Evangelho segundo Mateus - cap. 13

Parábola do semeador. Explicação dessa parábola

(Marcos, 4:1-20,25; Lucas, 8:1-15,18; 10:23,24)

1. Naquele dia, saindo Jesus de casa foi sentar-se à beira do mar. 2. E grande multidão se lhe reuniu em torno. Entrando então para uma barca, ele ai se sentou, ficando a multidão na praia. 3. E começou a dizer muitas coisas por parábolas, falando assim: Eis que o semeador saiu a semear. 4. Enquanto semeava, uma parte das sementes caiu à margem do caminho, os pássaros do céu vieram e as comeram. 5. Uma outra parte caiu em terreno pedregoso, onde muito pouca terra havia; as sementes germinaram prontamente, pois que a terra ali não tinha profundidade. 6. O Sol, nascendo, crestou-as; e, como não tinham raízes, secaram. 7. Uma outra caiu entre os espinheiros que cresceram e a abafaram. 8. Uma outra finalmente caiu em terra boa e as sementes frutificaram, produzindo aqui cem, ali sessenta, acolá trinta por um. 9. Quem tiver ouvido de ouvir, ouça. 10. Os discípulos, aproximando-se, lhe perguntaram: Por que lhes falas por parábolas? 11. Respondeu Ele: É porque a vós vos é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas a eles não. 12. Àquele que tem, mais ainda se dará, ficando ele na abundância; mas ao que não tem se tirará até o que tem. 13. Eis por que lhes falo por parábolas; é que, vendo, eles não veem, ouvindo, não ouvem, nem compreendem. 14. Neles se cumpre esta profecia do profeta Isaías: “Escutareis com os ouvidos e não entendereis, olhareis com os olhos e não vereis. 15. O coração deste povo se embotou, os ouvidos se lhes tornaram surdos e os olhos se lhes fecharam, para que não vejam com os olhos, não ouçam com os ouvidos, não compreendam com os corações e, não se convertendo, não sejam curados por mim”. 16. Felizes os vossos olhos porque veem, os vossos ouvidos, porque escutam; 17, porquanto, em verdade vos digo que muitos profetas e justos desejaram ver o que vedes e não viram, ouvir o que ouvis e não ouviram. 18. Escutai, pois, a parábola do semeador. 19. Do coração de todo aquele que escuta a palavra do reino e não a compreende vem o mau Espírito tirar o que nele foi semeado; é a semente que caiu ao longo do caminho. 20. A que caiu em terreno pedregoso representa aquele que ouve a palavra e a recebe com mostras de alegria no primeiro momento; 21, mas, não tendo ela raízes no seu coração, só por pouco tempo subsiste; sobrevindo as tribulações e perseguições por motivo da palavra, ele logo se escandaliza. 22. A semente lançada entre os representa espinheiros aquele que ouve a palavra, mas em quem os cuidados do século e a ilusão das riquezas a abafam e impedem de produzir frutos. 23. A que foi semeada em terra boa indica aquele que escuta a palavra e a compreende, aquele em quem ela frutifica, produzindo cada grão cem, sessenta ou trinta.

As explicações que Jesus deu da parábola do semeador era a que convinha aos Espíritos encarnados naquela época e a de que necessitavam os apóstolos, a fim de desempenharem suas missões. As mesmas explicações bastam para que a compreendamos.

A razão por que Jesus preferentemente falava por parábolas era evitar que muitos se enchessem de maiores responsabilidades, que lhes acarretariam grandes sofrimentos no futuro: aqueles que, capazes embora de receber sem véu a sua palavra, não se lhe submeteriam. Por outro lado, para os que estivessem dispostos a avançar, a caminhar para diante, nenhum inconveniente havia em que os ensinos lhes fossem ministrados veladamente, visto que se esforçariam, como o fizeram os discípulos, por lhes descobrir o sentido oculto e o apreenderiam. Os que, ao contrário, assim não procedessem, por considerarem pesada demais para suas naturezas más a reforma. que aqueles ensinos impunham, seriam culpados apenas de indiferença, de não procurarem devassar os mistérios que de pronto não compreendiam.

Dizendo, pois, que não lhes falava senão por parábolas, “para que não se convertessem”, aludia o Mestre aos que, cedendo a um primeiro impulso, tentariam avançar, mas que, detidos bruscamente pelos seus maus instintos, fariam sem demora um recuo, que lhes viria a ser causa de graves expiações, porquanto, conforme também o disse, “muito será dado ao que já tem; ao passo que àquele que pouco tenha, mesmo esse pouco será tirado”.

Estas palavras significam que aquele que deseja progredir e se esforça por consegui-lo, de todos os lados receberá amparo; enquanto que o outro, o que tem pouco, indiferente ao que lhe foi dado, negligente em guardar o que recebeu, deixará que as más paixões se apossem do seu coração, que os vícios e males, que o oprimirão durante séculos, tomem o lugar das poucas virtudes de cuja posse já desfrutasse.

Antes das revelações feitas por Jesus, o homem, nenhuma ideia clara formando da outra vida, não estava apto a conhecer os “mistérios do reino dos céus, os segredos do reino de Deus”, expressões que compõem uma imagem destinada a materializar, por assim dizer, para a compreensão de homens materiais, a felicidade dos bem-aventurados. Os “mistérios” do reino dos céus, os “segredos” do reino de Deus eram os meios, desconhecidos até então, de chegar-se àquela felicidade.

Jesus veio levantar o véu e esclarecer as inteligências. Porém, apenas uma ponta do véu foi levantada; a “luz” permaneceu velada. Hoje, a luz já brilha com mais vivo fulgor, porque os Enviados do Senhor ergueram um pouco mais o véu que a encobria, tanto quanto os olhos humanos, tornados mais fortes, o permitiam. O véu, entretanto, só será levantado completamente, quando os homens houverem alcançado alto grau de desenvolvimento moral e intelectual. Só então lhes será facultado conhecerem todos os “mistérios do reino dos céus”, todos os “segredos do reino de Deus”.

Parábola do joio semeado entre o trigo

24. E lhes propôs uma outra parábola, dizendo: O reino dos céus é semelhante a um homem que semeou bom grão no seu campo. 25. Enquanto os homens dormiam, veio o inimigo dele, semeou joio no meio do trigo e se foi embora. 26. A plantação do homem germinou, cresceu e deu espigas, mas com ela cresceu também o joio. 27. Os servos do pai de família vieram então dizer-lhe: Senhor, não semeastes bom grão no vosso campo? Como é que nele há joio? 28. Ele lhes respondeu: Foi um inimigo quem o semeou. Os servos lhe perguntaram: Quereis que vamos arrancá-lo? 29. E ele respondeu: Não; receio que, arrancando o joio, arranqueis ao mesmo tempo o trigo. 30. Deixai que um e outro cresçam juntos até à ceifa; quando chegar a ocasião de ceifar, direi aos ceifeiros: Arrancai primeiramente o joio e atai-o em feixes para ser queimado; o trigo, empilhai-o no meu celeiro.

Nem todos os Espíritos se encontram no mesmo grau de desenvolvimento. Dos encarnados na Terra, uns são elevados, outros apenas iniciam suas provações morais. Vê-se daí não ser cabível que, para operar-se a renovação de nossa geração espiritual, se condenasse toda a geração material de que somos parte a perecer num dilúvio semelhante ao de que falam os antigos. É evidente, pois, que tal dilúvio não se deu com o caráter de universalidade que lhe atribuíram as narrações escriturísticas.

O joio cresce de par com o bom grão. Depois, em cada colheita, aquele, para se depurar, é lançado ao fogo da expiação, ao mesmo tempo que o bom grão é guardado nos celeiros do Senhor.

Desde que saiu do estado de fluidez, incandescente, a Terra tem passado por transformações sucessivas, tem sofrido renovações parciais, para o efeito de preparação e progresso graduais dos reinos mineral, vegetal e animal, mesmo do reino humano, efeito a que de futuro hão de seguir-se, por outros meios, as depurações e transformações, também graduais, dos aludidos reinos da Natureza.

Dizendo que o “pai de família” não consentira que seus servos arrancassem, do campo que ele semeara, o joio, com receio de que simultaneamente tirassem o trigo, quis o divino Mestre refrear o zelo dos apóstolos e dos que lhes sucedessem como continuadores da sua obra, os quais, levados pelo desejo de fazer progredir a Humanidade, poderiam ir longe de mais. À força de quererem reprimir abusos, poderiam chegar ao extremo de amedrontar os homens retos, porém simples, e de os afastar.

Conviria não perdessem de vista este ensinamento os que, nos tempos atuais, apregoando zelo da pureza do Espiritismo, pregam a necessidade da extinção completa, por todos os meios, dos centros onde ele é falseado e que representam o joio a crescer entre o bom grão. Não esqueçamos nós, os espíritas, que foi invocando um zelo semelhante que a Igreja se tornou perseguidora e abriu a interminável série dos seus atentados à liberdade de pensamento e de crença, a todas as liberdades, afinal, atentados que cada dia mais profundamente a divorciaram da doutrina cristã, do espírito dos Evangelhos, para cuja interpretação ela acabou proclamando-se a única habilitada, a fim de esconder aquele divórcio.

A lição que a parábola do joio e do trigo encerra mostra que toda a ciência, para aquele que se propõe a pregar as verdades eternas, a difundir as da Doutrina dos Espíritos, a fim de que bem apreendidas sejam as daqueles mesmos Evangelhos, está em apropriá-las às inteligências que as tenham de receber. Se não for assim, um por exemplo, que teria aceitado a moral evangélica, se lha houveram apresentado sob aspecto condizente com o seu ponto de vista (e por isso é que Jesus a maior parte do tempo ensinava por parábolas e símiles), a repelirá, ou ofuscado pela intensidade da luz que dela se irradia, ou atemorizado com as grandes dificuldades que ela lhe deixa entrever.

A ceifa, de que fala a parábola, se dá na ocasião em que o Espírito volta à sua condição de origem, isto é, em que volta ao estado de Espírito liberto da matéria, por se haver despojado do seu envoltório carnal. Ao retornarem a esse estado, eles se encontram, ou na condição de joio a ser queimado, o que se verifica pelo fogo do remorso, das torturas morais, a que se segue a reencarnação neste mundo, ou em mundos inferiores à Terra, de acordo com as tendências que revelam e com o grau da sua culpabilidade; ou na condição de trigo, caso em que passam a habitar mundos superiores ao nosso, onde continuarão a aperfeiçoar-se, a progredir.

Encarada assim, como o deve ser, a ceifa tem sido feita sempre e ainda continuará por longo tempo. Quando terminará? Quando chegar a época da ceifa definitiva. Com relação ao nosso mundo, essa época será a em que não mais se permita ao joio crescer aqui de envolta com o trigo, em que aquele será arrancado e lançado fora, isto é, em que os Espíritos que se tenham conservado obstinadamente culposos e rebeldes se verão compelidos a deixar de encarnar no planeta terreno, para o fazerem em mundos colocados abaixo dele na escala dos orbes. A Terra, então, terá passado a fazer parte do reino de Deus, o que quer dizer: ter-se-á tornado, exclusivamente, morada de Espíritos bons.

Os ceifeiros, no caso, são os Espíritos superiores, aos quais incumbe velar pelas expiações dos Espíritos culpados, na erraticidade, e classificar os que, por terem bem cumprido suas provas, mereçam ascender a mundos mais elevados do que o nosso.

Grão de mostarda. Fermento da massa. Semente lançada à terra

31. Propôs-lhes uma outra parábola, dizendo: O reino dos céus se assemelha ao grão de mostarda que um homem tomou e semeou no seu campo. 32. Esse grão, que é a menor de todas as sementes, quando cresce, torna-se planta maior do que todas as outras, torna-se árvore em cujos ramos os pássaros do céu vêm habitar. 33. Disse-lhes também esta outra parábola: O reino dos céus se assemelha ao fermento que uma mulher toma e mistura com três medidas de farinha até que a massa fique inteiramente levedada. 34. Jesus disse por parábolas todas essas coisas à multidão; não lhe falava sem parábolas; 35, a fim de que se cumprissem estas palavras do profeta: Abrirei minha boca para falar por parábolas: revelarei coisas que estão ocultas desde a formação do mundo.

Comparando o reino dos céus ao grão de mostarda, quis Jesus mostrar à multidão que o gérmen, por mínimo que seja, donde se parta para chegar ao céu, pode desenvolver-se e produzir grandes resultados.

No seu pensamento acerca do futuro, a comparação do reino dos céus com um grão de mostarda, que, de pequenino que é, se torna árvore grande, em cujos ramos os pássaros vêm habitar, constitui uma alegoria em que aquele grão representa o ponto de partida, a origem do planeta e da Humanidade, o estado rudimentar de uma e outro; em que o crescimento oculto do grão, sua afloração, desenvolvimento e transformação em árvore simbolizam as fases por que tem passado o nosso mundo, as da formação e desenvolvimento dos reinos mineral, vegetal, animal e humano e as de depuração e transformação física do planeta e física, moral e intelectual da Humanidade. Os ramos da árvore indicam o grau de evolução que aquele atingirá, para se tornar morada de paz e de felicidade, que os Espíritos purificados virão habitar e onde, continuando a progredir com ela, chegarão à perfeição.

Na parábola em que comparou o reino de Deus ao fermento que se lança na massa de farinha para levedá-la e torná-la em pão, figurou Jesus o trabalho de transformação e purificação das almas, por efeito da doutrina de amor e bondade que Ele lançava nos corações único fermento apropriado à preparação do pão espiritual, que alimenta para a vida eterna.

Na em que o reino dos céus é comparado à semente que o homem lançou à terra, o divino Mestre indicava o trabalho, secreto, mas contínuo, da semente de regeneração que Ele imergia nos corações, ao mesmo tempo que mostrava as fases de germinação, crescimento, transformação, desenvolvimento e frutificação que o Espírito atravessa, para atingir a maturidade moral e intelectual, estado em que será aproveitado pelos ceifadores incumbidos de proceder à colheita para o celeiro divino, o reino de Deus.

Por outro lado, esta última parábola, despojado da letra o Espírito, é o emblema dos períodos que a nossa Humanidade tem percorrido e transposto na via do progresso, desde o aparecimento do homem na Terra, assim como dos períodos que ela tem de percorrer e transpor, para sua regeneração completa.

A erva, que aflorou ao solo, como produto da germinação da semente, designa o tempo que se escoou antes que Jesus aparecesse na Terra; a formação da espiga indica o que decorreu desde esse aparecimento até os nossos dias; a formação dos grãos que cobrem a espiga, os próprios grãos já formados e o fruto ao qual, quando maduro, se passa a foice, por ser essa a época da ceifa, indicam os tempos atuais e futuros da era do Espiritismo, que vem preparar e efetivar a regeneração da Humanidade e as promessas que as proféticas palavras do Salvador encerram.

Neste momento, o grão, aqui, se está formando; ali, amadurece e, em certas partes escolhidas, já se acha maduro, ou já foi ceifado.

Tais os resultados que o Espiritismo, que apenas há alguns anos apareceu, está produzindo.

Explicação da parábola do joio

36. Tendo despedido a multidão, entrou Jesus em uma casa; e os discípulos, acercando-se dele, lhe pediram: Explica-nos a parábola do joio semeado no campo. 37. Ele, respondendo, disse: Aquele que semeia o bom grão é o filho do homem. 38. O campo é o mundo; os filhos do reino são o bom grão; os filhos da iniquidade são o joio. 39. O inimigo que semeou, é o diabo; o tempo da colheita é o fim do mundo; os segadores são os anjos. 40. O que se faz com o joio, que é arrancado e queimado no fogo, far-se-á no fim do mundo. 41. O filho do homem enviará seus anjos; estes reunirão e levarão o para fora do seu reino todos os que são causa de escândalo e de queda; 42, e os lançarão na fornalha do fogo; lá haverá prantos e ranger de dentes. 43. Então, os justos brilharão como o Sol, no reino do pai. Aquele, que tiver ouvidos de ouvir, ouça.

Encarregado do progresso do nosso planeta e da Humanidade a que pertencemos, isto é, do dos Espíritos que nele encarnam, Jesus, desde o aparecimento do homem na Terra, vem semeando o bom grão e o semeará sempre; sempre trabalhou, trabalha e trabalhará pelo nosso progresso, até que aqueles Espíritos atinjam a perfeição, que os colocará na categoria dos Espíritos puros.

Designando-se a si mesmo por filho do homem, fazia lembrada a missão que o trouxera ao mundo terreno, missão que, no parecer dos homens, era humana, como convinha que estes a considerassem. Entretanto, pela explicação velada que deu da parábola do joio mostrava o seu poder, como enviado de Deus, como tendo recebido de Deus a investidura de rei do nosso planeta, ao qual chama “seu reino , como tendo, sob sua autoridade às suas ordens, os “anjos”; como tendo todo poder sobre a Terra, que é o “seu reino”, e bem assim sobre as gerações humanas que nela se sucederão; como sendo quem, “no fim do mundo”, fará que “seus anjos” reúnam e levem para fora da terra, para fora do “seu reino”, os filhos de iniquidade, simbolizados pelo joio, e quem os mandará lançar na “fornalha do fogo”, onde há prantos e ranger de dentes, permanecendo no “seu reino’, onde brilharão como o Sol, os filhos do reino, os justos, simbolizados pelo bom grão.

O campo representa o nosso planeta e a sua Humanidade. Os filhos do reino, tendo por símbolo o bom grão, são os que tendem a progredir e se esforçam por consegui-lo. Os filhos de iniquidade, cujo símbolo é o joio, ou cizânia, são os que se deixam arrastar pelas más influências, por serem maus os seus instintos.

O diabo, o “Inimigo”, que semeou, semeia e semeará, por muito tempo ainda, na Terra, o joio, são todos os Espíritos maus, Espíritos de erro e de mentira que, errantes ou encarnados, exercendo sobre nós perniciosa influência, trabalham por nos obstar ao progresso, impelindo-nos a praticar o mal, por pensamentos, palavras e obras, afastando-nos das vias do Senhor.

O fim do mundo, predito por Jesus e que, na parábola, corresponde ao tempo da ceifa, não deve ser entendido como um fato repentino, como sendo a transformação, a renovação de todo o Universo, operando-se de um instante para outro. O fim do mundo vem sendo preparado de há muito e a pouco e pouco progressivamente vai ocorrendo. Compreendido como significando a época da colheita, ele se apresenta dividido em três períodos distintos: primeiro, aquele em que aos Espíritos inferiores foi e será permitido encarnar na Terra para, por sucessivas expiações e reencarnações, se purificarem, passarem de “filhos de iniquidade” a “filhos do reino”; segundo, aquele em que o joio começará a ser apartado do bom grão, em que os Espíritos culpados, rebeldes, voluntariamente cegos, serão afastados do nosso planeta e lançados em planetas inferiores; terceiro, aquele em que, concluída a separação do joio e do trigo, estará completado o afastamento dos Espíritos inferiores e o nosso mundo se terá tornado morada de paz e felicidade para Espíritos bons, já aptos a entrar na fase espírita.

A luz que brilha nos justos, nos filhos do Senhor, é a da verdade, da fé e do amor.

Os mundos superiores formam, na imensidade, o reino do Pai, e o nosso planeta, desde que atinja a necessária elevação, lhes pertencerá ao número, constituindo, para nos servirmos de uma comparação humana, “uma das províncias do reino de Deus.

Tesouro oculto. Pérola de alto preço. Parábola da rede lançada ao mar

44. O reino dos céus é semelhante a um tesouro oculto num campo; o homem que o achou o esconde e, cheio de alegria pelo haver achado, vai vender tudo que possui e compra aquele campo. 45. O reino dos céus ainda se assemelha a um negociante que procura belas pérolas; 46, que, achando uma de alto preço, vende tudo o que possui e a compra. 47. O reino dos céus se assemelha também a uma rede de pescar que, lançada ao mar, apanha toda espécie de peixes. 48. Quando fica cheia, os pescadores a puxam para bordo, onde, assentados, se põem a separá-los, deitando os bons nos vasos e lançando fora os maus. 49. Assim será no fim do mundo: os anjos virão e separarão os maus do meio dos justos; 50, e os lançarão na fornalha de fogo, onde haverá prantos e ranger de dentes. 51. Haveis compreendido todas estas coisas? Eles responderam: Sim. 52. Disse-lhes Ele então: Todo escriba instruído acerca do reino dos céus se assemelha ao pai de família que do seu tesouro tira coisas novas e coisas velhas.

Aquele que recebe a palavra de Deus deve sentir-se tão feliz quanto o que, dando grande importância às coisas materiais, acha um tesouro, se é que se pode estabelecer comparação entre sentimentos de naturezas tão diversas. Cumpre-lhe, então, guardar bem dentro do coração essa fonte de riquezas eternas e esforçar-se para que nenhum dos vícios da Humanidade lhe possa arrebatar o precioso achado.

Vai o homem e vende tudo o que tem. Quer isto dizer: despoja-se dos erros, dos maus instintos, dos maus pendores, dos vícios, de tudo, em suma, que o prende à matéria, como os bens terrenos o prendem ao solo que os encerra.

E compra o campo. Faz, para conservar aquele tesouro espiritual, todos os sacrifícios que a Humanidade exija.

A pérola é, como o tesouro, a verdade, que o homem encontra, com o receber e agasalhar a palavra de Deus.

Quanto à pesca, figura a escolha dos bons e o afastamento dos maus, como na parábola do joio e do bom grão.

Por escribas designava Jesus os homens mais esclarecidos que as massas e incumbidos de espalhar no meio delas a luz contida no tesouro da inteligência e da erudição de que dispõem.

Aquele que se serve da ciência que recebeu dos tempos antigos, para fortificar e, por assim dizer, tornar recomendável aquilo que quer tornar crido, é o que tira do seu tesouro coisas novas e coisas velhas.

Significa isso que nós outros, os espíritas, devemos, dentro dos limites da nossa instrução, das nossas faculdades, investigar as crônicas antigas, escrutar as legendas, desencavar os velhos manuscritos sepultados no fundo das bibliotecas seculares ou dos conventos e, armados dos vetustos documentos que chegarmos a possuir, demonstrar aos tímidos, aos incrédulos, aos pseudo sábios a autenticidade e a ancianidade da ciência que professamos.

Nenhum profeta é desestimado sendo no seu país, na sua casa e entre seus parentes

53. Tendo acabado de dizer essas parábolas, Jesus partiu dali; 54, e, voltando ao seu país, os instruía nas sinagogas; de sorte que, tomados de admiração, eles diziam: Donde lhe vieram esta sabedoria e estes milagres? 55. Não é ele o filho do carpinteiro? Sua mãe não se chama Maria e Tiago, José, Simão e Judas seus irmãos? 56. E suas irmãs não vivem todas entre nós? Donde então lhe vêm todas estas coisas? 57. Assim era que dele se escandalizavam, Jesus, porém, lhes disse: Nenhum profeta é desestimado senão no seu país e na sua casa. 58. E não fez lá muitos milagres por causa da Incredulidade deles.

No parecer dos homens, Jesus era filho de Maria e de José, crença que a Igreja Romana continua a sustentar, firmada no milagre, tendo feito dela um dogma. Convindo em que essa crença tenha sido necessária naquelas prístinas épocas, hoje, nós outros, os espíritas, não podemos sobrepô-la à verdade que nos trouxe a nova revelação, acerca da origem espírita de Jesus, das condições em que se deu o seu aparecimento na Terra e da sua genealogia espiritual.

Nenhum profeta é desestimado, senão no seu país, na sua casa e entre seus parentes. Essas palavras, confirmativas destas outras que a sabedoria popular consagrou: “Ninguém é profeta na sua terra” e “santo de casa não faz milagre”, encerram uma reflexão filosófica, cujo valor todos temos podido verificar.

Quanto ao não haver Jesus, ali, feito milagres, foi porque grande era a incredulidade, a cegueira voluntária dos que o cercavam. A obstinação os levaria a fechar os olhos, para não verem a luz, o que os tornaria mais culpados e passíveis de maiores castigos. Vendo isso, o Mestre que, pela doçura do seu coração, jamais provocou a revolta de qualquer Espírito, não quis vencer a oposição que à sua influência levantavam encarnados e desencarnados, dominando-lhes a resistência, para lhes poupar o remorso da falta em que incorriam.

Verifica-se assim que não houve, para Jesus, impossibilidade de operar “milagres” naquela ocasião e naquele lugar. O que houve foi, de sua parte, “ausência de vontade”. Ele se forrou a exercer a sua autoridade incontestável sobre os Espíritos que se lhe opunham à ação, para lhes não aumentar o grau da culpabilidade.

Nada obstante, sempre operou algumas curas, pela imposição das mãos.

Elucidações evangélicas. FEB (e-book).

  

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