O livro dos espíritos. Q. 878

AS LEIS MORAIS

CAPÍTULO XI – LEI DE JUSTIÇA, DE AMOR E DE CARIDADE

Justiça e direitos naturais

878. Podendo o homem enganar-se quanto à extensão do seu direito, que é o que lhe fará conhecer o limite desse direito?

“O limite do direito que, com relação a si mesmo, reconhecer ao seu semelhante, em idênticas circunstâncias e reciprocamente.”

a) - Mas, se cada um atribuir a si mesmo direitos iguais aos de seu semelhante, que virá a ser da subordinação aos superiores? Não será isso a anarquia de todos os poderes?

“Os direitos naturais são os mesmos para todos os homens, desde os de condição mais humilde até os de posição mais elevada. Deus não fez uns de limo mais puro do que o de que se serviu para fazer os outros, e todos, aos seus olhos, são iguais. Esses direitos são eternos. Os que o homem estabeleceu perecem com as suas instituições. Demais, cada um sente bem a sua força ou a sua fraqueza e saberá sempre ter uma certa deferência para com os que o mereçam por suas virtudes e sabedoria. É importante acentuar isto, para que os que se julgam superiores conheçam seus deveres, a fim de merecer essas deferências. A subordinação não se achará comprometida, quando a autoridade for deferida à sabedoria.”

Limite do direito

O que faz com que o homem reconheça os limites dos seus direitos, é colocar-se no lugar do outro, e sentir as suas limitações. Se acreditamos que tudo vem de Deus, Ele não se esquece de inspirar a todos os Seus filhos sobre as linhas divisórias dos seus direitos, onde começa o dever.

O homem sabe, por intuição divina, até onde pode ir, e passar a respeitar seu irmão. Se analisarmos bem o quanto o próximo nos ajuda a viver, nós nem chegaríamos às fronteiras a respeitar. O Evangelho de Jesus é um código universal, capaz de levar o homem à condição de angelitude, pelo elevado procedimento, por despertar nos corações a justiça e o amor para com Deus e o próximo.

Não devemos ter limites para respeitar, nem para amar, nem para perdoar; os limites foram feitos por causa do egoísmo e do orgulho, invasores dos direitos alheios, usurpadores dos esforços dos outros, estabelecendo assim a desarmonia por toda parte.

Os direitos naturais das criaturas são iguais. Deus não iria fazer diferença entre elas, entretanto, a consciência dentro de cada uma sabe regular os direitos de todos, criando ambiente para a educação e aprovando os bons modos que os homens e almas vão aprendendo no decorrer dos evos.

Devemos registrar a singularidade da vida, em se expandindo por toda parte com as mesmas bênçãos do Criador. Podemos até duvidar quando falamos que o vírus recebe as mesmas bênçãos de vida que os Espíritos elevados; pois, ele as recebe, não obstante. O vírus não assimila as mesmas qualidades que os Espíritos têm a capacidade de assimilar, porque lhe falta o tempo de preparo para a vida, que aqueles já conquistaram. Eis aí a escala das almas. Não é que Deus dá mais a um que ao outro; cada um recebe o que merece por despertamento das suas próprias qualidades, que todos têm, doadas pelo Criador.

O Espírito elevado pensa mais nos seus deveres e esquece seus direitos, que a própria lei lhe entrega com carinho. Os companheiros que não atingiram essa elevação buscam, em primeiro lugar, seus direitos, fazendo-se esquecer dos deveres. O primeiro mandamento divino é amar. Se o reconhecemos como tal, devemos nos esforçar todos os dias para esse desempenho, porque somente o amor nos abre os olhos para ver e conquistar a paz interior.

Ainda em sua primeira epístola, João escreveu, no capítulo quatro, versículo onze: Amados, se Deus de tal maneira nos amou, devemos nós também amar uns aos outros.

Deste modo, tudo em nós tornar-se-á ambiente de paz, de alegria e de concórdia, porque o amor é força de Deus no coração dos Espíritos. Quem ama, sabe dos.seus direitos e nunca ultrapassa os dos outros, compreendendo que todos vivemos no seio de Deus, e que uns vivem por causa dos outros. A vida é uma cadeia de luz, onde as almas são elos que se prendem para manter a própria vida no fulgor que lhe é devido.

Os direitos e deveres estabelecidos pelos homens se dissolvem pelo tempo, surgindo outros mais apurados, dado à elevação moral das criaturas. Mas, os de Deus são eternos, como eternas são as leis naturais, por terem sido feitas pelas mãos puras do Divino Doador da vida.

Homem nenhum é grande, ou se fez reconhecido como tal, sem a cooperação dos pequenos. Não existem riquezas materiais sem a cooperação dos pobres. O próprio sábio aprendeu com os ignorantes. Essa é a linha da vida de todos nós. Os Espíritos de alta hierarquia espiritual descem para as sombras para trabalharem com os ignorantes, por terem passado pelos mesmos caminhos, e com isso se elevam mais. O idoso cuida da criança, porque a criança lhe transmite vida nova. O chefe de família sustenta essa família, porque ela é a segurança espiritual dos seus caminhos.

Fonte:
O livro dos Espíritos. Allan Kardec. Tradução de Guillon Ribeiro. FEB, DF.
Filosofia espírita. Psicografada por João Nunes Maia/Miramez. Fonte viva, Belo Horizonte. 10 volumes. 

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