Missão, poder, pobreza e pregação dos
apóstolos. Instruções que lhes foram dadas
(Mateus,
10:1,5-15; Marcos, 3:15; 6:7-13; Lucas, 9:1-6)
1. Jesus, tendo reunido os
doze apóstolos, lhes deu poder e autoridade sobre todos os demônios e o poder
de curar as enfermidades. 2. E mandou que fossem pregar o reino de Deus e curar
os enfermos. 3. Disse-lhes: Não leveis em viagem nem bordão, nem saco, nem pão,
nem dinheiro e não tenhais duas túnicas. 4. Na casa em que entrardes ficai e
dela não saiais; 5, e, quando encontrardes pessoas que não vos queiram receber,
sacudi, ao deixar-lhes a cidade, até a poeira dos vossos pés, a fim de que isso
constitua um testemunho contra elas. 6. Os apóstolos partiram e foram de aldeia
em aldeia, evangelizando e curando por toda a parte os enfermos.
Jesus mandou que os
apóstolos primeiramente anunciassem o reino de Deus e curassem os enfermos da
sua nação humana, para que mais se apertassem entre eles os laços de família,
de fraternidade e de pátria. Recomendou-lhes que nada levassem consigo, pois
que tudo deviam confiar dele; que abençoassem os lugares onde fossem bem acolhidos
e sacudissem dos pés a poeira, onde fossem repelidos.
Como missionários do Senhor,
protegidos por este, nenhuma importância deviam dar às comodidades materiais,
cumprindo-lhes estar persuadidos de que o Mestre os seguia, ligando, ou
desligando o que eles ligassem, ou desligassem, isto é, sancionando o que
fizessem.
Aos apóstolos e discípulos de Jesus cabia espalhar o conhecimento da verdade. O mesmo compete hoje aos espíritas fazer; mas, para que sejam verdadeiros sucessores dos discípulos do Cristo e disponham de autoridade e poder idênticos aos destes, necessário é adquiram a pureza que eles possuíam. Só assim lograrão elevar-se ao Senhor e se acharão em condições de ligar e desligar, na Terra, certos de que ligaram e desligaram igualmente no céu.
Mister, porém, se faz
compreendam bem o em que consiste esse ligar e desligar.
Sem dúvida, não consiste em
absolver e condenar, porque isto compete unicamente ao Juiz supremo. Consiste,
sim, em sentir em si mesmo o encarnado, o que, aliás, só é possível a Espíritos
que já atingiram certo grau de elevação moral, o julgamento que será proferido
e, pela sinceridade do arrependimento do culpado, a indulgência com que o juiz
sentenciará. Tal o sentido em que devemos compreender aquelas palavras, que o
orgulho humano falseou, fazendo-as exprimir um ato de arbítrio do homem que,
desde então, se arrogou o poder de absolver e condenar, de perdoar ou deixar de
perdoar pecados, não como simples declaração, mas como sentença proferida em
julgamento. E não é tudo: a cobiça humana as tomou para justificativa de um
tráfico vergonhoso o das indulgências.
Os discípulos fiéis de Jesus
eram Espíritos elevados, que se não deixavam dominar pelo sentimento da
animosidade pessoal, médiuns inspirados que, sob a influência espírita, se
achavam em condições de apreciar o valor daqueles a quem se dirigiam. Do
conjunto das virtudes que possuíam e que lhes asseguravam a assistência, a
inspiração, a proteção, o amparo e o concurso dos Espíritos superiores, é que
lhes advinha a infalibilidade naquela apreciação, infalibilidade de que a
Igreja Romana pretendeu fazer-se herdeira, mas esquecendo-se de chamar a si a
herança de santidade, de virtudes e de elevação moral por eles legada aos que
lhes aspirassem à concessão. Ao invés disso, voluntariamente cega, ela se
engolfou cada vez mais nas trevas que o orgulho e a confiança em si mesmo
geram.
A Igreja, porém, despertará,
disseram os Evangelistas MATEUS, MARCOS, LUCAS e JOÃO, numa de suas
comunicações insertas na obra A Revelação da Revelação. Despertará e o sonho,
em que ainda se compraz dissipar-se-á ao clarão da nova aurora.
A trombeta do “juízo final”
vai retumbar para ela nos quatro cantos do mundo, Os anjos do Senhor aparecerão
em sua glória, não do modo por que ela o diz nas suas errôneas interpretações,
mas na glória da pureza; e os discípulos de Jesus, reencarnando novamente, para
concluir a obra que começaram, virão ainda ligar e desligar na Terra e o Senhor
ligará e desligará no céu, pois que tal será deles a missão, e o juízo não se
achará inquinado de nulidade.
E com as seguintes palavras
terminaram aqueles altos Espíritos a sua bela comunicação explicativa:
“Coragem, filhos da nossa
Igreja, da Igreja do Senhor. Aproximam-se os tempos em que os discípulos e o
Mestre aparecerão de novo entre vós, em que vossos olhos desvendados verão o
Justo nas nuvens do céu em que os anjos os Espíritos purificados descerão à
Terra, para mais eficazmente vos estenderem seus braços fraternais.
“Entoai cânticos de alegria;
rejubilai, rejubilai: os tempos se aproximam”.
Dai de graça o que de graça
recebestes. Isto, que Jesus disse a seus discípulos, ensinando-lhes que as
coisas de Deus jamais devem constituir objeto de tráfico, de especulação, de
meio de existência material, se aplica hoje a todos os espíritas e,
particularmente, aos que, médiuns, investidos das faculdades mediúnicas, são
chamados a servir de intérpretes aos bons Espíritos e a pregar, inspirados por
eles, a lei de Jesus, em espírito e verdade. Pelos seus mensageiros de luz, do
mesmo modo que pelos seus Evangelhos, o Cristo lhes repete a eles, assim como a
todos os que nos dizemos profitentes da Nova Revelação: Dai de graça, seguindo
as pegadas dos Apóstolos, o que de graça haveis recebido, porquanto, para vós,
como para eles, tudo vem de Deus e vos é concedido graciosamente, a fim de
desempenhardes a vossa tarefa.
Atentando nessas palavras
suas, lembremo-nos de que também disse o divino Mestre: No dia do julgamento,
menos rigor haverá para com a terra de Sodoma e de Gomorra, do que para com os
que recusam a luz que Ele a todos envia. Mais severo, portanto, do que o
daqueles povos, que não tiveram socorro algum direto, para sair das trevas em
que viviam imersos, será o julgamento dos que, como nós, hoje recebem os
ensinos claros e os copiosos auxílios que trazem seus emissários celestes.
Longa será, para os que
recusarem esses ensinos e auxílios, ou fizerem mau uso deles, a duração das
provas e expiações. Haverá, para os que assim procederem, eternidades de
sofrimentos, correspondendo a eternidade de faltas.
É claro que o termo
eternidade - se acha aqui empregado em sentido relativo, como correspondente à
locução - penas eternas -, para exprimir prolongadas expiações na erraticidade
e através de sucessivas reencarnações, em mundos inferiores mesmo à Terra. A
única eternidade real, que se possa citar, é Deus.
Morte de João Batista
(Mateus,
14:1-12; Marcos, 6:14-29)
7.
Herodes, o tetrarca, tendo ouvido falar de tudo o que Jesus fazia, não sabia o
que pensar, pois uns diziam: 8, que João ressuscitara dentre os mortos, outros
que Elias voltara, enquanto outros afirmavam que um dos antigos profetas
ressuscitara. 9. Herodes dizia: Pois que mandei degolar a João, quem é este de
quem ouço dizer tais coisas? E procurava vê-lo.
Quanto à morte de João
Batista e às particularidades que lhe são relativas, suficientemente explanadas
se acham nas narrativas dos três Evangelistas, as quais se completam umas pelas
outras.
Multiplicação dos cinco pães e dos dois
peixes
(Mateus,
14:13-22; Marcos, 6:30-45)
10.
De volta, os apóstolos relataram a Jesus tudo que haviam feito e Jesus,
levando-os consigo, se retirou para um lugar deserto próximo de Betsaida. 11.
Informadas disso, as turbas o seguiram e Jesus, recebendo-as, entrou a
falar-lhes do reino de Deus e a curar os que precisavam ser curados. 12. Ora,
como o dia começasse a declinar, os doze vieram a ele e lhe disseram: Manda
embora esta gente, a fim de que vá procurar alojamento e o que comer nas
granjas e aldeias dos arredores, pois estamos num lugar deserto. 13. Mas Jesus
lhes disse: Dai-lhes vós mesmos de comer. Ao que eles replicaram: Só se formos
nós mesmos comprar comida para todo este povo, pois não temos mais do que cinco
pães e dois peixes. 14. Eram cerca de cinco mil pessoas. Disse então Jesus aos
discípulos: Fazei que se assentem divididos em grupos de cinquenta 15. Os
discípulos obedeceram e fizeram que todos se sentassem. 16. Jesus tomou os
cinco pães e os dois peixes levantou os olhos ao céu e os abençoou, depois os
partiu e entregou aos discípulos para que os distribuíssem pela multidão. 17.
Todos comeram, ficaram saciados e ainda encheram doze cestos com os pedaços que
sobraram.
Jesus dispunha do poder de
atrair os fluídos de que precisava e, pela sua potente vontade, atuava sobre os
Espíritos, que pressurosamente lhe obedeciam. Assim foi que conseguiu, mediante
transportes e pelo emprego de fluídos apropriados, multiplicar a diminuta
quantidade de alimentos que os discípulos tinham ao seu dispor e desse modo
satisfazer às necessidades da multidão que o rodeava.
Preparados com fluídos
próprios à sua produção ordinária, aqueles alimentos adquiriram as necessárias
propriedades nutritivas, de sorte que em porções mínimas saciavam a maior fome.
Aliás, para que a multidão
ficasse saciada, bastaria que Jesus o quisesse, da mesma forma que bastava o
seu querer, para que se operassem as curas dos doentes. Teria sido bastante que
reunisse em torno dela os fluídos convenientes, reparadores e fortificantes,
para que, aspirados esses fluídos, cessassem todas as exigências do estômago.
Era mister, porém, que, para serem abaladas aquelas criaturas materiais, um
efeito físico se produzisse, como se produziu.
Para os apóstolos, os
discípulos e a multidão foram, com os pedaços, multiplicados ao infinito, em
que Jesus dividiu os cinco pães e os dois peixes, que todos se saciaram. Isso
foi o que todos viram, esse o fato que às vistas de todos se verificou. Como
ignorassem a origem, as causas e os meios ocultos que o produziram, todos o
consideraram um milagre, conforme ainda o consideram os que se conservam
estranhos à nova revelação.
Eis, porém, o que se passou:
tendo nas mãos os pães e os peixes, Jesus os envolvia em fluídos apropriados à
produção de tais alimentos e, dando a esses fluídos as formas e o sabor de peixes
e de pães, os tornava visíveis e tangíveis e substituía os pedaços que ia
retirando dos pães e dos peixes que os discípulos lhe haviam entregado.
Comendo-os com o sabor e a consistência que deviam ter, a multidão estava certa
de que comia sempre porções dos alimentos que o divino Mestre subdividia.
Não há nisso o que cause
espanto, nem o que justifique se considere impossível o fato. Os sonâmbulos
magnéticos não tomam a água, o vinho, ou qualquer alimento, como sendo o que se
lhes diga que são, tudo em virtude da influência espírita a se exercer no homem
por intermédio de um magnetizador humano? Que é, pois, o que nesse terreno não
poderia fazer Jesus, pela ação da sua vontade potentíssima e tendo a secundá-lo
inumeráveis falanges de Espíritos superiores?
Além disso, que a nós outros
já nenhuma dúvida pode oferecer, para que nenhuma estranheza nos cause o
fenômeno de que vimos tratando, será suficiente nos lembremos dos casos de
transporte, tornados por assim dizer vulgares entre os pesquisadores dos fenômenos
psíquicos; fenômenos pelos quais são trazidos ao compartimento onde os
experimentadores se reúnem, a portas e janelas fechadas, flores e outros
objetos, sem que alguém possa dizer por onde penetraram ali.
Tanto quanto a multiplicação
dos pães e dos peixes, são milagrosos esses fatos, mas, apenas, para os que
nada sabem da Doutrina Espírita e se lhe conservam alheios.
Palavras de Jesus confirmativas da
reencarnação. Alusão de relações mediúnicas que podem existir entre os homens e
as potências espirituais
(Mateus,
16:13-20; Marcos, 8:27-30)
18.
Sucedeu que um dia, estando de parte a orar rodeado de seus discípulos, Jesus
lhes perguntou: Quem diz o povo que eu sou? 19. Eles responderam: uns João
Batista: outros Elias; outros algum antigo profeta que ressuscitou. 20.
Disse-lhes ele: E vós quem dizeis que eu sou? Simão Pedro respondeu: O Cristo
de Deus. 21. Ele então lhes proibiu muito expressamente que o dissesse a pessoa
alguma.
Estas passagens têm um duplo
fim, que muito importantes as tornam: lembrar aos homens o princípio da
reencarnação e não deixar esquecessem as relações mediúnicas que podem existir
entre eles e as entidades espirituais. Jesus firmava assim o que mais tarde
viria a ser posto em evidência, explicado e desenvolvido, em espírito e verdade,
pela Nova Revelação.
Com efeito, as perguntas
formuladas pelo Divino Mestre sobre o que pensavam dele as gentes e as
respostas que lhe foram dadas mostram não só que a opinião geral lhe atribuía
uma origem espiritual anterior àquela sua vida terrena, vendo nesta uma
existência nova num novo corpo, o que envolvia a ideia da preexistência da alma
e da reencarnação, como também que os hebreus sabiam, embora confusamente,
pelas tradições conservadas, que o homem pode voltar muitas vezes à Terra, para
concluir uma obra começada e interrompida pela morte humana.
Ora, não contestando a
opinião segundo a qual Ele podia ser a reencarnação de um Espírito, como o de
Elias, João, ou outro, Jesus confirmou a hipótese do renascimento, perguntando:
E vós quem dizeis que eu sou? Hipótese que também confirmou no seu colóquio com
Nicodemos.
“Se a crença de reviver na
Terra, diz o autor da Divina Epopeia, sob o nome de ressurreição, a que hoje,
pela revelação nova, chamamos reencarnação, fosse um erro, Jesus, o verbo de
Deus, a luz verdadeira que alumia a todo que vem a este mundo, não teria
deixado de combatê-la, como combateu tantas outras. Ao contrário, Ele a
sancionou, proclamando-a como uma condição necessária e indispensável para o
progresso e adiantamento da Humanidade”.
Não
te admires de eu dizer: é necessário que torneis a nascer,
observou o divino Mestre a Nicodemos (Evangelho de João, capítulo 3, versículo
7). Deste modo ratificou Ele, conforme acima dissemos, a lei natural do
renascimento, da reencarnação, apresentando-a como uma realidade e realidade
ante a qual se dissipam todas as dúvidas oriundas dos absurdos que, sob a capa
do milagre, pretendem os ortodoxos que admitamos. A reencarnação, pois, o
renascimento, a obrigação que tem o Espírito de reviver, como meio de chegar ao
estado de pureza integral, ideia que já se continha na revelação hebraica, que
constituiu princípio fundamental na revelação messiânica, mas que não foi
apreendida por virtude das interpretações literais a que estiveram sujeitas essas
revelações, constitui hoje, pela revelação nova, que as vem explicar em
espírito, uma verdade axiomática, expressão fiel do pensamento do Mestre
Divino.
E vós,
quem dizeis que eu sou? Perguntou Jesus a Pedro, que lhe
respondeu: És o Cristo, Filho do Deus vivo, isto é, o Enviado do Senhor.
Retrucando, Jesus lhe fez ver que o conhecimento dessa verdade lhe fora dado
por uma revelação vinda do Pai que está nos céus.
De fato, como podia Pedro
saber, para afirmá-lo com tanta segurança e firmeza, que Jesus era o Enviado de
Deus, se tal coisa lhe não houvera sido revelada? E de que modo pudera ter tido
essa revelação, a não ser por uma inspiração mediúnica? Ë claro que, na
ocasião, ele foi apenas o instrumento que serviu para a revelação de uma
verdade, ou de um médium falante.
Logo, podemos e devemos
concluir não só que Pedro era médium, como que já então se davam essas
revelações a que a Doutrina Espírita chama mediúnicas.
Efetivamente, dotado de uma
organização física bastante maleável para se prestar a todas as influências
mediúnicas, Espírito intelectualmente mais adiantado do que os dos outros
apóstolos, Pedro era, dentre estes, o que possuía em maior extensão e poder os
dons da mediunidade. Era, pois, o que mais se prestava a servir de pedra
fundamental para a construção da Igreja do Cristo.
Quer isto dizer que sobre a
mediunidade é que assenta essa Igreja, que assim repousa em alicerce
inabalável, porquanto a faculdade que aquele apóstolo possuía havia de
espalhar-se, como realmente aconteceu e está acontecendo, mais do que nunca,
nos tempos atuais, sem que o menor dano lhe possam causar os ódios sectaristas,
nem os interesses de qualquer natureza: “contra ela não prevalecerão as portas
do inferno”.
Assim sendo, é claro que
todos os verdadeiros espíritas e, sobretudo, os médiuns sinceros e humildes
servirão para aquela construção, trazendo-lhe cada um a sua pedra.
Não veem os homens do
Silabo, dos dogmas impostos pelo terror das fogueiras e dos martírios que, numa
época como a atual, em que a razão se emancipa de todas as tutelas, já não é
possível a imposição da fé cega?
Não, as coisas vão mudar.
Passado o tempo das fogueiras e dos apavorantes anátemas, despojado o Chefe da
Igreja do poder temporal, que mal e indevidamente exercia, porque o Mestre disse: Regnum meum non est in hoc mundo (1),
o prestígio, o poder, o reinado daquele que queira ser ou haja de ser sucessor
de Pedro somente poderão demonstrar-se pela caridade, pela humildade, pelo
desinteresse, pela mansidão e abnegação, que foram as armas com que o Manso
Cordeiro de Deus apeou potentados e derrocou tronos de déspotas, a todos se
sobrepondo pela exemplificação daquelas virtudes sublimes. Mesmo, porém, que um
homem aparecesse revestido de tais virtudes, ainda assim não poderia, só por
isso, considerar-se sucessor de Pedro, que não mostrou apenas possuí-las, mas
se distinguiu entre os demais discípulos, muito embora estes também fossem
exemplificadores dos ensinamentos de Jesus.
(1) A nosso ver, a privação
do poder temporal, se foi, individualmente, um mal, ou uma perda sensível para
o Sumo Pontífice, não o foi para a Igreja de que é ele o chefe, visto que
redundou no desaparecimento do que melhor provava não ser essa Igreja a do
Cristo. Não sendo deste mundo o reino do Filho de Deus, sua não podia ser a
Igreja cujo reinado era todo deste mundo. O ter sido despojado daquele poder,
valeu, pois para a Igreja Romana por uma como galvanização. Graças a isso é que
ainda pôde ostentar a aparência de prestígio de que gozou nestes últimos
tempos. Obtendo, como recentemente obteve, em 1929, que lhe restituíssem o
poder temporal é que ela decretou a sua própria e definitiva condenação,
volvendo a oferecer ao mundo, quando no Espiritismo ressurge o verdadeiro
Cristianismo, a demonstração iniludível de que nela não está o espírito da
Doutrina Cristã, de que ela é a antítese da Igreja Universal do Cristo.
Predição
(Mateus,
16:21-23; Marcos, 8:31-33)
22.
E acrescentou: É preciso que o filho do homem sofra muito e que seja rejeitado
pelos anciães, pelos príncipes dos sacerdotes e pelos escribas, que lhe seja
dada a morte e que ressuscite no terceiro dia.
Servindo-se das expressões dada à morte e que ressuscite, o Cristo
usava de uma linguagem que os homens pudessem compreender. Apresentando o seu
corpo a aparência da corporeidade humana, importava-lhe passar pela metamorfose
da morte. Depois, deixando no esquecimento o corpo de carne de que parecia
revestido, cumpria-lhe mostrar-se aos homens, para que ficasse comprovada a sua
identidade. Era, portanto, preciso que os homens fossem prevenidos do
acontecimento que sobreviria, a fim de lhe apreenderem a razão, porquanto os
próprios discípulos não teriam compreendido o fato do reaparecimento do Mestre,
se o não houvessem considerado do ponto de vista da ressurreição, no sentido
que davam a este termo.
Para os hebreus, a
ressurreição consistia na volta da alma a um corpo de carne, a um corpo
material, sem indagarem se se tratava sempre do mesmo corpo, sem inquirirem da
origem, nem do fim de tal corpo. Mas, tanto os discípulos, como, em geral, os
hebreus compreendiam a ressurreição que Jesus anunciara como tendo que ser a
volta de sua alma ao mesmo corpo. Essa a razão por que Ele permitiu a Tomé que
pusesse a mão na abertura que lhe haviam feito de um lado e os dedos nas chagas
que os cravos lhe abriram nas mãos e nos pés, retomando, para esse efeito, o
seu corpo que, como sabemos, era fluídico, de natureza perispirítica, com a
tangibilidade, a consistência, a aparência de um corpo humano.
Conseguintemente, sendo tal
a natureza do corpo de Jesus, não houve, com relação a Ele, nem morte, nem
ressurreição, no sentido que então era dado a estas expressões. Houve apenas
aparência de uma e outra coisa.
Foram todos morais os
sofrimentos que o Mestre suportou na cruz. O que das chagas lhe saía era uma
combinação puramente fluídica, com a aparência de sangue.
Sem dúvida, estas revelações
são de molde a alarmar, como de fato têm alarmado, muitas criaturas aferradas
às torturas físicas do grande modelo que nos foi enviado. Porém, forçoso é
vejamos em Jesus somente um Espírito, Espírito superior a todos os outros que
concorreram para a formação do nosso planeta e cujos sofrimentos, portanto,
foram todos morais, decorrentes do amor que consagrava e consagra a seus
protegidos, por vê-los tão endurecidos. Dizemos seus protegidos —porque Ele é o
nosso protetor, o governador do nosso planeta. Nessa qualidade, experimentava o
sofrimento que causa a uma mãe terna e carinhosa o ter que punir o filho
bem-amado.
Nos últimos momentos do seu
sacrifício na cruz, limitou-se a dizer em voz alta: Tudo está consumado, eis-me aqui, Senhor, para mostrar aos homens,
por meio de um exemplo prático, a resignação, a obediência e a submissão com
que se devem eles comportar, diante das vontades do soberano Senhor. O brado
que soltou do cimo do madeiro não foi tampouco um brado de sofrimento.
Deixando-o escapar no momento de “render a alma” (está claro que apenas no
entender dos homens), fê-lo com o intuito de lhes chamar a atenção para aquele
instante supremo e lhes fazer compreender, por uma expansão de alegria e não de
angústia, a felicidade do Espírito que se desprende do seu grosseiro invólucro,
para se elevar ao seu Criador.
Não faltarão os que digam:
“Que mérito era o dele em se submeter a tais torturas, se não experimentava os
sofrimentos físicos, uma vez que apenas aparente era o seu corpo.” Não
compreendem os que assim falam, que os sofrimentos morais são de intensidade
infinitamente maior do que os sofrimentos físicos; que o sofrimento, na
essência espiritual, é mais forte e mais vivo do que o possam ser, para os
nossos corpos, quaisquer sofrimentos humanos, ainda os mais agudos. Todos
conhecemos desgostos, mágoas e torturas morais superiores a qualquer dor
física, tanto que de bom grado os trocaríamos por dores desta natureza.
Jesus sofreu, sim, sofreu
cruelmente, não na sua “carne”, mas em seu “espírito”. Cada pancada do martelo
nos cravos que lhe traspassavam as mãos e os pés fluídicos, mas tangíveis, lhe
ia ferir a sensibilidade delicadíssima e lhe fazia correr da alma o sangue mais
precioso: o do amor e do devotamento que nos consagra. O divino modelo, que por
nós subiu ao Calvário, que padeceu por nós, sofreu e sofreu muito, conforme
mostraremos oportunamente, quando voltarmos a este ponto. (1)
Quanto ao haver desaparecido
do sepulcro o corpo de Jesus, é um fato que se explica pela mesma natureza
fluídica do invólucro corpóreo que Ele constituiu para o desempenho de sua
missão e cujos elementos componentes fez que voltassem ao meio de onde os tirara,
uma vez concluída aquela missão, retomando a partir daí, e continuando, como
Espírito, Espírito puro e perfeito, a desempenhar a sua missão espiritual, na
qualidade de protetor e governador do nosso planeta, missão que neste momento
desempenha entre nós por meio do Espírito da Verdade e da Nova Revelação.
Humildes de coração,
auxiliemo-nos mutuamente, em tudo e por tudo e, com alegria que exprime
reconhecimento, recebamos as provas que ao Senhor praza enviar-nos, tendo os
nossos lábios e as nossas almas prontos sempre a bem dizer de todas as suas
decisões. Não choremos nunca, sobretudo nós, os espíritas, que recebemos a luz,
pois que as de gratidão são as únicas lágrimas que a fé pode verter.
(1) Aliás, com os progressos
que a ciência espírita tem realizado e que são imensos em nossos dias; com os
subsídios importantes que para esses progressos têm trazido as experiências, a
que os cientistas deram o nome de “metapsíquicas”, sobre o que eles mesmos
convencionaram chamar “ectoplasma”, experiências, em muitas das quais se há
observado o reflexo dolorosíssimo que produz no médium qualquer abalo mais ou
menos violento nas formações ectoplásmicas, já se pode reconhecer não só que
dos sofrimentos ditos “físicos” não esteve isento o Divino Mestre, por ser de natureza
perispirítica o seu corpo, como também que esses sofrimentos foram, para Ele,
mais agudos e intensos do que os mais vivos que experimentemos, por intermédio
dos nossos corpos grosseiros, de carne putrescível.
Meios e condições sem os quais não se pode
ver na Terra o reino de Deus, em todo o seu poder
(Mateus,
16:24-28; Marcos 8:34-39)
23.
E dizia a todos: Se alguém quiser vir nas minhas pegadas, renuncie a si mesmo,
tome a sua cruz e siga-me; 24, porquanto, aquele que quiser salvar a vida a
perderá e aquele que perder a vida por minha causa a salvará. 25. Pois, de que
serviria a um homem ganhar um mundo Inteiro, fazendo-o em seu detrimento, e
perder-se? 26. Aquele que se envergonhar de mim e das minhas palavras, desse o
filho do homem também se envergonhará, quando vier na sua glória, na de seu pai
e dos santos anjos. 27. Em verdade vos digo que, entre os que aqui se acham,
alguns há que não morrerão sem que tenham visto o reino de Deus.
O devotamento absoluto, a
submissão sem limites são as condições únicas de chegarmos à perfeição relativa
que a Humanidade pode alcançar. Dedicando-nos aos nossos irmãos, pela prática
sem reservas da caridade, submetendo-nos aos ensinamentos de Nosso Senhor Jesus
Cristo, observando, em todos os nossos atos, os preceitos morais que Ele pregou
e exemplificou, estaremos no caminho seguro da nossa salvação. Sujeito às
necessidades materiais e aos instintos humanos cumpre que o homem regule a sua
existência, tendo sempre em vista que o seu corpo é um empréstimo que o Senhor
lhe fez, como meio de efetuar a sua depuração e chegar até Ele. Não deve
apegar-se a esse corpo, nem ao tesouro que acumulou, porquanto nenhum dos dois
o salvará no outro mundo.
Aquele que se entrega aos
gozos materiais entra para a categoria dos que perdem a alma pelos bens
mundanos, dos que a “vendem ao demônio”, para usarmos de uma frase tantas vezes
repetida e tão mal compreendida. Consagrarmos o nosso corpo, isto é, a nossa
dedicação, o nosso trabalho, os nossos esforços ao bem da Humanidade, afrontando
incômodos e contrariedades, empregando as riquezas que possuamos em auxiliar,
com critério e prudência, os nossos irmãos, é caminharmos para a salvação.
Fazer o contrário é gozar materialmente, negligenciando a verdadeira
felicidade.
Que todos os nossos atos e
pensamentos tenham a guiá-los a gratidão ao nosso Deus e o amor aos nossos
irmãos; que nunca o egoísmo, ou o interesse pessoal manchem a pureza das nossas
consciências.
As palavras de Jesus, com
relação aos que dele se envergonham, abrangendo o passado, o presente e o
futuro, dizem respeito aos que se riem, ridiculizam e fogem das coisas santas,
de medo do ridículo. Com referência, especialmente, à era nova que se abre para
a Humanidade com o advento do Espiritismo e que irá até que comece a separação
do joio e do bom grão, elas entendem com os que, depois de terem conhecido a
verdade, usarem de disfarces para, pelo respeito humano, não confessarem suas
convicções. Desses, que são os que se envergonham de Jesus, também Ele se
envergonhará. Esses, quando chegar o momento daquela separação, se se
conservarem culpados, rebeldes, morrerão para o nosso planeta. Quer isto dizer
que não mais lhes será permitida a reencarnação na Terra. Ao terem de encarnar,
ver-se-ão constrangidos a fazê-lo em planetas inferiores a este, onde, como
condição necessária a que melhorem moralmente e progridam, a expiação
corresponderá à duração da falta.
Aludindo aos que não morrerão (ou não “gostarão a morte”, como se lê nalgumas traduções dos Evangelhos), sem terem visto chegar o reino de Deus em seu poder, Jesus se referia à categoria de Espíritos que, encarnados naquela época, tinham de chegar, de reencarnação em reencarnação, ao tempo em que o reino de Deus se estabelecerá realmente na Terra; em que o divino Mestre se mostrará em todo o seu esplendor aos homens, bastante puros, então, para poderem suportar o fulgor do seu Espírito. A maior parte daqueles a quem Ele se referia, falando dos que viveriam na Terra ao tempo da sua vinda, serão, nesse tempo, Espíritos purificados e se acharão reencarnados em missão.
Transfiguração de Jesus no Tabor.
Aparição de Elias e de Moisés. Nuvem que cobriu os discípulos Voz que saiu
dessa nuvem e palavras que proferiu
(Mateus,
17:1-9; Marcos; 9:1-9)
28.
Cerca de oito dias depois de haver dito essas palavras, Jesus chamou a Pedro, a
Tiago e a João e subiu a um monte para orar. 29. E, enquanto orava,
mudou-se-lhe o semblante; suas vestes se tornaram alvas e resplandecentes; —30,
e eis que dois homens com Ele falavam, a saber: Moisés e Elias, 31, que
apareceram cheios de glória. Falavam-lhe da sua saída do mundo, a verificar-se
era Jerusalém. 32. Pedro e seus dois companheiros, que haviam adormecido,
despertando, viram a majestade de Jesus e os dois homens que com Ele se
achavam. 33. Sucedeu que, quando estes se iam afastando de Jesus, Pedro, não
sabendo o que dizia, propôs: Mestre, aqui estamos bem; façamos três tendas: uma
para ti, uma para Moisés e uma para Elias. 34. Quando ele ainda falava, veio
uma nuvem e os cobriu; e como a nuvem os envolvesse, amedrontaram-se. 35. E uma
voz saiu da nuvem dizendo: Este é meu filho bem-amado; escutai-o. 36. Enquanto
a voz falava, Jesus estava só. Os discípulos se calaram, nada disseram a
ninguém, por então, do que tinham visto.
A presença, visível para os
discípulos, de Moisés e Elias que, como outros Espíritos, tanto e ainda mais
elevados, rodeiam incessantemente a Jesus, foi um meio de que se serviu este
para lhes ferir a imaginação e de, por assim dizer, confirmar, diante dos
mesmos discípulos, a sua elevação espiritual e que Ele era o Cristo, o Messias
prometido. Ambos, Moisés e Elias, haviam anunciado o Messias; a presença ali
dos dois como que sancionava e santificava, aos olhos dos Apóstolos, a missão
que Ele, Jesus, desempenhava.
A voz que saiu da nuvem e
que se foi perdendo no espaço, depois de haver dito: Este é o meu filho bem-amado, em quem pus todas as minhas
complacências; escutai-o, afirmava, dessa forma, em nome do Todo-Poderoso,
do Pai, a missão de Jesus, como sendo o Cristo, filho do Deus vivo.
Atestando, aquela presença,
a intervenção dos Espíritos junto dos homens, o fato de que tratamos foi a
revelação, aos apóstolos, da realidade das manifestações espíritas. Constituía,
pois, uma promessa feita para o futuro, promessa que se cumpre agora, quando
tais manifestações se produzem ostensivamente por toda a parte, explicadas e
tornadas compreensíveis pela Nova Revelação outorgada ao mundo mediante tais
manifestações. Verifica-se, pois, que são chegados os tempos então preditos.
Nessas condições, a Revelação Espírita é bem o outro Consolador, o Espírito da
Verdade, que Jesus, o Messias prometido por Moisés e Elias, a seu turno
prometeu. Assim como há dois mil anos se cumpriu a promessa desses dois grandes
profetas, hoje se cumpre o que prometeu Aquele cujo advento constituíra objeto
daquela promessa.
Escolhidos por serem os que
apresentavam condições físicas mais favoráveis a torná-los aptos,
mediunicamente, à produção da manifestação espírita que se ia dar, os três
discípulos, Pedro, Tiago e João, caíram nesse estado de sonolência, de torpor,
em que ficam os médiuns, quando se dá uma forte manifestação espírita. E o fato
da transfiguração se produziu para eles, com o esplendor correspondente à
elevação dos Espíritos que no mesmo fato tomavam parte. Os Espíritos, como o
ensina a Doutrina Espírita, têm a faculdade de tornar-se visíveis e tangíveis,
sob a forma humana, e transfigurar-se, reunindo em torno de si os fluídos
luminosos que sejam necessários ao fenômeno.
A resplendecia que tomaram
as vestes de Jesus, as quais, segundo diz o Evangelista, eram de alvura tal,
que nenhum pisoeiro da Terra jamais poderia consegui-la, foi uma confirmação da
elevação sem par do Cristo, pois que aquelas palavras, entendidas em espírito e
verdade, significam que na Terra ninguém jamais poderia igualá-lo em elevação.
Com efeito, ainda quando haja alcançado a perfeição sideral, isto é, se tenha
tornado puro Espírito, qualquer dos que encarnem no nosso planeta será sempre
menos adiantado do que Jesus: ser-lhe-á inferior em ciência universal. Ë que
Jesus, Espírito que, como todos os demais, teve a mesma origem, partiu do mesmo
ponto de inocência e ignorância, havendo chegado sem o menor desvio, sem a mais
ligeira falta, sem se afastar jamais da diretriz traçada pelas leis do Pai, à
suprema perfeição moral, continuou e continua a progredir em ciência universal,
visto que esse progresso é indefinido. Assim sendo, nunca poderá Ele ser
alcançado, na senda desse progresso, por qualquer outro Espírito que haja
retardado a marcha da sua evolução, do seu aperfeiçoamento moral, por efeito de
uma transgressão que seja daquelas leis.
Quanto mais elevado, tanto
mais luminoso se revela o Espírito às vistas humanas. Do mesmo modo, quanto
mais elevado é um planeta na escala dos mundos, tanto mais branca e refulgente
é a sua luz. Os mundos espirituais, que qualificamos de celestes, aos quais só
têm acesso os puros Espíritos, são, na hierarquia dos mundos, os que projetam
luz mais branca e mais brilhante. Também entre os puros Espíritos, que em
pureza são todos iguais, por haverem todos chegado à perfeição moral, há
hierarquia, sob o ponto de vista da ciência universal, pois que se distinguem
pela soma de suas aquisições intelectuais. Todos, através da eternidade, se vão
cada vez mais aproximando de Deus, tendo do Criador mais perfeito conhecimento,
sem, no entanto, poderem jamais igualá-lo, nem abrangê-lo com o olhar, ou lhe
suportar as irradiações, quando se acercam do foco da onipotência, para se inspirarem
nas vontades daquele que é o Pai de tudo o que é.
A recomendação que Jesus fez
aos discípulos, para que a ninguém falassem do que tinham visto, até que Ele
houvesse ressuscitado dentre os mortos, obedeceu à razão de que, se os
discípulos divulgassem imediatamente os fatos que presenciaram, antes de
verificar-se o que se chamaria a “ressurreição” do mesmo Jesus, ninguém lhes
daria crédito.
O fenômeno da transfiguração
do Divino Mestre, assim como a de um Espírito muito elevado, nada tem de comum
com o da transfiguração do ser humano. Naqueles casos, há ação exclusiva do
Espírito sobre o seu corpo perispirítico; nos outros, há necessidade de uma
combinação do perispírito do Espírito que opera com o do encarnado que lhe
serve de instrumento, sendo, portanto, aparente a transfiguração, visto que
resulta do aspecto que o desencarnado dá aos fluídos em que envolve o
encarnado.
Lunático. Fé onipotente. Prece e jejum
(Mateus,
17:14-20: Lucas, 9:37-43; 17:5,6)
37.
No dia seguinte, quando desciam do monte, grande multidão lhes veio ao
encontro; 38, e eis que, do meio do povo, um homem exclamou: Mestre, eu te
suplico, olha para meu filho: é o Único que tenho. 39. Um Espírito se apossa
dele e o faz subitamente gritar, atira-o por terra e o agita em violentas convulsões,
fazendo-o espumar e só o larga depois de o haver esfarrapado. 40. Pedi a teus
discípulos que o expulsassem, mas eles não puderam. 41. Jesus respondeu: Oh! Geração
infiel e perversa, até Quando estarei convosco e vos suportarei! Traze-me aqui
teu filho. 42. Ao aproximar-se o menino, o demônio o atirou por terra e o pôs
em grandes convulsões. 43. Jesus, tendo falado ameaçadoramente ao Espírito
impuro, curou o menino e o restituiu ao pai.
Capítulo
17: versículo 5. E os apóstolos disseram ao Senhor: Aumenta-nos a fé. 6. O
Senhor lhes disse: Se tiverdes a fé do tamanho de um grão de mostarda, direis a
esta amoreira: Desenraiza-te e transplanta-te para o mar e ela vos obedecerá.
Destes trechos evangélicos
se vê que os discípulos de Jesus, apesar de investidos por Ele no poder de
curar os enfermos e de afastar dos obsidiados os Espíritos obsessores, não
puderam expulsar daquele rapaz, que lhes fora trazido, o perseguidor que o
atormentava. Entretanto, apresentado o moço ao Mestre, este ameaçou o “demônio”
que sobre ele atuava e no mesmo instante cessou a obsessão de que era agente
tal “demônio”.
Enquanto se achava com seus
discípulos, Jesus os preparava para desempenhar as missões que lhes iam ser
confiadas, sobretudo quando Ele houvesse terminado a sua entre os homens.
Eram ainda incipientes as
faculdades mediúnicas de seus discípulos, tinham que se desenvolver, para serem
exercidas cada vez em maior escala, até alcançarem toda a amplitude a que
haviam de chegar. O mesmo se dá com os médiuns atuais; mas, ao passo que
aqueles atingiram o seu pleno desenvolvimento sob as vistas de Jesus, como
devia suceder, o dos instrumentos mediúnicos da atualidade só se tornará
completo, quando estiver na Terra o Regenerador, grande Espírito que trará a
missão de aproximar a Humanidade do ponto de sua purificação integral, da sua
perfeição moral. Até lá, eles apenas obterão fatos isolados, estranhos à ordem
comum dos fatos.
Quanto ao não haverem podido
os discípulos expelir do rapaz, a que se referem os Evangelistas, o “demônio”,
a causa de tal insucesso está assinalada na resposta que Jesus deu, quando eles
lhe perguntaram por que não tinham conseguido “lançá-lo fora”. Foi por causa da
vossa pouca fé, disse o Divino Mestre, acrescentando: “Os demônios desta casta
não podem ser expulsos senão pela prece e pelo jejum”.
Ocorre, entretanto,
perguntar como é que, já tendo eles produzido, dentro de certos limites, fatos
considerados “milagrosos”, pela assistência que lhes dispensava o Mestre,
quando os mandara às cidades vizinhas, com o poder de curar os enfermos e
expulsar os demônios (MATEUS, capítulo 10, versículo 8), ficaram sem essa
assistência naquele caso do lunático. É que Jesus lhes quis significar não se
terem eles ainda tornado capazes de cumprir com segurança a tarefa que lhes
cabia, preservando-os desse modo do orgulho a que, na condição de homens,
poderiam dar entrada em seus corações e levando-os a reconhecer que ainda
precisavam fortalecer a fé, tornar absoluta a confiança, que deviam depositar
naquele em cujo nome iam falar e agir, para estarem aptos a realizar com
firmeza as obras que o viam praticar pelo só poder da sua vontade, em virtude
da sua perfeita pureza.
Foi, ao mesmo tempo, um
exemplo, para os que de futuro viessem a ser os continuadores da obra dos discípulos.
De fato, se estes, edificados como eram, constantemente, pelos ensinos,
conselhos e exemplos do Mestre, santificados pela sua presença, ainda estavam
sujeitos a fracassos, como o que nesta passagem dos Evangelhos se registra,
quão maiores não hão de ser esses fracassos, na atualidade, entre nós, que
carecemos de fé, que não sabemos orar e que não praticamos o jejum espiritual!
A fé, alavanca poderosa, capaz por si só de levantar o mundo, constitui o meio
único de que podemos lançar mão eficazmente, para afastar os Espíritos
atrasados e sofredores. Da fé nasce a prece que, se, além de fervorosa e
perseverante, é acompanhada do jejum espiritual, acaba sempre por tocar o
Espírito culpado, o esclarecer e encaminhar para a verdade.
Que é a fé? Que é a prece?
Que é o jejum? Em que consistem este e aquelas?
Disse Jesus ao pai do moço:
Se puderes crer, todas as coisas são possíveis àquele que crê. Cumpre notar
que, dizendo isso, o Mestre falou figuradamente, como, aliás, de ordinário,
sucedia. Mas, dentro da figura de que usou, está a verdade. Efetivamente, que
prodígios não pode a fé operar? Que é o que não consegue essa alavanca
prodigiosa, essa força motriz incoercível, esse calor fecundante, que dá à alma
a essência pura da crença, sem sombras, na existência de Deus, no seu amor e na
sua misericórdia infinitos, que a faz librar-se às regiões luminosas do espaço
e subir até ao seu Criador, sem mesmo perceber como e por que sobe. A fé
consiste na confiança absoluta, sem a mais ligeira dúvida, sem vacilações. Ë
uma virtude difícil, senão impossível de definir-se e quase incompreensível
para nós outros, pobres pecadores de todos os instantes, cheios de imperfeições
e fraquezas. Dizemo-la incompreensível para nós, porque, propensos a
considerá-la apanágio somente de Espíritos elevados, por verificarmos que, nas
ocasiões em que mais necessária nos é, ela nos falece a nós que há todos os
instantes recebemos provas da bondade e misericórdia extremas de Nosso Senhor
Jesus Cristo; que estudamos e aceitamos, com lágrimas de reconhecimento, as
lições por Ele dadas e exemplificadas até ao cimo do Gólgota, vemos, no
entanto, que, noutros irmãos, menos aparelhados de outras virtudes, ela é
forte, esclarecida e sábia, como deve ser em todo cristão, segundo ensinam os Evangelhos.
A verdade, porém, é que:
àquele que crê, todas as coisas são possíveis, por isso que em torno dele se
grupam os Espíritos do Senhor, para assisti-lo. À fé se alia sempre a esperança
e ambas se desdobram em caridade. Não tendo ainda os nossos corações bastante
abertos para agasalharmos essas virtudes, esforcemo-nos, pelo estudo, pela
meditação dos ensinos e exemplos do nosso Salvador e dos seus apóstolos, por
fortalecê-los em nossos espíritos, aprendendo a pedir somente o que possa ser
de justiça aos olhos de Deus.
Orai e jejuai, disse-nos o
Bom Jesus. Mas, que é orar? Será repetir palavras mais ou menos harmoniosas,
mais ou menos sonoras, mais ou menos humildes, ditas de lábios para subirem ao
Senhor?
Jejuar será abster-nos de
alimentos quaisquer, necessários à sustentação do nosso corpo material e
indispensáveis ao regular funcionamento do nosso organismo?
Não. Não nos iludamos. Não é
prece uma reunião de palavras que se repetem todos os dias, por ofício, como
meio de ganhar a vida, e que acabam tornando-se maquinais.
A prece poderosa, a prece de
Jesus são os atos da vida praticados com o pensamento em Deus, e sempre a Deus
reportados. É um arroubo contínuo do pensamento, uma aspiração incessantemente
dirigida ao Criador e a guiar-nos na prática da verdade, da caridade e do amor,
a bem do nosso progresso moral e intelectual e do progresso dos nossos irmãos.
Jesus não precisava recorrer
à prece ocasional, porque, puro Espírito, Espírito perfeito, investido de
onipotência sobre os Espíritos impuros, sua vida, aquela vida que os homens
supunham humana, decorria continuamente piedosa aos olhos do Senhor e também
porque a sua missão já era um ato de fé e amor, uma prece ativa e permanente,
que o colocava (mesmo posta de lado a sua superioridade espiritual) acima de
todos os Espíritos, pelo poder e pela persuasão.
Predição, por Jesus, da sua morte e
ressurreição
(Mateus,
17:21,22; Marcos, 9:30,31)
44.
Todos pasmavam do grande poder de Deus e como se mostrassem admirados dos que
ele fazia, disse a seus discípulos: Guardai nos vossos corações o que vos vou
dizer: O filho do homem há de vir a ser entregue às mãos dos homens. 45. Mas os
discípulos não entendiam essas palavras; tão veladas eram que não as
compreendiam; e tinham receio de o interrogar a tal respeito.
Estes versículos se explicam
por si mesmos. Jesus revelava antecipadamente os acontecimentos que se iam dar,
a fim de tocar mais fundamente o espírito dos discípulos e lhes aumentar a fé.
Predisse-lhes que “habitaria
com os mortos”, a fim de tornar mais frisante a sua ressurreição.
O que eles, porém,
compreenderam foi, apenas, que o Senhor se preparava para morrer, que corriam o
risco de perder o Mestre bem-amado, crentes de que este pertencia, pelo seu
invólucro corpóreo à humanidade terrena. Ao mesmo tempo, receavam interrogá-lo,
porque a ressurreição, após uma morte que, no parecer deles, seria real,
material, povoava de dúvidas os Espíritos, quanto à possibilidade de tal fato,
mesmo como um milagre, dúvidas de que lhes nascia o temor de interpelarem a
Jesus.
A vida, a morte e a
ressurreição do Salvador, fatos aparentes, mas que deviam ser consideradas
reais, tiveram uma razão e um fim que hoje se justificam e explicam, sem que
haja mister sejam impostas, dogmaticamente, como milagres, isto é, como
derrogações de leis naturais e imutáveis.
Lição de caridade e de amor, de amparo
ao fraco, de fé, confiança, humildade e simplicidade
(Mateus,
18:1-5; Marcos, 9:32-40)
46.
Veio-lhes então à mente saber qual dentre eles era o maior. 47. Mas Jesus,
vendo o que lhes ia nos corações, tomou de um menino e o colocou perto de si; 48,
e lhes disse: Quem quer que receba em meu nome esta criança me recebe e quem
quer que me receba recebe aquele que me enviou; porquanto, aquele que entre vós
for o menor esse é o maior. 49. João, replicando, disse: Mestre, vimos um homem
que expulsa os demônios em teu nome e nós lho proibimos, pois que ele não te
segue conosco. 50. Jesus lhe disse: Não lho proibais, porque quem não é contra
vós por vós é.
Nestas palavras de Jesus, temos
mais uma lição de caridade, de amor, de amparo ao fraco, de fé, humildade e
simplicidade. “Aquele que quiser ser o primeiro seja o último, o servo de
todos”, disse Ele.
Sejamos crianças que o
Divino Mestre tome em seus braços. Fracos, como somos e nos reconhecemos,
confiemos nele e, se nos tornarmos simples de coração, nele encontraremos a
chave de toda a ciência. Sejamos caridosos com os nossos irmãos e nele teremos
o mais admirável tipo da caridade.
Aquelas palavras suas
significam: Não procureis elevar-vos pelas vossas próprias forças, porque elas
vos trairão; não acrediteis valer mais do que os vossos irmãos, aos olhos de
vosso pai; nem desejeis sobrepor-vos a eles; procurai, ao contrário, ajudá-los
a se elevarem, dando-lhes o melhor dos conselhos: o do exemplo.
Supunham os discípulos que o
Senhor tinha preferência por um deles, que João era o mais amado. Daí o ciúme
que lhes nasceu no intimo, tal a miserabilidade da carne, mesmo entre os bons,
ciúme, entretanto, desculpável, até certo ponto, por provir do grande amor que
consagravam ao Mestre. Esse o sentimento que lhes trouxe ao espírito a ideia de
saberem qual era o maior e motivou a discussão em que se empenharam.
João, porém, não era o mais
amado, era, antes, o que mais amava, o que o impelia a aproximar-se mais de
Jesus, dando isso lugar a que os outros pensassem que lhe coubera a melhor
parte.
“Se não vos converterdes e
não vos tornardes quais crianças, não entrareis no reino do céu, advertiu o
Divino Mestre”. Quer dizer, se não abandonardes as ideias e tendências humanas,
não chegareis à perfeição. A criança é o símbolo da inocência. O pensamento de
Jesus, ao servir-se de tal símbolo, era este: Se não vos fizerdes simples e
inocentes, o orgulho vos impedirá a entrada no reino dos céus, ou: não sereis
moralmente perfeitos.
Quando disse que aquele que,
em seu nome, recebe a uma criança, recebe-o a Ele, quis significar que,
pondo-nos ao alcance do fraco e do simples, de partilharmos com este o que
possuirmos em inteligência, em força, em saber, tê-lo-emos a Ele ao nosso lado.
Versículos 49,50 – O que
consta nestes versículos mostra que a ninguém é lícito sofrear os impulsos da
fé, nem pretender forçar que os outros caminhem pela senda que se lhe abriu,
quando podem, seguindo a que a essa fica paralela, chegar ao fim que lhes
cumpre atingir. Mostra, portanto, quão errados andam e divorciados de seus
ensinos os intolerantes, que entendem de impor a todos a tirania mística,
dizendo-lhes: crede como eu, adorai como eu, do contrário sereis condenados às
penas eternas.
Eis aqui a doutrina do
Cordeiro de Deus: Não lho proibais, que lícito não vos é impedir que quem quer
que seja pratique o bem. Aquele que não é contra mim (estas são, textualmente,
as palavras do Mestre) por mim é.
Compare-se essa doutrina à
que, por questões de fórmulas, de palavras, de ritos, excomunga as criaturas de
Deus e as condena a suplícios atrozes, praticando contra elas inomináveis
crueldades, e dizei se os que assim procedem seguem o Cristo e podem, sem
blasfemar, usar do seu nome.
Que importava que aquele
irmão não pertencesse ao número dos que seguiam a Jesus, se, Espírito
esclarecido, compreendendo a missão do Messias prometido, possuído de fé viva e
ardente, ia, por seu lado, pregando aos homens que escutassem o Mestre, de quem
apenas ouvira falar, e praticando o que este pregava? Certo de que, com o apoio
do nome de Jesus, atraía sobre si as graças do Senhor, ele expulsava os
Espíritos impuros, sustentado por Espíritos superiores, que lhe secundavam os
esforços. Era uma pedra insulada, mas que servia para a construção do edifício,
como tantas outras houve, há hoje e haverá no futuro.
Qualquer que seja o caminho
que trilharmos, desde que o palmilhemos praticando a caridade, espalhando o
bem, em nome de Jesus, aí descobriremos as marcas de seus pés e seremos com Ele
e Ele será conosco, e faremos milagres, quais esse de que fala MARCOS no
capítulo 9, versículo 38, isto é, atos que se efetuam pela vontade de Deus,
segundo leis verdadeiras e imutáveis da Natureza, ainda desconhecidas dos
homens mas existentes de toda a eternidade, que essa é a significação única que
devemos dar àquele termo e não o de derrogação das leis naturais, como o
pretende a Igreja Romana.
Palavras de Tiago e João.
Resposta de Jesus
51. Como se aproximasse o
tempo em que havia de ser arrebatado no mundo, ele, de semblante resoluto, se
pós a caminho para ir a Jerusalém. 52. Enviou adiante alguns mensageiros que de
passagem entraram numa aldeia de Samaritanos a fim de lhe prepararem pousada. 53.
Estes, porém, não o receberam por ter ares de quem ia para Jerusalém. 54. Vendo
isso, seus discípulos Tiago e João perguntaram: Senhor, queres digamos que o
fogo desça do céu e os consuma? 55. Jesus, porém, voltando-se para eles, os
repreendeu, dizendo: Não sabeis de que Espírito sois? 56. O filho do homem não
veio para perder e sim para salvar os homens. Dirigiram-se a outra aldeia.
O tempo que se aproximava,
em que Jesus tinha que ser arrebatado do mundo, era o momento em que, pouco
depois, desapareceria, como desapareceu, das vistas humanas, realizando-se a
sua ascensão, termo que traduz bem o pensamento, pois que, diante dos
discípulos reunidos, Ele se elevou nos ares, até que deixou de ser visto.
O fato de se haverem os
Samaritanos recusado a recebê-lo nada tem de estranhável, porquanto, como se
sabe, eles viviam em antagonismo com os Judeus, de cujas ideias não
partilhavam. Daí, também a lembrança, que Tiago e João tiveram, de pedirem que
do céu descesse fogo para consumi-los.
Jesus, porém, não só lhes
recusou o que pediram, mas ainda os repreendeu, dando, como sempre, um exemplo
de caridade e mostrando que, de fato, não viera abolir a lei de Moisés, mas
cumpri-la, completando-a com o prescrever o amor em retribuição do ódio, o
perdão em troca da injúria, o benefício em paga da ofensa. Com o seu cinzel
todo feito de doçura, ainda que forte, Ele veio dar àquele bloco, informe e
cheio de arestas, formas delicadas e burilar-lhe os contornos. Chegado que é o
momento de concluir essa obra, o Mestre novamente toma do buril, para fazer que
nela apareçam os mais delicados traços, dos quais cintilará o amor divino.
Quando a obra estiver acabada, quando esse amor houver penetrado em todos os
corações, estes, plenos de todas as virtudes, darão testemunho de que, com
efeito, Jesus não veio abolir a lei, mas justificá-la, tornando-a perfeita.
Seguir a Jesus. Deixar que os mortos
enterrem seus mortos
(Mateus,
8:18-22)
57.
Quando iam a caminho, um homem lhe disse: Senhor, eu te acompanharei para onde
quer que fores. 58. E Jesus lhe disse: As raposas têm suas tocas, os pássaros
do céu têm seus ninhos; mas o filho do homem não tem onde repousar a cabeça. 59.
E disse a outro: Acompanha-me. Ao que ele respondeu: Senhor permite que vá
primeiramente sepultar meu pai. 60. Jesus lhe disse. Deixa que os mortos
enterrem seus mortos; tu, porém, vai e anuncia o reino de Deus. 61. Disse-lhe
outro: Eu te seguirei, Senhor, mas permite que vá antes dizer adeus aos de
minha casa. 62. Jesus lhe disse: Aquele que, tendo posto a mão no arado, olhar
para trás, não serve para o reino de Deus.
O
filho do homem não tem onde repousar a cabeça. - Jesus, que era
sempre Espírito livre, pois que não sofrera a encarnação humana; que, como
temos dito, sempre que desaparecia da vista dos homens, era porque ascendia às
regiões celestiais donde dirige a marcha da Humanidade terrena, o que ainda não
fora revelado, nem explicado, porque não seria compreendido, não tinha onde
descansasse das fadigas a que o julgavam sujeito os que o supunham um homem
comum e esses eram todos os que lhe seguiam as pegadas, os que o acompanhavam
pelas estradas da Palestina.
Além disso, porém, com essas
palavras, dirigidas aos que o consideravam passível de todas as vicissitudes da
existência corpórea, quis Ele significar que os cuidados e esforços pela
conquista cujos meios de efetivação constituíam o objeto capital da sua missão,
deve a criatura sobrepô-los às voluptuosidades, às doçuras e ao repouso
exagerado da vida material, que precisa caracterizar-se pela atividade no bem,
pela energia contra os pendores malsãos, pelo desprendimento das coisas
perecíveis e pela confiança em Deus.
Deixa
que os mortos enterrem seus mortos. Não pretendeu, é claro, o
divino Mestre, isso dizendo, aconselhar e, menos, autorizar que se deixem
insepultos os corpos, nem que faltemos às obrigações que os laços de família ou
de amizade nos impõem. Apenas teve em mira mostrar que não se deve fazer do
enterramento dos corpos um culto, ou, o que ainda é pior, um motivo de
ostentação e de fausto. Quis tão-somente, Ele que viera demonstrar que o que
tem valor real é o Espírito e não o corpo, ensinar que para aquele e não para
este é que devemos fazer convirjam os nossos principais e maiores cuidados,
ensinar que o nosso culto aos entes amados que regressam à vida extraterrena, o
nosso luxo para com eles devem consistir nas preces fervorosas e constantes,
saídas do coração, e não em atenções pueris dispensadas aos despojos
putrescíveis, que a terra reclama para o trabalho de decomposição que lhe
incumbe.
Os mortos, de que Jesus
falava, são os que vivem exclusivamente para o corpo e não para o Espírito e
pelo Espírito. Que esses, aos quais falecem outras consolações, se abracem e
agarrem à podridão e ponham todos os cuidados em enterrar seus mortos. Que os
outros, porém, os que vivem mais para e pelo Espírito, do que para o corpo, se
apliquem em pregar a vida eterna em consolar e exortar os homens a que busquem
o carreiro conducente a essa vida, onde tudo é perfume, alegria e luz.
Logo que, pelo médium que o
auxiliava, acabavam de ser dadas ao Sr. J. B. Roustaing as explicações que
deixamos resumidas, outro Espírito, como enviado de Jesus e em seu nome, fez
que o mesmo médium escrevesse, com caligrafia diferente da anterior e
magistral, o seguinte:
“Deixai que os mortos
enterrem seus mortos e ide vós anunciar o reino de Deus. Deixai entregues a si
mesmos os que se mostram incapazes de ver a luz. Tratai, primeiramente, de
levá-la aos que a desejam.
“Aquele que, tendo posto a
mão no arado, olha para trás de si não é apto para o reino de Deus: É preciso
que as condições pessoais, egoísticas, não vos façam voltar atrás, e abandonar
a obra que tendes de executar. Começastes a caminhar para frente, segui o vosso
caminho, pois parar é recuar.
“Jesus vos abençoa”.
Em seguida, com a mesma
caligrafia de antes, escreveu o médium:
“Foi um Espírito,
intermediário de Jesus junto de vós, quem se manifestou e vos transmitiu a
palavra do Mestre.
“O Senhor, com vigilante
ternura, olha para todos vós e seu amor leva em conta os vossos menores
esforços. Mas, se por estar Jesus muito acima dos Espíritos que vos servem de
guias e protetores, estes não são por Ele pessoalmente dirigidos, com mais
forte razão, entre Ele e vós, indispensáveis são os intermediários. O Espírito
que vos transmitiu as suas palavras é um dos que lhe recabem as ordens e
espalham, sob a sua direção, a luz e a ciência.
“Grande seja o vosso
reconhecimento! A bondade do Senhor desce sobre os que se esforçam por
submeter-se às suas leis. Paciência, coragem, perseverança, fé e amor. MATEUS,
MARCOS, LUCAS e JOÃO”.
SAYÃO, Antonio Luiz. Elucidações evangélicas.
FEB (e-book).
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