“Amai-vos
uns aos outros, eis toda a lei, lei divina, mediante a qual governa Deus os
mundos. O amor é a lei de atração para os seres vivos e organizados. A atração
é a lei de amor para a matéria inorgânica.” SÃO VICENTE DE PAULO (O Livro dos
Espíritos, questão 888-a.)
Em sua magistral obra, Missionários da Luz, 1 André
Luiz aborda questões de alta relevância, evidenciando a ação da Espiritualidade
Superior em favor dos que ainda estão no plano físico. Através da sábia e
amorosa palavra do Instrutor Alexandre, ficamos cientes de aspectos
verdadeiramente surpreendentes e de superior significado em relação às
luminosas leis cósmicas que regem a vida universal.
Neste artigo vamos ressaltar
um trecho que, ao longo dos anos, temos lido com imensa admiração por sua
beleza, profundidade e rara elevação espiritual.
Trata-se das elucidações de
Alexandre atinentes ao sexo. Vamos nos prender nestes comentários ao trecho que
se inicia após Adelino perdoar ao Espírito Segismundo, do qual seria pai quando
do retorno deste à Terra. (Cap. 13, p.127.)
Antes de conceder o perdão
àquele que em precedente existência lhe aniquilara a vida física, Adelino, com
o pensamento envenenado pelo ódio, destruía os genes responsáveis pela
hereditariedade, pois, segundo Alexandre, a sua mente perturbada emitia raios
magnéticos de alto poder destrutivo, o que impedia a fecundação. Foi, então,
providenciado o encontro de Adelino, em desdobramento durante o sono físico,
com Segismundo, para que se harmonizassem. Tendo Adelino concedido o perdão
sincero, as vibrações de ódio desapareceram.
A partir deste trecho inicia-se uma admirável preleção em torno do amor. Alexandre assevera:
“(...) E quando ensinamos, em
toda parte, a necessidade da prática do amor, não procedemos obedientes a meros
princípios de essência religiosa, mas atendendo a imperativos reais da própria
vida.”
O nobre orientador, em
seguida, tece várias considerações em torno do sexo, que tem sido tão aviltado
entre os encarnados, afirmando que “muitas inteligências admiráveis preferem
demorar em baixas correntes evolutivas”.
Menciona que o amor, nessas
circunstâncias, é como se fosse o ouro perdido em vasta ganga. Diferente,
explica, é a união sexual entre criaturas que já se encaminham, de fato, a
planos mais elevados.
“(...) Traduz a permuta
sublime das energias perispirituais, simbolizando alimento divino para a
inteligência e para o coração e força criadora não somente de filhos carnais,
mas também de obras e realizações generosas da alma para a vida eterna.”
Alexandre reporta-se aos
objetivos sagrados da Criação e não exclusivamente à procriação, pois esta pode
ser decorrente do amor, sem ser a finalidade exclusiva dos relacionamentos
humanos.
Vale lembrar aqui, antes de
prosseguirmos com os conceitos do livro acima citado, a palavra de André Luiz,
em outra obra de sua autoria, Evolução em
dois Mundos, que corrobora e amplia as revelações da Espiritualidade
Superior:
“A sede real do sexo não se
acha, dessa maneira, no veículo físico, mas sim na entidade espiritual, em
estrutura complexa.
E o instinto sexual, por
isso mesmo, traduzindo amor em expansão no tempo, vem das profundezas, para nós
ainda inabordáveis, da vida, quando agrupamentos de mônadas celestes se
reuniram magneticamente umas às outras para a obra multimilenária da evolução,
ao modo de núcleos e eletrões na tessitura dos átomos, ou dos sóis e dos mundos
nos sistemas macrocósmicos da Imensidade.”2
O abastardamento do sexo tem
sido a causa de muitos tormentos e aflições para as criaturas que, em sua
maioria, buscam, a cada dia, o prazer fugaz que o corpo físico proporciona, sem
atentarem para o significado mais profundo destas relações.
Constatamos, com satisfação,
que o Espiritismo está, uma vez mais, na vanguarda dessas ideias elevadas e renovadoras,
mas sabemos que transcorrerá muito tempo até que a Humanidade enxergue e
absorva essa nova realidade, que só o amadurecimento espiritual propiciará. Com
muita propriedade, Joanna de Ângelis elucida:
“Agitando-se para conseguir
a felicidade, o homem tecnicista defrontou o prazer, e, perturbado pelo
desbordar das sensações em clima febril quão desesperador, coloca a mente no
estudo das estrelas e os sentimentos nos estertores do instinto.”3
Retomando nossos comentários
vemos que, no âmago dessa avançada perspectiva, Alexandre chama a atenção para
a abordagem que irá apresentar, dizendo que se deve entender o sexo como
qualidade positiva ou passiva, emissora ou receptora da alma e que à medida que
o ser evolui ocorre o mesmo com a manifestação sexual.
“(...) Enquanto nos
mergulhamos no charco das vibrações pesadas e venenosas, experimentamos, nesse
domínio, simplesmente sensações. À medida que nos dirigimos a caminho do
equilíbrio, colhemos material de experiências proveitosas, oportunidades de
retificação, força, conhecimento, alegria e poder. Em nos harmonizando com as
leis supremas, encontramos a iluminação e a revelação, enquanto os Espíritos
Superiores colhem os valores da Divindade. Substituamos as palavras ‘união
sexual’ por ‘união de qualidades’ e observaremos que toda a vida universal se
baseia nesse divino fenômeno, cuja causa reside no próprio Deus, Pai Criador de
todas as coisas e de todos os seres.”1
Isto quer dizer que, se nos
mantivermos presos a propósitos inferiores, só teremos sensações periféricas,
que apenas atendem aos sentidos físicos e não plenificam a alma. Todavia,
quando se busca o equilíbrio a situação se modifica, iniciando-se uma nova
etapa através de processos retificadores, enquanto amealhamos experiências
enriquecedoras, que se traduzem em novas forças, novos conhecimentos, os quais,
por certo, satisfazem o nosso mundo interior e nos facultam trabalhar as nossas
potencialidades.
Avançando mais na jornada
evolutiva, ao nos harmonizarmos com as leis divinas encontramos a iluminação e
a revelação, conquistas decisivas para o Espírito imortal. Os Espíritos Puros,
conforme a conceituação de Kardec, colhem os valores da Divindade.
A escalada humana está
primorosamente retratada na palavra de nobre entidade espiritual, conforme registra
André Luiz, no livro No Mundo Maior:
“(...) Com bases nas
experiências sexuais, a tribo converteu-se na família, a taba metamorfoseou-se no
lar, a defesa armada cedeu ao direito, a floresta selvagem transformou-se na
lavoura pacífica, a heterogeneidade dos impulsos nas imensas extensões de
território abriu campo à comunhão dos ideais na pátria progressista, a barbárie
ergueu-se em civilização, os processos rudes da atração transubstanciaram-se
nos anseios artísticos que dignificam o ser, o grito elevou-se ao cântico: e,
estimulada pela força criadora do sexo, a coletividade humana avança,
vagarosamente embora, para o supremo alvo do divino amor.”4
Anotemos agora a bela
argumentação de Alexandre, na continuidade de suas explicações, quando passa a
desdobrar a questão da “união de qualidades”:
“– Essa ‘união de
qualidades’, entre os astros, chama-se magnetismo planetário da atração, entre
as almas denomina-se amor, entre os elementos químicos é conhecida por
afinidade. Não seria possível, portanto, reduzir semelhante fundamento da vida
universal, circunscrevendo-o a meras atividades de certos órgãos do aparelho
físico.
A paternidade ou a
maternidade são tarefas sublimes; não representam, porém, os únicos serviços
divinos, no setor da Criação infinita. O apóstolo que produz no domínio da
Virtude, da Ciência ou da Arte vale-se dos mesmos princípios de troca, apenas
com a diferença de planos, porque, para ele, a permuta de qualidades se
verifica em esferas superiores. Há fecundações físicas e fecundações psíquicas.
As primeiras exigem as disposições da forma, a fim de atenderem a exigências da
vida, em caráter provisório, no campo das experiências necessárias. As
segundas, porém, prescindem do cárcere de limitações e efetuam-se nos
resplandecentes domínios da alma, em processo maravilhoso de eternidade. Quando
nos referimos ao amor do Onipotente, quando sentimos sede da Divindade, nossos
espíritos não procuram outra coisa senão a troca de qualidades com as esferas
sublimes do Universo, sequiosos do Eterno Princípio Fecundante...”1
Ante as preciosas e
profundas elucidações do Instrutor, André menciona que estas abriram para ele
novos horizontes ao pensamento. É inegável que tais revelações descortinam,
também para nós, perspectivas tão vastas, que trazem, ao mesmo tempo, uma
sensação feliz de imortalidade e de liberdade.
Ampliando essas importantes
instruções, Alexandre remete-nos à Criação universal:
“– Não há criação sem
fecundação. As formas físicas descendem das uniões físicas. As construções
espirituais procedem das uniões espirituais. A obra do Universo é filha de
Deus.”1
A mesma ideia podemos
observar em A Gênese, nos
esclarecimentos do Espírito Galileu, através do médium Camille Flammarion:
“(...) O poder criador nunca
se contradiz e, como todas as coisas, o Universo nasceu criança.”5
A ilustre escritora espírita
Marlene Nobre, em seu notável livro O
Clamor da Vida6 menciona que a expressão o Universo nasceu
criança “é utilizada, hoje, com frequência, pelos cientistas de nosso tempo,
referindo-se aos universos bebês, os que estão nos seus primórdios, como, um
dia, há cerca de 15 bilhões de anos, o nosso já o foi”.
A partir desse encadeamento
de raciocínio compreendemos, com mais profundidade e beleza, o que André Luiz
descortina para nós, em Evolução em dois Mundos. É o que ele denomina de
“Co-criação em plano maior”.2
Aprendamos, pois:
“Nessa substância original,
ao influxo do próprio Senhor Supremo, operam as Inteligências Divinas a Ele
agregadas, em processo de comunhão indescritível, os grandes Devas da teologia
hindu ou os Arcanjos da interpretação de variados templos religiosos, extraindo
desse hálito espiritual os celeiros da energia com que constroem os sistemas da
Imensidade, em serviço de Co-criação em plano maior, de conformidade com os
desígnios do Todo-Misericordioso, que faz deles agentes orientadores da Criação
Excelsa.
Essas Inteligências
Gloriosas tomam o plasma divino e convertem-no em habitações cósmicas, de
múltiplas expressões, radiantes ou obscuras, gaseificadas ou sólidas,
obedecendo a leis predeterminadas, quais moradias que perduram por milênios e
milênios, mas que se desgastam e se transformam, por fim, de vez que o Espírito
Criado pode formar ou co- -criar, mas só Deus é o Criador de Toda a
Eternidade.”2
Paramos por aqui, para não
nos alongarmos em demasia, convidando aos amáveis leitores a buscar mais
detalhes nas obras mencionadas.
Fecundações psíquicas e
fecundações físicas – eis a saga da Humanidade.
Nos primórdios dos tempos, o
psiquismo do Cristo, em processo sublime, fecundou o planeta em formação e a
Terra surgiu, tomando lugar no maravilhoso concerto dos orbes que integram a
nossa galáxia.
André Luiz registra:
“(...) Jesus não partilhou o
matrimônio normal na Terra, e, no entanto, a família de seu coração cresce com
os dias; suas forças não geraram formas passageiras nos círculos carnais, e,
contudo, suas energias fecundantes renovaram a civilização, transformando-lhe o
curso, prosseguindo, até hoje, no aprimoramento do mundo.”4
Jesus, o Governador da
Terra, o Divino Semeador, lançou sementes fecundadas pelo seu amor para que o
Planeta se tornasse habitável. Arroteou a leira imensa, adubando-a no
transcurso dos bilhões de anos até que se tornasse apropriada à vida. E esta
surgiu em surpreendentes transformações até atingir as condições de
habitabilidade e assim receber os seres inteligentes da Criação. Enviou outros
semeadores – os profetas –, que abriram caminhos para a realidade maior da
existência terrena.
Desbravadores, filósofos,
cientistas, humanistas, religiosos, inventores, prodigalizaram, sob a sua
misericordiosa proteção, novas ideias, e procuraram, em todos os tempos,
despertar os seres humanos. A ação de cada um é como o fermento a levedar a massa.
De época em época surgem
novos semeadores, as sementes se renovam, as ideias fermentam, ensejando o
progresso material e espiritual.
Na esteira do progresso,
determinismo da Lei Divina, Jesus veio à Terra e semeou nas leiras dos corações
os seus ensinamentos, que a parábola do semeador expressa claramente. Ao se
despedir, prometeu que enviaria mais tarde o Consolador, cuja semente já estava
lançada e fecundada. No tempo próprio medrou e, com o advento do Espiritismo,
tornou- -se árvore portentosa, oferecendo abrigo e frutos opimos aos viandantes
cansados à procura de paz, aos angustiados e sofredores, enfim, aos que
procuram a plenitude da vida.
Vivemos instantes decisivos.
Temos a responsabilidade de ser também semeadores, trabalhando com amor e
abnegação para que a tarefa da ensementação seja fecunda, alcançando assim “os
resplandecentes domínios da alma, em processo maravilhoso de eternidade”.
Referências
Bibliográficas:
1 XAVIER, Francisco C.
Missionários da Luz, pelo Espírito André Luiz. 5. ed. Rio de Janeiro: FEB,
1956, cap. 13.
2 _____. Evolução em dois
Mundos, pelo Espírito André Luiz. 1. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1959, cap. 18,
item “Origem do instinto sexual”; cap. 1, item “Co-criação em plano maior”.
3 FRANCO, Divaldo. Após a
Tempestade, pelo Espírito Joanna de Ângelis. Salvador (BA): LEAL, 1974.
4 XAVIER, Francisco C. No
Mundo Maior, pelo Espírito André Luiz. 5. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1970, cap.
11.
5 KARDEC, Allan. A Gênese.
41. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002, cap. VI, item 15.
6 NOBRE, Marlene. O Clamor
da Vida. São Paulo: FE, 2000.
Fonte: Reformador, ano 124,
nº 2.123, fevereiro 2006, por Suely Caldas Schubert (e-book).
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