AS
LEIS MORAIS
CAPÍTULO XI – LEI DE JUSTIÇA, DE AMOR E DE CARIDADE
Caridade e amor do próximo
888. Que se deve pensar da
esmola?
“Condenando-se
a pedir esmola, o homem se degrada física e moralmente: embrutece-se. Uma
sociedade que se baseia na lei de Deus e na justiça deve prover à vida do fraco,
sem que haja para ele humilhação. Deve assegurar a existência dos que não podem
trabalhar, sem lhes deixar a vida à mercê do acaso e da boa-vontade de alguns.”
a) - Dar-se-á reproveis a
esmola?
“Não;
o que merece reprovação não é a esmola, mas a maneira por que habitualmente é
dada. O homem de bem, que compreende a caridade de acordo com Jesus, vai ao
encontro do desgraçado, sem esperar que este lhe estenda a mão.
“A verdadeira caridade é sempre bondosa e benévola; está tanto no ato, como na maneira por que é praticado. Duplo valor tem um serviço prestado com delicadeza. Se o for com altivez, pode ser que a necessidade obrigue quem o recebe a aceitá-lo, mas o seu coração pouco se comoverá.
“Lembrai-vos
também de que, aos olhos de Deus, a ostentação tira o mérito ao benefício.
Disse Jesus: “Ignore a vossa mão esquerda o que a direita der.” Por essa forma,
ele vos ensinou a não tisnardes a caridade com o orgulho. “Deve-se distinguir a
esmola, propriamente dita, da beneficência. Nem sempre o mais necessitado é o
que pede. O temor de uma humilhação detém o verdadeiro pobre, que muita vez
sofre sem se queixar. A esse é que o homem verdadeiramente humano sabe ir
procurar, sem ostentação.
“Amai-vos
uns aos outros, eis toda a lei, lei divina, mediante a qual governa Deus os
mundos. O amor é a lei de atração para os seres vivos e organizados. A atração
é a lei de amor para a matéria inorgânica.
“Não
esqueçais nunca que o Espírito, qualquer que seja o grau de seu adiantamento,
sua situação como encarnado, ou na erraticidade, está sempre colocado entre um
superior, que o guia e aperfeiçoa, e um inferior, para com o qual tem que
cumprir esses mesmos deveres. Sede, pois, caridosos, praticando, não só a
caridade que vos faz dar friamente o óbolo que tirais do bolso ao que vo-lo
ousa pedir, mas a que vos leve ao encontro das misérias ocultas. Sede
indulgentes com os defeitos dos vossos semelhantes. Em vez de votardes desprezo
à ignorância e ao vício, instruí os ignorantes e moralizai os viciados. Sede
brandos e benevolentes para com tudo o que vos seja inferior. Sede-o para com
os seres mais ínfimos da criação e tereis obedecido à lei de Deus.”
SÃO VICENTE DE PAULO
A esmola
Estender a mão nas ruas
pedindo esmolas é um ato de humilhação, que no fundo pode ser de natureza
cármica, visando a educar a criatura, pois passamos por muitos caminhos em
busca da paz de consciência.
Uma sociedade mais cristã
procura por todas as suas forças eliminar do meio humano o viver pela esmola,
contudo, em primeiro lugar, busca educar aos necessitados e dar-lhes trabalho
digno. A faixa em que se encontram os povos atuais, é a de passar por todos os
tipos de provações, capazes de os levar à mais profunda intimidade da dor, por
ser esse meio o mais eficiente de torná-los humanos.
Estudando o passado dos que
pedem nas ruas e recebem alimentos das sobras das mesas fartas, sem lugar
adequado para a higiene corporal, é que notamos que a justiça não falha. Ela
cobra do devedor os estragos morais enxertados na sociedade.
Os que estão se arrastando
hoje pelas calçadas foram os prepotentes de ontem, cujos desperdícios deixaram
faltar nas mesas pobres. A esmola de hoje apaga, pela força da caridade de
outrem, as vibrações inferiores acumuladas na consciência do malfeitor. Quem
pede a caridade nas ruas, recebe mais a caridade de Deus do que quem oferta,
pois sente o alívio no coração para a humilhação que fez silêncio na
consciência.
Pedimos aos que desejam dar
esmolas, que o façam com benevolência, amando ao sofredor, pois ele espera
algum gesto de fraternidade, que o rosto pode manifestar. Sejam gestos de
alegria e vejam naquele que pede um irmão, que pode estar ocupando um lugar
pelo qual já passaram, colhendo experiências.
Dá a quem pede, sem
especular o que ele foi ou o que está fazendo no mundo, para que a tua caridade
não fique desmerecida diante da vida. Não podes esquecer que o Espírito, na
Terra ou no Céu, seja qual for o seu grau de adiantamento, está sempre sendo
orientado e servindo de exemplo para os outros. Esse estado de coisas nos
mostra que nunca poderemos ser independentes; precisamos sempre, assim como
devemos ajudar sempre. Mas todos os conselhos nos vêm de Deus, pelos canais do
Cristo.
João nos fala, no capítulo
doze, versículo quarenta e oito, desta forma, lembrando a Jesus:
Quem me rejeita e não recebe
as minhas palavras tem quem o julgue; a própria palavra que tenho proferido,
essa o julgará no último dia.
O último dia é o dia da
consciência. Quando ela se encontra cheia, passa a derramar na mente o que não
aproveitou, e o arrependimento vem à tona, julgando o irmão para que ele
reconsidere, colocando as mãos no arado, sem olhar para trás, limpando a vida
das paixões inferiores e reajustando o coração no ritmo da luz.
Alinhemo-nos na verdadeira
caridade, que é sempre bondosa .e benévola, mansa e prestativa, cheia de cordialidade
e, acima de tudo, é amor. Lembremo-nos que a ostentação estraga as vibrações de
carinho da caridade. Esmola não é somente o ato de doar, é distribuir com
alegria e sentir-se feliz no ato de ofertar. Recordemo-nos do ato de caridade
do óbulo da viúva no Evangelho, para aprendermos a doar com benevolência.
Devemos ir ao encontro das
misérias ocultas, esses infortúnios que fazem alguém sofrer calado, e ofertar
no silêncio, dando com uma mão para que a outra não perceba, por não sabermos o
que pode acontecer no amanhã em nossos caminhos.
Não devemos reprovar a
esmola, devido à transição da humanidade de hoje, mas peçamos a Deus que nos dê
forças para que o Evangelho cresça nos corações, no sentido de educar,
instruindo a humanidade, e o pedir nas ruas cessará, com as oportunidades de
trabalho para todas as criaturas, sem que haja orgulho e egoísmo.
O livro dos Espíritos. Allan Kardec. Tradução de Guillon Ribeiro. FEB, DF.
Filosofia espírita. Psicografada por João Nunes Maia/Miramez. Fonte viva, Belo Horizonte. 10 volumes.
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