O livro dos espíritos. Q. 908

AS LEIS MORAIS

CAPÍTULO XII – PERFEIÇÃO MORAL

Paixões

908. Como se poderá determinar o limite onde as paixões deixam de ser boas para se tornarem más?

“As paixões são como um corcel, que só tem utilidade quando governado e que se torna perigoso desde que passe a governar. Uma paixão se torna perigosa a partir do momento em que deixais de poder governá-la e que dá em resultado um prejuízo qualquer para vós mesmos, ou para outrem.”

A.K.: As paixões são alavancas que decuplicam as forças do homem e o auxiliam na execução dos desígnios da Providência. Mas, se, em vez de as dirigir, deixa que elas o dirijam, cai o homem nos excessos e a própria força que, manejada pelas suas mãos, poderia produzir o bem, contra ele se volta e o esmaga.

Todas as paixões têm seu princípio num sentimento, ou numa necessidade natural. O princípio das paixões não é, assim, um mal, pois que assenta numa das condições providenciais da nossa existência. A paixão propriamente dita é a exageração de uma necessidade ou de um sentimento. Está no excesso e não na causa e este excesso se torna um mal, quando tem como consequência um mal qualquer.

Toda paixão que aproxima o homem da natureza animal afasta-o da natureza espiritual. Todo sentimento que eleva o homem acima da natureza animal denota predominância do espírito sobre a matéria e o aproxima da perfeição.

Limites das paixões

Todas as paixões têm limites traçados pelo bom entendimento evangélico. Quando elas passam desses limites, passam a sofrer influência do mal, desnorteando a vida pelo clima da inferioridade. Um veículo, sendo dirigido por pessoa capacitada para tal, percorrerá seus caminhos com segurança mas, se lhe falta a direção, ele se desvia dos caminhos e pode cair nos precipícios.

As paixões não podem dirigir a alma, mas a alma é que deve discipliná-las, para que elas sejam úteis nos seus principais objetivos de vida. Uma paixão se torna perigosa para quem a sustenta, quando ela passa a dominar a vontade de quem a tem, e ela pode crescer muito se não cuidarmos de orientá-la nos seus impulsos. Que dizer de um potro furioso sem o bridão? De uma carroça com o seu devido animal, mas sem o carroceiro? De crianças em um lar sem os pais? De armas perigosas nas mãos dos ignorantes? Assim, as paixões que brotam nos sentimentos dos menos avisados, elas os podem destruir, bem como fazer nascer guerras fratricidas no meio dos povos.

Tudo na vida tem limites a serem observados. Os cuidados são necessários em todos os trabalhos, até mesmo na disciplina, para que se tenham luzes, surgindo o entendimento. As paixões têm seu princípio, como já falamos, nos sentimentos. O alerta vem do saber que o bom senso ativa nas criaturas, para que tenham cuidado, em usar sem abusar das suas forças.

As armas modernas que os homens fazem, podem destruir a própria casa terrena, se os cuidados não forem observados com sabedoria, no entanto, essa força poderosa retirada da natureza é capaz de fazer feliz muita gente. Podemos comparar uma moderna bomba de hidrogênio ou atômica com as paixões. O coração pode ser o paiol desses instrumentos de morte, quando a incapacidade da alma não dominar as paixões inferiores. Não obstante, sabendo usar seus limites de ações, eles criam ambiente de luz, para a luz da alma.

O Evangelho de Jesus constitui uma dessas forças poderosas que constrói e edifica. Quando ele for pregado a todas as nações e a todas as criaturas, virá o fim de todo o mal, assentando-se na Terra o verdadeiro paraíso de alegria e de amor. Vamos observar em Mateus, capítulo vinte e quatro, versículo quatorze:

E será pregado este Evangelho do reino por todo o mundo para testemunho a todas as nações. Então virá o fim.

As paixões desenleadas desaparecerão dentre os homens, dando lugar à harmonia da vida, pela qual será construído o paraíso perdido, agora achado para a felicidade de todos os povos. As guerras perderão seu sentido e somente a paz reinará no mundo e nos corações.

A paixão propriamente dita é um excesso de forças de que se necessita para viver, e mela se imprime o desregramento que destrói as possibilidades de crescimento para a vida espiritual. No mundo espiritual interior, continuam em desequilíbrio as almas que não disciplinaram seus sentimentos, e as paixões nesse mundo em que se encontram são, por vezes, piores, por faltar o dreno do corpo físico. No entanto, grandes almas se encontram empenhadas em ajudar esses irmãos ainda presos a estas forças inferiores e que no amanhã deverão ser livres.

Fonte:

O livro dos Espíritos. Allan Kardec. Tradução de Guillon Ribeiro. FEB, DF.

Filosofia espírita. Psicografada por João Nunes Maia/Miramez. Fonte viva, Belo Horizonte. 10 volumes. 

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