O engano constitui fenômeno
psicológico ínsito no processo evolutivo. Há uma inevitável tendência
existencial para processos enganosos nos diferentes reinos da Natureza.
Vegetais disfarçam-se para
atrair presas que lhes possibilitem a manutenção, enganando-as de maneira
hábil.
Insetos igualmente mudam a
aparência de forma que enganam a outros, dando prosseguimento à cadeia
alimentícia.
Animais diversos, por
instinto, adquiriram o hábito de acomodar-se em posturas magistrais que enganam
os predadores, assim mantendo a prole e a própria vida, quando não atacam
aqueles que lhes constituem o recurso nutritivo preservador da existência.
O ser humano, em face da
arte e ciência de pensar, engana outro da mesma espécie bem como de diferentes
categorias da escala evolutiva, propositalmente ou não.
Inconscientemente o
indivíduo deixa-se enganar por sintomas diversos do organismo, que lhe
propiciam prazer ou insatisfação, passando a atender-lhes os impositivos,
submetendo-se-lhes de maneira tácita, sem maiores preocupações.
Fugas psicológicas facilitam a existência de muitos homens e mulheres que se deslocam dos problemas, transferindo-os de tempo e lugar, embora saibam que eles retornarão logo depois com as cobranças compatíveis.
Enfermidades são
escamoteadas por terapias inócuas ou ilusórias, enganando os pacientes que
resolvem por adiar as soluções, por se considerarem incapazes de fazê-lo neste
momento, que é o adequado.
Da mesma forma, deixam-se
enganar por soluções falsas de ocorrências que lhes dizem respeito, na
tentativa de evitar-se preocupações e aborrecimentos.
Os enganos multiplicam-se na
área dos sentimentos, quando têm lugar os arroubos de paixões de vária ordem,
dando a impressão de que se tratam de atitudes definidoras dos rumos do futuro.
De igual maneira, as reações
emocionais enganam as criaturas, facultando a vivência de condutas irrefletidas
que parecem favoráveis ao bem-estar, mas que não passam de recursos momentâneos
que não resolvem os desafios da existência.
Relacionamentos afetivos
apressados ou pagos enganam a sede de amor real e tentam preencher o vazio
interno, sem que resolvam as necessidades da emoção ou da razão.
Ilusões bem elaboradas pela
mente ociosa enganam a realidade que se tenta postergar, avançando- -se sem
rumo nem discernimento.
Promessas variadas são
cultivadas no plano mental, enganando a consciência do Eu, que deveria estar
vigilante para alcançar os objetivos do processo evolutivo.
O hábito do engano é tão
corriqueiro, que mesmo diante de decisões impostergáveis e ocorrências
inadiáveis, tenta-se enganar a vida, evitando-se o enfrentamento com a
realidade, como nos casos da desencarnação, dos desafios existenciais que fazem
parte do programa de crescimento interior.
A consciência tem como
finalidade desenvolver no Espírito o senso crítico em relação às ocorrências do
cotidiano existencial, iluminando-as e ajudando-as na fixação de natureza
profunda, de forma que, selecionadas pelas qualidades fundamentais de que se
revistam, contribuam para a sua felicidade.
Quando se alcança a
autoconsciência, valores novos enriquecem os sentimentos e direcionam a vontade
sempre em sentido ascensional, despertando interesses não habituais, com os
quais a vida se torna relevante e significativa.
Nessa fase, em que se viaja
da consciência geral para a autoconsciência, a escala de valores éticos sofre
significativa alteração, mudando do conteúdo convencional, simples e oportuno,
para outros duradouros e representativos das aspirações de autoiluminação e
liberdade.
Os enganos habituais, que
fazem parte do esquema do desculpismo em relação à responsabilidade, cedem
lugar ao enfrentamento dos fatos conforme se apresentam, ensejando a vivência
compatível com as conquistas da inteligência e do sentimento de nobreza.
Enquanto isso não sucede, os
enganos deixam de ser naturais para transformar-se em condutas indignas,
estimulando atitudes de astúcia e de perversidade, mediante as quais o egoísmo
predomina a serviço das ambições desarrazoadas.
A mentira, a calúnia, a
difamação, a farsa tomam o aspecto de máscaras enganosas de que se utilizam os
indivíduos frágeis moralmente para suportar a luta sem quartel, na qual se
encontram, sem as estruturas emocionais e morais necessárias para o bom
desempenho.
Utilizando-se da astúcia, ao
invés de competir, lutando com empenho pessoal para conquistar os títulos de
sabedoria, enganam-se, investindo contra os demais, que supõem impedimentos
para a sua comodidade, utilizando-se desses recursos nefários, comprometendo-se
perante a própria assim como a Consciência Cósmica.
Esse tipo de comportamento
feito de enganos, ao próprio agente engana, porque traz próximas e futuras
tribulações que lhe tornam a existência um fardo insuportável de ser carregado.
Engana-se todo aquele que
pressupõe lograr o triunfo de qualquer natureza através de métodos escusos. A
vitória aparente de que desfruta pode ser considerada a de Pirro,
insignificante e destituída de representatividade, abrindo espaços emocionais
para os conflitos que surgem no momento próprio.
É inevitável a ação do
mecanismo de desenvolvimento espiritual do ser humano, que sempre se manifesta
por impositivo da Lei Divina.
Pode-se ignorar por
momentos, enganando-se, mediante a ideia de que tudo se regularizará
espontaneamente, e que o problema de agora será autorresolvido, mas o
automatismo da evolução coloca-o na via de acesso e termina por alcançar o
infrator que lhe foge da presença.
O engano automático, pois,
que se observa em a Natureza, não pode ser transformado em atitude moral que
prejudique as demais pessoas, na condição de egoísmo avassalador
injustificável, para usufruir-se autobenefícios.
Por isso medram tribulações
múltiplas nas paisagens humanas, que se avolumam e desarticulam multidões.
É Lei da Vida a convivência
social, e para que ela frutifique abençoada, a honradez, a veracidade, a vigência
do sentimento de respeito e de amor fazem-se impositivas.
Evita enganar-te
conscientemente, assumindo posturas equivocadas, que disfarçam os objetivos que
deves alcançar, lutando com sinceridade pela tua transformação moral para
melhor, e pela renovação dos teus sentimentos que devem fluir do âmago do ser
que és.
Da mesma forma, não enganes
a ninguém através de ardis e de condutas que te projetam a patamares que ainda
não alcançaste, sendo autêntico mas não agressivo na forma de conduzir-te, de
apresentar-te, de viveres...
Quem busca a libertação
espiritual dos vícios e dependências nefastas não se pode permitir o ópio dos
enganos cujo efeito logo passa, devolvendo a realidade da qual se pretende
fugir. Joanna de Ângelis
(Página psicografada pelo
médium Divaldo Pereira Franco, no dia 11 de maio de 2006, na residência de Euda
Kummer, em Mannheim, Alemanha.)
Fonte: Reformador, ano 125,
nº 2.134, janeiro de 2007.
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