Evangelho segundo Mateus - cap. 24

Resposta de Jesus à pergunta que lhe fizeram os discípulos acerca do seu advento e do fim do mundo, bem como sobre os sinais prenunciadores de uma e outra coisa. Guerras. Sedições. Pestes. Fomes. Falsos profetas. Afrouxamento da caridade. Perseguições. Assistência do Espírito Santo. Língua e sabedoria dadas por Deus. Paciência. Perseverança

1. Tendo saído do templo, Jesus se ia embora, quando dele se aproximaram os discípulos para lhe fazerem notar as edificações do templo. 2. Disse-lhes ele então: Estais vendo tudo isto? Em verdade vos digo que aqui não ficará pedra sobre pedra que não seja derribada. 3. E estando sentado no monte das Oliveiras, os discípulos o cercaram e assim lhe falaram em segredo: Dize-nos quando sucederão estas coisas e qual será o sinal de tua vinda e do fim do mundo. 4. Jesus respondeu: Vede que ninguém vos engane, 5, pois que muitos virão em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo, e a muitos enganarão. 6. Havereis de ouvir falar de guerras e rumores de guerra. Vede bem, não vos turbeis, porquanto é necessário que assim aconteça, mas não será ainda o fim; 7, pois, nação se levantará contra nação, reino contra reino, e haverá pestes, fomes e terremotos em diversos lugares. 8. Todas estas coisas, porém, são apenas o princípio das dores. 9. Sereis então entregues à tribulação e vos matarão; todas as nações vos odiarão por causa do meu nome. 10. Ao mesmo tempo muitos se hão de escandalizar e se trairão uns aos outros e uns aos outros se odiarão. 11. Muitos falsos profetas se levantarão e seduzirão a muitos. 12. E, porque abundará a iniquidade, a caridade de muitos esfriará. 13. Aquele, entretanto, que perseverar até ao fim, será salvo. 14. E este Evangelho do reino será pregado por todo o orbe para dar testemunho a todas as nações. Então virá o fim.

A resposta de Jesus a seus discípulos, quanto ao sinal da sua vinda e ao fim do mundo, teve por escopo manter alerta os povos, para pressentirem os acontecimentos que na marcha ordinária dos séculos teriam de ocorrer, assinalando as fases de progresso, de depuração e de transformação da Terra e da Humanidade, e preveni-los de sua vinda, em todo o fulgor espírita, ao planeta terreno, quando este se achar em condições de ser incluido na categoria dos orbes purificados.

Com a que deu, referente aos falsos cristos, quis acautelar as criaturas humanas contra os que, fazendo de suas palavras uma arma de dominação e assumindo o encargo de conduzir os povos, por falsas veredas os encaminham, mediante leis falsas e abusivas.

Quanto aos “grandes prodígios” que aparecerão no céu, em se atentando no espírito e no objetivo dessas palavras, ressalta que Jesus não aludia a sinais materiais, conforme supuseram os que, interpretando-as falsamente, consideraram as revoluções de certos planetas, como anúncio do fim do mundo. Os prodígios a que Ele se referia são as influências opostas sob que os homens se acharão, como se têm achado muitas vezes, apropriadas a lhes desenvolver o raciocínio e o livre-arbítrio e a pôr o espírito em condições de, no futuro, discernir melhor.

Aludia também às perseguições religiosas que já se verificaram no passado e que talvez estejam na iminência de recomeçar, mesmo no seio de povos que se dizem civilizados, tudo com a sua razão de ser na marcha dos acontecimentos humanos, como meio de encaminhar o planeta e a Humanidade, através de sucessivas transformações, ao ponto de poderem receber o Mestre em toda a sua glória.

Nem um só cabelo das vossas cabeças se perderá. Quer isto dizer que, qualquer que seja a sorte da matéria, o Espírito triunfará.

Pela vossa paciência possuireis vossas almas: Pela nossa paciência, seremos senhores de nós mesmos e nos poremos a salvo de cometer qualquer ato, ou de dizer qualquer palavra, que possam prejudicar o adiantamento do nosso Espírito.

E este Evangelho do reino será pregado por todo o orbe. As verdades que Jesus ensinou se disseminarão e tornarão o único farol cuja luz guiará a Humanidade, pelo caminho que a levará, possuída de fé, cheia de amor e caridade, até ao seu Criador. O Espiritismo veio para fazer chegar mais depressa o momento predito pelo Mestre, impelindo os homens a receber a boa nova, a ouvir com alegria a pregação do Evangelho da paz e do amor.

Então virá o fim. Virá, porque, praticando sinceramente todos os homens a lei do amor, trabalhando com ardor, em comum, pelo progresso de todos e de cada um, os Espíritos se desligarão mais prontamente da matéria que, por sua vez, mudará de natureza, acompanhando a marcha ascensional do Espírito. Aqueles que se conservarem rebeldes, refratários aos ensinamentos, aos exemplos, às revelações; que persistirem no endurecimento, na incredulidade, irão sendo gradativamente afastados para outros planetas. Assim, um momento virá em que, coincidindo com o acabamento da transformação planetária, essa separação estará terminada. Terá chegado, então, o fim.

Abominação da desolação no lugar santo. Males extremos. Cerco de Jerusalém

15. Quando, pois, virdes implantada no lugar santo (entenda-o quem ler) a abominação da desolação predita pelo profeta Daniel, 16, então fujam para os montes os que estiverem na Judéia 17, e o que se achar no eirado não desça para tirar de sua casa qualquer coisa, 18, e o que estiver no campo não volte para tomar a capa. 19. Ai das mulheres então grávidas e das que amamentarem nesses dias. 20. Pedi que a vossa fuga não se dê no inverno nem num dia de sábado; 21, pois que então a tribulação será tal como nunca houve desde o princípio o mundo até ao presente, nem haverá jamais. 22. E se não se abreviassem esses dias, ninguém se salvaria; mas, por amor dos escolhidos, eles serão abreviados.

Como nenhumas outras, também estas palavras de Jesus não devem ser tomadas ao pé da letra, conforme foram. Em espírito e verdade, elas são alusivas aos vícios de que cumpre a Humanidade se depure e aos abalos físicos por que a Terra tem de passar, para sua depuração e transformação, que se hão de efetuar em correspondência com a depuração e a transformação moral e física da mesma Humanidade.

Aproximam-se os tempos, é certo, pois a abominação da desolação (entenda o que lê aquele que ler) se acha implantada onde não deverá estar e se estende por sobre os homens. Os vícios se ocultam à sombra dos átrios dos templos. A luxúria, a avareza, a inveja, o orgulho, o luxo se apoderaram dos corações, que só deveram abrigar o amor de Deus e do próximo.

Ai das ‘mulheres então grávidas e das que amamentarem! Sim, ai delas, pois que as criancinhas estarão confiadas a esses guias infiéis, que lhes profanam as inteligências juvenis, semeando nelas frutos de iniquidade. Aquela exclamação do divino Mestre, considerada do ponto de vista das revoluções físicas, inevitáveis para a renovação planetária, objetivava, acima de tudo, pôr em destaque a grandeza das calamidades que sobrevirão e não pouparão nem a criancinha de peito, nem o nascituro, ferindo as mães nas suas mais caras esperanças.

Pedi que vossa fuga não se dê no inverno, nem ‘num dia de sábado. O sábado era o dia do repouso, como é hoje o domingo, e o inverno é a estação de ásperos rigores. Dizendo isso, tinha Jesus em mente concitar-nos a estar vigilantes e a orar ao Senhor, a fim de não sermos improvisamente surpreendidos na preguiça; a fim de nos acharmos preparados para comparecer perante Ele, de modo a não termos que suportar o sofrimento, a expiação.

Nunca houve, nem haverá jamais tribulação semelhante. Ë que, desde que se formou o globo em que habitamos, suas transformações não têm ido além de um aperfeiçoamento da matéria, ao passo que as que se hão de ainda produzir transformarão progressivamente essa mesma matéria em substâncias fluídicas apropriadas às necessidades dos novos corpos humanos. Maior, portanto, do que as até então sofridas será a aflição desses dias vindouros, quer do ponto de vista das subversões físicas parciais, quer do das consequências que daí advirão para os que se conservarem obstinadamente rebeldes ao progresso, ou retardatários, os quais, ao tempo daquela depuração e transformação, se verão afastados do nosso e relegados para planetas inferiores.

Estejamos certos, porém, de que o Senhor jamais privará qualquer de seus filhos, por mais culpado que possa ser, da faculdade e dos meios de se tornar melhor. Assim, os que forem exilados deixarão de encarnar na Terra, mas as suas reencarnações sucessivas seguirão seu curso, se bem que noutro meio, até que, tendo-se emendado, se façam merecedores de volver à primitiva pátria.

Todos nos achamos no declive e a caminho dessa finalidade; mas, ninguém nos diz que tais catástrofes, inevitáveis em se tratando de uma renovação planetária, se hajam de produzir simultaneamente, ou amanhã, nem que durarão de um sol a outro. Semelhantes transformações não se operam de um momento para outro; demandam séculos e séculos, que nada são para Aquele que os deixa sair do seu pensamento e cuja infinita misericórdia de infinitos meios se serve para despertar todos os seus filhos do letargo em que tenham caído e encaminhá-los para á conquista da felicidade eterna.

Não nos acabrunhemos com a perspectiva dessas revoluções catastróficas; antes, preparemo-nos para delas sairmos vencedores, deixando o homem velho entre os destroços do velho mundo e renascendo no planeta renovado.

Referindo-se à Jerusalém hebraica, Jesus abarcava com o seu pensamento o mundo, figurado por aquela cidade. Tal como esta, o mundo, a Humanidade hão de suportar muitas vicissitudes, muitos assaltos, O terror se espalhará entre os homens, pois os inimigos que mais devemos temer se reunirão em maior número, para os assaltar. Esses inimigos são os nossos vícios. A Jerusalém atual será destruída; mas, uma outra reconstruiremos, eterna, cujos felizes habitantes nada mais terão que recear. O tempo, a reencarnação, o progresso, dentro da marcha dos acontecimentos planetários e humanos, executarão a obra de renovação, assim de ordem física, pelo que toca à Terra, como de ordem física e moral, pelo que concerne à Humanidade.

“E Jerusalém será pisada pelos Gentios, até que se cumpram os tempos das nações”, disse Jesus, aludindo à época que mediana entre a em que isso era dito e a que começa pela nova era do puro Cristianismo, do advento do Espírito.

O tempo das nações se terá cumprido, quando estiver implantado no mundo terreno o reinado universal da lei do amor e da caridade, que se hão de estender qual manto, para cobrir todos os filhos da Terra e conduzi-los, pela reciprocidade e pela solidariedade, à unidade fraternal.

Falsos Cristos. Falsos profetas

23. Então, se alguém vos disser: Eis aqui o Cristo! ou: Ei-lo ali! não acrediteis: 24, porque falsos Cristos e falsos profetas surgirão e farão grandes maravilhas e operarão prodígios tais que, se fora possível, enganariam até os escolhidos. 25. Vede que de antemão eu vo-lo predisse. 26. Se, pois, vos disserem: Ele lá está no deserto! não saiais, ou: Está no interior da casa! não acrediteis; 27, porque, como o relâmpago que parte do Oriente e se mostra até no Ocidente, assim será a vinda do Filho do homem. 28. Onde quer que esteja o corpo, aí se reunirão as águias.

Estas palavras encerram um aviso aos homens, para que estejam precatados contra os que, em nome do Cristo, tentarem desviá-los da lei de amor e de caridade que Ele pregou.

Pronunciou-as Jesus, antevendo as dissidências que as ambições humanas originariam em sua Igreja, fundada no amor, e que arrastariam as criaturas ao egoísmo, ao orgulho e a todos os sentimentos materiais que as levaram ao extremo de negar Deus.

Os falsos cristãos e falsos profetas farão prodígios e portentos tais, que, se fora possível, enganariam até os escolhidos. Também estas palavras do Mestre se referem aos esforços que foram e serão empregados para desviar os homens da obediência pura e simples às leis de Deus e do seu enviado e para forçá-los a se submeterem a um código religioso de origem humana, contrafação da mais grandiosa e mais simples moral que se possa querer e esperar. Referem-se, igualmente, aos esforços empregados pelos pastores infiéis e às ciladas urdidas aos rebanhos, a fim de fazê-los enveredar por falsos caminhos.

Em suma, Jesus, nesta passagem, aludiu a tudo quanto se fez, faz e fará para afastar da luz os homens e encaminhá-los para as trevas, quaisquer que sejam os meios empregados.

Onde quer que esteja o corpo, aí se reunirão as águias. Onde quer que estejam os encarnados, aí se reunirão desencarnados, para produzirem esses fatos, esses fenômenos, que os primeiros tomam por prodígios, por milagres, considerando-os uma derrogação das leis da Natureza; porém, que não são mais do que uma aplicação dessas leis, e que tanto podem ser produzidos por más, como por boas influências ocultas, com o auxílio de faculdades orgânicas especiais, que o mais indigno, do mesmo modo que o mais digno dos encarnados pode possuir.

A revelação e a ciência espíritas nos ensinam que a simples produção de fenômenos espíritas, de fenômenos mediúnicos, de modo algum constitui o critério pelo qual possamos e devamos reconhecer a moralidade e a veracidade daquele por cujo intermédio eles se operem, nem, portanto, se nos achamos em presença de um verdadeiro ou falso Cristo, de um verdadeiro ou falso profeta. Por grandes, pois, que sejam os prodígios ou portentos que observemos, se aquele que os produz tentar divorciar-nos da prática do amor e da caridade, da prática dos ensinamentos e exemplos do Mestre, da lei simples e pura que Ele nos legou, não lhe demos crédito, não o sigamos.

Predição dos acontecimentos de ordem física e de ordem moral que precederão o advento de Jesus em todo o seu esplendor espiritual e predição desse advento

(Marcos, 13:24-27; Lucas, 21:25-28)

29. Logo depois da tribulação desses dias, O Sol se escurecerá, a Lua não dará sua claridade, as estrelas cairão do céu e as virtudes dos céus se abalarão. 30. Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem e todas as tribos da Terra gemerão e chorarão e verão o Filho do homem vir sobre as nuvens do céu com grande poder e majestade. 31. E ele enviará seus anjos. que farão ouvir a voz retumbante de suas trombetas e reunirão dos quatro ventos, de um extremo a Outro dos céus, os seus eleitos.

As referências aqui feitas ao escurecimento do Sol e da Lua, à queda das estrelas, etc., foram um novo aviso que, veladamente, Jesus deu dos acontecimentos de ordem física e de ordem moral que hão de suceder, até ao momento em que o reino de Deus se estabeleça em todos os corações. No tocante à ordem física, aludia Ele às revoluções parciais e sucessivas, que ocasionarão a transformação do nosso planeta, porém, não bruscamente e sim por obra dos séculos.

O nosso globo que, como todos, saiu dos fluídos Incandescentes e impuros, isto é, carregado de substâncias próprias à constituição da matéria, tem que, despojado de todos os princípios materiais, imergir nos fluídos puros. Para lá chegar, tem que seguir, quanto à decomposição da matéria, a mesma progressão que seguiu para a sua composição. Antes, porém, já nós teremos passado por imensa modificação, as raças se terão renovado pela encarnação de Espíritos mais bem preparados e tudo terá progredido.

A alusão, veladamente feita, ao escurecimento do Sol e à desaparição da luz da Lua entende com o fato, que se há de verificar, de a Terra se ir afastando desses dois astros. Quando depurada, ela se terá afastado do centro onde ora gravita e então esplenderá de luz própria. As estrelas que cairiam do céu, as virtudes celestes que se abalariam são os luzeiros do Senhor, os Espíritos protetores dos homens, que trazem as claridades do céu e as fazem chegar aos nossos olhos. Cada vez em maior número, essas estrelas se abalarão e descerão até nós, para fazerem luzir às nossas vistas claridades desconhecidas, que neste momento nos ofuscariam.

O sinal do Filho do Homem, que, segundo a predição de Jesus, há de aparecer no céu, é o advento do reinado do amor e da caridade. O joio será então completamente separado do trigo, isto é, os obstinados no mal serão afastados do nosso planeta e a Humanidade, regenerada, estará pronta para receber em seu coração o reino do Senhor. Nessa época é que um só será o Pastor, a cujos pés todas as ovelhas se prostrarão e, diante das grandes graças que terão recebido, chorarão tanto de reconhecimento e alegria, como de pesar por haverem desconhecido a mão paternal que as dirigiu.

Aí, verão o Filho do homem vir sobre as nuvens do céu, com grande poder, grande majestade e grande glória, isto é, ve-lo-ão vir em todo o fulgor espírita, ao seu reino, preparado para tornar-se um dos reinos do Pai, como habitação de puros Espíritos.

Parábola da figueira. Predição da era nova do Cristianismo do Cristo, da era espírita. Espíritos haverá que, encarnados ao tempo em que Jesus falava, verão, reencarnados na Terra, as coisas por ele preditas para a depuração e a transformação do planeta e da Humanidade terrenos. A Terra passará, mas as palavras de Jesus não passarão

(Marcos, 13:28-31; Lucas, 21:29-33)

32. Aprendei uma parábola tomada à figueira: Quando seus ramos já estão tenros e as folhas brotam, sabeis que vem próximo o estio. 33. Assim, também, quando virdes todas essas coisas, sabeis que o filho do homem está próximo, está à porta. 34. Em verdade vos digo que esta geração não passará, sem que todas essas coisas se cumpram. 35. Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão.

Jesus se serviu da parábola, da comparação com a figueira e outras árvores apenas para exprimir e desenvolver os pensamentos que acabara de externar sobre o aparecimento do sinal do filho do homem, no céu, sobre a proximidade da nossa redenção. Teve por fim, com esta parábola, chamar mais vivamente a atenção dos que o ouviam, impressioná-los mais fortemente pelo que ia acrescentar e prender a atenção das gerações que haviam de suceder-se, sobretudo das que, como a nossa, veriam despontar no horizonte, com a nova revelação, o predito advento do Espírito da Verdade e estavam destinadas a compreender, em espírito, as suas palavras.

Esta geração não passará, sem que todas essas coisas se tenham cumprido. Compreendidas segundo o espírito que vivifica, por estas palavras, Jesus se referia à geração de Espíritos que, vivendo então na Terra, encarnados, nela viveram mais tarde e tornarão a viver, reencarnados, quando o nosso planeta atravessar as últimas fases da sua transformação física e a Humanidade as últimas da sua transformação física e moral: quando, pois, se 398 estiver cumprindo tudo o que Ele predisse.

Passará o céu e a Terra, mas as minhas palavras não passarão. Tudo o que é de ordem física, no espaço, na imensidade, com relação ao nosso, como a todos os mundos, passa pelo cadinho da transformação. Quer isto dizer que, de acordo com as leis de destruição, de reprodução e de progresso, tudo se renova, depura e modifica, percorrendo a escala que vai do infinitamente pequeno ao infinitamente grande, na vida e na harmonia universais. Mas, as palavras de Jesus, órgão do Senhor onipotente, não passarão, porque são imutáveis e eternas, como eternos e imutáveis são, na ordem física, na ordem intelectual e na ordem moral, a lei do progresso, para o Espírito, e as leis naturais, na ordem material e na ordem fluídica. Elas não passarão, porque são ao mesmo tempo princípio fundamental, condição e meio de progresso nos mundos inferiores, de provações e expiações, como são o caminho único que pode levar o homem aos mundos superiores, preparando-lhe o acesso a esses mundos e fazendo-o penetrar neles.

Desconhecida é a hora em que se darão os acontecimentos preditos para depuração e transformação da Terra e da Humanidade terrena. O homem não pode nem deve procurar devassar os segredos do futuro, mas deve estar sempre pronto a comparecer diante do Senhor e a se tornar digno de evitar tudo quanto há de suceder, trabalhando desde já, ativa e continuamente, pela sua purificação e seu progresso

(Marcos, 13:32-37; Lucas, 21:34-38)

36. Mas, do dia e da hora ninguém o sabe, nem os anjos do céu senão só o Pai. 37. Assim como foi nos dias de Noé, assim será também no advento do Filho do homem. 38. Assim como nos dias anteriores ao dilúvio os homens comiam e bebiam, casavam e davam seus filhos em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, 39, sem pensarem no dilúvio senão quando este veio e os levou a todos, também assim será no advento do Filho do homem.

“Do dia e da hora ninguém o sabe, nem os anjos do céu NEM MESMO O FILHO, senão só o Pai”.

Dizendo isso, quis Jesus que os homens compreendessem quão orgulhoso e inútil é o pretenderem sondar o futuro, que só Deus conhece. Ao mesmo tempo, quis infirmar desde logo a ideia da divindade que, pela sua presciência, sabia lhe havia de ser atribuída, ideia cuja duração só seria permitida pelo tempo que necessário fosse à transformação do culto material em culto espiritual.

Deus releva sempre os erros que, em matéria de crenças, são cometidos de boa-fé. Unicamente o orgulho e a hipocrisia, a felonia e a mentira são punidos, porquanto só as faltas tornam culpada a criatura.

O homem deve estar sempre alerta.  Palavras muitas vezes repetidas por Jesus com referência à separação do joio e do trigo

40. Então, de dois homens que estiverem no campo, um será tomado, o outro será deixado. 41. De duas mulheres que estiverem moendo num moinho, uma será tomada e a outra deixada. 42. Portanto, vigiai; pois não sabeis a que hora virá o Senhor. 43. Mas, sabei que se o Pai de família soubesse a que hora viria o ladrão, certamente vigiaria e não deixaria que lhe arrombassem a casa. 44. Estai vós, conseguintemente, preparados sempre, porquanto à hora que menos pensardes virá o Filho do homem.

Já foram explicadas estas palavras que Jesus proferiu diversas vezes em ocasiões e lugares diferentes e devem estar compreendidas. Uns hão de aproveitar da regeneração, outros, porém, serão mandados para planetas inferiores. Uma parte avançará, enquanto que a outra se conservará indigna de participar das novas encarnações no planeta depurado.

Jesus INSISTE e FRISA a incerteza do dia e da hora dos acontecimentos, quer de ordem física, quer de ordem moral, que predissera, a fim de que estejamos cada vez mais alertas e vigilantes. Quão poucos são ainda os que vêem os sinais dos tempos, da era nova do Cristianismo do Cristo, da era espírita, da aurora da regeneração da Humanidade.

A obra do progresso segue a sua marcha; mas, não sabemos até onde ela tem que ir, nem quando quererá o Senhor dar a última demão na da regeneração humana. Estejamos, portanto, em guarda, prontos, pois bem pode acontecer que sejamos surpreendidos improvisamente. E o Senhor rejeitará os servidores indolentes que não tiverem sabido esperá-lo.

Mesmo antes dessa escolha final, a desencarnação não nos surpreende muitas vezes de improviso, no curso das nossas existências? Pois bem: se, pela vigilância constante, não nos mantivermos preparados para recebê-la a qualquer momento, não nos forraremos às torturas do remorso na erraticidade, nem a muitas das expiações, reparações e provas que se lhes seguirão e que evitaremos, se estivermos sempre vigilantes sobre nós mesmos, como repetidamente o recomendou o divino Mestre.

Parábola do servo fiel e prudente e do mau servo

45. Quem julgais que é o servo fiel e prudente ao qual seu senhor confiou os outros servos seus para que a tempo dê de comer a todos? 46. Feliz desse servo, se o seu senhor, quando vier, o achar assim fazendo. 47. Em verdade vos digo que lhe confiará todos os seus bens. 48. Mas, se aquele servo, por ser mau, disser consigo mesmo: “Meu senhor tardará em vir” 49, e se puser a maltratar os companheiros e a comer e beber com os que se embriagam; 50, seu senhor virá num dia em que ele não o espera e numa hora que ele não sabe qual seja; 51, o SEPARARÁ dos outros e fará partilhar da sorte dos hipócritas; é aí que haverá prantos e ranger de dentes.

Estas palavras do Mestre, apropriadas, como todas as que Ele pronunciou, aos tempos e às inteligências, se aplicam aos que tomaram o encargo de dirigir seus irmãos, de os conduzir pelo caminho do progresso, de espargir sobre eles a luz. Felizes dos que, servos fiéis e prudentes, distribuírem a tempo e a hora o alimento, dando a cada um a luz e a verdade de que necessitar e que puder receber. Grande recompensa terão, vendo abrir-se cada vez mais, diante de seus passos, a estrada que, levando à perfeição, dá acesso ao trono do Senhor onipotente, que então os fará partícipes de sua inteligência, do seu poder e do seu amor, na vida e na harmonia universal.

Os que, porém, abusam da sua autoridade, da confiança de que são indignos, para transviar os que deviam ser por eles guiados; para mais apertar a venda nos olhos dos que deviam ser por eles esclarecidos e se entregam às voluptuosidades humanas, lançando mão de bens em que não deveriam tocar, sequer, esses serão severamente punidos. Responderão pelas suas faltas e pelas que tenham induzido outros a cometer.

Maus servos, eles irão, exilados, para mundos inferiores, para o meio dos “infiéis”, servir de guias a “cegos” e de instrutores a “surdos”. Lamentarão aí amargamente não haverem desempenhado a missão de que se incumbiram, quando se achavam entre seres inteligentes, capazes de os compreender. Sofrerão horrivelmente e tanto mais, quanto mais adiantados tenham sido no planeta terreno.

É esta uma lição que se aplica a todos os que pediram e obtiveram a missão de dirigir seus irmãos pela senda do progresso físico, moral e 403 intelectual. As palavras do Mestre, de onde essa lição decorre, embora se refiram a coisas de ordem espiritual, também se nos aplicam, no tocante às coisas de ordem temporal, do ponto de vista assim da recompensa, como das consequências dolorosas.

Elucidações evangélicas. FEB (e-book).

  

Nenhum comentário:

Postar um comentário