Adoração dos magos
(Lucas,
2:8-20)
1.
Tendo Jesus nascido em Belém de Judá, ao tempo do rei Herodes, eis que do
Oriente vieram alguns magos a Jerusalém. 2, dizendo: “Onde está aquele que
nasceu rei dos Judeus? Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo.” 3.
Sabendo disso, o rei Herodes ficou sobressaltado e com ele toda a cidade de
Jerusalém; 4, e, tendo reunido em assembleia todos os príncipes dos sacerdotes
e os escribas do povo, inquiriu deles onde devia nascer o Cristo. 5.
Disseram-lhe: “Em Belém de Judá, conforme ao que foi escrito pelo profeta: 6. E
tu Belém, terra de Judá, tu não és a última entre as principais cidades de
Judá; pois que de ti sairá o chefe que há de conduzir meu povo de Israel.” 7.
Então, Herodes, mandando chamar em segredo os magos, lhes perguntou em que
tempo precisamente a estrela lhes aparecera; 8, e, enviando-os a Belém, lhes
disse: “Ide, informai-vos exatamente acerca desse menino, e, quando o tiverdes
encontrado, comunicai-me, a fim de que eu também o vá adorar.” 9. Depois de
ouvirem do rei essas palavras, os magos partiram e logo a estrela que tinham
visto no Oriente lhes tomou a dianteira e só se deteve quando chegaram ao lugar
onde estava o menino. 10. Quando viram a estrela, eles se sentiram
transportados de extrema alegria; 11, e, entrando na casa, aí encontraram o
menino com Maria, sua mãe, e, prosternando-se, o adoraram; depois, abrindo seus
tesouros, lhe ofereceram, por presentes, ouro, Incenso e mirra. 12. Avisados,
enquanto dormiam, para que não voltassem a Herodes, regressaram por outro
caminho às suas terras.
A explicação desses fatos se
encontra na existência de faculdades mediúnicas, da mediunidade em pleno
desenvolvimento, o que só é objeto de dúvida, ou de negação para quem não se
quer dar ao trabalho de experimentar e observar. E não vale a pena se pretenda
convencer os que julgam e sentenciam sem exame, as mais das vezes, unicamente
porque o de que aqui se trata lhes fere o orgulho, ou contraria os interesses.
Os Magos eram grandes
médiuns e, por isso mesmo, é que tinham aquela denominação. Como médiuns, viram
no espaço uma luz viva, que tomaram pela de uma estrela. Em consequência dessa
suposta estrela mostrar-se animada de um movimento de translação segundo uma
certa diretriz, foi considerada e chamada “milagrosa”, causando pasmo aos
sábios caldeus, versados na astrologia. Que não era estrela demonstra-o aquele
próprio movimento especial, porquanto, para admitirmos que o fosse, houvéramos
de admitir que um mundo, pois que uma estrela é um mundo, pode afastar-se da
sua órbita de gravitação, para se movimentar no espaço, qual farol a orientar
um viajor.
Foi a “estrela” de que fala a velha doutrina de Zoroastro, o reformador do Magismo, religião dos antigos persas e partos, o qual recomendou aos Magos que levassem oferendas ao rei menino. Foi a estrela de Jacob, mencionada na visão de Balaão. Era, como diz Santo Agostinho, o símbolo da luz nova que surgia para o mundo e que ofuscaria a do próprio Sol. Era a muda linguagem do céu, narrando a glória de Deus e firmando o pacto da Virgem.
E tudo assim se passou, de
acordo com a época, visto que esta era a em que vigorava a crença geral de que
a todo nascimento na Terra presidia sempre uma boa ou má estrela. Hoje, porém,
que os nossos sábios nada mais têm que aprender, porque tudo sabem, os fatos a
que nos referimos, ou são impossíveis, ou não merecem que lhes deem
importância, porque não passam de fruto do fanatismo. Por outro lado, os
fariseus dos tempos atuais, os doutores da Igreja Católica os dão como
‘milagres”, ou, seja, coisas sobrenaturais.
Entretanto, os ditos fatos
têm uma explicação científica, natural, que prescinde inteiramente do recurso
ao milagre, de que há séculos se valem os homens do Syllabus, para os quais pedimos a Deus um raio de luz e os eflúvios
da sua infinita misericórdia.
A luz que guiou os Magos não
era, pois, a de uma estrela, isto é, de um desses mundos que povoam o
firmamento. Era apenas uma concentração de fluídos luminosos; era um efeito
ótico, produzido pelos Espíritos do Senhor, de modo que aos olhos dos Magos se
afigurasse a cintilação de uma estrela.
Cumpre, entretanto, notar
que eles bem sabiam serem tais efeitos manifestações dos Espíritos ou manifestações
espiríticas, porquanto eram médiuns conscientes, conheciam o Magnetismo e o
Sonambulismo. Acresce que tiveram em sonho a revelação do advento do Messias.
Ficaram, porém, na dúvida, e desejaram ter uma prova da realidade do que haviam
sonhado. Foi quando lhes surgiu ante os olhos a estrela. Desde então não mais
duvidaram e se puseram a caminho de Belém, afrontando todos os perigos e
fadigas. Montados em dromedários, deixaram para trás de si a cidade dos
seleucítas e a arrojada Babilônia, e entraram na Palestina.
Os Magos, então, foram e
verificaram que realmente surgira no mundo o Chefe que havia de conduzir o povo
de Israel à terra da promissão. Não mais o encontraram, porém, no lugar onde se
dera o seu “nascimento”, e, sim, em casa de Matias, irmão de José, o qual
residia em Belém, como se deduz da ordem dada por Herodes que, orientando-se
pelas informações obtidas dos Magos, ordenou a matança de todas as crianças do
sexo masculino, até à idade de dois anos. Essa ordem prova que os Magos não viram
o menino antes da sua circuncisão e da purificação, porquanto, do contrário,
bastaria que a carnificina atingisse as crianças de, no máximo, um ano.
Fuga para o Egito. Degolação dos
inocentes. Regresso do Egito
13.
Logo que eles partiram (os magos), um anjo do Senhor apareceu em sonho a José e
lhe disse: “Levanta-te, toma o menino e sua mãe, foge para o Egito e lá fica
até que eu te diga que voltes; pois Herodes procurará o menino para o matar.”
14. José, levantando, tomou o menino e sua mãe e durante a noite se retirou
para o Egito. 15, onde ficou até à morte de Herodes, a fim de que se cumprissem
estas palavras que o Senhor dissera pela boca do profeta: “Chamei do Egito a
meu filho.” 16. Herodes, vendo que fora enganado pelos magos, encheu-se de grande
furor e mandou matar em Belém e nas circunvizinhanças todos os meninos de dois
anos para baixo, regulando-se pelo tempo de que se informara exatamente com os
magos. 17. Cumpriu-se então o que fora dito pelo profeta Jeremias: 18.
“Ouviu-se em Rama o grande rumor de muitos que choravam e se lamentavam: era
Raquel chorando por seus filhos e não querendo ser consolada, pois eles não
existem mais.” 19. Morto Herodes, o anjo do Senhor apareceu em sonho a José, no
Egito, 20, e lhe disse: “Levanta-te, toma o menino e sua mãe e volta para a
terra de Israel, pois que estão mortos os que queriam a morte do menino.” 21.
José se levantou, tomou o menino e sua mãe e voltou para a terra de Israel. 22.
Mas, ouvindo dizer que na Judéia reinava Arquelau, em lugar de Herodes seu pai,
teve receio de para lá ir e, avisado em sonho, dirigiu-se para as bandas da
Galiléia, 23, e foi residir numa cidade chamada Nazaré, a fim de que se
cumprisse esta predição dos profetas: “Ele será chamado Nazareno.”
José, filho de Davi (não
confundir com José, filho de Jacob e de Raquel), salvou o menino Jesus,
levando-o para o Egito, donde regressou mais tarde, sempre na companhia da
Virgem Santíssima.
Deu-se a degolação das
crianças do sexo masculino, de dois anos para baixo, conforme ordenara Herodes,
manifestação horrível da ferocidade habitual daqueles tempos, em que se
sacrificavam os animais para, num ambiente de sangue derramado, adorar-se a
Deus. Crueldade inútil foi aquela, de uma alma impregnada de maldade e orgulho,
crueza vã, cujos traços lúgubres e sombrios vamos, no entanto, encontrar mesmo
naqueles que, depois, se apregoavam representantes de Jesus, mas que,
felizmente, já se não veem hoje, embora ainda estejamos no reinado das trevas.
Conta-se que, entre as
crianças assassinadas na Síria, por aquela ocasião, figurou um filho do próprio
Herodes. Tais eram a ambição è a dedicação desse tirano aos interesses
políticos de Roma, que ele não trepidou em verter o sangue de milhares de
crianças, para não ser apeado da posição de mando que ocupava.
Herodes descendia de uma
família da Iduméia, que reinara na Palestina, havendo arrebatado o poder à
família dos macabeus. Como último ato da sua crueldade, narram as crônicas que,
ao sentir próxima e inevitável a morte, certo de que esta seria, para os
judeus, motivo de grande regozijo, convocou para Jericó, por um edito, sob
rigorosas cominações penais, as personalidades mais eminentes da Judéia e as
mandou meter no hipódromo, determinando à sua irmã Salomé e a seu cunhado
Alexas que, assim ele expirasse, crivassem de flechas os presos, a fim de que,
por essa forma, fosse o seu desaparecimento pranteado como os de poucos reis,
tendo os seus funerais por cortejo a agonia das famílias e a orfandade. Nada
tem isso de inacreditável, quando sabemos que, tempos depois, um seu sucessor
deu de presente, num prato, quando festejava o próprio aniversário, a cabeça do
Batista à filha da sua concubina, mulher de seu irmão!
Chegados que são os tempos
de tudo esclarecer-se e cabendo à Doutrina Espírita o esclarecimento de tudo o
que ficara oculto sob o véu da letra, vamos encontrar nessa doutrina a
explicação que desejamos e as razões por que pôde verificar-se o fato com que
nos ocupamos, dando-nos ela a ver que as crianças sacrificadas pela crueldade
de Herodes não foram vítimas perdidas.
Efetivamente, o Senhor, na
sua previdente bondade, permitira a encarnação daquela leva de Espíritos
bastante purificados, aos quais apenas uma prova forte faltava, para se verem
livres de encarnar num mundo de expiação, qual é a Terra, a fim de passarem por
essa prova. Assim, o fim, prematuro aos olhos dos homens, que eles tiveram,
naquela existência, foi a prova de que ainda necessitavam.
Por outro lado, o sacrifício
de tais vítimas, inocentes aos olhos dos homens, constituiu, para seus pais,
uma causa de progresso, pela dor com que foram provados, prova de que também
eles ainda precisavam. Tudo está previsto sempre e regulado pela sabedoria
infinita de Deus.
Fora dessa explicação, não
há como se compreenda haja o Criador, em sua justiça e bondade, consentido que
tal fato se desse, como elo de uma cadeia de acontecimentos, que objetivavam a
salvação da Humanidade.
Elucidações evangélicas. FEB
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