Jesus é traído e preso
1. Depois dessas palavras,
Jesus saiu com os seus discípulos para além da torrente de Cedrom, onde havia
um jardim, no qual entrou com os seus discípulos.
Iria
iniciar-se o epílogo da trajetória terrena de Jesus, onde a exposição pública
do seu suplício representaria o resumo de tudo o que tinha ensinado, ou sejam,
as virtudes da humildade, desapego e simplicidade, para ninguém mais ter
dúvidas de que todos os sacrifícios são pequenos perto da recompensa da
evolução espiritual.
2. Judas, o traidor,
conhecia também aquele lugar, porque Jesus ia frequentemente para lá com os
seus discípulos.
Jesus
queria ser encontrado para que se cumprisse sua missão, com a aula prática das
virtudes em grau máximo. Aqueles que foram instrumentos do mal iriam encontram
a própria consciência, que lhes cobraria o alinhamento no bem, enquanto que
Jesus terminava seu périplo terreno e a humanidade ganharia, em conhecimento da
verdade, com o espetáculo dantesco que se resenrolaria aos olhos atônitos de
uns e cheios de lágrimas dos de boa vontade e tomados pelas trevas interiores
dos rebeldes e maldosos.
3. Tomou então Judas a
coorte e os guardas de serviço dos pontífices e dos fariseus, e chegaram ali com
lanternas, tochas e armas.
Judas
desempenhou o lamentável papel de denunciador, o que lhe custaria séculos de
sofrimentos regeneradores, sob o carinhoso apoio do próprio Mestre, até
culminar no sacrifício de Joana D’Arc, ocasião em que aquele discípulo
inicialmente desviado recebesse a palma da vitória sobre os defeitos morais,
adquirindo todas as virtudes. Jesus, para quem o tempo não existe, tendo acesso
a tudo, sabia que aquele discípulo somente produziria no bem daí a alguns
séculos, mas investiu nele assim mesmo, tanto quanto investiu em Nicodemos, nos
que o condenaram e continua investindo em todas as ovelhas do seu rebanho, para
que nenhuma se perca.
4. Como Jesus soubesse tudo o que havia de lhe acontecer, adiantou-se e perguntou-lhes: A quem buscais?
O
próprio evangelista afirma que Jesus sabia de tudo que lhe iria acontecer. Como
dito linhas atrás, para um Espírito Puro como Jesus não há o tempo,
diferentemente do que acontece com os que estão nos primeiros degraus da
evolução, que não têm acesso ao passado e nem ao futuro. Como só agem no bem,
sua inteligência se abre e recebem de Deus a ciência Divina, que abrange o
conhecimento aprofundado das leis de Deus.
5. Responderam: A Jesus de
Nazaré. Sou eu, disse-lhes. (Também Judas, o traidor, estava com eles.)
Jesus
se identificou, sem nenhum subterfúgio ou temor.
6. Quando lhes disse sou eu,
recuaram e caíram por terra.
O
impacto que sofreram foi tão grande que “recuaram e caíram por terra”: ali se
manifestava mais uma vez o poder de Deus, para que aqueles também ficassem
marcados para sempre e, no futuro, despertassem. Nada acontece por acaso e ali
estava a “estrada de Damasco” de alguns e a preparação para a “estrada de
Damasco” dos demais. Os próprios soldados que ali compareceram não foram escolhidos
por acaso. Quem entender de outra forma não estará ciente de que Deus encaminha
cada um de seus filhos para o bem de uma forma que somente Ele sabe, mas sua
pedagogia é perfeita.
7. Perguntou-lhes ele, pela
segunda vez: A quem buscais? Disseram: A Jesus de Nazaré.
É
importante notar que não foram os saldados que tomaram a iniciativa, mas sim
Jesus, pela segunda vez indagando-lhes sobre a quem procuravam. Eles ficaram
paralisados, como Emmanuel, então nas vestes do senador Públio Lentulo, diante
da luz do mundo.
8. Replicou Jesus: Já vos
disse que sou eu. Se é, pois, a mim que buscais, deixai ir estes.
Jesus
lhes pediu que somente levassem preso a Ele próprio, com o que concordaram. A luz
poderia simplesmente ter feito como das outras vezes em que tentaram prendê-lo
ou fazerem coisas semelhantes, mas simplesmente acompanhou aqueles homens
atordoados a partir daquele momento.
9. Assim se cumpriu a
palavra que disse: Dos que me deste não perdi nenhum (João 17,12).
Mais
uma confirmação da palavra das profecias.
10. Simão Pedro, que tinha
uma espada, puxou dela e feriu o servo do sumo sacerdote, decepando-lhe a
orelha direita. (O servo chamava-se Malco.)
Simão
Pedro, agindo como aluno recém saído das aulas teóricas, mas sem nenhuma
prática na missão que deveria desempenhar, optou pela reação violenta, no que
foi advertido pelo Mestre, com aprendizado geral pelo exemplo, que nunca mais
sairia da mente de nenhum daqueles Espíritos.
11. Mas Jesus disse a Pedro:
Enfia a tua espada na bainha! Não hei de beber eu o cálice que o Pai me deu?
Ali
estavam presentes os alunos que iriam fixar a lição da não violência,
tornando-se seus futuros divulgadores.
Anás interroga Jesus
12.Então a coorte, o tribuno
e os guardas dos judeus prenderam Jesus e o ataram.
Sem
nenhuma oposição do procurado, cumpriram seu dever de levarem-no preso.
13. Conduziram-no primeiro a
Anás, por ser sogro de Caifás, que era o sumo sacerdote daquele ano.
Agora
seria ensinada a lição a outro discípulo que sequer sabia que era seu discípulo,
para render frutos no porvir. Anás representava a ignorância arrogante, mas
ficaria marcado para sempre pela luz do mundo.
14. Caifás fora quem dera
aos judeus o conselho: Convém que um só homem morra em lugar do povo.
Caifás
era um dos alunos mais necessitados de se avistar com o Governador da Terra e
receber dele a marca da renovação espiritual.
15. Simão Pedro seguia
Jesus, e mais outro discípulo. Este discípulo era conhecido do sumo sacerdote e
entrou com Jesus no pátio da casa do sumo sacerdote,
Simão
Pedro necessitava aprender a amar de verdade para não oscilar mais entre a
violência e o medo. Por isso, foi levado a uma lição importante para a sua
evolução.
16. porém Pedro ficou de
fora, à porta. Mas o outro discípulo (que era conhecido do sumo sacerdote) saiu
e falou à porteira, e esta deixou Pedro entrar.
A
aula, para ele, iria começar ali, com suas três negativas.
Este
“outro discípulo” era provavelmente João, o autor deste Evangelho. Ele conhecia
o sumo sacerdote e identificou-se para a mulher na porta. Por causa de sua
amizade, o próprio João e Pedro entraram no pátio.
17. A porteira perguntou a
Pedro: Não és acaso também tu dos discípulos desse homem? Não o sou, respondeu
ele.
Aconteceu
a primeira negativa.
18. Os servos e os guardas
acenderam um fogo, porque fazia frio, e se aqueciam. Com eles estava também
Pedro, de pé, aquecendo-se.
Pedro
não tinha tido ainda a hombridade de reconhecer ter sido perjuro e traidor.
19. O sumo sacerdote indagou
de Jesus acerca dos seus discípulos e da sua doutrina.
O
aluno aturdido estava diante da segurança absoluta do Mestre e indagou-lhe
sobre o que não tinha evolução para entender: Sua doutrina.
20. Jesus respondeu-lhe:
Falei publicamente ao mundo. Ensinei na sinagoga e no templo, onde se reúnem os
judeus, e nada falei às ocultas.
A
resposta foi, em outras palavras: - Deus tenha piedade da sua incompreensão,
que Eu vim para esclarecer através das inúmeras oportunidades em que meus
ensinos e minha exemplificação chegaram ao seu conhecimento!
21. Por que me perguntas?
Pergunta àqueles que ouviram o que lhes disse. Estes sabem o que ensinei.
Em
outras palavras, Jesus lhe disse: - Sua consciência sabe que Deus o está
chamando por meu intermédio. Desperte!
22. A estas palavras, um dos
guardas presentes deu uma bofetada em Jesus, dizendo: É assim que respondes ao
sumo sacerdote?
O
bajulador! Triste figura, que se rebaixa em troca de benesses que deveria
conquistar pelo merecimento! Assim procedem os acomodados, os timoratos e todos
aqueles que querem ser vencedores às custas do merecimento e do destaque
alheio.
23. Replicou-lhe Jesus: Se
falei mal, prova-o, mas se falei bem, por que me bates?
Era
outro aluno, este precisado da lição da dignidade.
24. Anás enviou-o preso ao
sumo sacerdote Caifás.
Jesus
tinha de trabalhar para despertar os capelinos degredados.
25. Simão Pedro estava lá se
aquecendo. Perguntaram-lhe: Não és porventura, também tu, dos seus discípulos?
Negou-o, dizendo: Não!
A
segunda negativa.
26. Disse-lhe um dos servos
do sumo sacerdote, parente daquele a quem Pedro cortara a orelha: Não te vi eu
com ele no horto?
O
terceiro teste.
27. Mas Pedro negou-o outra
vez, e imediatamente o galo cantou.
A
terceira negativa.
Jesus perante Pilatos
28. Da casa de Caifás
conduziram Jesus ao pretório. Era de manhã cedo. Mas os judeus não entraram no
pretório, para não se contaminarem e poderem comer a Páscoa.
Agora
Jesus se avistaria com o aluno iludido com o poder.
29. Saiu, por isso, Pilatos
para ter com eles, e perguntou: Que acusação trazeis contra este homem?
Inteirando-se
do caso, segundo a versão dos acusadores, teria de decidir com justiça, o que
exige coragem e honestidade, qualidades que aquele aluno iria começar a
adquirir a partir daquele processo, depois de omitir-se, assumindo grave culpa
perante a própria consciência.
30. Responderam-lhe: Se este
não fosse malfeitor, não o teríamos entregue a ti.
Somente
a acusação tinha falado até então.
31. Disse, então, Pilatos:
Tomai-o e julgai-o vós mesmos segundo a vossa lei. Responderam-lhe os judeus:
Não nos é permitido matar ninguém.
O
juiz não queria eximir-se do seu dever.
32. Assim se cumpria a
palavra com a qual Jesus indicou de que gênero de morte havia de morrer (Mateus
20,19).
Mais
uma confirmação das profecias dos antigos.
33. Pilatos entrou no
pretório, chamou Jesus e perguntou-lhe: És tu o rei dos judeus?
Agora
estava sendo equilibrada a balança da justiça, ouvindo-se o acusado.
34. Jesus respondeu: Dizes
isso por ti mesmo, ou foram outros que to disseram de mim?
Jesus
lhe afirmou, em outras palavras: - Assuma sua dignidade! Seja forte para vencer
suas más tendências! Cresça espiritualmente! Eis chegada sua grande
oportunidade!
35. Disse Pilatos: Acaso sou
eu judeu? A tua nação e os sumos sacerdotes entregaram-te a mim. Que fizeste?
Pilatos
seguiu adiante, na aparência de cumprir seu dever de juiz.
36. Respondeu Jesus: O meu
Reino não é deste mundo. Se o meu Reino fosse deste mundo, os meus súditos
certamente teriam pelejado para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu
Reino não é deste mundo.
Jesus
estava convidando aquele capelino degredado para segui-lo, pois, somente assim,
poderia retornar ao seu mundo de origem.
37. Perguntou-lhe então
Pilatos: És, portanto, rei? Respondeu Jesus: Sim, eu sou rei. É para dar
testemunho da verdade que nasci e vim ao mundo. Todo o que é da verdade ouve a
minha voz.
Jesus
lhe afirmou: - Sou o Governador da Terra. Detenho a autoridade que me foi dada
por Deus. Venha comigo!
Pilatos autoriza a crucificação de Jesus
38. Disse-lhe Pilatos: Que é
a verdade?. Falando isso, saiu de novo, foi ter com os judeus e disse-lhes: Não
acho nele crime algum.
Pilatos
preferiu passar aos acusadores a responsabilidade de julgar que era dele. Tinha
perdido a chance de começar sua redenção, absolvendo um inocente.
39. Mas é costume entre vós
que pela Páscoa vos solte um preso. Quereis, pois, que vos solte o rei dos
judeus?
Deixou
aos acusadores a opção de desistirem da acusação.
40. Então todos gritaram
novamente e disseram: Não! A este não! Mas a Barrabás! (Barrabás era um
salteador.)
Os
acusadores queriam a eliminação do Messias, que lhes cobrava honestidade no
trato das coisas de Deus. Sabiam ser Ele o Messias, mas não admitiam que lhes
ensinasse a verdade, a qual temiam.
Fonte:
O Evangelho de João na visão espírita (e-book)
Bíblia de estudo aplicação pessoal. CPAD, 2004
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