ESPERANÇAS
E CONSOLAÇÕES
CAPÍTULO
I – PENAS E GOZOS TERRESTRES
Felicidade
e infelicidade relativas
928. Evidentemente, por meio
da especialidade das aptidões naturais, Deus indica a nossa vocação neste
mundo. Muitos dos nossos males não advirão de não seguirmos essa vocação?
“Assim
é, de fato, e muitas vezes são os pais que, por orgulho ou avareza, desviam
seus filhos da senda que a Natureza lhes traçou, comprometendo-lhes a
felicidade, por efeito desse desvio. Responderão por ele.”
a) - Acharíeis então justo
que o filho de um homem altamente colocado na sociedade fabricasse tamancos,
por exemplo, desde que para isso tivesse aptidão?
“Cumpre
não cair no absurdo, nem exagerar coisa alguma: a civilização tem suas exigências.
Por que haveria de fabricar tamancos o filho de um homem altamente colocado,
como dizes, se pode fazer outra coisa? Poderá sempre tornar-se útil na medida
de suas faculdades, desde que não as aplique às avessas. Assim, por exemplo, em
vez de mau advogado, talvez desse bom mecânico, etc.”
A.K.: No afastarem-se os homens da sua esfera intelectual reside indubitavelmente uma das mais frequentes causas de decepção. A inaptidão para a carreira abraçada constitui fonte inesgotável de reveses. Depois, o amor-próprio, sobrevindo a tudo isso, impede que o que fracassou recorra a uma profissão mais humilde e lhe mostra o suicídio como remédio para escapar ao que se lhe afigura humilhação. Se uma educação moral o houvesse colocado acima dos tolos preconceitos do orgulho, jamais se teria deixado apanhar desprevenido.
Vocação natural
Há grande necessidade de o
Espírito seguir a sua vocação natural, aquela que ele traz na sua consciência,
determinada pelas suas necessidades espirituais. Compete aos pais reforçarem
essa vocação quando descoberta, no sentido de que o filho caminhe com os seus
próprios pés.
Quando certas circunstâncias
torcem os sentimentos, tudo dá errado na vida da alma. Se um Espírito tomou um
corpo para seguir a carreira da medicina, e por tais ou quais meios humanos vai
para o campo, certamente que sofrerá intimamente a falta do ambiente da
medicina. Quando se dá o contrário, ele fica deslocado no meio dos seus
colegas. Cada qual deve, por lei maior, situar-se em seu lugar, no sentido de
que a própria consciência lhe dê o amparo.
Cumpre salientar que Deus
não deixa de ajudar jamais, mesmo aos que trocam de posição no mundo. Tudo se
confunde no amor, onde nascem lições imortais para o celeiro da vida. O melhor
é fazer qual os antigos: primeiramente, ensinavam ao filho uma profissão, fosse
esse filho da mais baixa escala da sociedade, ou da mais alta posição social, para
depois seguir o que a ele mais interessasse na vida. Ficava, assim, a profissão
simultânea à condição de doutor para o caso de precisar colocá-la em uso, como
no caso de Saulo de Tarso, que era tecelão e doutor da lei.
A sociedade humana já
descobriu que deve colocar o homem no lugar da sua vocação natural, tanto que
criou os testes vocacionais, que favorecem uma orientação mais acertada ao
jovem. A vocação, muitas vezes, se mostra estuante interiormente,
evidenciando--se exteriormente, por isso é que uns não precisam de testes,
enquanto outros buscam nele sua conscientização para serem mais bem entendidos
e sentirem mais segurança nos seus caminhos.
O Espírito evoluído é qual o
diamante jogado na lama, que nunca deixa de ser uma pedra preciosa. Geralmente
o Espírito de alta hierarquia reencarna em meios difíceis de vida, no entanto,
ele supera todas as dificuldades e passa a atender sua vocação de estadista, de
cientista, de escritor etc., sempre em liderança, dando aos outros o que ele
veio para distribuir por amor.
Quando a alma não tem certos
recursos para estimular a si mesma na sua vocação, a ideia dos pais tem grande
influência no seu destino, e seus genitores, se desviarem o filho da sua
vocação natural, não vão desfrutar da alegria de ver e sentir a sua felicidade,
por estar ele colocado em lugar em que não deveria. Eles sofrerão as
consequências, no entanto, em todos os caminhos as lições são visíveis, porque
vai se cumprir a lei que assim se expressa:
Nada se perde na escola
divina.
Se um filho de um homem
douto ou, mais acertadamente, de um industrial que tem grandes possibilidades
financeiras passar a fabricar tamancos por prazer à profissão, isso não tem
nada a ver com a sua posição. É uma profissão honesta, no entanto, ele rompe os
limites dessa profissão e busca, e deve buscar, uma compatível com a sua
posição social, para completar seu avanço moral e espiritual, sentindo-se útil
a si mesmo e à sociedade. A alma elevada não se sente inferiorizada com
trabalho algum, fazendo tudo que queira, com perfeição e amor. O sol, como olho
divino, não se sente diminuído por clarear o charco, os canais de esgotos, e
mesmo as inferioridades humanas. Ele é um grande transformador cósmico, em que
tudo por ele se transforma em belezas imortais.
Quando os pais compreendem
bem a missão dos filhos, é porque esses filhos merecem essa compreensão; quando
os filhos assimilam bem as orientações certas dos pais, é porque esses pais
merecem essa compreensão. Assim, reportemo-nos mais uma vez, a Paulo:
Em tudo dai graças, porque
esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco, (l Tessalonicenses.,
5:18)
Fonte:
O livro dos
Espíritos. Allan Kardec. Tradução de Guillon Ribeiro. FEB, DF.
Filosofia espírita. Psicografada por João Nunes Maia/Miramez. Fonte viva, Belo Horizonte. 10 volumes.
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