Um dos fatores que se
encontram associados ao suicídio, são as chamadas perdas. É considerado natural
que após acontecimentos como perdas de entes queridos através da morte,
relacionamentos afetivos desfeitos, desempregos, falências e outras situações
semelhantes, vivamos momentos de depressão. Mas algumas pessoas relutam em
aceitar estas perdas, e geram uma situação de revolta e insegurança que
desencadeiam a depressão propriamente dita.
Quanto mais valorizamos
algo, mais forte será o vínculo, e maior consequentemente será o sofrimento ao
perdê-lo.
Diante do exposto,
analisemos o homem contemporâneo, culturalmente formado para as conquistas
imediatas, para quem, na sua escala de valores, o importante é ter, e não ser.
Na busca desenfreada das conquistas puramente materiais, e, por consequência,
transitórias, ele se comporta como o imprudente que constrói a casa na areia.
Na primeira ventania ela desmoronará.
É bom compreendermos que
tudo tem o seu valor, mesmo que seja passageiro; o fator de complicação está na
supervalorização que atribuímos e no apego que criamos, fazendo-nos escravos e
não senhores do que possuímos.
Pelo valor que damos às
coisas, vivemos ansiosos por conquistá-las, e quando as conquistamos mais
ansiosos nos tornamos com medo de perdê-las.
Este paradoxo é fruto da imaturidade do Espírito, que não sabendo eleger o melhor, se firma numa perigosa inversão de valores, perdendo as oportunidades que o conduziriam à conquista da verdadeira paz.
Para vivermos melhor, e para
que a vida não se torne insuportável, uma coisa não devemos esquecer: só
aprenderemos a ganhar, quando aprendermos a perder. A vida só nos tira o que
não nos pertence e de que não mais precisamos, ou que ainda necessitamos, mas
não valorizamos; e esta última acontece para assimilarmos a lição da valorização.
O real valor das coisas, das
pessoas, da saúde, das oportunidades, que algumas vezes desprezamos, só é
reconhecido depois que as perdemos ou quase as perdemos.
São comuns os casos de
pessoas que, através dos excessos, desgastaram a saúde e só reconheceram o seu
valor quando vitimadas por doenças que as conduziram a um estado de quase morte.
Algumas perdas também têm
como objetivo despertar as potencialidades que existem em cada um, e se
encontram abafadas pela preguiça, pelo medo ou mesmo pelo comodismo.
Lembramo-nos de uma história
que ilustra muito bem esta situação:
“Existia
uma família que morava em um sítio, em condição de extrema pobreza. O panorama
era desolador: um casebre em ruína, o matagal cobrindo toda a propriedade, e em
cada rosto as marcas do sofrimento.
Sobrevivia
esta família apenas do leite fornecido por uma vaquinha. Uma parte era
consumida e a outra, vendida.
Os
vizinhos se compadeciam do sofrimento desta família e falavam: – Ainda bem que
Deus os favoreceu com a vaquinha, pois se não fosse ela, como sobreviveriam?
Os
dias se sucediam, e nada mudava naquele sítio. Eis que aconteceu o inesperado –
a vaquinha morreu.
Diante
da situação, apenas uma solução se apresentava para a família não morrer de
fome – trabalhar.
Todos
saíram em campo, limparam a terra e plantaram. Passado algum tempo, o panorama
era outro: tiveram boa safra, a casa de taipa deu lugar a uma casa de
alvenaria, em vez da vaquinha agora tinham uma vacaria e em cada rosto
notava-se a satisfação.
Diferente
do que parecia ser uma tragédia, a perda da vaquinha foi a solução para quebrar
o comodismo e despertar as potencialidades adormecidas naquela família.
Todos nós temos os recursos
necessários para vencer as crises que a vida nos proporciona. Não devemos
permitir que o medo, a preguiça, a acomodação ou mesmo a revolta nos roubem a
oportunidade de crescimento.
A vida é uma dádiva divina;
é um tesouro de valor inestimável. Não importa de que forma ela se nos
apresente; as aparências pouco significam, o que verdadeiramente vale é o
essencial; e o essencial é vivermos conscientes de que fomos criados para
sermos vitoriosos.
Algumas experiências, é bem
verdade, exigem mais em forma de paciência, de fé, de trabalho e perseverança,
mas também poderão ser oportunidades de ouro, quando bem aproveitadas, para o
nosso engrandecimento espiritual.
A solidão, por exemplo, que
para alguns é considerada como fator desencadeante de depressão e até mesmo do
suicídio, para outros torna-se necessária para profundas reflexões e pesquisas,
que resultam no seu próprio desenvolvimento e desenvolvimento da Humanidade.
Mas o que será a solidão? O
fato de alguém estar só é necessariamente estar na solidão?
Não esqueçamos que a solidão
que nos faz sofrer não é a exterior, mas sim a interior. Existe uma quantidade
enorme de pessoas, no mundo, que rodeadas por uma multidão, ainda assim se sentem
solitárias, enquanto outras, mesmo estando sós, sentem-se felizes e se tornam
mais produtivas.
A grande verdade é que as
depressões, as tristezas, os sentimentos de solidão, oriundos de nossas perdas,
são convites para que preenchamos as lacunas por eles deixadas.
Nada justifica a infeliz ideia
de fugir da vida através do suicídio. Em toda parte, a Natureza reflete a
presença de uma força superior, que defende a vida e nos convida a viver.
Nos momentos de incerteza com
relação ao futuro, lembremo-nos das promessas consoladoras de Jesus: “Olhai as
aves dos céus, que não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros; contudo,
vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do que elas?”
(Mateus, 6:26.)
Lutemos e confiemos na
vitória, para que se cumpra a afirmativa tão conhecida: “Ajuda-te e o céu te
ajudará”.
Fonte: Reformador, ano 124,
nº 2.133, dezembro de 2006, por F. Altamir da Cunha.
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