AS
LEIS MORAIS
CAPÍTULO XI – LEI DE JUSTIÇA, DE AMOR E DE CARIDADE
Justiça e direitos naturais
876. Posto de parte o
direito que a lei humana consagra, qual a base da justiça, segundo a lei
natural?
“Disse
o Cristo: Queira cada um para os outros o que quereria para si mesmo. No
coração do homem imprimiu Deus a regra da verdadeira justiça, fazendo que cada
um deseje ver respeitados os seus direitos. Na incerteza de como deva proceder
com o seu semelhante, em dada circunstância, trate o homem de saber como
quereria que com ele procedessem, em circunstância idêntica. Guia mais seguro
do que a própria consciência não lhe podia Deus haver dado.”
A.K.:
Efetivamente,
o critério da verdadeira justiça está em querer cada um para os outros o que
para si mesmo quereria e não em querer para si o que quereria para os outros, o
que absolutamente não é a mesma coisa. Não sendo natural que haja quem deseje o
mal para si, desde que cada um tome por modelo o seu desejo pessoal, é evidente
que nunca ninguém desejará para o seu semelhante senão o bem. Em todos os
tempos e sob o império de todas as crenças, sempre o homem se esforçou para que
prevalecesse o seu direito pessoal. A sublimidade da religião cristã está em
que ela tomou o direito pessoal por base do direito do próximo.
Segundo a lei natural
Segundo a lei natural, o
direito de um é o direito de outro, por serem todos iguais diante de Deus. Não
é justo que uns tenham direitos diferentes dos outros, ante o Pai que se
encontra na direção de tudo que existe.
Podemos observar a justiça
interna, mesmo entre os órgãos que trabalham, sem nada exigir, para garantir a
harmonia do conjunto sobre uma mente instintiva, recebendo ordens e mais ordens
da consciência. Cada órgão, em seu lugar, tem trabalho a fazer. Segundo a lei
natural, a lei de Deus é a mesma lei interna, que podemos observar quando
despertados para tal, pelos processos que chamamos de dor e depois de amor.
Uma das nuances da lei da
justiça é que cada um seja respeitado em seus direitos, sejam homens, países ou
mesmo os mundos habitados. Os próprios átomos e planetas têm suas órbitas como
sinal de respeito pelos que circulam por perto. O que chamamos de "lei da
gravidade" nos mostra onde termina o direito do outro vizinho. Assim no
mundo, com os pertences das criaturas: a lei se expressa em cercas, muros e
papéis, afigurando o dono. Invadir os direitos dos outros passa a ser injustiça
e falta grave, que merece punição.
Em Atos dos Apóstolos,
capítulo nove, versículo vinte e quatro, passamos a ler o seguinte:
Porém o plano deles chegou
ao conhecimento de Saulo; dia e noite guardaram também as portas para o
matarem.
Vejamos aí a falta de
respeito para com a vida alheia, a injustiça; por que Saulo não teria direito
de pregar as ideias de vida e de justiça? Paulo sabia na carne o que era lutar
contra Deus; o seu próprio mestre Gamaliel o informou sobre isso.
Desrespeitar a justiça é
criar fogo para o seu próprio caminho. É o que não devem fazer os homens que
estão lendo todos os dias o Evangelho. A primeira coisa que devemos fazer é
respeitar os direitos dos outros, para que os outros respeitem os nossos. Se
queremos colher bons frutos, não podemos esquecer as boas sementes. Busquemos a
vida, que a vida mais intensa nos busca; demos a paz, ou estimulemos essa paz,
que a paz vem ao nosso encontro, com todas as nuances de vida; perdoemos aos
nossos ofensores, que eles tornar-se-ão nossos amigos do coração. Quando nos
descuidamos dos nossos órgãos, eles se descuidam de nós; quando maltratamos as
crianças, o coração sente.
As normas de vida mais
excelentes são as dadas por Jesus em Seu Evangelho, porque ele estimula a vida
e dá visão aos que padecem de cegueira.
Segundo a lei natural, é
dando que recebemos; se escolhemos a dádiva, a vida, senão a lei, escolhe a
recompensa na mesma dimensão. O verdadeiro critério de justiça começa na
intimidade de cada um, porque a injustiça que pensamos fazer aos outros começa
a ser deturpada dentro de nós mesmos.
Os erros alimentares são uma
injustiça com o nosso próprio organismo. Os vícios são injustiça com muitos dos
corpos que nos servem, para que tenhamos harmonia no coração. A perca do sono
em demasia, por coisas vãs, é uma injustiça para com o instrumento de carne. O
trabalho que ultrapassa nossas forças é, igualmente, injustiça com as nossas
qualidades de servir.
A Doutrina Espírita é um
manancial de orientações espirituais, que vão chegando do céu de acordo com as
necessidades da alma. Não a desprezes, pois é na luta para compreendermos a
justiça, que o amor nos chega ao coração.
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