O Dicionário Médico Enciclopédico Taber informa, na página 1.103 da
17ª edição, que “memória é registro, retenção e recordação mental da
experiência, conhecimento, ideias, sensações e pensamentos passados”.
Apresenta, em seguida, significados de vários tipos de memória humana. A
Neurobiologia e a Psicologia Cognitiva apresentam conceitos semelhantes,
destacando que não existe uma memória, mas várias. Médicos, biólogos e psicólogos
concordam que a memória é a base do conhecimento, independentemente da forma
com que se apresente. Deve, pois, ser estimulada e desenvolvida para que
experiências humanas se acumulem e sejam capazes de imprimir significado à vida
cotidiana.
As pesquisas científicas
mais significativas são recentes (segunda metade do século vinte), a despeito
de existirem informações que se reportam a Sócrates e Aristóteles. Os estudos
das diferentes memórias são complexos e envolvem uma gama de conhecimentos
especializados, sobretudo investigações sobre fatores neurofisiológicos,
bioquímicos, moleculares e emocionais. Importa considerar que a memória não se
restringe a um “local” ou “setor” em nosso cérebro, onde são guardados os
registros do mundo e de nós próprios. Por não ser também uma função única de
retenção de dados informativos, evita-se hoje falar em memória, no sentido
singular, mas em vários sistemas ou tipos de memórias, que abarcam mecanismos,
tipos e formas relacionados a diferentes funções mentais.
A memória humana está,
atualmente, classificada em dois tipos, segundo os critérios de duração,
funções cerebrais envolvidas, grau de retenção, conteúdos e processamentos
neurológicos: memória declarativa e
memória de procedimentos.
A primeira, relacionada à capacidade de verbalizar fatos e eventos, depende do esforço de evocação ou de recordação. Está subdividida em:
a)
memória imediata, assim denominada porque tem duração de
segundos, ou menos, sendo apagada em seguida. Exemplo: capacidade de repetir
mentalmente um número antes de uma discagem telefônica;
b)
memória de curto prazo ou, segundo a Psicologia Cognitiva,memória de trabalho. A
duração é de algumas horas, deixando traços na mente. Está vinculada às
emoções, às sensações e aos hábitos. O cérebro registra apenas o que precisa
ser lembrado e utilizado. Exemplos: lembranças sobre alimentos ingeridos no
almoço ou de atividades realizadas no dia anterior;
c)
memória de longo prazo. Esta memória abrange períodos de tempo
maiores, meses ou anos. Exemplo: aprendizado de uma nova língua.
O segundo tipo de
classificação da memória – a de procedimentos ou não declarativa – diz respeito
à capacidade mental de reter e processar informações que não podem ser
verbalizadas. Exemplos: tocar um instrumento musical, andar de bicicleta,
executar uma atividade manual (bordar ou costurar, pintar uma parede) ou
procedimento técnico (fazer incisão cirúrgica). Trata-se de uma memória mais
permanente, difícil de ser perdida.
Existem outros tipos de
memórias que podem ser inseridos nessa classificação, como as memórias implícita e explícita, comumente
identificadas nas abordagens cognitivistas. As duas estão relacionadas à
capacidade mental de “lembrar de informações armazenadas em diferentes tipos de
memórias, como a declarativa (fatos) e procedural (movimentos)”. Há também as
memórias semântica e episódica. A semântica refere-se à retenção de informações
solidamente aprendidas, tais como conceitos, habilidades, fatos e raciocínios:
“Seria uma memória de domínio, expertise, de informações utilizadas de forma
adequada e frequentemente (por exemplo, gramática, matemática, vocabulários,
fatos) associadas a abstrações e linguagem”. A memória episódica está associada
à lembrança de eventos pontuais que especificam quando, onde e como aconteceram
em nossa vida. Depende, pois, do contexto espaço-temporal.
Doenças físicas e psíquicas,
traumas psicológicos ou provações previstas no planejamento reencarnatório
podem afetar os diferentes tipos de memória. As patologias neurológicas (AVC,
Doença de Alzheimer, amnésias, etc.), em especial, têm servido de referência
para estudos avançados. O padrão comum, no que diz respeito aos dispositivos
reencarnatórios em vigência no Planeta, é o de não se recordar de experiências
pregressas vividas em outras existências ou no plano espiritual. Recordações
espontâneas de vidas passadas ainda representam exceção à regra.
O grande desafio apresentado
às ciências biomédicas é o de precisar onde e como são processadas as
informações que caracterizam as memórias: no cérebro ou na mente? Os cientistas
concordam que os processos de memórias ocorrem nos lobos cerebrais, sendo que
os lobos frontais têm ação específica porque fazem conexões com outras
estruturas do cérebro, como o hipocampo e a amídala neural. Essa concordância
não se estabeleceu, porém, em bases pacíficas, provocando uma polêmica que
parece não ter fim. Há cientistas que defendem a ideia de que o cérebro serve
apenas de suporte para a manifestação da mente; outros argumentam que o cérebro
em atividade “cria” a mente.
A Doutrina Espírita não tem
dúvidas a esse respeito. Como espíritas, sabemos que o comando de todos os
processos intelectivos e morais cabe ao Espírito. A mente é de natureza
extrafísica e dirige todas as funções fisiológicas, sobretudo as neurológicas,
com auxílio do perispírito. O perispírito serve de intermediário entre o Espírito
e o corpo, transmitindo sensações e percepções. “[...] Relativamente às que vêm
do exterior, pode-se dizer que o corpo recebe a impressão; o perispírito a
transmite e o Espírito, que é o ser sensível e inteligente, a recebe. Quando o
ato é de iniciativa do Espírito, pode dizer-se que o Espírito quer, o
perispírito transmite e o corpo executa”.
O assunto, entretanto, é bem
mais complexo do que imaginamos. O Espírito André Luiz esclarece que o acesso a
memórias é feito por meio de ações apropriadas no cérebro (físico e/ou
perispiritual), conforme demonstra a experiência vivida por dona Laura e o
esposo Ricardo, personagens de Nosso Lar:
“[...] Depois de longo período de meditação [...] fomos submetidos a
determinadas operações psíquicas, a fim de penetrar os domínios emocionais das
recordações. Os espíritos técnicos no assunto nos aplicaram passes no cérebro,
despertando certas energias adormecidas... [...]”.
Os lobos frontais do
cérebro, objeto de importantes estudos atuais, desenvolvidos pela Ciência, são
especialmente manipulados quando se deseja acessar arquivos de memórias. No Mundo Maior, há o relato da ação de
Cipriana no cérebro de Ismênia, visando a liberação de memórias específicas
(memória episódica): “[...] nossa diretora, cingindo-lhe os lobos frontais com
as mãos, a envolvê-la em abundantes irradiações magnéticas, insistia, meiga,
provocando a emersão da memória em seus mais importantes centros perispiríticos
[...]”.
André Luiz, na tentativa de
esclarecer a relação que existe entre o cérebro e a mente do Espírito, revela a
importância de ambos nos processos de memórias e do psiquismo humano:
“Erguendo-se sobre os vários
departamentos do corpo [...] o cérebro, com as células especiais que lhe são
próprias, detém verdadeiras usinas microscópicas [...].
É aí, nesse microcosmo
prodigioso que a matéria mental, ao impulso do Espírito, é manipulada e
expressa [...].
Nas reentrâncias de
semelhante cabine, de cuja intimidade a criatura expede as ordens e decisões
[...] temos, no córtex, os centros da visão, da audição, do tato, do olfato, do
gosto, da palavra falada e escrita, da memória [destacamos] e de múltiplos
automatismos, em conexão com os mecanismos da mente, configurando os poderes da
memória profunda, do discernimento, da análise, da reflexão, do entendimento e
dos multiformes valores morais de que o ser se enriquece no trabalho da própria
sublimação”.
Fonte: Reformador, ano 124,
nº 2.132, novembro 2006, por Marta Antunes Moura.
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