AS
LEIS MORAIS
CAPÍTULO X – LEI DE LIBERDADE
Conhecimento do futuro
870. Mas, se convém que o
futuro permaneça oculto, por que permite Deus que seja revelado algumas vezes?
“Permite-o,
quando o conhecimento prévio do futuro facilite a execução de uma coisa, em vez
de a estorvar, obrigando o homem a agir diversamente do modo por que agiria, se
lhe não fosse feita a revelação. Não raro, também é uma prova. A perspectiva de
um acontecimento pode sugerir pensamentos mais ou menos bons. Se um homem vem a
saber, por exemplo, que vai receber uma herança, com que não conta, pode dar-se
que a revelação desse fato desperte nele o sentimento da cobiça, pela
perspectiva de se lhe tornarem possíveis maiores gozos terrenos, pela ânsia de
possuir mais depressa a herança, desejando talvez, para que tal se dê, a morte
daquele de quem herdará. Ou, então, essa perspectiva lhe inspirará bons
sentimentos e pensamentos generosos. Se a predição não se cumpre, aí está outra
prova, consistente na maneira por que suportará a decepção. Nem por isso,
entretanto, lhe caberá menos o mérito ou o demérito dos pensamentos bons ou
maus que a crença na ocorrência daquele fato lhe fez nascer no íntimo.”
Algumas vezes
Algumas vezes, permite o
Senhor que seja revelado o futuro de certas criaturas, quando essa revelação
lhes possa ajudar no seu desempenho espiritual. É bom que pensemos nisso, a fim
de não conturbarmos nossos corações por falta de revelação espiritual. Elas
chegam de acordo com as nossas necessidades em caminho.
A regressão de memória é um
fato, no entanto, não se pode efetuá-la indiscriminadamente. A consciência
guarda experiências nas suas fibras mais íntimas, de modo a nada poder revelar,
quando exigida pela violência que se mistura com a vaidade e o capricho de
saber o que não devia, nem se estaria preparado para tal. Pactuar com a
vontade, de que a razão e o bom senso não participem, é criar perturbação no
próprio destino.
A ação hipnótica ou magnética,
que é a mesma coisa, pode levar ao mergulho no passado, por vezes distante, no
entanto, esse mergulho pode ser prejudicial, trazendo à tona a lembrança de
fatos que não deveríamos recordar, pelo menos por enquanto.
Não deves pensar que, como
Espíritos, nós buscamos no passado o que pretendemos. Não, somente vamos até
onde podemos suportar o embate de forças contrárias que nós mesmos criamos e
guardamos nas dobras da vida. Só os Espíritos puros, almas que já não sentem
mais o peso do fardo e o jugo de suas vidas pregressas, é que têm condições de
estudar, quando o desejam, as experiências do passado distante, com preparo no
coração.
Quando necessário, e se as
lições foram bem aprendidas, alguma coisa do passado, não tudo, pode se fazer
presente, de modo a servir de estímulo para o trabalho e a vida. Mas, quando
esse passado cria mais distúrbios nos caminhos do aprendiz, o mundo espiritual
deixa cair no silêncio seus pedidos de regressão da memória, para que ele possa
andar melhor. Nem sempre recordamos do passado, mas algumas vezes isso
acontece, para o nosso bem, quando há naturalidade e a revelação se opera com
Jesus.
A consciência é
verdadeiramente um mundo que ainda não foi estudado nem tão pouco compreendido,
por faltar ao homem preparo para tal empreendimento espiritual. Compete ao
homem do futuro procurar nos vários departamentos da consciência as lições mais
sublimadas, onde Deus se encontra mais presente. Certas cartomantes e
quiromantes pensam que revelam o passado e o futuro, mas enganam a si mesmas,
buscando revelações em aspectos exteriores; entrementes, quando conveniente, os
Espíritos superiores podem se servir delas, para revelarem o que for útil a
quem as procura. Elas atuam como médiuns, estimulando forças virgens no
paciente, para melhor andamento da sua vida, alimentando a esperança.
O próprio Allan Kardec
entregou a certa pessoa suas mãos para serem examinadas, quando ela lhe disse
que via uma tiara em sua cabeça. A tiara é um símbolo de autoridade moral e
religiosa. Ela leu no futuro do codificador algo da sua missão que ela mesma
não compreendia. E ele, com a sua sensibilidade espiritual, pressentiu que
significava algo de responsabilidade, pela revelação intima que já possuía da
sua grande missão, a de fazer mais claro o cristianismo.
Kardec recebeu essa
revelação fora da área em que operava, de quem desconhecia totalmente a
Doutrina dos Espíritos, para maior confirmação dos seus trabalhos em favor da
humanidade. Essa revelação foi divina, por estimular um missionário que, mesmo
se a revelação fosse o contrário, não teria se impressionado com o fato, pelo
seu grau evolutivo; no entanto, ajudou e muito, por ter vindo de fonte comum.
Devemos, assim, ter condescendência com todos os pontos de sintonia, desde
quando somente o bem se encontre na mira, se ajustando com o amor.
Quando recebemos em nosso
íntimo certas revelações, elas vêm de Deus e nós sentimos essa procedência.
Lembremo-nos de João, no capítulo três, versículo vinte e sete, quando citou
João Batista: Respondeu João: O homem não
pode receber cousa alguma se do céu não lhe for dada.
Receber é quando o coração
participa com alegria e a consciência aprova. E quando vem do céu, essa
inspiração estimula e faz nascer pensamentos nobres e ideias generosas.
O livro dos Espíritos. Allan Kardec. Tradução de Guillon Ribeiro. FEB, DF.
Filosofia espírita. Psicografada por João Nunes Maia/Miramez. Fonte viva, Belo Horizonte. 10 volumes.
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