A incredulidade dos irmãos de Jesus
1. Depois disso, Jesus
percorria a Galileia. Ele não queria deter-se na Judeia, porque os judeus
procuravam tirar-lhe a vida.
Jesus
tinha de correr risco de vida, porque isso fazia parte da sua programação. Cada
minuto da sua encarnação era importante para despertar as consciências e
impulsionar a evolução geral e a de alguns, que se transformariam, na época
certa, em divulgadores da Boa Nova. Não se intimidava com a possibilidade de
perder a vida corporal, mas sabia que essa hora não havia chegado e, quando
chegou, encarou-a como o Mestre que era e que estava ensinando aos seus pupilos
que o que importa é o Espírito e não o corpo, tanto que falou anteriormente que
poderia recompor o templo do corpo rapidamente.
2. Aproximava-se a festa dos
judeus chamada dos Tabernáculos.
O
evangelista procura aqui dar uma referência sobre a época em que os fatos que
vai narrar aconteceram: a proximidade da festa dos Tabernáculos.
A Festa
dos Tabernáculos é descrita em Levítico 23:33 e seguintes. Ela ocorria em
outubro, aproximadamente seis meses após a celebração da Páscoa (6:2-5). Essa festa
comemorava os dias em que os israelitas peregrinaram pelo deserto e habitaram
em tendas (Levítico, 23:43).
3. Seus irmãos disseram-lhe:
Parte daqui e vai para a Judeia, a fim de que também os teus discípulos vejam
as obras que fazes.
Os
irmãos de Jesus não compreendiam suas ideias e queriam distância dele.
4. Pois quem deseja ser conhecido em público não faz coisa alguma ocultamente. Já que fazes essas obras, revela-te ao mundo.
Talvez
pensassem que fosse vaidoso.
5. Com efeito, nem mesmo os
seus irmãos acreditavam nele.
O evangelista foi claro na afirmativa de que os
irmãos de Jesus não acreditavam nele. Não terá sido por acaso que foram
reunidos aqueles Espíritos na mesma família: Jesus, sua mãe e seu pai, que eram
Espíritos Superiores, ao lado dos irmãos de Jesus, que eram pouco evoluídos
moralmente! Esse tipo de situação acontece frequentemente, sendo necessário que
evoluídos e involuídos convivam para uns aprenderem com os outros. No caso de
Jesus, sua mãe e seu pai terá sido necessária sua exemplificação para despertar
aqueles Espíritos adormecidos nos interesses materiais. Veja-se que, além da missão
pública, Jesus tinha que orientar, pela exemplificação, os próprios irmãos
consanguíneos. Quanta gente reclama de ter de conviver com parentes difíceis,
mas Jesus exemplificou a necessidade dessa convivência! Quando tivermos dúvidas
sobre qualquer situação ou forma correta de pensar ou proceder verifiquemos
como Jesus fez ou imaginemos como faria.
6. Disse-lhes Jesus: O meu
tempo ainda não chegou, mas para vós a hora é sempre favorável.
Em outras palavras, afirmou-lhes que eles não
estavam interessados nas coisas de Deus.
7. O mundo não vos pode
odiar, mas odeia-me, porque eu testemunho contra ele que as suas obras são más.
Jesus tinha realmente de “desagradar” suas ovelhas
rebeldes, pois, como responsável perante Deus para que nenhuma delas se
perdesse, competia-lhes cuidar delas, mesmo que ministrando-lhes, quando
necessário, algum remédio amargo.
8. Subi vós para a festa.
Quanto a mim, eu não irei, porque ainda não chegou o meu tempo.
Que, então, os irmãos seguissem os caminhos do
materialismo, pois somente acordariam mais tarde!
9. Dito isto, permaneceu na
Galileia.
Jesus continuou mais um tempo na Galileia, na certa
que aproveitando as horas e os minutos na sua missão.
Jesus ensina
abertamente no templo
10. Mas quando os seus
irmãos tinham subido, então subiu também ele à festa, não em público, mas
despercebidamente.
Jesus deveria continuar na sua tarefa divulgadora,
expondo-se à avaliação pública.
11. Buscavam-no os judeus
durante a festa e perguntavam: Onde está ele?
Queriam prendê-lo e tirar-lhe a vida, mas não havia
chegado ainda a hora: ainda tinha que expor a verdade a muitos.
12. E na multidão só se
discutia a respeito dele. Uns diziam: É homem de bem. Outros, porém, diziam:
Não é, ele seduz o povo.
Jesus não veio trazer a paz morna da estagnação
moral, mas a cisão entre os que queriam enfrentar o esforço da autorreforma
moral e os que viviam satisfeitos com o imediatismo mundano e o materialismo.
Por isso, formaram-se dois partidos: um que acreditava nele e outro que lhe era
contrário.
13. Ninguém, contudo, ousava
falar dele livremente com medo dos judeus.
Os seus partidários, contudo, geralmente não
declaravam publicamente, como, aliás, acontece até hoje, quando os bons são
tímidos ou mesmo se acovardam e fica parecendo que o mal tem mais força que o bem,
devido à “timidez dos bons” e à “ousadia dos maus”. É preciso que os bons se
afirmem, “coloquem a candeia sobre o candeeiro, a fim de que dê luz a todos os
que estão na casa”, como Jesus ensinou pelo exemplo de determinação e coragem.
14. Lá pelo meio da festa,
Jesus subiu ao templo e pôs-se a ensinar.
Jesus realmente nada temia e se expunha
publicamente nos momentos que julgava propícios.
15. Os judeus se admiravam e
diziam: Este homem não fez estudos. Donde lhe vem, pois, este conhecimento das
Escrituras?
Atestados
acadêmicos não significam inteligência bem dotada. Jesus era o Mestre de todos
os mestres, sem contar que era o médium de Deus: daí sua perfeição em todos os
aspectos, inclusive na exposição sobre as coisas de Deus.
16. Respondeu-lhes Jesus: A
minha doutrina não é minha, mas daquele que me enviou.
Jesus
era o médium de Deus e, com isso, a verdade arrastava as multidões, convencendo
os de boa fé e estarrecendo os malévolos. Todavia, todos eram suas ovelhas, a
quem Ele tinha de orientar para o bem.
17. Se alguém quiser cumprir
a vontade de Deus, distinguirá se a minha doutrina é de Deus ou se falo de mim
mesmo.
Propunha
a todos que analisassem seus ensinamentos: se eram de Deus ou não.
18. Quem fala por própria
autoridade busca a própria glória, mas quem procura a glória de quem o enviou é
digno de fé e nele não há impostura alguma.
Quem
se manifesta inspirado pelos Espíritos Superiores convence os de boa fé. Jesus
se manifestava inspirado diretamente por Deus: imagine-se o impacto que causava
no psiquismo de cada um!
19. Acaso não foi Moisés
quem vos deu a lei? No entanto, ninguém de vós cumpre a lei. Por que procurais
tirar-me a vida?
Aqueles
homens conheciam a Lei Mosaica, mas não a praticavam. Se a praticassem, seriam
bons.
20. Respondeu o povo: Tens
um demônio! Quem procura tirar-te a vida?
Jesus
dialogava com amor mas de forma direta nos pontos nevrálgicos, como pedagogo e psicólogo
magistral.
21. Replicou Jesus: Fiz uma
só obra, e todos vós vos maravilhais!
Não
havia como negarem os fenômenos, mas se recusavam à autorreforma moral. Se
Jesus tivesse se limitado aos fenômenos, teria sido aceito até pelo mais
malévolo dos seus compatriotas, mas Ele veio para mudar os paradigmas éticos:
por isso lhe fizeram oposição os corruptos e malfeitores.
22. Moisés vos deu a
circuncisão (se bem que ela não é de Moisés, mas dos patriarcas), e até no
sábado circuncidais um homem!
A
hipocrisia foi desmascarada publicamente por Jesus, não com a intenção de
rebaixar aquelas ovelhas desgarradas, mas com o sentimento do amor que sentia
por seus pupilos, que compõem a humanidade da Terra.
23. Se um homem recebe a
circuncisão em dia de sábado, e isso sem violar a Lei de Moisés, por que vos
indignais comigo, que tenho curado um homem em todo o seu corpo em dia de
sábado?
Os
argumentos embasados na verdade, na justiça e no amor são irrespondíveis.
24. Não julgueis pela
aparência, mas julgai conforme a justiça.
O
chamamento à razão, à honestidade no avaliar seus ensinamentos. Os degredados
de Capela estavam tendo a oportunidade de se redimirem, para poderem voltar ao
seu mundo de origem!
25. Algumas das pessoas de
Jerusalém diziam: Não é este aquele a quem procuram tirar a vida?
Os
acovardados não conseguiam entender como Ele pudesse se expor publicamente
quando queriam tirar-lhe a vida.
26. Todavia, ei-lo que fala
em público e não lhe dizem coisa alguma. Porventura reconheceram de fato as
autoridades que ele é o Cristo?
Jesus
tinha a força do amor: daí sua autoridade e coragem.
27. Mas este nós sabemos de
onde vem. Do Cristo, porém, quando vier, ninguém saberá de onde seja.
Não
havia como alguém ficar neutro naquelas oportunidades, onde o bem e o mal se
olhavam um nos olhos do outro: as pessoas tinham de optar entre Jesus e os
sacerdotes do materialismo.
28. Enquanto ensinava no
templo, Jesus exclamou: Ah! Vós me conheceis e sabeis de onde eu sou!...
Entretanto, não vim de mim mesmo, mas é verdadeiro aquele que me enviou, e vós
não o conheceis.
Jesus
não perdia nenhuma oportunidade de afirmar a grandeza de Deus, que o tinha
enviado.
29. Eu o conheço, porque
venho dele e ele me enviou.
Jesus
recusou o qualificativo de bom, afirmando que somente o Pai merece essa
nomenclatura.
30. Procuraram prendê-lo,
mas ninguém lhe deitou as mãos, porque ainda não era chegada a sua hora.
Não
tinha chegado a hora da prisão. Aliás, se Jesus quisesse, nunca teria sido
preso, uma vez que seu poder espiritual dominaria facilmente qualquer pessoa ou
situação.
31. Muitos do povo, porém,
creram nele e perguntavam: Quando vier o Cristo, fará mais milagres do que este
faz?
Os
de boa fé ficaram convencidos da ligação de Jesus com Deus e se transformariam
em seus discípulos, cujo número deve ter sido muito maior do que se pode
imaginar, pois os relatos evangélicos são extremamente sucintos quanto a esse
aspecto. Esses homens e mulheres, na verdade, nasceram naquele contexto, com
programação específica para funcionarem como divulgadores da Boa Nova, que se
propagou, em tempo recorde, em todas as direções.
Líderes religiosos tentam prender Jesus
32. Os fariseus ouviram esse
murmúrio que circulava entre o povo a respeito de Jesus. Então, de acordo com
eles, os príncipes dos sacerdotes enviaram guardas para prendê-lo.
Queriam
enfrentar o sublime Governador da Terra, aquele que, com um sopro, poderia
jogar por terra qualquer Espírito, sem nenhuma chance de reação! Quanta
ignorância!
33. Disse Jesus: Ainda por
um pouco de tempo estou convosco e então vou para aquele que me enviou.
Jesus
os avisava de que logo voltaria para as esferas de onde comandava a evolução
planetária, mas não tinham condições de entender tanta superioridade, aliás,
embasada no amor, no cumprimento das leis divinas desde muito antes que
qualquer daqueles Espíritos fosse criado por Deus.
34. Buscar-me-eis sem me
achar, nem podereis ir para onde estou.
Efetivamente,
nenhum daqueles miseráveis da ética, vermes espirituais, se comparados com a grandeza
de Jesus, tinha condições de entender, na sua rebeldia, que Ele os amava e
estava lutando para despertá-los para a evolução.
35. Os judeus perguntavam
entre si: Para onde irá ele, que o não possamos achar? Porventura irá para o
meio dos judeus dispersos entre os gregos, para tornar-se o doutor dos
estrangeiros?
A
horizontalidade não conseguiria, a curto prazo, compreender aquele Espírito que
nunca errou! Talvez nunca venhamos a entender a verticalidade absoluta! aqueles
Espíritos, na verdade, são o retrato do que fomos até há pouco tempo atrás. Por
isso, agora, tentamos nossa redenção, falando tanto sobre Jesus, quando antes
utilizamos seu nome para o mal.
36. Que significam essas
palavras que nos disse: Buscar-me-eis sem me achar, e onde estou para lá não
podereis ir?
Espíritos
degredados, umbralinos ou declaradamente trevosos, nada sabiam das esferas de
Luz!
37. No último dia, que é o
principal dia de festa, estava Jesus de pé e clamava: Se alguém tiver sede,
venha a mim e beba.
O
chamamento geral era feito para chegar aos olhos e ouvidos de quem tinha “olhos
de ver e ouvidos de ouvir”, pois o tempo urgia e chegava a hora de Jesus
retornar ao mundo espiritual.
38. Quem crê em mim, como
diz a Escritura: Do seu interior manarão rios de água viva (Zacarias, 14:8; Isaías,
58:11).
O
despertamento é individual, resultado do amadurecimento a tempo e modo, porque
“a natureza não dá saltos”. Jesus se dirigia aos que já tinham condições de
assimilar a verdade, ficando cada um livre para admiti-la ou não. Quanto aos
Espíritos muito primitivos, não estariam desamparados, pois chegaria sua vez de
ouvirem o chamamento, que ocorre não exteriormente, mas no íntimo de cada um.
Jesus nunca pretendeu centralizar nada, aliás, muito pelo contrário, afirmava
que o Pai é que detinha o poder, sendo que Ele, Jesus, era seu mandatário.
39. Dizia isso, referindo-se
ao Espírito que haviam de receber os que cressem nele, pois ainda não fora dado
o Espírito, visto que Jesus ainda não tinha sido glorificado.
A
evolução é resultado do mérito individual. Jesus não objetivava conseguir ser
acreditado pelas pessoas, mas sim que se adequassem às regras morais
estabelecidas por Deus.
41. Ouvindo essas palavras,
alguns daquela multidão diziam: Este é realmente o profeta.
Os
de boa fé reconheciam que Jesus era o porta-voz de Deus, muito mais pela sua
exemplificação diária do que pelas lições ensinadas por outras formas.
41. Outros diziam: Este é o
Cristo. Mas outros protestavam: É acaso da Galileia que há de vir o Cristo?
Os
partidários de Jesus afirmavam que Ele era o Messias, enquanto que seus
opositores utilizavam como um dos argumentos o desprezo que tinham pela
Galileia, de onde Ele provinha.
42. Não diz a Escritura: O
Cristo há de vir da família de Davi, e da aldeia de Belém, onde vivia Davi?
Seus
simpatizantes e seus adeptos justificavam com argumentos do Antigo Testamento
que Ele era o Messias.
43. Houve por isso divisão
entre o povo por causa dele.
Fazia
parte da estratégia de Jesus despertar o debate sobre suas lições e, realmente,
esse passou a ser o assunto do momento entre os seus patrícios.
44. Alguns deles queriam
prendê-lo, mas ninguém lhe lançou as mãos.
Até
então, não tinha chegado o momento das intenções malévolas de alguns se
concretizarem na prisão e condenação de Jesus. Ele disseminava a verdade
aparentemente sob ameaça constante, mas a verdade é que, como Governador do
planeta, poderia ter afastado o perigo facilmente. Seu objetivo, porém, era
outro, qual seja, resgatar para o bem os Espíritos transviados no mal e
encaminhar aqueles que se mostravam receptivos.
45. Voltaram os guardas para
junto dos príncipes dos sacerdotes e fariseus, que lhes perguntaram: Por que
não o trouxestes?
Até
os militares encarregados de o prenderem se recusaram a cometer aquela
injustiça.
46. Os guardas responderam:
Jamais homem algum falou como este homem.
Novas
adesões ocorriam a todo momento, na certa incomodando os dirigentes daquela
sociedade distante dos padrões morais pregados até por Moisés e os profetas
antigos.
47. Replicaram os fariseus:
Porventura também vós fostes seduzidos?
Os
membros das elites não pretendiam que alguém os lembrasse dos deveres impostos
pela Lei Mosaica e muito menos por quem lhes falasse em autorreforma mora, pois
a religiosidade, então, para a maioria se resumia em cumprir determinadas
prescrições exteriores.
48. Há, acaso, alguém dentre
as autoridades ou fariseus que acreditou nele?
Ficou
a indagação sobre se alguma pessoa importante na sociedade tivesse “perdido o
juízo” e aderido à ideologia de Jesus...
49. Este poviléu que não
conhece a lei é amaldiçoado.
Então,
chamou-se o povo de ignaro, facilmente enganável, mas esqueceram-se de que o amor
é que funcionava como verdadeiro ímã.
50. Replicou-lhes Nicodemos,
um deles, o mesmo que de noite o fora procurar:
Nicodemos,
tendo participado daquela assembleia, defendeu Jesus, demonstrando coragem e
integridade moral, que estivesse convencido da veracidade ou não das lições de
Jesus.
51. Condena acaso a nossa
lei algum homem, antes de o ouvir e conhecer o que ele faz?
Nicodemos
queria ser justo. O diálogo com Jesus produziu resultados concretos,
induzindo-o à sua autorreforma moral.
52. Responderam-lhe:
Porventura és também tu galileu? Informa-te bem e verás que da Galileia não
saiu profeta.
Não
ficaram satisfeitos com a imparcialidade de Nicodemos, que tinha passado a
representar um tropeço para seus pares, a quem interessava somente o apoio
incondicional, sem imparcialidade.
Tratava-se
de um alerta a Nicodemos para não defender Jesus. Nicodemos já não era o antigo
aliado incondicional dos facciosos fariseus: a semente plantada por Jesus tinha
frutificado!
53. E voltaram, cada um para
sua casa.
Encerrada
a reunião cada qual foi para casa.
Fonte:
O Evangelho de João na visão espírita (e-book)
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