Evangelho segundo Lucas - cap. 6

O sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado. Deus, sempre indulgente com as suas criaturas fracas e falíveis, lhes faculta o arrependimento e a reparação

(Mateus, 12:1-8; Marcos, 2:23-28)

1. Ora, sucedeu que num dia de sábado chamado o segundo primeiro, passando Jesus por uns trigais, seus discípulos se puseram a cortar algumas espigas, a debulhá-las com as mãos e a comê-las. 2. Alguns fariseus então lhes disseram: Por que fazeis o que não é permitido fazer-se aos sábados? 3. Jesus, tomando a palavra, lhes disse: Não lestes o que fez Davi quando, com os que o acompanhavam, teve fome? 4. Como entrou na casa de Deus, tomou os pães da proposição, os comeu e distribuiu com os de seu séquito, muito embora só aos sacerdotes fosse licito comê-los? 5. E acrescentou: O filho do homem é senhor também do sábado.

Moisés instituiu a guarda do sábado apenas para que não só os homens, como também os animais tivessem periodicamente um dia reservado ao descanso. Esse dia, que então se chamava o segundo primeiro, era o segundo sábado da primeira parte do mês.

Quanto aos pães da proposição, que só os sacerdotes podiam comer, eram os que se ofereciam ao altar.

Segundo a lei, os Hebreus, no dia de sábado, deviam abster-se de todos os atos manuais, de tocar em qualquer metal.

Ora, lembrando aos fariseus o que fizera Davi com aqueles pães e que, no templo, os sacerdotes, cumprindo os ritos do culto, violavam o sábado, Jesus lhes quis mostrar que assim os pães, como o sábado, estavam submetidos às necessidades humanas e que, portanto, o homem tinha o direito de alimentar-se, em qualquer dia, com o que Deus lhe pusera à disposição, para satisfazer aos reclamos da sua existência.

Recordando-lhes as palavras, que eles não haviam compreendido: “Quero misericórdia e não sacrifício”, procurou fazer-lhes sentir que Deus, sempre indulgente com as suas criaturas fracas e falíveis, lhes dá a faculdade de se arrependerem e repararem suas faltas, contrariamente ao que faziam aqueles que condenavam os acusados de sacrilégio e sob o menor pretexto mandavam lapidá-los sem piedade. E dizer-se que, depois dessas observações claras do Mestre divino, inúmeros horrores e atrocidades inenarráveis ainda se cometeram em seu nome! E ainda se cometem...

A instituição do sábado, como tantas outras práticas e usos de culto externo, como tantas e tantas cerimônias com que o homem ocupa tão larga parte do seu tempo, nenhuma importância ou valor têm, para aquele que queira compreender em espírito e verdade o que disse Jesus.

Mas, virá o tempo e já veio em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade; esses os adoradores que o Pai quer. Deus é espírito e, os que o adoram, em espírito e verdade é que o devem adorar. (JOÃO, capítulo 4, versículos 23 e 24.)

Mulher, crê-me, virá tempo em que não será neste monte, nem em Jerusalém que adorareis o Pai. (JOÃO, capítulo 4, versículo 21.)

Com efeito, chegados são os tempos em que os homens deverão unir-se, para formarem, pela fé espírita, ou cristã, um só rebanho, sob o mando de um único pastor: o Cristo, nosso Protetor, nosso Governador e nosso Mestre.

Reservemos um dia para o descanso do corpo, mas consagremo-lo de modo especial a Deus, santificando-o, ainda mais, se possível, do que os outros dias da nossa existência, pela prática de obras que atestem o nosso amor aos outros homens e ao Pai celestial e pelas graças que lhe rendamos, reconhecidos à sua misericórdia. Santifiquemo-lo também, implorando a Nosso Senhor Jesus Cristo, ainda com mais fervor do que nunca, que nos fortaleça a fé, vivifique em nossas almas a esperança e as encha do sentimento da caridade; que nos envie um raio da sua luz divina, a fim de bem compreendermos e praticarmos os seus ensinamentos, demonstrando, por essa forma, que desejamos ser fiéis discípulos seus.

Tenhamos um dia em que os nossos corpos repousem dos trabalhos que os fatigam; mas, não deixemos que jamais os nossos corações repousem, esquecidos do bem que lhes cumpre fazer.

Cura de uma mão paralítica, em dia de sábado

(Mateus, 12:9-14; Marcos, 6:6-11)

6. Entrando num outro sábado na sinagoga, começou a ensinar. Lá estava um homem cuja mão direita era seca. 7. Os escribas e os fariseus o observavam para ver se ele curaria em dia de sábado, a fim de o acusarem. 8. Jesus, conhecendo-lhes os pensamentos, disse ao homem, que tinha a mão seca: Levanta-te e fica de pé aqui no meio. O homem se levantou e ficou de pé. 9. Disse então Jesus: Pergunto-vos: É licito em dia de sábado fazer o bem ou o mal, salvar a vida ou tirá-la? 10. Depois de olhar para todos, disse ao homem: Estende a tua mão; ele a estendeu e esta ficou sã. 11. Cheios de furor, os escribas e fariseus perguntavam uns aos outros o que fariam a Jesus.

Quanto aos escribas e fariseus, Jesus não os olhou “tomado de cólera, aflito pela cegueira de seus corações”, conforme se lê nas narrativas evangélicas. O pensamento, que essas palavras humanas mal exprimiram, é que o divino Mestre se doía de vê-los resistir voluntariamente aos esforços que Ele empregava para salvá-los.

A cólera jamais entrou, nem poderia entrar, no coração do Cristo. Os escribas e os fariseus eram Espíritos culpados que, empedernidos, fechavam os olhos para não ver a luz que o Senhor lhes oferecia e o Senhor com isto 219 sofria realmente, se afligia e indignava ante tal obstinação. Não sofrem os nossos anjos de guarda com o nosso endurecimento? Mas, como os fariseus e os escribas, temos o nosso livre-arbítrio, que não pode ser violentado, como não o foi o deles, uma vez que, enviando à Terra o Messias, Deus a todos abriu uma nova via de purificação e redenção.

Seus anjos guardiães faziam por eles o que por nós fazem os nossos. Eles, porém, os repeliam, do mesmo modo que nós muitas vezes repelimos os nossos, no pleno gozo do livre-arbítrio que o Pai nos concedeu. Com efeito, decorridos que são 20 séculos, ainda hoje ocorre mais ou menos o mesmo que se dava naqueles tempos.

De fato, assim como os escribas, os fariseus e o sacerdócio hebreu combatiam a revelação messiânica, que era a confirmação da revelação mosaica, também os fariseus e os escribas de hoje e o sacerdócio romano guerreiam a revelação espírita, que é a confirmação da messiânica. Ontem, as fogueiras; hoje, os insultos e os sarcasmos.

Entretanto, libertos, como já nos achamos, do terror dos anátemas, use cada um da sua inteligência, da sua razão e do seu livre-arbítrio e compare o que ensina a Igreja Romana com o que ensina a Doutrina Espírita, e por si mesmo decida, em face dos Evangelhos de Nosso Senhor Jesus Cristo.

A escolha dos doze apóstolos

(Mateus, 10:2-4; Marcos, 3:13,14; 16-19)

12. A esse tempo, tendo Jesus subido a um monte para orar, lá passou toda a noite orando a Deus. 13. Quando amanheceu, chamou os discípulos, escolheu, dentre eles, doze, a que chamou apóstolos: 14. Simão, a quem cognominou de Pedro, e André seu irmão, Tiago e João, Filipe e Bartolomeu; 15, Mateus e Tomé, Tiago, filho de Alfeu, e Simão chamado o Zeloso. 16. Judas, irmão de Tiago, e Judas Iscariotes, que foi o traidor.

Quanto à escolha dos apóstolos, presidiu a essa escolha, bem como à distribuição dos nomes que lhes deu o divino Mestre, o caráter de cada um deles e a natureza da missão que a cada um tocaria.

Entre os doze escolhidos estava Judas Iscariotes, que traiu a Jesus. Era um Espírito elevado em inteligência, mas que, pedindo para assistir o Mestre, tomara a si missão superior às suas forças, do que resultou falir.

Na continuação destes estudos, veremos qual foi o seu procedimento ulterior e como se deu a sua reabilitação.

Descida do monte. Curas

17. Jesus em seguida desceu com eles do monte e se deteve numa planície, cercado dos discípulos e de grande multidão de gente de toda a Judeia, de Jerusalém e das regiões marítimas de Tiro e de Sidônía. 18, gente que viera para ouvi-lo e para ser curada de suas enfermidades. Eram também curados os que se achavam possessos de Espíritos imundos. 19. Todos procuravam tocá-lo, porque dele saia uma virtude que a todos curava. Relativamente à cura, de que aqui se trata, das enfermidades e ao afastamento dos Espíritos obsessores, nada temos que acrescentar ao que deixamos dito com referência a outras obras da mesma natureza, praticadas por Jesus.

Também da virtude que dele saía já falamos suficientemente. Constituíam essa virtude os fluídos que, por ato da sua vontade e por efeito do seu poder magnético, Ele dirigia sobre os enfermos, especialmente sobre os que se lhe aproximavam.

Sermão do monte

(Mateus, 5:1-12)

20. Jesus, dirigindo o olhar para seus discípulos, dizia: “Bem-aventurados vós, que sois pobres, porque vosso é o reino de Deus. 21. Bem-aventurados vós, que agora tendes fome, porque sereis saciados; bem-aventurados vós, que agora chorais, porque rireis. 22. Bem-aventurados sereis quando os homens vos odiarem, quando vos separarem, quando vos carregarem de injúrias, quando rejeitarem como mau o vosso nome por causa do filho do homem. 23. Rejubilai nesse dia e exultai, pois que grande recompensa vos está reservada no céu, porquanto assim é que os pais deles trataram os profetas. 24. Ai, porém, de vós, que sois ricos, pois que tendes a vossa consolação no mundo. 25. Ai de vós, que estais saciados, pois que vireis a ter fome! Ai de vós os que rides agora, pois que gemereis e chorareis! 26. Ai de vós quando vos louvarem os homens, porquanto é o que os pais deles faziam aos falsos profetas.

Ia o Senhor percorrendo toda a Galileia, a ensinar nas Sinagogas, a pregar o Evangelho e a curar os enfermos, com a virtude que dele saía, isto é, com os fluídos que, por ato da sua vontade e do seu poder magnético, dirigia sobre os doentes e sobre os que se lhe aproximavam. De todos os lugares grande multidão acorria: da Galileia, de Decápolis, de Jerusalém, de toda a costa do mar, da Iduméia, de Tiro, de Sídon e da parte de além Jordão. Toda essa gente seguia os passos do Redentor, para ouvi-lo, para vê-lo expelir os Espíritos impuros e curar as enfermidades.

Um dia, em que o ajuntamento era enorme, Jesus atravessou a turba, e, afastando-se dela, subiu a um monte, onde passou a noite em oração. Ao amanhecer, como viesse descendo, encontrou à sua espera grande parte do povo que o acompanhara ali. Parou então à meia encosta do monte e, dirigindo-se a seus discípulos, fez a prédica das bem-aventuranças, em a qual sintetizou a maneira de alcançarmos o “reino dos céus”, ou a suprema perfeição moral, isto é, pela prática do trabalho, do amor e da caridade, assim no que seja de ordem física e material, como no que pertença à ordem moral e intelectual. Algumas de suas palavras, porém, nessa prédica, não têm sido bem compreendidas.

Disse o Mestre: Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus. Quais são os “pobres de espírito?“ São os que os homens assim chamam, porque, despidos de orgulho e de vaidade, reconhecendo que tudo devem ao seu Criador, que nada possuem, de si e por si mesmos, nenhum apego têm aos bens do mundo, cuja privação nenhum sofrimento lhes causa. Caminham livre e despreocupadamente, por não temerem os assaltos dos ladrões de qualquer espécie, sempre confiantes na bondade e na proteção do Pai celestial. São, em suma, os simples e humildes.

Disse também: sereis felizes, quando vos injuriarem e perseguirem. Exultai, que copioso será o vosso galardão no céu, pois que assim perseguiram os profetas.

Os espíritas podem considerar-se imunes contra todos os insultos que lhes forem lançados. Estes recairão sobre os que os lançarem, desde que eles exemplifiquem, pelo seu procedimento público e privado, a crença que professam, sobretudo mostrando-se bons e caridosos para com todos os seus irmãos. Muitos até lucrarão, se se virem excluídos do convívio e do contacto dos que formam as culminâncias sociais, os quais somente pelo orgulho se distinguem.

Entretanto, precisam compreender bem os graves deveres que correm a todo aquele que se diz espírita, a fim de não caírem nos abusos, que muitos praticam sob a capa do Espiritismo e que, em parte, legitimam as alegações e imputações dos inimigos de tão santa doutrina.

A apóstrofe que o justo e meigo Pastor proferiu se aplica aos que, tudo sacrificando à posse dos bens terrenais, vivem no luxo e na ostentação, indiferentes aos sofrimentos dos desgraçados e olham com desprezo as verdades santas. Esses infelizes, regra geral, são os que ocupam os lugares mais salientes, nos centros ditos de maior e mais apurada civilização. Infelizes, de fato, porque ignoram e não querem saber que muitos dos que hoje arrastam os andrajos da miséria, em outras encarnações insultaram a Humanidade, com a mesma ostentação e o mesmo orgulho.

Quão difícil, entretanto, há de ser, por muito tempo ainda, a divulgação destes ensinamentos salvadores, únicos capazes de restituir à religião o grande papel que lhe cumpre desempenhar na realização dos destinos do gênero humano, desde que o Catolicismo proíbe aos seus fiéis o conhecimento deles, ao mesmo tempo em que se nega a ensinar a verdade, se furta às discussões e cada vez maiores mostras dá de intolerância e de simonia, ao ponto de deixar sem contestação alguma a afirmativa, feita em publicações bastante espalhadas, de que papas houve que estabeleceram tarifas de absolvições para os mais hediondos crimes! Todos são testemunhas de como procede o sacerdócio romano na prática do Evangelho, de cuja propagação ele se diz exclusivamente incumbido pelo divino Mestre.

Fora inútil repetir o que todos sabem, até por observação ocular, relativamente ao proceder desses falsos profetas, que o são, realmente, porquanto, conhecendo a verdade, a ocultam, para terem a seus pés, submisso, o povo; porque, compreendendo a verdade, fogem, por orgulho, de a ela se submeterem e exalçam o erro.

Ai deles, disse o justo e meigo Pastor, referindo-se aos daquela época e o diz hoje, novamente, quando não menor é o número dos falsos profetas.

Amar os inimigos. Amor e caridade para com todos. Via da perfeição

(Mateus, 5:43-48)

27. Mas, digo eu a todos vós que me escutais: amai os vossos inimigos; fazei bem aos que vos odeiam; 28, abençoai os que vos amaldiçoam; orai pelos que vos caluniam. 32. Se não amardes senão os que vos amam, que mérito tereis, uma vez que os pecadores também amam os que os amam? 33. Se só fizerdes o bem aos que bem vos fazem, que mérito tereis, uma vez que os pecadores procedem do mesmo modo? 34. Se só emprestardes aqueles de quem esperais receber, que mérito tereis, uma vez que os pecadores também emprestam a pecadores, contando receber outro tanto? 35. Amai, portanto, os vossos inimigos; fazei bem a todos e emprestai sem esperar pagamento. Vossa recompensa então será muito grande e sereis filhos do Altíssimo, que é benevolente para com os ingratos e os maus. 36. Sede, pois, misericordiosos como vosso Pai é misericordioso.

Obedeçamos à lei do amor, em tudo e para com todos, conhecidos e desconhecidos, amigos e inimigos: tal o ensino de Jesus, constante nesses trechos evangélicos, que assim se conjugam com aqueles outros que referem haver o mesmo Jesus dito Sede perfeitos, como o vosso Pai celestial é perfeito, isto é, cultivai e praticai com sinceridade todas as virtudes que vos são ensinadas e exemplificadas, a fim de que vos aproximeis daquele que é a perfeição absoluta.

Para o conseguirmos, temos hoje o Espiritismo, a revelação nova, a revelação da revelação, novo transbordamento da bondade de Deus para com os homens, como luz brilhante que nos guiará os passos, rumo ao seio infinito do Pai, dando-nos a compreensão nítida das palavras evangélicas e facultando-nos, em consequência, atingir a meta que nos é proposta. A jornada é longa e áspera e semeado de perigos e dificuldades o caminho, mas o porto de chegada é prodigioso de venturas e esplendores. Avante, pois!

Justiça. Amor e caridade

(Mateus, 7:12)

31. Fazei aos homens o que quereis que eles vos façam.

Ama o teu próximo como a ti mesmo. O teu próximo, qualquer que ele seja, conhecido ou desconhecido, amigo ou inimigo, é teu irmão, pois que é filho do mesmo Pai, que está nos céus. Procede com ele, como quererias que procedesse contigo, em tudo e por tudo. Presta-lhe todo auxilio que estiver dentro das tuas possibilidades, dos meios de que disponhas e das faculdades que possuas: pela palavra, pelos atos e pelos pensamentos. Ajuda-o de todas as formas: com o coração, com a bolsa, com os braços, com a inteligência.

É isto o que significam as palavras que acima se leem, ditas por Nosso Senhor Jesus Cristo.

O argueiro e a trave

(Mateus, 7:1-7)

37. Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados; 38, dai e se vos dará e no vosso regaço será derramada uma boa medida, cheia, atestada, a extravasar; porquanto para vos medir servirá a mesma medida com que houverdes medido os outros. 41. Como é que vês o argueiro que está no olho do teu irmão e não percebes a trave que está no teu olho? 42. Ou, como é que podes dizer a teu irmão: Meu irmão, deixa-me tirar o argueiro que está no teu olho, tu que não vês a trave que está no teu? Hipócrita, tira primeiramente a trave que está no teu olho e então verás como tirar o argueiro que está no olho do teu irmão.

Na oração dominical, pedimos a Deus que nos perdoe, “como nós perdoamos aos nossos irmãos”. Segue-se que, com a indulgência, a tolerância, a brandura com que tratarmos os outros, é que seremos tratados.

Comecemos, pois, por lavar a nossa alma dos vícios e paixões que a maculam, por purificar os nossos corações; depois, então, quando de todo limpos nos acharmos, poderemos censurar as faltas alheias. Desde que, porém, estejamos nessas circunstâncias, limpos de toda culpa, não o faremos, porque teremos sempre presentes as palavras daquele que disse: O que estiver sem pecado atire a primeira pedra, e que, dirigindo-se à pecadora, acrescentou: Vai e não peques mais. (João, capítulo 8, versículos 1 ao 11).

Frutos da mesma natureza que a árvore

43. A árvore que produz maus frutos não é boa e a árvore que produz bons frutos não é má; 44, pois cada árvore se conhece pelo fruto; não se colhem figos nos espinheiros nem uvas nas sarças. 45. O homem bom tira o bem do bom tesouro do seu coração; e o homem mau tira o mal do mau tesouro do seu coração; porquanto a boca fala do que está cheio o coração.

Não basta pregar por palavras; é essencial fazê-lo pelo exemplo. Esta a súmula da lição que se contém nos versículos acima transcritos.

Pela obra é que se conhece o operário. Assim, de modo geral, falsos profetas são todos aqueles que pregam e aconselham a boa moral que não praticam. É árvore má todo aquele que não apresenta frutos da doutrina que propaga. “Se sois árvores boas, dai frutos”.

Pautemos os nossos atos pela moral do Cristo, conformemo-los com os seus ensinamentos e bons serão os frutos que dermos. Se formos árvores más, estaremos destinados a ser cortados e lançados ao fogo da expiação, pela reencarnação.

Deus julga pelas obras

(Mateus, 7:21-29)

46. Mas por que me chamais; Senhor! Senhor! E não fazeis o que vos digo? 47. Vou mostrar-vos a quem se assemelha aquele que vem a mim que escuta as minhas palavras e as pratica. 48. Assemelha-se a um homem que edifica uma casa e que, cavando fundo, lhe constrói na rocha os alicerces. Um rio, transbordadas suas águas, se arremessou sobre a casa e não conseguiu abalá-la, por estar edificada sobre a rocha. 49. Aquele que escuta as minhas palavras, e não as pratica, se assemelha a um homem que edificou sua casa sobre a terra, sem lhe cavar alicerces, O rio se arremessou sobre ela, a casa caiu logo e grande foi a sua ruína.

O julgamento de cada criatura se baseia no de suas obras. Ë este um princípio intuitivo, uma verdade axiomática, a que só não se curvam os que ensinam e apregoam ser a Humanidade inteira responsável pela falta do primeiro homem, ao qual chamam Adão.

Nem todos os que dizem: Senhor! Senhor! Serão ouvidos. Quer dizer: não entrarão no reino de Deus aqueles cujas palavras não corresponderem aos seus atos. As palavras desses se perderão no espaço, sem chegarem ao Senhor.

Sempre e sempre devemos praticar o que ensinamos, apreciamos e encomiamos. Porque, não basta nos extasiemos ante a lei de Jesus e digamos: é perfeita! Se nos não esforçarmos pelo nosso aperfeiçoamento, obedecendo-lhe, vã se tornará a nossa admiração.

Inútil será que nos proclamemos cristãos, desde que procedamos em oposição ao que nos ensinou e prescreveu o Cristo; que nos declaremos espíritas, se continuarmos quais éramos antes de conhecermos o Espiritismo; que nos afirmemos médiuns e usemos das faculdades mediúnicas que possuamos, se não pusermos em prática os ensinamentos que temos recebido, se não nos utilizarmos dessas faculdades com a consciência do nosso dever cristão, com o propósito de servir à causa da Verdade, que é a causa de Deus, e de concorrer para a melhora de nossos irmãos, dando-lhes testemunho dos sérios e constantes esforços que empregamos por progredir.

Compromete-se, praticando um abuso, o médium que não pratica a humildade e o desinteresse, que não usa das suas faculdades mediúnicas com o fim exclusivo de fazer, mediante o exercício contínuo da caridade, uma propaganda séria, útil e eficaz da lei de Jesus, corroborada pela sublime Doutrina dos Espíritos, seus mensageiros.

Para os espíritas, a prática da doutrina que professam é tudo, porquanto muito lhes será pedido, visto que muito lhes é dado. Cumpre, pois, nos preparemos, todos os que nos dizemos tais, para prestar contas exatas do que se nos confiou.

Pouco depois de haver escrito o que acabamos de resumir, a Sra. Collignon, médium pelo qual foram transmitidas ao Sr. J. B. Roustaing as revelações que se encontram na obra que ele publicou sob o título de “Revelação da Revelação”, passou a escrever, debaixo de nova influência mediúnica e com letra diferente, o seguinte:

“Não basta se diga que certa moral é sublime; cumpre pô-la em prática”. Não basta ser-se cristão e mesmo cristão-espírita, se se não pratica a moral por mim ensinada. Assim, pois, que os que queiram entrar no reino de meu Pai sejam seus filhos pelo coração e não de lábios somente, obedeçam com submissão, zelo e confiança às instruções que receberam e recebem hoje dos Espíritos, enviados de acordo com as minhas promessas, para ensinar progressivamente aos homens todas as coisas, para conduzi-los à verdade e lembrar-lhes o que eu lhes disse.

“Digam: Senhor, Senhor! mas digam-no do fundo de seus corações, correspondam seus atos às suas palavras e o reino dos céus lhes pertencerá".

Por aquele cuja mão protetora sustenta os humildes e os fracos e humilha os orgulhosos e os poderosos. ISABEL.

Em seguida, também de modo espontâneo, o médium escreveu, sob a influência anterior e com letra igual à com que fora traçado o ensino que acabava de ser recebido, esta última comunicação:

“Bendizei do Senhor a graça que vos fez e pedi-lhe de coração o apoio daquele que se vos manifestou hoje, por intermédio do seu enviado. Perseverai no caminho que trilhais, tende confiança e fé, mas séria, e o Senhor estenderá suas mãos sobre vós, para afastar os obstáculos que vos possam deter”.

 SAYÃO, Antonio Luiz. Elucidações evangélicas. FEB (e-book).

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