Parábola do semeador. Explicação dessa
parábola
(Marcos,
4:1-20,25; Lucas, 8:1-15,18; 10:23,24)
1.
Naquele dia, saindo Jesus de casa foi sentar-se à beira do mar. 2. E grande
multidão se lhe reuniu em torno. Entrando então para uma barca, ele ai se
sentou, ficando a multidão na praia. 3. E começou a dizer muitas coisas por
parábolas, falando assim: Eis que o semeador saiu a semear. 4. Enquanto
semeava, uma parte das sementes caiu à margem do caminho, os pássaros do céu
vieram e as comeram. 5. Uma outra parte caiu em terreno pedregoso, onde muito
pouca terra havia; as sementes germinaram prontamente, pois que a terra ali não
tinha profundidade. 6. O Sol, nascendo, crestou-as; e, como não tinham raízes,
secaram. 7. Uma outra caiu entre os espinheiros que cresceram e a abafaram. 8.
Uma outra finalmente caiu em terra boa e as sementes frutificaram, produzindo
aqui cem, ali sessenta, acolá trinta por um. 9. Quem tiver ouvido de ouvir,
ouça. 10. Os discípulos, aproximando-se, lhe perguntaram: Por que lhes falas
por parábolas? 11. Respondeu Ele: É porque a vós vos é dado conhecer os mistérios
do reino dos céus, mas a eles não. 12. Àquele que tem, mais ainda se dará,
ficando ele na abundância; mas ao que não tem se tirará até o que tem. 13. Eis
por que lhes falo por parábolas; é que, vendo, eles não veem, ouvindo, não
ouvem, nem compreendem. 14. Neles se cumpre esta profecia do profeta Isaías:
“Escutareis com os ouvidos e não entendereis, olhareis com os olhos e não
vereis. 15. O coração deste povo se embotou, os ouvidos se lhes tornaram surdos
e os olhos se lhes fecharam, para que não vejam com os olhos, não ouçam com os
ouvidos, não compreendam com os corações e, não se convertendo, não sejam
curados por mim”. 16. Felizes os vossos olhos porque veem, os vossos ouvidos,
porque escutam; 17, porquanto, em verdade vos digo que muitos profetas e justos
desejaram ver o que vedes e não viram, ouvir o que ouvis e não ouviram. 18.
Escutai, pois, a parábola do semeador. 19. Do coração de todo aquele que escuta
a palavra do reino e não a compreende vem o mau Espírito tirar o que nele foi
semeado; é a semente que caiu ao longo do caminho. 20. A que caiu em terreno
pedregoso representa aquele que ouve a palavra e a recebe com mostras de
alegria no primeiro momento; 21, mas, não tendo ela raízes no seu coração, só
por pouco tempo subsiste; sobrevindo as tribulações e perseguições por motivo
da palavra, ele logo se escandaliza. 22. A semente lançada entre os representa
espinheiros aquele que ouve a palavra, mas em quem os cuidados do século e a
ilusão das riquezas a abafam e impedem de produzir frutos. 23. A que foi
semeada em terra boa indica aquele que escuta a palavra e a compreende, aquele
em quem ela frutifica, produzindo cada grão cem, sessenta ou trinta.
As explicações que Jesus deu
da parábola do semeador era a que convinha aos Espíritos encarnados naquela
época e a de que necessitavam os apóstolos, a fim de desempenharem suas
missões. As mesmas explicações bastam para que a compreendamos.
A razão por que Jesus preferentemente falava por parábolas era evitar que muitos se enchessem de maiores responsabilidades, que lhes acarretariam grandes sofrimentos no futuro: aqueles que, capazes embora de receber sem véu a sua palavra, não se lhe submeteriam. Por outro lado, para os que estivessem dispostos a avançar, a caminhar para diante, nenhum inconveniente havia em que os ensinos lhes fossem ministrados veladamente, visto que se esforçariam, como o fizeram os discípulos, por lhes descobrir o sentido oculto e o apreenderiam. Os que, ao contrário, assim não procedessem, por considerarem pesada demais para suas naturezas más a reforma. que aqueles ensinos impunham, seriam culpados apenas de indiferença, de não procurarem devassar os mistérios que de pronto não compreendiam.
Dizendo, pois, que não lhes
falava senão por parábolas, “para que não se convertessem”, aludia o Mestre aos
que, cedendo a um primeiro impulso, tentariam avançar, mas que, detidos
bruscamente pelos seus maus instintos, fariam sem demora um recuo, que lhes
viria a ser causa de graves expiações, porquanto, conforme também o disse,
“muito será dado ao que já tem; ao passo que àquele que pouco tenha, mesmo esse
pouco será tirado”.
Estas palavras significam
que aquele que deseja progredir e se esforça por consegui-lo, de todos os lados
receberá amparo; enquanto que o outro, o que tem pouco, indiferente ao que lhe
foi dado, negligente em guardar o que recebeu, deixará que as más paixões se
apossem do seu coração, que os vícios e males, que o oprimirão durante séculos,
tomem o lugar das poucas virtudes de cuja posse já desfrutasse.
Antes das revelações feitas
por Jesus, o homem, nenhuma ideia clara formando da outra vida, não estava apto
a conhecer os “mistérios do reino dos céus, os segredos do reino de Deus”,
expressões que compõem uma imagem destinada a materializar, por assim dizer,
para a compreensão de homens materiais, a felicidade dos bem-aventurados. Os
“mistérios” do reino dos céus, os “segredos” do reino de Deus eram os meios,
desconhecidos até então, de chegar-se àquela felicidade.
Jesus veio levantar o véu e
esclarecer as inteligências. Porém, apenas uma ponta do véu foi levantada; a
“luz” permaneceu velada. Hoje, a luz já brilha com mais vivo fulgor, porque os
Enviados do Senhor ergueram um pouco mais o véu que a encobria, tanto quanto os
olhos humanos, tornados mais fortes, o permitiam. O véu, entretanto, só será
levantado completamente, quando os homens houverem alcançado alto grau de
desenvolvimento moral e intelectual. Só então lhes será facultado conhecerem
todos os “mistérios do reino dos céus”, todos os “segredos do reino de Deus”.
Parábola do joio semeado entre o trigo
24.
E lhes propôs uma outra parábola, dizendo: O reino dos céus é semelhante a um
homem que semeou bom grão no seu campo. 25. Enquanto os homens dormiam, veio o
inimigo dele, semeou joio no meio do trigo e se foi embora. 26. A plantação do
homem germinou, cresceu e deu espigas, mas com ela cresceu também o joio. 27.
Os servos do pai de família vieram então dizer-lhe: Senhor, não semeastes bom
grão no vosso campo? Como é que nele há joio? 28. Ele lhes respondeu: Foi um inimigo
quem o semeou. Os servos lhe perguntaram: Quereis que vamos arrancá-lo? 29. E
ele respondeu: Não; receio que, arrancando o joio, arranqueis ao mesmo tempo o
trigo. 30. Deixai que um e outro cresçam juntos até à ceifa; quando chegar a
ocasião de ceifar, direi aos ceifeiros: Arrancai primeiramente o joio e atai-o
em feixes para ser queimado; o trigo, empilhai-o no meu celeiro.
Nem todos os Espíritos se
encontram no mesmo grau de desenvolvimento. Dos encarnados na Terra, uns são
elevados, outros apenas iniciam suas provações morais. Vê-se daí não ser
cabível que, para operar-se a renovação de nossa geração espiritual, se
condenasse toda a geração material de que somos parte a perecer num dilúvio
semelhante ao de que falam os antigos. É evidente, pois, que tal dilúvio não se
deu com o caráter de universalidade que lhe atribuíram as narrações
escriturísticas.
O joio cresce de par com o
bom grão. Depois, em cada colheita, aquele, para se depurar, é lançado ao fogo
da expiação, ao mesmo tempo que o bom grão é guardado nos celeiros do Senhor.
Desde que saiu do estado de
fluidez, incandescente, a Terra tem passado por transformações sucessivas, tem
sofrido renovações parciais, para o efeito de preparação e progresso graduais
dos reinos mineral, vegetal e animal, mesmo do reino humano, efeito a que de
futuro hão de seguir-se, por outros meios, as depurações e transformações,
também graduais, dos aludidos reinos da Natureza.
Dizendo que o “pai de
família” não consentira que seus servos arrancassem, do campo que ele semeara,
o joio, com receio de que simultaneamente tirassem o trigo, quis o divino
Mestre refrear o zelo dos apóstolos e dos que lhes sucedessem como
continuadores da sua obra, os quais, levados pelo desejo de fazer progredir a
Humanidade, poderiam ir longe de mais. À força de quererem reprimir abusos,
poderiam chegar ao extremo de amedrontar os homens retos, porém simples, e de
os afastar.
Conviria não perdessem de
vista este ensinamento os que, nos tempos atuais, apregoando zelo da pureza do
Espiritismo, pregam a necessidade da extinção completa, por todos os meios, dos
centros onde ele é falseado e que representam o joio a crescer entre o bom
grão. Não esqueçamos nós, os espíritas, que foi invocando um zelo semelhante
que a Igreja se tornou perseguidora e abriu a interminável série dos seus
atentados à liberdade de pensamento e de crença, a todas as liberdades, afinal,
atentados que cada dia mais profundamente a divorciaram da doutrina cristã, do
espírito dos Evangelhos, para cuja interpretação ela acabou proclamando-se a
única habilitada, a fim de esconder aquele divórcio.
A lição que a parábola do
joio e do trigo encerra mostra que toda a ciência, para aquele que se propõe a
pregar as verdades eternas, a difundir as da Doutrina dos Espíritos, a fim de
que bem apreendidas sejam as daqueles mesmos Evangelhos, está em apropriá-las
às inteligências que as tenham de receber. Se não for assim, um por exemplo,
que teria aceitado a moral evangélica, se lha houveram apresentado sob aspecto
condizente com o seu ponto de vista (e por isso é que Jesus a maior parte do
tempo ensinava por parábolas e símiles), a repelirá, ou ofuscado pela
intensidade da luz que dela se irradia, ou atemorizado com as grandes
dificuldades que ela lhe deixa entrever.
A ceifa, de que fala a
parábola, se dá na ocasião em que o Espírito volta à sua condição de origem,
isto é, em que volta ao estado de Espírito liberto da matéria, por se haver
despojado do seu envoltório carnal. Ao retornarem a esse estado, eles se
encontram, ou na condição de joio a ser queimado, o que se verifica pelo fogo
do remorso, das torturas morais, a que se segue a reencarnação neste mundo, ou
em mundos inferiores à Terra, de acordo com as tendências que revelam e com o
grau da sua culpabilidade; ou na condição de trigo, caso em que passam a
habitar mundos superiores ao nosso, onde continuarão a aperfeiçoar-se, a
progredir.
Encarada assim, como o deve
ser, a ceifa tem sido feita sempre e ainda continuará por longo tempo. Quando
terminará? Quando chegar a época da ceifa definitiva. Com relação ao nosso
mundo, essa época será a em que não mais se permita ao joio crescer aqui de
envolta com o trigo, em que aquele será arrancado e lançado fora, isto é, em
que os Espíritos que se tenham conservado obstinadamente culposos e rebeldes se
verão compelidos a deixar de encarnar no planeta terreno, para o fazerem em
mundos colocados abaixo dele na escala dos orbes. A Terra, então, terá passado
a fazer parte do reino de Deus, o que quer dizer: ter-se-á tornado,
exclusivamente, morada de Espíritos bons.
Os ceifeiros, no caso, são
os Espíritos superiores, aos quais incumbe velar pelas expiações dos Espíritos
culpados, na erraticidade, e classificar os que, por terem bem cumprido suas
provas, mereçam ascender a mundos mais elevados do que o nosso.
Grão de mostarda. Fermento da massa.
Semente lançada à terra
31.
Propôs-lhes uma outra parábola, dizendo: O reino dos céus se assemelha ao grão
de mostarda que um homem tomou e semeou no seu campo. 32. Esse grão, que é a
menor de todas as sementes, quando cresce, torna-se planta maior do que todas
as outras, torna-se árvore em cujos ramos os pássaros do céu vêm habitar. 33.
Disse-lhes também esta outra parábola: O reino dos céus se assemelha ao
fermento que uma mulher toma e mistura com três medidas de farinha até que a
massa fique inteiramente levedada. 34. Jesus disse por parábolas todas essas
coisas à multidão; não lhe falava sem parábolas; 35, a fim de que se cumprissem
estas palavras do profeta: Abrirei minha boca para falar por parábolas:
revelarei coisas que estão ocultas desde a formação do mundo.
Comparando o reino dos céus
ao grão de mostarda, quis Jesus mostrar à multidão que o gérmen, por mínimo que
seja, donde se parta para chegar ao céu, pode desenvolver-se e produzir grandes
resultados.
No seu pensamento acerca do
futuro, a comparação do reino dos céus com um grão de mostarda, que, de
pequenino que é, se torna árvore grande, em cujos ramos os pássaros vêm
habitar, constitui uma alegoria em que aquele grão representa o ponto de
partida, a origem do planeta e da Humanidade, o estado rudimentar de uma e
outro; em que o crescimento oculto do grão, sua afloração, desenvolvimento e
transformação em árvore simbolizam as fases por que tem passado o nosso mundo,
as da formação e desenvolvimento dos reinos mineral, vegetal, animal e humano e
as de depuração e transformação física do planeta e física, moral e intelectual
da Humanidade. Os ramos da árvore indicam o grau de evolução que aquele
atingirá, para se tornar morada de paz e de felicidade, que os Espíritos
purificados virão habitar e onde, continuando a progredir com ela, chegarão à
perfeição.
Na parábola em que comparou
o reino de Deus ao fermento que se lança na massa de farinha para levedá-la e
torná-la em pão, figurou Jesus o trabalho de transformação e purificação das
almas, por efeito da doutrina de amor e bondade que Ele lançava nos corações único
fermento apropriado à preparação do pão espiritual, que alimenta para a vida
eterna.
Na em que o reino dos céus é
comparado à semente que o homem lançou à terra, o divino Mestre indicava o
trabalho, secreto, mas contínuo, da semente de regeneração que Ele imergia nos
corações, ao mesmo tempo que mostrava as fases de germinação, crescimento,
transformação, desenvolvimento e frutificação que o Espírito atravessa, para
atingir a maturidade moral e intelectual, estado em que será aproveitado pelos
ceifadores incumbidos de proceder à colheita para o celeiro divino, o reino de
Deus.
Por outro lado, esta última
parábola, despojado da letra o Espírito, é o emblema dos períodos que a nossa
Humanidade tem percorrido e transposto na via do progresso, desde o
aparecimento do homem na Terra, assim como dos períodos que ela tem de
percorrer e transpor, para sua regeneração completa.
A erva, que aflorou ao solo,
como produto da germinação da semente, designa o tempo que se escoou antes que
Jesus aparecesse na Terra; a formação da espiga indica o que decorreu desde
esse aparecimento até os nossos dias; a formação dos grãos que cobrem a espiga,
os próprios grãos já formados e o fruto ao qual, quando maduro, se passa a
foice, por ser essa a época da ceifa, indicam os tempos atuais e futuros da era
do Espiritismo, que vem preparar e efetivar a regeneração da Humanidade e as
promessas que as proféticas palavras do Salvador encerram.
Neste momento, o grão, aqui,
se está formando; ali, amadurece e, em certas partes escolhidas, já se acha
maduro, ou já foi ceifado.
Tais os resultados que o
Espiritismo, que apenas há alguns anos apareceu, está produzindo.
Explicação da parábola do joio
36.
Tendo despedido a multidão, entrou Jesus em uma casa; e os discípulos,
acercando-se dele, lhe pediram: Explica-nos a parábola do joio semeado no
campo. 37. Ele, respondendo, disse: Aquele que semeia o bom grão é o filho do
homem. 38. O campo é o mundo; os filhos do reino são o bom grão; os filhos da
iniquidade são o joio. 39. O inimigo que semeou, é o diabo; o tempo da colheita
é o fim do mundo; os segadores são os anjos. 40. O que se faz com o joio, que é
arrancado e queimado no fogo, far-se-á no fim do mundo. 41. O filho do homem
enviará seus anjos; estes reunirão e levarão o para fora do seu reino todos os
que são causa de escândalo e de queda; 42, e os lançarão na fornalha do fogo;
lá haverá prantos e ranger de dentes. 43. Então, os justos brilharão como o
Sol, no reino do pai. Aquele, que tiver ouvidos de ouvir, ouça.
Encarregado do progresso do
nosso planeta e da Humanidade a que pertencemos, isto é, do dos Espíritos que
nele encarnam, Jesus, desde o aparecimento do homem na Terra, vem semeando o
bom grão e o semeará sempre; sempre trabalhou, trabalha e trabalhará pelo nosso
progresso, até que aqueles Espíritos atinjam a perfeição, que os colocará na
categoria dos Espíritos puros.
Designando-se a si mesmo por
filho do homem, fazia lembrada a missão que o trouxera ao mundo terreno, missão
que, no parecer dos homens, era humana, como convinha que estes a
considerassem. Entretanto, pela explicação velada que deu da parábola do joio
mostrava o seu poder, como enviado de Deus, como tendo recebido de Deus a
investidura de rei do nosso planeta, ao qual chama “seu reino , como tendo, sob
sua autoridade às suas ordens, os “anjos”; como tendo todo poder sobre a Terra,
que é o “seu reino”, e bem assim sobre as gerações humanas que nela se
sucederão; como sendo quem, “no fim do mundo”, fará que “seus anjos” reúnam e
levem para fora da terra, para fora do “seu reino”, os filhos de iniquidade,
simbolizados pelo joio, e quem os mandará lançar na “fornalha do fogo”, onde há
prantos e ranger de dentes, permanecendo no “seu reino’, onde brilharão como o
Sol, os filhos do reino, os justos, simbolizados pelo bom grão.
O campo representa o nosso
planeta e a sua Humanidade. Os filhos do reino, tendo por símbolo o bom grão,
são os que tendem a progredir e se esforçam por consegui-lo. Os filhos de
iniquidade, cujo símbolo é o joio, ou cizânia, são os que se deixam arrastar
pelas más influências, por serem maus os seus instintos.
O diabo, o “Inimigo”, que
semeou, semeia e semeará, por muito tempo ainda, na Terra, o joio, são todos os
Espíritos maus, Espíritos de erro e de mentira que, errantes ou encarnados,
exercendo sobre nós perniciosa influência, trabalham por nos obstar ao
progresso, impelindo-nos a praticar o mal, por pensamentos, palavras e obras,
afastando-nos das vias do Senhor.
O fim do mundo, predito por
Jesus e que, na parábola, corresponde ao tempo da ceifa, não deve ser entendido
como um fato repentino, como sendo a transformação, a renovação de todo o
Universo, operando-se de um instante para outro. O fim do mundo vem sendo
preparado de há muito e a pouco e pouco progressivamente vai ocorrendo.
Compreendido como significando a época da colheita, ele se apresenta dividido
em três períodos distintos: primeiro, aquele em que aos Espíritos inferiores
foi e será permitido encarnar na Terra para, por sucessivas expiações e
reencarnações, se purificarem, passarem de “filhos de iniquidade” a “filhos do
reino”; segundo, aquele em que o joio começará a ser apartado do bom grão, em
que os Espíritos culpados, rebeldes, voluntariamente cegos, serão afastados do
nosso planeta e lançados em planetas inferiores; terceiro, aquele em que,
concluída a separação do joio e do trigo, estará completado o afastamento dos
Espíritos inferiores e o nosso mundo se terá tornado morada de paz e felicidade
para Espíritos bons, já aptos a entrar na fase espírita.
A luz que brilha nos justos,
nos filhos do Senhor, é a da verdade, da fé e do amor.
Os mundos superiores formam,
na imensidade, o reino do Pai, e o nosso planeta, desde que atinja a necessária
elevação, lhes pertencerá ao número, constituindo, para nos servirmos de uma
comparação humana, “uma das províncias do reino de Deus.
Tesouro oculto. Pérola de alto preço.
Parábola da rede lançada ao mar
44.
O reino dos céus é semelhante a um tesouro oculto num campo; o homem que o
achou o esconde e, cheio de alegria pelo haver achado, vai vender tudo que
possui e compra aquele campo. 45. O reino dos céus ainda se assemelha a um
negociante que procura belas pérolas; 46, que, achando uma de alto preço, vende
tudo o que possui e a compra. 47. O reino dos céus se assemelha também a uma
rede de pescar que, lançada ao mar, apanha toda espécie de peixes. 48. Quando
fica cheia, os pescadores a puxam para bordo, onde, assentados, se põem a
separá-los, deitando os bons nos vasos e lançando fora os maus. 49. Assim será
no fim do mundo: os anjos virão e separarão os maus do meio dos justos; 50, e
os lançarão na fornalha de fogo, onde haverá prantos e ranger de dentes. 51.
Haveis compreendido todas estas coisas? Eles responderam: Sim. 52. Disse-lhes
Ele então: Todo escriba instruído acerca do reino dos céus se assemelha ao pai
de família que do seu tesouro tira coisas novas e coisas velhas.
Aquele que recebe a palavra
de Deus deve sentir-se tão feliz quanto o que, dando grande importância às
coisas materiais, acha um tesouro, se é que se pode estabelecer comparação
entre sentimentos de naturezas tão diversas. Cumpre-lhe, então, guardar bem
dentro do coração essa fonte de riquezas eternas e esforçar-se para que nenhum
dos vícios da Humanidade lhe possa arrebatar o precioso achado.
Vai
o homem e vende tudo o que tem. Quer isto dizer:
despoja-se dos erros, dos maus instintos, dos maus pendores, dos vícios, de
tudo, em suma, que o prende à matéria, como os bens terrenos o prendem ao solo
que os encerra.
E
compra o campo. Faz, para conservar aquele tesouro
espiritual, todos os sacrifícios que a Humanidade exija.
A
pérola é, como o tesouro, a verdade, que o homem encontra, com
o receber e agasalhar a palavra de Deus.
Quanto
à pesca, figura a escolha dos bons e o afastamento dos maus,
como na parábola do joio e do bom grão.
Por escribas designava Jesus
os homens mais esclarecidos que as massas e incumbidos de espalhar no meio
delas a luz contida no tesouro da inteligência e da erudição de que dispõem.
Aquele que se serve da
ciência que recebeu dos tempos antigos, para fortificar e, por assim dizer,
tornar recomendável aquilo que quer tornar crido, é o que tira do seu tesouro
coisas novas e coisas velhas.
Significa isso que nós
outros, os espíritas, devemos, dentro dos limites da nossa instrução, das
nossas faculdades, investigar as crônicas antigas, escrutar as legendas,
desencavar os velhos manuscritos sepultados no fundo das bibliotecas seculares
ou dos conventos e, armados dos vetustos documentos que chegarmos a possuir,
demonstrar aos tímidos, aos incrédulos, aos pseudo sábios a autenticidade e a
ancianidade da ciência que professamos.
Nenhum profeta é desestimado sendo no
seu país, na sua casa e entre seus parentes
53.
Tendo acabado de dizer essas parábolas, Jesus partiu dali; 54, e, voltando ao
seu país, os instruía nas sinagogas; de sorte que, tomados de admiração, eles
diziam: Donde lhe vieram esta sabedoria e estes milagres? 55. Não é ele o filho
do carpinteiro? Sua mãe não se chama Maria e Tiago, José, Simão e Judas seus
irmãos? 56. E suas irmãs não vivem todas entre nós? Donde então lhe vêm todas
estas coisas? 57. Assim era que dele se escandalizavam, Jesus, porém, lhes
disse: Nenhum profeta é desestimado senão no seu país e na sua casa. 58. E não
fez lá muitos milagres por causa da Incredulidade deles.
No parecer dos homens, Jesus
era filho de Maria e de José, crença que a Igreja Romana continua a sustentar,
firmada no milagre, tendo feito dela um dogma. Convindo em que essa crença
tenha sido necessária naquelas prístinas épocas, hoje, nós outros, os
espíritas, não podemos sobrepô-la à verdade que nos trouxe a nova revelação,
acerca da origem espírita de Jesus, das condições em que se deu o seu
aparecimento na Terra e da sua genealogia espiritual.
Nenhum
profeta é desestimado, senão no seu país, na sua casa e entre seus parentes. Essas
palavras, confirmativas destas outras que a sabedoria popular consagrou:
“Ninguém é profeta na sua terra” e “santo de casa não faz milagre”, encerram
uma reflexão filosófica, cujo valor todos temos podido verificar.
Quanto ao não haver Jesus,
ali, feito milagres, foi porque grande era a incredulidade, a cegueira
voluntária dos que o cercavam. A obstinação os levaria a fechar os olhos, para
não verem a luz, o que os tornaria mais culpados e passíveis de maiores
castigos. Vendo isso, o Mestre que, pela doçura do seu coração, jamais provocou
a revolta de qualquer Espírito, não quis vencer a oposição que à sua influência
levantavam encarnados e desencarnados, dominando-lhes a resistência, para lhes
poupar o remorso da falta em que incorriam.
Verifica-se assim que não
houve, para Jesus, impossibilidade de operar “milagres” naquela ocasião e
naquele lugar. O que houve foi, de sua parte, “ausência de vontade”. Ele se
forrou a exercer a sua autoridade incontestável sobre os Espíritos que se lhe
opunham à ação, para lhes não aumentar o grau da culpabilidade.
Nada obstante, sempre operou
algumas curas, pela imposição das mãos.
Elucidações evangélicas. FEB
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