Orgulho e hipocrisia dos escribas e dos
fariseus. Ouvi-los, mas, não os imitar
1.
Falou então Jesus ao povo e a seus discípulos, 2, dizendo: Na cadeira de Moisés
se sentaram os escribas e os fariseus. 3. Observai e fazei, pois, o que eles
vos disserem, porém, não os imiteis nas suas obras, porquanto dizem. mas não
fazem. 4. Atam pesados e insuportáveis fardos e os colocam sobre os ombros dos
homens e no entanto nem ao menos com o dedo os querem tocar. 5. Todas as suas
ações eles as praticam para serem vistos pelos homens; daí o alargarem seus
filatérios e alongarem suas franjas. 6. Querem os primeiros lugares nos
banquetes e os primeiros assentos nas sinagogas. 7. Gostam de que os saúdem nas
praças públicas e de que os homens lhes chamem mestres.
Em todos os tempos, houve
sempre doutores que pregam e ensinam, mas não praticam a moral que preconizam.
Aí está o escolho.
A semente que dessa forma
lançam pode cair em bom terreno e produzir. Mas, também, amiúde se perde,
porquanto o exemplo constitui o melhor ensinamento.
Poderá o discípulo que
preparamos queixar-se da severidade dos costumes que lhe impomos, se a observar
nos nossos? Se nos vir indulgente para com os outros. deixará de compreender a
indulgência? Se lhe fizermos ver como se pratica a caridade, não será mais
pronto em se mostrar caridoso? Não amará seus irmãos, se com ele praticarmos o
amor?
Não imitemos, pois, os
escribas e fariseus orgulhosos. Tornemos, ao contrário, leve o peso aos nossos
irmãos, mostrando-lhes, por nós mesmos, como pode ser carregado sem fadiga.
Lembremo-nos de que Jesus disse: “Observai e fazei o que vos disserem; porém, não os imiteis nas suas obras, porquanto o que dizem não fazem”. Referia-se aos escribas e fariseus, que pregavam e ensinavam sentados na cadeira de Moisés.
Se o Cristianismo e, sobretudo,
o Catolicismo, não têm produzido os frutos evangélicos, que deviam produzir, é
porque essas palavras do Mestre se tornaram frequentemente aplicáveis aos
escribas e fariseus dos modernos tempos que, assentados na cadeira que Ele
ocupou, pregam e ensinam, como os de outrora, o que não praticam. Ë sempre mais
fácil falar do que obrar.
Nenhum homem deve desejar ou aceitar o
título ou o apelido de mestre. Deus, único pai. O Cristo, único doutor, único
mestre. Os homens, irmãos todos
8.
Não queirais vós, porém, ser chamados mestres, porquanto um único mestre tendes
e todos sois irmãos. 9. A ninguém na Terra chameis vosso pai, porquanto um único
pai tendes, que está nos céus. 10. Nem vos deis o titulo de doutores, porquanto
não tendes mais que um só doutor e um só mestre o Cristo. 11. Aquele que é o
maior entre vós será vosso servo; 12, porquanto o que se exaltar será humilhado
e o que se humilhar será exaltado.
Este ensino, que Jesus deu a
seus discípulos e a todos os homens, assim se resume: Humildade, fraternidade.
Interdizia a todos os
daquela época e do futuro o uso do título de pai, que só cabe a Deus, e bem
assim o de Mestre, que só a Ele, o Cristo, compete. Só por orgulho e farisaísmo
pode o homem, como fazia outrora, usurpar ainda aqueles títulos.
Tal ensinamento, porém, como
se vê, é incompatível com o orgulho que enche os odres materiais, os quais
tomariam por insulto serem comparados a qualquer pobre mortal humilde, como
tantos há. Por isso mesmo, precisamos conhecer o nosso maior inimigo, para, confessando
a nossa fraqueza, cuidarmos de não ser vítimas dele.
Na verdade, a justa
apreciação de si mesmo é tão difícil que nenhum dentre nós poderá julgar-se
capaz de fazê-la. Conseguintemente, nunca nos acreditemos mais dedicado, nem
mais caridoso, nem mais probo, nem mais sábio, nem mais apto do que este ou
aquele, ou do que o conjunto dos nossos semelhantes, porque, se lhes levarmos
vantagem por qualquer daquelas qualidades, dar-se pode que, com relação a
outras, nos achemos muito abaixo deles.
A justa apreciação de si
mesmo deve sempre dar ao homem criterioso a convicção de que lhe cumpre
trabalhar por destruir em si o que é mau, por cultivar o que é bom, por
adquirir o melhor.
Aquele que for o maior entre
vós será o vosso servo. Quer dizer: se o orgulho o dominar, ele virá a ser
vosso servo quando, ao recomeçar a sua prova, tiver que se humilhar.
Aquele que tenta elevar-se
acima dos outros é sempre impelido por um sentimento de orgulho. No dia da
retribuição, terá que o expiar, do mesmo modo que o humilde de coração (mas não
apenas dos lábios) terá que receber a sua recompensa.
Escribas e fariseus hipócritas
13. Mas, ai de vós, escribas
e fariseus hipócritas, que fechais aos homens o reino dos céus, pois nem
entrais nem deixais que entrem os que desejam entrar. 14. Ai de vós, escribas e
fariseus hipócritas, que, com as vossas longas orações, devorais as casas das
viúvas: mais rigoroso será por isso o vosso julgamento. 15. Ai de vós, escribas
e fariseus hipócritas, que rodeais o mar e a terra para fazer um prosélito e
que, depois de o terdes feito, o tomais duplamente mais merecedor da geena do
que vós. 16. Ai de vós, guias cegos que dizeis: Jurar um homem pelo templo nada
é, mas aquele que jurar pelo ouro do templo fica obrigado a cumprir o seu
juramento. 17. Estultos e cegos! qual o que vale mais: o ouro, ou o templo, que
santifica o ouro? 18. Jurar pelo altar, dizeis, nada é, mas aquele que jurar
pela oferenda que está sobre o altar fica obrigado a cumprir o seu juramento. 19.
Cegos! que é o que mais vale: a oferenda, ou o altar que santifica a oferenda? 20.
Quem, pois, jura pelo altar, jura por este e por tudo o que sobre ele está; 21,
quem jura pelo templo jura por este e por aquele que o habita; 22, quem jura
pelo céu jura pelo trono de Deus e por aquele que nele está assentado.
Escribas e fariseus
hipócritas são todos os que se abrigam por detrás de uma fé que não possuem, a
fim de abusarem da credulidade dos homens e dela se aproveitarem para a
consecução de seus fins; são os que mercadejam com suas orações e vendem as
graças do Senhor, assim como a entrada na morada divina.
São cegos, guias de cegos,
que emaranham seus irmãos numa teia inextricável de puerilidades culposas; que
substituem os ensinamentos singelos de Nosso Senhor Jesus Cristo, constantes
nos Evangelhos, por um tecido de mandamentos mesquinhos e arbitrários que eles
mesmos elaboram: pesadas cadeias com que embaraçam o passo no sagrado carreiro
da salvação, às criaturas humanas, as quais, cegas também, mas que, no entanto,
para verem a luz, bastaria abrissem os olhos, se submetem a um jugo que a razão
repele.
Felizmente, porém, por mais
que hajam feito e ainda façam, a luz que se irradia da santa Doutrina do divino
Mestre vai espancando as trevas das inteligências e dos corações e esses
infelizes, um dia, reconhecerão quão criminosos foram. O remorso, então, e a
expiação lhes farão curvar as frontes orgulhosas e dobrar os joelhos
inteiriçados.
Queiram ou não queiram, hão
de eles convencer-se, e bem assim os que lhes obedecem ao mando, que já vai
distante o tempo das supersticiosas imposições da teocracia; que ao seu reinado
sucedeu o império da inteligência e da razão, tornadas aptas a apreender, em
toda a sua simplicidade e pureza, as verdades evangélicas, únicos fundamentos
inabaláveis da fé esclarecida e ativa.
Sim, passou o tempo da fé
cega. Os crentes, os verdadeiros crentes, se formam, e cada vez mais assim
será, pelo exercício livre do pensamento, pelo estudo, pela observação, pela
investigação, pela análise.
Doutores hipócritas que têm o coração
viciado e enganam os homens pelos atos exteriores, que os afastam da luz e da
verdade
23.
Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, que pagais o dízimo da hortelã, do
endro e do cominho e não vos importais com o que há de mais importante na lei:
a justiça, a misericórdia e a fé, coisas estas que devíeis praticar sem omitir
as outras. 24. Guias cegos, que coais um mosquito e engolis um camelo! 25. Ai
de vós, escribas e fariseus hipócritas, que limpais por fora o copo e o prato e
que, entretanto, estais por dentro cheios de rapina e de imundícias! 26.
Fariseus cegos, limpai primeiro o interior do copo e do prato, para que também
o exterior fique limpo. 27. Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, que vos
assemelhais a sepulcros caiados, que por fora parecem belos aos homens, mas que
por dentro estão cheios de ossadas e podridões! 28. Assim também vós:
exteriormente pareceis justos aos homens, mas por dentro estais cheios de
hipocrisia e de iniquidade. 29. Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, que
erigis túmulos aos profetas, que adornais os monumentos dos justos e dizeis: 30.
Se vivêramos nos dias de nossos pais, não os teríamos acompanhado no
derramamento do sangue dos profetas. 31. Testificais, assim, contra vós mesmos,
que sois filhos daqueles que mataram os profetas. 32. Enchei, pois, a medida de
vossos pais. 33. Serpentes! raça de víboras! Como podereis escapar da
condenação à geena? 34. Eis por que vos vou enviar profetas, sábios e escribas,
que a uns matareis e crucificareis e a outros acoitareis nas vossas sinagogas e
perseguireis de cidade em cidade. 35. E para que sobre vós venha todo o sangue
inocente que há sido derramado na Terra, desde o sangue do justo Abel até o
sangue de Zacarias, filho de Baraquias, a quem matastes entre o templo e o
altar. 36. Em verdade vos digo que tudo Isto virá cair sobre esta geração. 37.
Ah! Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te são
enviados! quantas vezes tenho querido reunir teus filhos, como a galinha reúne
debaixo das asas os seus pintos, e não quiseste! 38. Eis que deserta vos será
deixada a casa. 39. Porque, eu vos declaro que desde agora não mais me vereis,
até que digais: Bendito seja o que vem em nome do Senhor.
“Ai de vós, escribas e
fariseus hipócritas, que pagais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, da
arruda e de todas as ervas, e que omitis, negligenciais o que há de mais
importante na lei: a justiça e o amor de Deus, a misericórdia e a fé; destas
coisas é que deveis cuidar primeiro, sem omitirdes as outras.
Nestas palavras de Jesus
devem atentar muito a fim de bem as compreenderem, pois que é a eles que se
aplicam, os que vendem as orações e os que as compram, os que fazem doações às
igrejas e aos conventos, pensando que assim resgatam suas faltas e pagam a Deus
a sua justiça; os que procedem como os escribas e os fariseus hipócritas, que
se limitavam à prática de atos exteriores, a prosternar-se diante dos altares,
curvando as frontes com aparente humildade, mas conservando os corações cheios
de rancor, de orgulho, de inveja.
Pelo que consta nos
versículos 29 a 39, o divino Mestre aludia à morte e às perseguições que os
profetas tinham sofrido, ao sacrifício que breve se consumaria no Gólgota, às
perseguições, aos martírios e à morte que os apóstolos, os discípulos e os
primeiros cristãos viriam a sofrer, aos esforços que Ele fizera para reunir as
ovelhas em torno do cajado do bom pastor, à destruição de Jerusalém, à
dispersão dos Judeus e, finalmente, à época alegórica do fim do mundo, isto é, a
época em que, operada pela depuração e transformação do nosso planeta e da
Humanidade terrena a regeneração desta, vindo o nosso protetor, governador e
mestre em toda a sua glória, os homens (Judeus e Gentios), regenerados,
clamarão, num brado uníssono de amor, como outrora a multidão que o acompanhava
à sua entrada na cidade santa: Bendito o que vem em nome do Senhor!
Versículos 35 e 36. As
palavras constantes nestes versículos, no seu sentido oculto, se referem à
reencarnação. Deus é infinitamente justo para não punir nos descendentes as
faltas dos ascendentes, se aqueles não foram cúmplices destes. Jesus falava
assim porque os que haviam matado os profetas ali estavam em sua presença,
dispostos a derramar o seu próprio sangue, considerando-o um homem como os
demais. Teriam, portanto, que prestar contas de todo o sangue que anteriormente
haviam derramado e de todo o que ainda derramariam.
O sangue que os hebreus
derramaram corria sempre, vindo a cair sobre a cabeça de seus descendentes
segundo a carne, mas, efetivamente, por meio da reencarnação, sobre a cabeça
dos mesmos que o tinham vertido em suas existências anteriores, até que
ficassem purificados pelo fogo, isto é, pelo fogo moral dos remorsos e da
expiação, que leva o Espírito culpado ao arrependimento e ao desejo de reparar
suas faltas, à purificação pela reparação e pelo progresso.
Elucidações evangélicas. FEB
(e-book).
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