Evangelho segundo João - cap. 18

Jesus é traído e preso

1. Depois dessas palavras, Jesus saiu com os seus discípulos para além da torrente de Cedrom, onde havia um jardim, no qual entrou com os seus discípulos.

Iria iniciar-se o epílogo da trajetória terrena de Jesus, onde a exposição pública do seu suplício representaria o resumo de tudo o que tinha ensinado, ou sejam, as virtudes da humildade, desapego e simplicidade, para ninguém mais ter dúvidas de que todos os sacrifícios são pequenos perto da recompensa da evolução espiritual.

2. Judas, o traidor, conhecia também aquele lugar, porque Jesus ia frequentemente para lá com os seus discípulos.

Jesus queria ser encontrado para que se cumprisse sua missão, com a aula prática das virtudes em grau máximo. Aqueles que foram instrumentos do mal iriam encontram a própria consciência, que lhes cobraria o alinhamento no bem, enquanto que Jesus terminava seu périplo terreno e a humanidade ganharia, em conhecimento da verdade, com o espetáculo dantesco que se resenrolaria aos olhos atônitos de uns e cheios de lágrimas dos de boa vontade e tomados pelas trevas interiores dos rebeldes e maldosos.

3. Tomou então Judas a coorte e os guardas de serviço dos pontífices e dos fariseus, e chegaram ali com lanternas, tochas e armas.

Judas desempenhou o lamentável papel de denunciador, o que lhe custaria séculos de sofrimentos regeneradores, sob o carinhoso apoio do próprio Mestre, até culminar no sacrifício de Joana D’Arc, ocasião em que aquele discípulo inicialmente desviado recebesse a palma da vitória sobre os defeitos morais, adquirindo todas as virtudes. Jesus, para quem o tempo não existe, tendo acesso a tudo, sabia que aquele discípulo somente produziria no bem daí a alguns séculos, mas investiu nele assim mesmo, tanto quanto investiu em Nicodemos, nos que o condenaram e continua investindo em todas as ovelhas do seu rebanho, para que nenhuma se perca.

4. Como Jesus soubesse tudo o que havia de lhe acontecer, adiantou-se e perguntou-lhes: A quem buscais?

O próprio evangelista afirma que Jesus sabia de tudo que lhe iria acontecer. Como dito linhas atrás, para um Espírito Puro como Jesus não há o tempo, diferentemente do que acontece com os que estão nos primeiros degraus da evolução, que não têm acesso ao passado e nem ao futuro. Como só agem no bem, sua inteligência se abre e recebem de Deus a ciência Divina, que abrange o conhecimento aprofundado das leis de Deus.

5. Responderam: A Jesus de Nazaré. Sou eu, disse-lhes. (Também Judas, o traidor, estava com eles.)

Jesus se identificou, sem nenhum subterfúgio ou temor.

6. Quando lhes disse sou eu, recuaram e caíram por terra.

O impacto que sofreram foi tão grande que “recuaram e caíram por terra”: ali se manifestava mais uma vez o poder de Deus, para que aqueles também ficassem marcados para sempre e, no futuro, despertassem. Nada acontece por acaso e ali estava a “estrada de Damasco” de alguns e a preparação para a “estrada de Damasco” dos demais. Os próprios soldados que ali compareceram não foram escolhidos por acaso. Quem entender de outra forma não estará ciente de que Deus encaminha cada um de seus filhos para o bem de uma forma que somente Ele sabe, mas sua pedagogia é perfeita.

7. Perguntou-lhes ele, pela segunda vez: A quem buscais? Disseram: A Jesus de Nazaré.

É importante notar que não foram os saldados que tomaram a iniciativa, mas sim Jesus, pela segunda vez indagando-lhes sobre a quem procuravam. Eles ficaram paralisados, como Emmanuel, então nas vestes do senador Públio Lentulo, diante da luz do mundo.

8. Replicou Jesus: Já vos disse que sou eu. Se é, pois, a mim que buscais, deixai ir estes.

Jesus lhes pediu que somente levassem preso a Ele próprio, com o que concordaram. A luz poderia simplesmente ter feito como das outras vezes em que tentaram prendê-lo ou fazerem coisas semelhantes, mas simplesmente acompanhou aqueles homens atordoados a partir daquele momento.

9. Assim se cumpriu a palavra que disse: Dos que me deste não perdi nenhum (João 17,12).

Mais uma confirmação da palavra das profecias.

10. Simão Pedro, que tinha uma espada, puxou dela e feriu o servo do sumo sacerdote, decepando-lhe a orelha direita. (O servo chamava-se Malco.)

Simão Pedro, agindo como aluno recém saído das aulas teóricas, mas sem nenhuma prática na missão que deveria desempenhar, optou pela reação violenta, no que foi advertido pelo Mestre, com aprendizado geral pelo exemplo, que nunca mais sairia da mente de nenhum daqueles Espíritos.

11. Mas Jesus disse a Pedro: Enfia a tua espada na bainha! Não hei de beber eu o cálice que o Pai me deu?

Ali estavam presentes os alunos que iriam fixar a lição da não violência, tornando-se seus futuros divulgadores.

Anás interroga Jesus

12.Então a coorte, o tribuno e os guardas dos judeus prenderam Jesus e o ataram.

Sem nenhuma oposição do procurado, cumpriram seu dever de levarem-no preso.

13. Conduziram-no primeiro a Anás, por ser sogro de Caifás, que era o sumo sacerdote daquele ano.

Agora seria ensinada a lição a outro discípulo que sequer sabia que era seu discípulo, para render frutos no porvir. Anás representava a ignorância arrogante, mas ficaria marcado para sempre pela luz do mundo.

14. Caifás fora quem dera aos judeus o conselho: Convém que um só homem morra em lugar do povo.

Caifás era um dos alunos mais necessitados de se avistar com o Governador da Terra e receber dele a marca da renovação espiritual.

15. Simão Pedro seguia Jesus, e mais outro discípulo. Este discípulo era conhecido do sumo sacerdote e entrou com Jesus no pátio da casa do sumo sacerdote,

Simão Pedro necessitava aprender a amar de verdade para não oscilar mais entre a violência e o medo. Por isso, foi levado a uma lição importante para a sua evolução.

16. porém Pedro ficou de fora, à porta. Mas o outro discípulo (que era conhecido do sumo sacerdote) saiu e falou à porteira, e esta deixou Pedro entrar.

A aula, para ele, iria começar ali, com suas três negativas.

Este “outro discípulo” era provavelmente João, o autor deste Evangelho. Ele conhecia o sumo sacerdote e identificou-se para a mulher na porta. Por causa de sua amizade, o próprio João e Pedro entraram no pátio.

17. A porteira perguntou a Pedro: Não és acaso também tu dos discípulos desse homem? Não o sou, respondeu ele.

Aconteceu a primeira negativa.

18. Os servos e os guardas acenderam um fogo, porque fazia frio, e se aqueciam. Com eles estava também Pedro, de pé, aquecendo-se.

Pedro não tinha tido ainda a hombridade de reconhecer ter sido perjuro e traidor.

19. O sumo sacerdote indagou de Jesus acerca dos seus discípulos e da sua doutrina.

O aluno aturdido estava diante da segurança absoluta do Mestre e indagou-lhe sobre o que não tinha evolução para entender: Sua doutrina.

20. Jesus respondeu-lhe: Falei publicamente ao mundo. Ensinei na sinagoga e no templo, onde se reúnem os judeus, e nada falei às ocultas.

A resposta foi, em outras palavras: - Deus tenha piedade da sua incompreensão, que Eu vim para esclarecer através das inúmeras oportunidades em que meus ensinos e minha exemplificação chegaram ao seu conhecimento!

21. Por que me perguntas? Pergunta àqueles que ouviram o que lhes disse. Estes sabem o que ensinei.

Em outras palavras, Jesus lhe disse: - Sua consciência sabe que Deus o está chamando por meu intermédio. Desperte!

22. A estas palavras, um dos guardas presentes deu uma bofetada em Jesus, dizendo: É assim que respondes ao sumo sacerdote?

O bajulador! Triste figura, que se rebaixa em troca de benesses que deveria conquistar pelo merecimento! Assim procedem os acomodados, os timoratos e todos aqueles que querem ser vencedores às custas do merecimento e do destaque alheio.

23. Replicou-lhe Jesus: Se falei mal, prova-o, mas se falei bem, por que me bates?

Era outro aluno, este precisado da lição da dignidade.

24. Anás enviou-o preso ao sumo sacerdote Caifás.

Jesus tinha de trabalhar para despertar os capelinos degredados.

25. Simão Pedro estava lá se aquecendo. Perguntaram-lhe: Não és porventura, também tu, dos seus discípulos? Negou-o, dizendo: Não!

A segunda negativa.

26. Disse-lhe um dos servos do sumo sacerdote, parente daquele a quem Pedro cortara a orelha: Não te vi eu com ele no horto?

O terceiro teste.

27. Mas Pedro negou-o outra vez, e imediatamente o galo cantou.

A terceira negativa.

Jesus perante Pilatos

28. Da casa de Caifás conduziram Jesus ao pretório. Era de manhã cedo. Mas os judeus não entraram no pretório, para não se contaminarem e poderem comer a Páscoa.

Agora Jesus se avistaria com o aluno iludido com o poder.

29. Saiu, por isso, Pilatos para ter com eles, e perguntou: Que acusação trazeis contra este homem?

Inteirando-se do caso, segundo a versão dos acusadores, teria de decidir com justiça, o que exige coragem e honestidade, qualidades que aquele aluno iria começar a adquirir a partir daquele processo, depois de omitir-se, assumindo grave culpa perante a própria consciência.

30. Responderam-lhe: Se este não fosse malfeitor, não o teríamos entregue a ti.

Somente a acusação tinha falado até então.

31. Disse, então, Pilatos: Tomai-o e julgai-o vós mesmos segundo a vossa lei. Responderam-lhe os judeus: Não nos é permitido matar ninguém.

O juiz não queria eximir-se do seu dever.

32. Assim se cumpria a palavra com a qual Jesus indicou de que gênero de morte havia de morrer (Mateus 20,19).

Mais uma confirmação das profecias dos antigos.

33. Pilatos entrou no pretório, chamou Jesus e perguntou-lhe: És tu o rei dos judeus?

Agora estava sendo equilibrada a balança da justiça, ouvindo-se o acusado.

34. Jesus respondeu: Dizes isso por ti mesmo, ou foram outros que to disseram de mim?

Jesus lhe afirmou, em outras palavras: - Assuma sua dignidade! Seja forte para vencer suas más tendências! Cresça espiritualmente! Eis chegada sua grande oportunidade!

35. Disse Pilatos: Acaso sou eu judeu? A tua nação e os sumos sacerdotes entregaram-te a mim. Que fizeste?

Pilatos seguiu adiante, na aparência de cumprir seu dever de juiz.

36. Respondeu Jesus: O meu Reino não é deste mundo. Se o meu Reino fosse deste mundo, os meus súditos certamente teriam pelejado para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu Reino não é deste mundo.

Jesus estava convidando aquele capelino degredado para segui-lo, pois, somente assim, poderia retornar ao seu mundo de origem.

37. Perguntou-lhe então Pilatos: És, portanto, rei? Respondeu Jesus: Sim, eu sou rei. É para dar testemunho da verdade que nasci e vim ao mundo. Todo o que é da verdade ouve a minha voz.

Jesus lhe afirmou: - Sou o Governador da Terra. Detenho a autoridade que me foi dada por Deus. Venha comigo!

Pilatos autoriza a crucificação de Jesus

38. Disse-lhe Pilatos: Que é a verdade?. Falando isso, saiu de novo, foi ter com os judeus e disse-lhes: Não acho nele crime algum.

Pilatos preferiu passar aos acusadores a responsabilidade de julgar que era dele. Tinha perdido a chance de começar sua redenção, absolvendo um inocente.

39. Mas é costume entre vós que pela Páscoa vos solte um preso. Quereis, pois, que vos solte o rei dos judeus?

Deixou aos acusadores a opção de desistirem da acusação.

40. Então todos gritaram novamente e disseram: Não! A este não! Mas a Barrabás! (Barrabás era um salteador.)

Os acusadores queriam a eliminação do Messias, que lhes cobrava honestidade no trato das coisas de Deus. Sabiam ser Ele o Messias, mas não admitiam que lhes ensinasse a verdade, a qual temiam.

Fonte:

O Evangelho de João na visão espírita (e-book)

Bíblia de estudo aplicação pessoal. CPAD, 2004 

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