O livro dos espíritos. Q. 931

ESPERANÇAS E CONSOLAÇÕES

CAPÍTULO I – PENAS E GOZOS TERRESTRES

Felicidade e infelicidade relativas

931. Por que são mais numerosas, na sociedade, as classes sofredoras do que as felizes?

“Nenhuma é perfeitamente feliz e o que julgais ser a felicidade muitas vezes oculta pungentes aflições. O sofrimento está por toda parte. Entretanto, para responder ao teu pensamento, direi que as classes a que chamas sofredoras são mais numerosas, por ser a Terra lugar de expiação. Quando a houver transformado em morada do bem e de Espíritos bons, o homem deixará de ser infeliz aí e ela lhe será o paraíso terrestre.”

Classes sofredoras

No mundo em que habitas, as classes sofredoras são em maior número, por ser a Terra mundo de expiação e provas, como retraíam os benfeitores da espiritualidade em "O Evangelho Segundo o Espiritismo" (Cap. III). Os que dizem que alguns são felizes se enganam na expressão e mesmo na realidade. Tornamos a dizer o que muitos instrutores da espiritualidade já falaram: não existe felicidade completa na Terra. No entanto, ela é uma realidade, porque alguns já a percebem e de vez em quando recebem ou concebem alguns minutos deste tesouro, que é permanente nos mundos venturosos. Nenhuma classe no mundo é feliz, na expressão da palavra. Alguns, aqui e ali, sentem a existência da felicidade e procuram ir em busca da paz que o Cristo tem com abundância. Ele, o Mestre dos mestres, indicou os caminhos para aquisição desse estado d'alma que, em grande parte, é conquista da alma, no certame da vida.

Se a Terra fosse morada dos eleitos, como se costuma dizer, onde se encontra a felicidade, não precisaria vir Jesus a ela, nem seria necessário surgir a Doutrina dos Espíritos. O Mestre veio para os sofredores e sempre está ao lado deles, consolando e instruindo e, se a Doutrina dos Espíritos é Jesus voltando, deve fazer a mesma coisa. Onde somente moram os Anjos, qual é o trabalho do consolo? Onde haja somente Espíritos puros, qual a necessidade de se pregar o Evangelho? Ele reflete as leis, e para quem foram estabelecidas as leis? Somente para os ignorantes, não para os sábios que já as têm palpitando dentro do coração.

Quem sofre é que precisa de médico e remédios. Jesus mesmo disse que não veto ao mundo para os sãos e, sim, para os enfermos. Notadamente buscamos conforto quando estamos sofrendo, remédio quando estamos enfermos e amparo, quando desamparados. O sofrimento no mundo está por toda parte. Muitos dos que se pensa estarem livres dele, pode ser os que sofrem mais ocultamente.

Não penses que o conforto material tira os padecimentos materiais e morais; por vezes ele piora a situação. A tranquilidade de consciência gera-se por dentro; não se faz por fora, com dinheiro, bens materiais ou poderes políticos. A felicidade é maturidade da alma, com mais capacidade de amar. Por enquanto, as próprias leis humanas carecem de reformas, mas que sejam compatíveis com as leis de justiça e de amor. As leis naturais são mal compreendidas pelos homens, porque eles não as sentiram no coração. Esqueceram-se da presença de Deus na consciência e ainda não se lembraram dos dois mandamentos que Jesus sintetizou, considerando as leis recebidas por Moisés.

Quando a humanidade estiver amando a Deus em todas as coisas, bastará esse mandamento para que tudo se transforme em luz em favor dos homens. Somente o amor consegue libertar a alma, porque ele é a verdade, é o caminho e a vida.

A Terra é lugar de expiação, porque os homens que nela moram se encontram entre o bem e o mal, por vezes mais propensos para o último. Como pode haver felicidade? Feliz somente o é quem ama nas vinte e quatro horas do dia, sem nenhum apego às paixões inferiores, em que a caridade em sua vida seja constante. Esta Terra será dos eleitos, mas daqueles eleitos que conquistaram esse título pelos processos do amor.

E, impondo-lhe as mãos, ela imediatamente se endireitou e dava graças a Deus. (Lucas, 13:13)

Quando andarmos sob a imposição das mãos de Jesus, endireitaremos nossa vida e certamente vamos dar graças a Deus, pela nossa conduta reta, na retidão da nossa moral. Se somente atraímos o que somos, se todas as criaturas procurarem o Mestre, o ambiente terreno deve mudar, tornando-se um paraíso. Será então o céu na Terra, porque esta se encontrará transformada, pela transformação dos seus filhos.

Fonte:

O livro dos Espíritos. Allan Kardec. Tradução de Guillon Ribeiro. FEB, DF.
Filosofia espírita. Psicografada por João Nunes Maia/Miramez. Fonte viva, Belo Horizonte. 10 volumes. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário