O livro dos espíritos. Q. 977

ESPERANÇAS E CONSOLAÇÕES

CAPÍTULO II - PENAS E GOZOS FUTUROS

Natureza das penas e gozos futuros

977. Não podendo os Espíritos ocultar reciprocamente seus pensamentos e sendo conhecidos todos os atos da vida, dever-se-á deduzir que o culpado está perpetuamente em presença de sua vítima?

“Não pode ser de outro modo, di-lo o bom-senso.”

a) - Serão um castigo para o culpado essa divulgação de todos os nossos atos reprováveis e a presença constante dos que deles foram vítimas?

“Maior do que se pensa, mas tão-somente até que o culpado tenha expiado suas faltas, quer como Espírito, quer como homem, em novas existências corpóreas.”

A.K.: Quando nos achamos no mundo dos Espíritos, estando patente todo o nosso passado, o bem e o mal que houvermos feito serão igualmente conhecidos. Em vão, aquele que haja praticado o mal tentará escapar ao olhar de suas vítimas: a presença inevitável destas lhe será um castigo e um remorso incessante, até que haja expiado seus erros, ao passo que o homem de bem por toda parte só encontra olhares amigos e benevolentes. Para o mau, não há maior tormento, na Terra, do que a presença de suas vítimas, razão pela qual as evita continuamente. Que será quando, dissipada a ilusão das paixões, compreender o mal que fez, vir patenteados os seus atos mais secretos, desmascarada a sua hipocrisia e não puder subtrair-se à visão delas? Enquanto a alma do homem perverso é presa da vergonha, do pesar e do remorso, a do justo goza perfeita serenidade.

Em presença da vítima

Comumente, a vítima está presente junto ao seu ofensor, no entanto, há duas presenças» que a razão nos faz crer, para maior elucidação.

À primeira é a da própria vítima; quando não tem compreensão, ela, por lei que a garante, acompanha seu algoz cobrando o que a sua ignorância lhe fez, perturbando sua vida. Ela se esquece, quase sempre, que ela mesma atraiu esse escândalo, e perseguidor e perseguido, ajuntando-se nos sofrimentos pela assistência do tempo, começam a despertar seus valores espirituais. Aquele que despertar primeiro, se liberta, perdoando ou trabalhando para liberdade do outro. Isto sempre é benefício, por isso que Deus concede que os dois se unam por lei de afinidade, mesmo que aparentemente no mal.

A outra forma de estarem juntos, vítimas e ofensores, é pela via da consciência; ela reproduz para o artista do mal tudo o que ele fez, que surge na sua tela mental de modo mais claro, como se estivesse reproduzindo o mesmo escândalo. Esse sofrimento é mais acentuado que o primeiro.

A consciência é um tribunal que não cede a choro, nem a promessas vazias. Ela somente se aplaca pelo esgotamento dos efeitos, uma vez cessada a causa, pela caridade, pelo amor, pela compreensão e pela paciência diante dos seus resgates. A consciência aliviada é força para renovação espiritual.

Não devemos nos esquecer da oração todos os dias para os que sofreram pela invigilância. O mundo atual está repleto destes dramas, o que nos dá coragem e estímulo para ajudar as almas comprometidas a aliviarem esses fardos pesados dos seus ombros, livrando-se do fogo do inferno íntimo, que causa todas as ações maléficas capazes de fazer sofrer terrivelmente. No entanto,é neste sofrimento que Deus nos lega lições imortais de amor e de perdão.

Quando a vítima é um Espírito elevado, ou que se eleva, o ofensor depara com a sua imagem na profundidade da consciência, não que a vítima o deseje, por já ter perdoado, mas, por força da lei. Depois de limpa a consciência, o ofensor guarda as lições e passa a trabalhar em favor dos que padecem as mesmas agressões, igual às que ele mesmo fez em tempos passados. Os justos, as almas puras, trabalham sempre sem se contaminarem. Por que esse interesse de ajudar, de servir, de amar aos que sofrem e passam por esses caminhos de contrastes? É porque eles já passaram por isso e outras entidades os ajudaram a caminhar com mais ânimo. Todos os Espíritos, sem exceção, trilham pelos mesmos caminhos. Somente as faltas, as dores, problemas e desarmonias diversas os fazem despertar para a luz que existe na sua intimidade.

A Doutrina dos Espíritos surgiu no mundo para nos mostrar a misericórdia de Jesus para conosco, apontando meios e mostrando condições de nos livrarmos de todo o mal, pela prática do bem.

Aos que sofrem os reveses das suas ações, parece que esses tormentos não têm solução, e passam a lembrar do inferno eterno para os maus, conforme afirmam certas religiões. A eles, o Evangelho responde:

Mas ele respondeu:

Os impossíveis dos homens são possíveis a Deus. (Lucas, 18:27)

Quando as lições forem assimiladas, virá a bonança para a alma sofredora e ela passará a sentir a presença de Deus abençoando-a e revestindo de coragem santa na construção da sua tranquilidade. Nessa hora, a vítima desaparece da sua consciência, já que, em muitos casos, ela estava trabalhando para a sua recuperação no silêncio, de forma que vítima e ofensor se unem para o trabalho com Jesus em favor da humanidade. Eis aí o trabalho de Jesus nos corações das criaturas! É a fraternidade crescendo e o amor multiplicando amigos no coração da vida.

Fonte:

O livro dos Espíritos. Allan Kardec. Tradução de Guillon Ribeiro. FEB, DF.

Filosofia espírita. Psicografada por João Nunes Maia/Miramez. Fonte viva, Belo Horizonte. 10 volumes.

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