Nicodemos visita a Jesus
1. Havia um homem entre os
fariseus, chamado Nicodemos, príncipe dos judeus.
Nicodemos
passou a ser o símbolo do intelectual que, mesmo tendo a virtude da
honestidade, fica na horizontalidade dos conhecimentos terrenos, porque as Leis
Divinas em maior amplitude e profundidade somente são reveladas aos “pobres de
espírito”, quer dizer, aos que adquiriram a humildade, o desapego e a
simplicidade.
O
diálogo com Nicodemos ocupa um espaço significativo no Evangelho de João, o que
significa que ele, por inspiração do próprio divino Mestre, quis ressaltar os
assuntos tratados naquela oportunidade.
É
curioso como muitos cristãos deixam de dar o justo valor a esse diálogo, em
que, inclusive, é afirmada por Jesus a reencarnação, que, segundo se pode
deduzir, não se constituía em certeza na mente do consulente ilustre.
Reflexionemos sobre cada um dos trechos que se seguem.
2. Este foi ter com Jesus,
de noite, e disse-lhe: Rabi, sabemos que és um Mestre vindo de Deus. Ninguém
pode fazer esses milagres que fazes, se Deus não estiver com ele.
O
fato de ter ido procurar Jesus às escondidas, por si só, já mostrava por parte
de Nicodemos o temor de perder seu conceito diante da elite social da qual
fazia parte. Jesus sabia que aquele Espírito ainda demoraria um tempo mais ou
menos longo para se desapegar dos valores terrenos e ter condições de entender
as coisas de Deus, todavia, mesmo assim, explicou-lhe algumas dessas coisas,
gravando-as a fogo no seu psiquismo.
3. Jesus replicou-lhe: Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer de novo não poderá ver o Reino de Deus.
A
afirmação de Jesus não poderia ser surpreendente para um estudioso como
Nicodemos, porque a reencarnação era conhecida de muitos judeus, todavia o
visitante não acreditava naquela Lei de Deus.
4. Nicodemos perguntou-lhe:
Como pode um homem renascer, sendo velho? Porventura pode tornar a entrar no
seio de sua mãe e nascer pela segunda vez?
Realmente,
fica patenteado que Nicodemos não acreditava na lei da reencarnação. Ficara
maravilhado com os fenômenos, mas não tinha maturidade espiritual para receber
um alimento espiritual mais consistente.
5. Respondeu Jesus: Em
verdade, em verdade te digo: quem não renascer da água e do Espírito não poderá
entrar no Reino de Deus.
Jesus
afirmou claramente a reencarnação como caminho para a evolução até o Espírito
“entrar no Reino de Deus”, ou seja, alcançar a perfeição relativa.
6. O que nasceu da carne é
carne, e o que nasceu do Espírito é espírito.
Os
pais geram os corpos dos filhos, mas os Espíritos reencarnantes foram criados
por Deus, cada um herdando de si mesmo suas conquistas intelecto-morais.
7. Não te maravilhes de que
eu te tenha dito: Necessário vos é nascer de novo.
Jesus
tentou ser mais claro ainda com o erudito consulente. Aqui Jesus se referiu a
todos os que ainda não alcançaram o nível de Espíritos Puros, que têm de
renascer até alcançarem esse patamar.
8. O vento sopra onde quer,
ouves-lhe o ruído, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai. Assim acontece
com aquele que nasceu do Espírito.
Quem
despertou para as noções mais avançadas das leis de Deus e age segundo elas
adquire poderes inimagináveis à compreensão dos evoluídos.
9. Replicou Nicodemos: Como
se pode fazer isso?
Nicodemos,
como mero estudioso dos ramos do conhecimento terreno, estava despreparado para
entender a realidade espiritual, os poderes mentais.
10. Disse Jesus: És doutor
em Israel e ignoras estas coisas?
Jesus
sabia que estava diante de um Espírito voltado apenas para a cultura
horizontal, mas tentou, mesmo assim, despertar seu lado espiritual ainda
embrionário.
11. Em verdade, em verdade
te digo: dizemos o que sabemos e damos testemunho do que vimos, mas não
recebeis o nosso testemunho.
As
informações de Jesus eram incompreensíveis para os Espíritos que não tinham
vencido o orgulho, o egoísmo e a vaidade, as três chagas morais que impedem a
penetração da Luz Divina na intimidade dos Espíritos que as albergam no seu
íntimo. Sem as respectivas correspondentes virtudes da humildade, desapego e
simplicidade, o Espírito permanece horizontal e não apreende as coisas de Deus,
que lhe chegam pelo único conduto possível: a inspiração, a revelação
espiritual. O aprendizado das grandes verdades das Leis Divinas só é possível
pelo fio invisível da mediunidade.
12. Se vos tenho falado das
coisas terrenas e não me credes, como crereis se vos falar das celestiais?
Sendo
a reencarnação crença relativamente conhecida no meio judaico, se aquele
intelectual não a admitia, o que mais Jesus teria a lhe ensinar? Como lhe faria
entender o significado e a importância daquelas três virtudes? Como lhe
explicaria o que significa o amor? Naquela condição de primarismo espiritual
estavam muitos homens e mulheres, que viram Jesus e não lhe compreenderam as lições.
13. Ninguém subiu ao céu
senão aquele que desceu do céu, o Filho do Homem que está no céu.
Jesus
falou de si mesmo, como médium de Deus em relação aos habitantes da Terra.
Somente Ele era médium de Deus na Terra.
14. Como Moisés levantou a
serpente no deserto, assim deve ser levantado o Filho do Homem,
Continuou
se referindo à sua condição de Espírito responsável pela revelação das Leis
Divinas. Era “Filho de Deus”, porque médium de Deus, mas também “Filho do
Homem” porque ser humano que foi criado e evoluiu como outro ser humano
qualquer, sem nenhum privilégio.
15. para que todo homem que
nele crer tenha a vida eterna.
Jesus
repetiu, de outra maneira, a afirmação: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida.”
As pessoas que nele creram estavam sintonizadas com Deus e os que nele não
creram estavam desinteressadas das coisas de Deus. A “vida eterna” significa a
perfeição relativa.
A missão do filho
16. Com efeito, de tal modo
Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo o que nele crer
não pereça, mas tenha a vida eterna.
Reafirmou
mais uma vez sua condição de médium de Deus. O amor de Deus pelas suas
criaturas se manifestou inclusive quando determinou a encarnação de Jesus para
ensinar a verdade e todos evoluírem.
17. Pois Deus não enviou o
Filho ao mundo para condená-lo, mas para que o mundo seja salvo por ele.
Jesus
antecipou a Nicodemos a condenação que lhe imporiam. Como terá reagido quando
ocorreu realmente a condenação? Quando teria acontecido sua “estrada de
Damasco”? A “salvação do mundo” significa a evolução dos Espíritos habitantes
da Terra. Jesus é o intermediário dessa evolução, responsável perante Deus por
essa evolução.
18. Quem nele crê não é
condenado, mas quem não crê já está condenado, por que não crê no nome do Filho
único de Deus.
Quem
não está em condições de assimilar as virtudes estará condicionado às
reencarnações sucessivas até alcançar o amadurecimento espiritual. Não se trata
de “crer” em Jesus, ou até em Deus, mas de atuar conforme as leis de Deus: esse
o objetivo que Jesus e Deus visam.
19. Ora, este é o
julgamento: a luz veio ao mundo, mas os homens amaram mais as trevas do que a
luz, pois as suas obras eram más.
Jesus
alertou Nicodemos para superar a própria cegueira espiritual. Jesus representa
a luz de Deus, mas a humanidade de um mundo de provas e expiações se sente mais
satisfeita com as trevas morais, a satisfação dos sentidos corporais do que as
conquistas espirituais, as quais estão condicionadas à humildade, ao desapego e
à simplicidade. São duas realidades diferentes, incompatíveis entre si: uma
caracteriza os Espíritos primários moralmente falando e a outra os Espíritos
autorreformados moralmente.
20. Porquanto todo aquele
que faz o mal odeia a luz e não vem para a luz, para que as suas obras não
sejam reprovadas.
Muito
pouco adiantava Nicodemos achar que Jesus era um enviado de Deus se ficava na
posição de quem “não vem para a luz”, equiparando-se, por omissão, ao que “faz
o mal” e “odeia a luz”. O alerta a Nicodemos foi repassado de amor e de pena
pela fraqueza de caráter daquele homem respeitado na sociedade, mas realmente
refém da covardia moral. Melhor andaram Zaqueu, Madalena e Paulo de Tarso, que,
inicialmente, muito erraram, mas, depois, acertaram muito, enquanto que
Nicodemos é o retrato dos que temem tudo, fazendo pouco no bem ou no mal.
Quantos há que, mesmo acreditando, se omitem, estendendo uma mão a Deus e outra
a Mamom ou César!
21. Mas aquele que pratica a
verdade, vem para a luz. Torna-se assim claro que as suas obras são feitas em
Deus.
Jesus
estava chamando Nicodemos para “vir para a luz”, ou seja, uma vez que cria que
Ele era um enviado de Deus, deveria declarar sua crença de público, assim
agindo como homem realmente merecedor do respeito que usufruía. Afirmar suas
convicções é um dever de todo homem e toda mulher que se prezam.
Outro testemunho de João Batista
22. Em seguida, foi Jesus
com os seus discípulos para os campos da Judeia, e ali se deteve com eles, e
batizava.
As
andanças de Jesus, acompanhado de seus discípulos, ajudaram a propagar a
Segunda Revelação. Quanto ao batismo, representava um simbolismo, todavia,
desnecessário.
23. Também João batizava em
Enom, perto de Salim, porque havia ali muita água, e muitos vinham e eram
batizados.
O
evangelista informa muito do que o Batista propagava sobre a condição de Jesus,
reafirmando que Ele era realmente o Messias. Enquanto isso, o Batista pregava e
convertia pessoas para o bem.
24. Pois João ainda não
tinha sido lançado no cárcere.
Nessa
época, o Batista ainda não tinha sido preso.
(Mateus,
14:3; Marcos, 6:17; Lucas, 3:19,29)
25. Ora, surgiu uma
discussão entre os discípulos de João e um judeu, a respeito da purificação.
Os
discípulos do Batista discutiram com um judeu sobre a questão da purificação.
26. Foram ter com João e
disseram-lhe: Mestre, aquele que estava contigo além do Jordão, de quem tu
deste testemunho, ei-lo que está batizando e todos vão ter com ele.
Os
discípulos do Batista lhe indagaram sobre o que pensava de Jesus estar conseguindo
muitos adeptos, em suma, quem era Ele, afinal.
27. João replicou: Ninguém
pode atribuir-se a si mesmo senão o que lhe foi dado do céu.
Então
o Batista lhes confirmou que Jesus era o médium de Deus.
28. Vós mesmos me sois
testemunhas de que disse: Eu não sou o Cristo, mas fui enviado diante dele.
O
Batista reafirmou sua condição de anunciador do Messias (João, 1:20)
29. Aquele que tem a esposa
é o esposo. O amigo do esposo, porém, que está presente e o ouve, regozija-se
sobremodo com a voz do esposo. Nisso consiste a minha alegria, que agora se
completa.
Disse
estar feliz de ter cumprido sua missão de precursor.
30. Importa que ele cresça e
que eu diminua.
Sabia
que o papel mais importante na divulgação da verdade competia a Jesus e não a
ele.
O Filho em relação ao mundo
31. Aquele que vem de cima é
superior a todos. Aquele que vem da terra é terreno e fala de coisas terrenas.
Aquele que vem do céu é superior a todos.
O
Batista reafirmou categoricamente que Jesus era o Messias esperado.
32. Ele testemunha as coisas
que viu e ouviu, mas ninguém recebe o seu testemunho.
Mostrou-se
desgostoso, todavia, pelo fato de haver quem não cresse em Jesus como sendo o médium
de Deus.
33. Aquele que recebe o seu
testemunho confirma que Deus é verdadeiro.
Quem
identificava em Jesus o médium de Deus estava no caminho certo, confirmando
também crer em Deus.
34. Com efeito, aquele que
Deus enviou fala a linguagem de Deus, porque ele concede o Espírito sem
medidas.
Jesus,
como médium de Deus, ensinava as Leis Divinas com conhecimento de causa e
autoridade para tanto.
35. O Pai ama o Filho e
confiou-lhe todas as coisas.
O
Batista dizia o que Jesus afirmava de si mesmo: “Eu e o Pai somos um.”
(Mateus,
11:27; Lucas, 10:22)
36. Aquele que crê no Filho
tem a vida eterna, quem não crê no Filho não verá a vida, mas sobre ele pesa a
ira de Deus.
O
Batista aconselhava que todos seguissem Jesus, respondendo, assim, à indagação
que lhe foi feita. Ele deveria diminuir-se para Jesus ganhar o destaque que era
necessário para divulgar as leis de Deus.
Fonte: O Evangelho de João na visão espírita (e-book)
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