O livro dos espíritos. Q. 862

AS LEIS MORAIS

CAPÍTULO X – LEI DE LIBERDADE

Fatalidade

862. Pessoas existem que nunca logram bom êxito em coisa alguma, que parecem perseguidas por um mau gênio em todos os seus empreendimentos. Não se pode chamar a isso fatalidade?

“Será uma fatalidade, se lhe quiseres dar esse nome, mas que decorre do gênero da existência escolhida. É que essas pessoas quiseram ser provadas por uma vida de decepções, a fim de exercitarem a paciência e a resignação. Entretanto, não creias seja absoluta essa fatalidade. Resulta muitas vezes do caminho falso que tais pessoas tomam, em discordância com suas inteligências e aptidões. Grandes probabilidades tem de se afogar quem pretender atravessar a nada um rio, sem saber nadar. O mesmo se dá relativamente à maioria dos acontecimentos da vida. Quase sempre obteria o homem bom êxito, se só tentasse o que estivesse em relação com as suas faculdades. O que o perde são o seu amor próprio e a sua ambição, que o desviam da senda que lhe é própria e o fazem considerar vocação o que não passa de desejo de satisfazer a certas paixões. Fracassa por sua culpa. Mas, em vez de culpar-se a si mesmo, prefere queixar-se da sua estrela. Um, por exemplo, que seria bom operário e ganharia honestamente a vida, mete-se a ser mau poeta e morre de fome. Para todos haveria lugar no mundo, desde que cada um soubesse colocar-se no lugar que lhe compete.”

A fatalidade na alma primitiva

É bom que compreendas que a fatalidade, em quase todos os seus aspectos, se processa na alma primitiva. Qual a criança dirigida pelos pais, crescendo ela pode ir tomando suas próprias decisões, o Espírito vai ganhando a liberdade de conformidade com a sua compreensão.

Existem muitos que, em quase tudo, a fatalidade é para eles lei irremovível, por viverem dentro da ignorância quase total. Eles somente são tocados pelo egoísmo e conhecem mal alguma coisa em torno de sua personalidade. Somente há escolhas quando a alma tem alguma compreensão; quando não a tem, nasce e renasce quase como o próprio animal. O que o primitivo iria escolher para si? Ainda lhe faltam vários corpos espirituais que podem recolher informações em muitos aspectos de vida.

O instinto do homem animal deve transformar-se em razão, de maneira a esplender em inteligência, e neste percurso a alma toma muitas decisões erradas, mas que lhe servem de experiências onde nasce o interesse para o bem, de modo a amar ao próximo, tendo Deus em primeiro lugar. O Espírito nunca que passa diretamente do primitivismo para a iluminação, sem os desequilíbrios que correspondem aos testemunhos. O que chamamos de mal, é para compreender o valor do bem. Medita bastante nas leis de amor, para que possas compreender o destino das almas em marcha para o Criador.

Os ditos "escolhidos", aos quais o Evangelho faz referência, são Espíritos que passaram por todos os testemunhos, para chegarem à intimidade de viverem como os anjos. A sua bagagem lhes forneceu experiências fecundas. Se os Espíritos angélicos são os escolhidos, é porque eles aprenderam, no desenrolar do tempo, todas as leis e as vivem em todos os momentos da vida. A lei de justiça não erra; onde estiveres, receberás aquilo a que fizeres jus. Vamos escutar as palavras anotadas por Marcos, no capítulo treze, versículo vinte e sete:

E ele enviará os Anjos e reunirá os Seus escolhidos dos quatro ventos, da extremidade da Terra até a extremidade do Céu.

Os escolhidos a que se refere o Evangelho são aqueles que fizeram o plantio de luz, sementes essas que serão recolhidas em todas as suas vidas sucessivas, pois todos os trabalhadores são dignos dos seus salários. A fatalidade, como a entendes, não existe para os Espíritos superiores; eles vivem o que são na intimidade.

O homem se perde pela sua ambição e amor próprio. Mas, por que sente ele ambição e amor próprio? Por ser ignorante. E por que é ignorante? Por lhe faltar maturidade espiritual. Pode-se dizer que não é culpa dele; isto é processo criado para o seu despertamento espiritual. Deus nos criou desta maneira, e nunca mudou os meios para chegarmos ao esplendor das nossas faculdades espirituais.

Os fracassos das almas, se podemos chamar de fracassos, são quedas para nos levantarmos com mais compreensão e mais amor, conhecendo a verdade para nos tornarmos livres. Se Deus permitiu, é porque achou melhor para nós. Que Deus nos ajude a compreender melhor as Suas leis.

Fonte:
O livro dos Espíritos. Allan Kardec. Tradução de Guillon Ribeiro. FEB, DF.
Filosofia espírita. Psicografada por João Nunes Maia/Miramez. Fonte viva, Belo Horizonte. 10 volumes. 

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