O livro dos espíritos. Q. 885

AS LEIS MORAIS

CAPÍTULO XI – LEI DE JUSTIÇA, DE AMOR E DE CARIDADE

Direito de propriedade. Roubo

885. Será ilimitado o direito de propriedade?

“É fora de dúvida que tudo o que legitimamente se adquire constitui uma propriedade. Mas, como havemos dito, a legislação dos homens, porque imperfeita, consagra muitos direitos convencionais, que a lei de justiça reprova. Essa a razão por que eles reformam suas leis, à medida que o progresso se efetua e que melhor compreendem a justiça. O que num século parece perfeito, afigura-se bárbaro no século seguinte.” (795)

Será limitado?

Do ponto de vista espiritual, o direito de propriedade dos bens imperecíveis do Espírito são ilimitados. Tudo é de Deus e, consequentemente, dos Seus filhos, porém, é de ordem divina que saibamos usar os bens que possuímos.

Mesmo se adquirimos as coisas com honestidade, convém à lei que as saibamos usar com discernimento, não buscando prender os valores de modo a não servirem para ninguém. A circulação dos valores é lei natural que dá vida às coisas que se movimentam.

O usurário guarda seus bens, mas esses bens guardados não servem nem para ele nem para os outros, e Deus nada fez para ficar imóvel. Se não se precisa de tais ou quais roupas, que sejam dadas a quem precisa. Que se aja assim com a comida, a bebida, os alimentos e com a própria força espiritual que emana dos conhecimentos: passemo-la para os que carecem de instrução. A nossa boca foi feita para falar e os ouvidos para ouvir. Não os fechemos, que estaremos fechando os condutos por onde passa a luz para o nosso coração.

Usemos tudo que Deus nos deu. A vida é circulação, o que podemos notar em todos os reinos da natureza. Na posição do homem, no grau em que se encontra para a luz, por ignorância ele tenta interromper o crescimento dos seus próprios valores.

O Espiritismo, pela ação dos benfeitores espirituais, envia mensagens de todas as ordens para os homens, no sentido de que eles trabalhem na caridade, porque fora dela não há salvação, e essa caridade com Jesus se divide em mil mãos, capazes de ajudar servindo a todos os povos e despertando todas as nações para a paz universal, usando as coisas sem desperdício e alimentando a vida pelos processos do amor.

Pode ser ilimitado o direito de propriedade das coisas materiais, conquanto possamos encaminhá-las rumo às necessidades dos que sofrem, dos famintos de pão, de vestes, de teto e de paz. O amor não tem limites; podemos amar em todas as direções. O milênio que se aproxima vem nos favorecer um ambiente de compreensão, de modo que a Doutrina dos Espíritos encontre os corações preparados para que possam amar a Deus em todas as coisas, e sentir o próximo na igualdade que Deus os criou. O mundo, por enquanto, não suporta mais luz do que a que nele se encontra. Até essa traz um pouco de distúrbio nos sentimentos de quem não esteja preparado para ela, qual aconteceu com os discípulos do Cristo, quando Ele foi orar.

Meditemos em Lucas, no capítulo vinte e dois, versículo quarenta e cinco, que diz deste modo, expressando-se em verdadeiro sentido: Levantando-se da oração, foi ter com os discípulos e os achou dormindo de tristeza.

É o que ocorre com certos companheiros: desejam avançar no despertamento espiritual, mas quando chegam as provas, as lutas internas, passam a dormir de tristeza nos campos de luta. Devemos nos preparar para as lutas com nós mesmos, para vencer todas as dificuldades e acender a luz no coração.

É certo que tudo que adquirimos legitimamente é nossa propriedade, entretanto, é preciso saber que uso vamos fazer desta propriedade. É bom que saibamos que no universo, por lei, nada para. A vida é movimento, porque Deus não cessa de criar, e Jesus está sempre operando. Se assim não fora, a Terra já não existiria mais.

Os direitos dos homens na Terra são mutáveis, porque eles estão em um processo de ascensão. A cada dia surgem novas coisas e novas leis humanas; reformam-se as leis constantemente, porque o progresso é Deus ativando Seus filhos para o despertamento maior. é por isso que em um século as leis por vezes são normais e já em outro entram na decadência. No entanto, a substituição é o amparo dos próprios homens inspirados pelos benfeitores que dirigem as nações.

Fonte: 
O livro dos Espíritos. Allan Kardec. Tradução de Guillon Ribeiro. FEB, DF.
Filosofia espírita. Psicografada por João Nunes Maia/Miramez. Fonte viva, Belo Horizonte. 10 volumes. 

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