Abandonando culpas e assumindo responsabilidades

Várias são as definições de “culpa”: é um sentimento doloroso de quem se arrependeu de suas ações; é um sentimento que surge após a pessoa julgar a si mesma por um comportamento passado; é um sentimento que se manifesta quando a pessoa avalia sua ação e a reprova.

De modo geral, a culpa é um sentimento que se apresenta à consciência quando a pessoa avalia seus atos de forma negativa, sentindo-se responsável por falhas, erros e imperfeições. Assim, a culpa está intimamente ligada à violação de valores morais, ou seja, surge quando se pratica um ato contrário à norma moral.


O Livro dos Espíritos
esclarece perfeitamente a compreensão dos valores morais. A questão 629 esclarece que “a moral é a regra de bem proceder, isto é, de distinguir o bem do mal. Funda-se na observância da Lei de Deus. O homem procede bem quando tudo faz pelo bem de todos, porque então cumpre a Lei de Deus”, que está escrita na própria consciência, intimamente ligada a cada um.

Desta forma, se pode dizer que “o bem é tudo o que é conforme a Lei de Deus; o mal, tudo o que lhe é contrário. Assim, fazer o bem é proceder de acordo com a Lei de Deus. Fazer o mal é infringi-la” (questão 630).

Então, violada a Lei de Deus, surgindo o sentimento de culpa, a pergunta que fica é: o que fazer agora?

Manter o sentimento excessivo de culpa, é ficar preso a um estado vibracional baixo, se afetando terrivelmente. Nutrir esse sentimento é se condenar ciclicamente, mantendo presente o erro cometido e se impedindo de perdoar, modificar e progredir. A presença incessante de culpa pode causar consequências graves, resultando até mesmo em doenças (físicas e emocionais), obsessão (já que atrai Espíritos que se satisfazem neste estado de culpa) e auto-obsessão.

No livro Pensamento e Vida, psicografado por Francisco Cândido Xavier, Emmanuel diz que “quando fugimos ao dever, precipitamo-nos no sentido de culpa, do qual se origina o remorso, com múltiplas manifestações, impondo-nos brechas de sombra aos tecidos sutis da alma. E o arrependimento, incessantemente fortalecido pelos reflexos de nossa lembrança amarga, transforma-se num abscesso mental, envenenando-nos, pouco a pouco, e expelindo, em torno, a corrente miasmática de nossa vida íntima, intoxicando o hausto espiritual de quem nos desfruta o convívio”.

Manter o peso da culpa é um impedimento para se perdoar pelo erro cometido e o imediato reajustamento para o equilíbrio vibratório.

Conclui-se que, surgindo o sentimento de culpa, é preciso tornar essa culpa em algo positivo o mais rápido possível, ou seja, é preciso perceber qual a função do erro, para se libertar da dor e evoluir em sua caminhada.

Pode-se dizer que, havendo culpa, é necessário que haja arrependimento do ato cometido. Arrependimento significa mudar o pensamento, mudar de direção, é assumir a necessidade de uma vida diferente. Arrepender-se é decidir voltar a agir em conformidade com as Leis de Deus, libertar-se da culpa.

Não se pode postergar o desejo de se arrepender, para não levar para a Vida Espiritual esse sentimento. No Livro dos Espíritos vemos que é possível se arrepender na vida física ou Espiritual, porém, quando se compreende a diferença do bem e do mal, é possível alcançá-lo nesta existência.

Entretanto, não basta se arrepender, mesmo que sinceramente, é preciso a reparação do erro, caminho para a evolução espiritual. Então, encarnado, há tempo para a reparação de erros.

Porém, antes de se falar em reparação do erro, é preciso comentar sobre perdão. “O perdão é um dos antídotos para a culpa; a coragem de pedir perdão e a capacidade de perdoar são dois mecanismos terapêuticos liberadores da culpa.”

Também muito importante é se perdoar! Pode-se errar por estar fazendo o que se julga certo ou por não agir da maneira correta, não importa. O que foi feito, foi feito, seja por um mau julgamento ou por uma má ação. Muitas vezes é necessário ter a mesma compaixão que se tem com o próximo para consigo mesmo.

Como ensinou Jesus: “Não vos digo que perdoeis até sete vezes, mas até setenta vezes sete vezes” (Mateus, 18:22). É preciso estar sempre disposto a perdoar!

Cometido o erro, se sentido culpado e se perdoando, é chegada a hora de assumir as responsabilidades.

O Livro dos Espíritos esclarece que “a Lei de Deus é a mesma para todos; porém o mal depende principalmente da vontade que se tenha de o praticar. O bem é sempre o bem e o mal sempre o mal, qualquer que seja a posição do homem. Diferença só há quanto ao grau da responsabilidade” (questão 636). Continua dizendo que “o mal recai sobre quem lhe foi o causador. Nessas condições, aquele que é levado a praticar o mal pela posição em que seus semelhantes o colocam tem menos culpa do que os que, assim procedendo, o ocasionaram. Porque, casa um será punido, não só pelo mal que haja feito, mas também pelo mal a quem tenha dado lugar (questão 639).

O que realmente importa não é apontar culpados, mas assumir a própria responsabilidade pelos atos cometidos. Porém, não basta assumir o erro e não mais praticá-lo, é necessário ir além, seguir no caminho da reparação, que é verdadeiramente um ato libertador.

A reparação pode ser vista de várias formas. Quando o erro não acarreta prejuízo a outra pessoa, será feita pela mudança de comportamento, seja fazendo o que se deixou de fazer, ou realizando deveres ignorados, ou refazendo a tarefa malsucedida de forma mais zelosa.

Quando o erro afeta diretamente outra pessoa, é preciso corrigir o que foi feito de mal. Joanna de Ângelis disse que havendo a consciência do erro e a necessidade de reparação, a forma mais eficiente é assistir o prejudicado, possibilitando a recomposição do dano

Quando se adquire um débito, este em algum momento deverá ser quitado. Se não nesta, em alguma encarnação futura, já que todas as existências estão interligadas. Aquele que não repara os seus erros nesta vida, por fraqueza ou má vontade, reencontrará, numa próxima existência, as mesmas pessoas a quem prejudicou (O Céu e o Inferno, cap. VII, Código penal da vida futura, item 17º). O próprio O Livro dos Espíritos ensina que “é possível quitar débitos na própria encarnação e que o mal apenas pode ser reparado pelo bem” (questão 1000).

E quando não se tem como reparar o erro cometido com o ofendido? A reparação será feita através de outros, ensinando, auxiliando, amparando. Basta seguir o que o apóstolo Pedro ensinou: Sobretudo, tende ardente amor uns para com os outros; porque o amor cobrirá a multidão de pecados (1ª Pedro, 4:8).

Somos Espíritos em evolução, atualmente, aqui na Terra, imperfeitos, cometendo muitos erros. O Espírito sofre, na vida espiritual, as consequências de todas as imperfeitos das quais não se libertou durante o período em que viveu na Terra (O Céu e o Inferno, cap. VII, Código penal da vida futura, item 6º). O arrependimento é o primeiro passo para a regeneração, mas ele sozinho não é suficiente. É preciso ainda expiar e reparar as faltas cometidas (O Céu e o Inferno, cap. VII, Código penal da vida futura, item 16º).

O passado não pode ser alterado, o que foi feito, está feito. Todo mal praticado, é uma dívida contraída, que, em algum momento, deverá ser quitada. A lei geral estabelece que toda falta recebe a sua punição e toda boa ação recebe a sua recompensa. O arrependimento suaviza as dores da expiação, abrindo pela esperança o caminha da reabilitação, mão somente a reparação da falta pode anular o efeito, destruindo-lhe a causa (O Céu e o Inferno, cap. VII, Código penal da vida futura, item 16º).

A Lei do Progresso oferece a toda alma a possibilidade de adquirir o bem que lhe falta e de liberta-se do que tem de mau, de acordo com a sua vontade e os seus esforços. Disso resulta que o futuro está ao alcance de todas as criaturas, porque Deus não abandona nenhum de seus filhos. Ele os recebe em seu seio à medida que atingem a perfeição, deixando a cada um o mérito de suas obras (O Céu e o Inferno, cap. VII, Código penal da vida futura, item 4º).

Fonte: Letra espírita, por Ana Paula Martins. 

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