesquisar-lhes os fundamentos, apreciá-los em conjunto, buscar-lhes o espírito.

Jesus veio dar cumprimento ao Decálogo e confirmar as profecias que lhe eram relativas. Veio congraçar a Humanidade, fazendo-lhe ver que os seus membros devem unir-se pela amizade, pelo afeto, pelo carinho, que produzem a concórdia, pelo amor paterno e filial. Veio, enfim, mostrar-lhe que a vida real é a do Espírito liberto da escravidão da matéria, isto é, purificado, e que o Espírito só se depura na adversidade, que é o crisol das grandes obras.

Ele, portanto, jamais poderia ter dito o que quer que importasse em condenação do amor da família. O que, com relação a esta, como a respeito de tudo mais, condenou foi o excesso, que em todas as coisas prejudica o ser humano e o transvia. É dever do homem consagrar-se à família e preencher para com esta todas as obrigações que lhe impõem as leis divinas, cuja síntese é a lei do amor.

Não deve, porém, fazer do cumprimento dessas obrigações um culto. Não lhe deve sacrificar o amor ao próximo, nem os interesses superiores e a felicidade real de seus outros irmãos em Deus, pois que isso seria. egoísmo e o egoísmo contravém aos ensinos do Filho de Deus.

Assim, aquele que, para agradar a seu pai ou a sua mãe, praticar um ato contrário a esses ensinos não é digno do Mestre, não pode ser seu discípulo. Essa a lição constante dos versículos acima, para cuja compreensão cumpre não constituam obstáculo os termos odiar e aborrecer, porquanto nenhum desses vocábulos traduz com exatidão a palavra correspondente no texto hebraico, a qual não tem a significação violenta daquelas outras e carece de equivalente nos modernos idiomas. Além disso, importa não esqueçamos que Jesus frequentemente usava de expressões demasiado fortes, para impressionar os Hebreus de então, profundamente materializados.

Quanto ao ser a vida do Espírito a única real e, pois, a única digna de apreço e valiosa, a prova temo-la em que, falando a seus discípulos, o Senhor lhes recomendava que nenhuma importância dessem à vida do corpo, sempre que lhes fosse mister sacrificá-la, a bem daquela outra.

A cruz a que aludia, quando sentenciava que quem não tomar a sua para o seguir não pode ser seu discípulo, é a das expiações e das provas necessárias e inevitáveis, por isso que mediante elas somente é que o Espírito se depura, quando as aceita com humildade, resignação e, até, reconhecimento, conforme o exemplificou Ele que, aliás, era justo, inocente e imaculado, que, por conseguinte, nada tinha que expiar, nem que o tornasse merecedor de qualquer provação.

Dizendo que “aquele que acha a sua vida a perderá e que aquele que perde a vida por sua causa a achará”, o Divino Mestre se dirigia especialmente a seus discípulos, para lhes significar que, dentre eles, o que falisse à sua missão, para conservar a vida humana, renunciaria ao acabamento da obra, comprometendo, assim, gravemente, a sua vida espiritual; que, ao contrário, aquele que não recuasse diante da morte e a sofresse, para levar a cabo a obra, desempenhando a sua missão, teria a vida eterna.

Tais palavras, entretanto, podem e devem considerar-se como dirigidas, no mesmo sentido, aos que posteriormente, em todas as épocas, viessem ou venham a constituir-se continuadores da alta missão em que se investiram os apóstolos e os discípulos imediatos do Cristo.

Aquele que cumpre a lei de amor e de caridade terá sua recompensa

40. Aquele que vos recebe a mim me recebe; e aquele que me recebe recebe o que me enviou. 41. Aquele que recebe o profeta como profeta receberá a recompensa do profeta; e aquele que recebe o justo na qualidade de justo receberá a recompensa do justo. 42. E todo aquele que der de beber a um destes pequeninos, só por ser dos meus discípulos, um copo d’água fria, em verdade vos digo, não perderá sua recompensa.

O sentido e o alcance destas palavras, dirigidas por Jesus, como ensino, aos homens de então e do futuro, se podem resumir da forma seguinte: Aquele que deposita fé em Deus e procede tendo em vista a vida eterna, tendo em vista cumprir a lei de amor e de caridade, obterá a recompensa reservada ao fiel.

As palavras do versículo 40 eram endereçadas aos apóstolos: Aquele que recebe os vossos ensinamentos recebe os meus e quem recebe os meus ensinamentos recebe os daquele que me enviou.

As do versículo 41 são simbólicas: Aquele que proceder com louvável intuito será recompensado pela sua intenção.

Quanto as do 42, podem explicar-se como encerrando, para todos os homens, a seguinte lição: O bem que fizerdes vos será contado, por menos importância que tenha o vosso ato e seja qual for a dos irmãos que aliviardes ou socorrerdes.

Elucidações evangélicas. FEB (e-book).

 


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