AS
LEIS MORAIS
CAPÍTULO XII – PERFEIÇÃO MORAL
O egoísmo
917. Qual o meio de
destruir-se o egoísmo?
“De
todas as imperfeições humanas, o egoísmo é a mais difícil de desenraizar-se
porque deriva da influência da matéria, influência de que o homem, ainda muito
próximo de sua origem, não pôde libertar-se e para cujo entretenimento tudo
concorre: suas leis, sua organização social, sua educação. O egoísmo se enfraquecerá
à proporção que a vida moral for predominante sobre a vida material e,
sobretudo, com a compreensão, que o Espiritismo vos faculta, do vosso estado
futuro, real e não desfigurado por ficções alegóricas. Quando, bem
compreendido, se houver identificado com os costumes e as crenças, o Espiritismo
transformará os hábitos, os usos, as relações sociais. O egoísmo assenta na importância
da personalidade. Ora, o Espiritismo, bem compreendido, repito, mostra as coisas
de tão alto que o sentimento da personalidade desaparece, de certo modo, diante
da imensidade. Destruindo essa importância, ou, pelo menos, reduzindo-a às suas
legítimas proporções, ele necessariamente combate o egoísmo.
“O choque, que o homem experimenta, do egoísmo os outros é o que muitas vezes o faz egoísta, por sentir a necessidade de colocar-se na defensiva. Notando que os outros pensam em si próprios e não nele, ei-lo levado a ocupar-se consigo, mais do que com os outros. Sirva de base às instituições sociais, às relações legais de povo a povo e de homem a homem o princípio da caridade e da fraternidade e cada um pensará menos na sua pessoa, assim veja que outros nela pensam. Todos experimentarão a influência moralizadora do exemplo e do contacto. Em face do atual extravasamento de egoísmo, grande virtude é verdadeiramente necessária, para que alguém renuncie à sua personalidade em proveito dos outros, que, de ordinário, absolutamente lhe não agradecem.
Principalmente
para os que possuem essa virtude, é que o reino dos céus se acha aberto. A
esses, sobretudo, é que está reservada a felicidade dos eleitos, pois em
verdade vos digo que, no dia da justiça, será posto de lado e sofrerá pelo
abandono, em que se há de ver, todo aquele que em si somente houver pensado.”
(785)
FÉNELON.
A.K.:
Louváveis
esforços indubitavelmente se empregam para fazer que a Humanidade progrida. Os
bons sentimentos são animados, estimulados e honrados mais do que em qualquer
outra época. Entretanto, o egoísmo, verme roedor, continua a ser a chaga
social. É um mal real, que se alastra por todo o mundo e do qual cada homem é
mais ou menos vítima. Cumpre, pois, combatê-lo, como se combate uma enfermidade
epidêmica. Para isso, deve-se proceder como procedem os médicos: ir à origem do
mal. Procurem-se em todas as partes do organismo social, da família aos povos,
da choupana ao palácio, todas as causas, todas as influências que, ostensiva ou
ocultamente, excitam, alimentam e desenvolvem o sentimento do egoísmo.
Conhecidas as causas, o remédio se apresentará por si mesmo. Só restará então
destruí-las, senão totalmente, de uma só vez, ao menos parcialmente, e o veneno
pouco a pouco será eliminado. Poderá ser longa a cura, porque numerosas são as
causas, mas não é impossível. Contudo, ela só se obterá se o mal for atacado em
sua raiz, isto é, pela educação, não por essa educação que tende a fazer homens
instruídos, mas pela que tende a fazer homens de bem. A educação,
convenientemente entendida, constitui a chave do progresso moral. Quando se
conhecer a arte de manejar os caracteres, como se conhece a de manejar as
inteligências, conseguir-se-á corrigi-los, do mesmo modo que se aprumam plantas
novas. Essa arte, porém, exige muito tato, muita experiência e profunda
observação. É grave erro pensar-se que, para exercê-la com proveito baste o
conhecimento da Ciência. Quem acompanhar, assim o filho do rico, como o do
pobre, desde o instante do nascimento, o observar todas as influências perniciosas
que sobre eles atuam, em consequência da fraqueza, da incúria e da ignorância
dos que os dirigem, observando igualmente com quanta frequência falham os meios
empregados para moralizá-los, não poderá espantar-se de encontrar pelo mundo
tantas esquisitices. Faça-se com o moral o que se faz com a inteligência e
ver-se-á que, se há naturezas refratárias, muito maior do que se julga é o
número das que apenas reclamam boa cultura, para produzir bons frutos. (872)
O homem deseja ser feliz e
natural é o sentimento que dá origem a esse desejo. Por isso é que trabalha
incessantemente para melhorar a sua posição na Terra, que pesquisa as causas de
seus males, para remediá-los. Quando compreender bem que no egoísmo reside uma
dessas causas, a que gera o orgulho, a ambição, a cupidez, a inveja, o ódio, o
ciúme, que a cada momento o magoam, a que perturba todas as relações sociais, provoca
as dissensões, aniquila a confiança, a que o obriga a se manter constantemente
na defensiva contra o seu vizinho, enfim a que do amigo faz inimigo, ele
compreenderá também que esse vício é incompatível com a sua felicidade e,
podemos mesmo acrescentar, com a sua própria segurança. E quanto mais haja
sofrido por efeito desse vício, mais sentirá a necessidade de combatê-lo, como
se combatem a peste, os animais nocivos e todos os outros flagelos. O seu
próprio interesse a isso o induzirá. (784)
O egoísmo é a fonte de todos
os vícios, como a caridade o é de todas as virtudes. Destruir um e desenvolver
a outra, tal deve ser o alvo de todos os esforços do homem, se quiser assegurar
a sua felicidade neste mundo, tanto quanto no futuro.
Destruição do egoísmo
O egoísmo é o centro
energético da ignorância, por estar muito ligado à origem material do homem.
Isto, de certa forma, tem grande influência na personalidade humana. Como
libertar-se das irradiações da matéria, vivendo nela e dentro dela? O homem
pode e deve esforçar-se, que é um grande passo, mas, enquanto estiver nesta
estância de vida, por lei, respira no seu clima. No entanto, os homens devem
transformá-la em paraíso e nele viver em busca da felicidade.
O egoísmo se enfraquecerá no
passar dos milênios e tenderá a desaparecer por lei universal, porque, se
nascemos pelo amor e para o amor, haveremos de viver bem somente na sua
influência divina. O egoísmo assenta-se na personalidade por analogia material,
mas não continua por força da lei natural da evolução espiritual. Compete à
razão mostrar como proceder diante dos seus efeitos constrangedores.
O choque que as almas sentem
com o egoísmo das suas irmãs é que a fazem pensar nas modificações urgentes, e
o bem-estar da caridade e do amor nos mostram que é o clima de Deus a crescer
no coração humano. Vejamos quando reunimos mais pessoas para trabalhar ou mesmo
se divertir: temos de ceder em alguma coisa em favor daquele que se reúne
conosco. Por aí notamos que já começamos a combater o egoísmo, ainda que algo
inconscientemente.
Jesus ensinou e Mateus
anotou, no capítulo dezoito, versículo vinte:
Porque onde estiverem dois
ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles.
Ativando a luz nesse
despontar da verdade, a palavra do Mestre se faz ouvir em todas as dimensões da
vida, para que as almas entendam e passem a trabalhar no surgimento da luz na
sua intimidade. Na verdade, o egoísmo existe, mas ele já vem sendo combatido em
todas as frentes. Ele está morrendo, desde quando surgiu Jesus na face da
Terra. é demorada a sua extirpação, porém não para de ser combatido por todos
os meios.
Falamos aos espíritas,
principalmente, que não esmoreçam nas lutas; que façam a sua parte, mostrando
que podem viver sem essa influência. Quando o Mestre disse que conhecendo a
verdade poderíamos nos tornar livres, Ele sabia o que estava falando. Todos os
dias não vemos o sol saindo no horizonte? Reparemos o sol que está saindo no
horizonte da nossa alma e deixemos que ele ilumine toda a nossa vida, e assim
viveremos a felicidade de Deus dentro do nosso mundo interno.
O egoísmo é sombra que não
suporta a luz. Quando o ser renuncia a qualquer coisa de seu, da sua conquista,
em favor dos outros, ele é que está sendo beneficiado. Atrás dessa renúncia, se
encontra Jesus, confortando seu coração e alimentando sua vida. As coisas
invisíveis são as mais reais. Quem descrer, nos dois aspectos da existência,
sofre o medo da perda. O Mestre já dizia que aquele que não vê e crê é mais
agraciado pela paz.
O verdadeiro meio de
destruir o egoísmo é a renúncia. O desprendimento nos coloca na libertação,
onde nasce o amor. Ele é Deus a nos dizer: "Vem, meu filho, passa por
Jesus e abraça meu coração em tudo o que tocares".
Fonte:
O livro dos
Espíritos. Allan Kardec. Tradução de Guillon Ribeiro. FEB, DF.
Filosofia espírita. Psicografada por João Nunes Maia/Miramez. Fonte viva, Belo Horizonte. 10 volumes.
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