Evangelho segundo João - cap. 7

A incredulidade dos irmãos de Jesus

1. Depois disso, Jesus percorria a Galileia. Ele não queria deter-se na Judeia, porque os judeus procuravam tirar-lhe a vida.

Jesus tinha de correr risco de vida, porque isso fazia parte da sua programação. Cada minuto da sua encarnação era importante para despertar as consciências e impulsionar a evolução geral e a de alguns, que se transformariam, na época certa, em divulgadores da Boa Nova. Não se intimidava com a possibilidade de perder a vida corporal, mas sabia que essa hora não havia chegado e, quando chegou, encarou-a como o Mestre que era e que estava ensinando aos seus pupilos que o que importa é o Espírito e não o corpo, tanto que falou anteriormente que poderia recompor o templo do corpo rapidamente.

2. Aproximava-se a festa dos judeus chamada dos Tabernáculos.

O evangelista procura aqui dar uma referência sobre a época em que os fatos que vai narrar aconteceram: a proximidade da festa dos Tabernáculos.

A Festa dos Tabernáculos é descrita em Levítico 23:33 e seguintes. Ela ocorria em outubro, aproximadamente seis meses após a celebração da Páscoa (6:2-5). Essa festa comemorava os dias em que os israelitas peregrinaram pelo deserto e habitaram em tendas (Levítico, 23:43).

3. Seus irmãos disseram-lhe: Parte daqui e vai para a Judeia, a fim de que também os teus discípulos vejam as obras que fazes.

Os irmãos de Jesus não compreendiam suas ideias e queriam distância dele.

4. Pois quem deseja ser conhecido em público não faz coisa alguma ocultamente. Já que fazes essas obras, revela-te ao mundo.

Talvez pensassem que fosse vaidoso.

5. Com efeito, nem mesmo os seus irmãos acreditavam nele.

O evangelista foi claro na afirmativa de que os irmãos de Jesus não acreditavam nele. Não terá sido por acaso que foram reunidos aqueles Espíritos na mesma família: Jesus, sua mãe e seu pai, que eram Espíritos Superiores, ao lado dos irmãos de Jesus, que eram pouco evoluídos moralmente! Esse tipo de situação acontece frequentemente, sendo necessário que evoluídos e involuídos convivam para uns aprenderem com os outros. No caso de Jesus, sua mãe e seu pai terá sido necessária sua exemplificação para despertar aqueles Espíritos adormecidos nos interesses materiais. Veja-se que, além da missão pública, Jesus tinha que orientar, pela exemplificação, os próprios irmãos consanguíneos. Quanta gente reclama de ter de conviver com parentes difíceis, mas Jesus exemplificou a necessidade dessa convivência! Quando tivermos dúvidas sobre qualquer situação ou forma correta de pensar ou proceder verifiquemos como Jesus fez ou imaginemos como faria.

6. Disse-lhes Jesus: O meu tempo ainda não chegou, mas para vós a hora é sempre favorável.

Em outras palavras, afirmou-lhes que eles não estavam interessados nas coisas de Deus.

7. O mundo não vos pode odiar, mas odeia-me, porque eu testemunho contra ele que as suas obras são más.

Jesus tinha realmente de “desagradar” suas ovelhas rebeldes, pois, como responsável perante Deus para que nenhuma delas se perdesse, competia-lhes cuidar delas, mesmo que ministrando-lhes, quando necessário, algum remédio amargo.

8. Subi vós para a festa. Quanto a mim, eu não irei, porque ainda não chegou o meu tempo.

Que, então, os irmãos seguissem os caminhos do materialismo, pois somente acordariam mais tarde!

9. Dito isto, permaneceu na Galileia.

Jesus continuou mais um tempo na Galileia, na certa que aproveitando as horas e os minutos na sua missão.

Jesus ensina abertamente no templo

10. Mas quando os seus irmãos tinham subido, então subiu também ele à festa, não em público, mas despercebidamente.

Jesus deveria continuar na sua tarefa divulgadora, expondo-se à avaliação pública.

11. Buscavam-no os judeus durante a festa e perguntavam: Onde está ele?

Queriam prendê-lo e tirar-lhe a vida, mas não havia chegado ainda a hora: ainda tinha que expor a verdade a muitos.

12. E na multidão só se discutia a respeito dele. Uns diziam: É homem de bem. Outros, porém, diziam: Não é, ele seduz o povo.

Jesus não veio trazer a paz morna da estagnação moral, mas a cisão entre os que queriam enfrentar o esforço da autorreforma moral e os que viviam satisfeitos com o imediatismo mundano e o materialismo. Por isso, formaram-se dois partidos: um que acreditava nele e outro que lhe era contrário.

13. Ninguém, contudo, ousava falar dele livremente com medo dos judeus.

Os seus partidários, contudo, geralmente não declaravam publicamente, como, aliás, acontece até hoje, quando os bons são tímidos ou mesmo se acovardam e fica parecendo que o mal tem mais força que o bem, devido à “timidez dos bons” e à “ousadia dos maus”. É preciso que os bons se afirmem, “coloquem a candeia sobre o candeeiro, a fim de que dê luz a todos os que estão na casa”, como Jesus ensinou pelo exemplo de determinação e coragem.

14. Lá pelo meio da festa, Jesus subiu ao templo e pôs-se a ensinar.

Jesus realmente nada temia e se expunha publicamente nos momentos que julgava propícios.

15. Os judeus se admiravam e diziam: Este homem não fez estudos. Donde lhe vem, pois, este conhecimento das Escrituras?

Atestados acadêmicos não significam inteligência bem dotada. Jesus era o Mestre de todos os mestres, sem contar que era o médium de Deus: daí sua perfeição em todos os aspectos, inclusive na exposição sobre as coisas de Deus.

16. Respondeu-lhes Jesus: A minha doutrina não é minha, mas daquele que me enviou.

Jesus era o médium de Deus e, com isso, a verdade arrastava as multidões, convencendo os de boa fé e estarrecendo os malévolos. Todavia, todos eram suas ovelhas, a quem Ele tinha de orientar para o bem.

17. Se alguém quiser cumprir a vontade de Deus, distinguirá se a minha doutrina é de Deus ou se falo de mim mesmo.

Propunha a todos que analisassem seus ensinamentos: se eram de Deus ou não.

18. Quem fala por própria autoridade busca a própria glória, mas quem procura a glória de quem o enviou é digno de fé e nele não há impostura alguma.

Quem se manifesta inspirado pelos Espíritos Superiores convence os de boa fé. Jesus se manifestava inspirado diretamente por Deus: imagine-se o impacto que causava no psiquismo de cada um!

19. Acaso não foi Moisés quem vos deu a lei? No entanto, ninguém de vós cumpre a lei. Por que procurais tirar-me a vida? 

Aqueles homens conheciam a Lei Mosaica, mas não a praticavam. Se a praticassem, seriam bons.

20. Respondeu o povo: Tens um demônio! Quem procura tirar-te a vida?

Jesus dialogava com amor mas de forma direta nos pontos nevrálgicos, como pedagogo e psicólogo magistral.

21. Replicou Jesus: Fiz uma só obra, e todos vós vos maravilhais!

Não havia como negarem os fenômenos, mas se recusavam à autorreforma moral. Se Jesus tivesse se limitado aos fenômenos, teria sido aceito até pelo mais malévolo dos seus compatriotas, mas Ele veio para mudar os paradigmas éticos: por isso lhe fizeram oposição os corruptos e malfeitores.

22. Moisés vos deu a circuncisão (se bem que ela não é de Moisés, mas dos patriarcas), e até no sábado circuncidais um homem!

A hipocrisia foi desmascarada publicamente por Jesus, não com a intenção de rebaixar aquelas ovelhas desgarradas, mas com o sentimento do amor que sentia por seus pupilos, que compõem a humanidade da Terra.

23. Se um homem recebe a circuncisão em dia de sábado, e isso sem violar a Lei de Moisés, por que vos indignais comigo, que tenho curado um homem em todo o seu corpo em dia de sábado?

Os argumentos embasados na verdade, na justiça e no amor são irrespondíveis.

24. Não julgueis pela aparência, mas julgai conforme a justiça.

O chamamento à razão, à honestidade no avaliar seus ensinamentos. Os degredados de Capela estavam tendo a oportunidade de se redimirem, para poderem voltar ao seu mundo de origem!

25. Algumas das pessoas de Jerusalém diziam: Não é este aquele a quem procuram tirar a vida?

Os acovardados não conseguiam entender como Ele pudesse se expor publicamente quando queriam tirar-lhe a vida.

26. Todavia, ei-lo que fala em público e não lhe dizem coisa alguma. Porventura reconheceram de fato as autoridades que ele é o Cristo?

Jesus tinha a força do amor: daí sua autoridade e coragem.

27. Mas este nós sabemos de onde vem. Do Cristo, porém, quando vier, ninguém saberá de onde seja.

Não havia como alguém ficar neutro naquelas oportunidades, onde o bem e o mal se olhavam um nos olhos do outro: as pessoas tinham de optar entre Jesus e os sacerdotes do materialismo.

28. Enquanto ensinava no templo, Jesus exclamou: Ah! Vós me conheceis e sabeis de onde eu sou!... Entretanto, não vim de mim mesmo, mas é verdadeiro aquele que me enviou, e vós não o conheceis.

Jesus não perdia nenhuma oportunidade de afirmar a grandeza de Deus, que o tinha enviado.

29. Eu o conheço, porque venho dele e ele me enviou.

Jesus recusou o qualificativo de bom, afirmando que somente o Pai merece essa nomenclatura.

30. Procuraram prendê-lo, mas ninguém lhe deitou as mãos, porque ainda não era chegada a sua hora.

Não tinha chegado a hora da prisão. Aliás, se Jesus quisesse, nunca teria sido preso, uma vez que seu poder espiritual dominaria facilmente qualquer pessoa ou situação.

31. Muitos do povo, porém, creram nele e perguntavam: Quando vier o Cristo, fará mais milagres do que este faz?

Os de boa fé ficaram convencidos da ligação de Jesus com Deus e se transformariam em seus discípulos, cujo número deve ter sido muito maior do que se pode imaginar, pois os relatos evangélicos são extremamente sucintos quanto a esse aspecto. Esses homens e mulheres, na verdade, nasceram naquele contexto, com programação específica para funcionarem como divulgadores da Boa Nova, que se propagou, em tempo recorde, em todas as direções.

Líderes religiosos tentam prender Jesus

32. Os fariseus ouviram esse murmúrio que circulava entre o povo a respeito de Jesus. Então, de acordo com eles, os príncipes dos sacerdotes enviaram guardas para prendê-lo.

Queriam enfrentar o sublime Governador da Terra, aquele que, com um sopro, poderia jogar por terra qualquer Espírito, sem nenhuma chance de reação! Quanta ignorância!

33. Disse Jesus: Ainda por um pouco de tempo estou convosco e então vou para aquele que me enviou.

Jesus os avisava de que logo voltaria para as esferas de onde comandava a evolução planetária, mas não tinham condições de entender tanta superioridade, aliás, embasada no amor, no cumprimento das leis divinas desde muito antes que qualquer daqueles Espíritos fosse criado por Deus.

34. Buscar-me-eis sem me achar, nem podereis ir para onde estou.

Efetivamente, nenhum daqueles miseráveis da ética, vermes espirituais, se comparados com a grandeza de Jesus, tinha condições de entender, na sua rebeldia, que Ele os amava e estava lutando para despertá-los para a evolução.

35. Os judeus perguntavam entre si: Para onde irá ele, que o não possamos achar? Porventura irá para o meio dos judeus dispersos entre os gregos, para tornar-se o doutor dos estrangeiros?

A horizontalidade não conseguiria, a curto prazo, compreender aquele Espírito que nunca errou! Talvez nunca venhamos a entender a verticalidade absoluta! aqueles Espíritos, na verdade, são o retrato do que fomos até há pouco tempo atrás. Por isso, agora, tentamos nossa redenção, falando tanto sobre Jesus, quando antes utilizamos seu nome para o mal.

36. Que significam essas palavras que nos disse: Buscar-me-eis sem me achar, e onde estou para lá não podereis ir?

Espíritos degredados, umbralinos ou declaradamente trevosos, nada sabiam das esferas de Luz!

37. No último dia, que é o principal dia de festa, estava Jesus de pé e clamava: Se alguém tiver sede, venha a mim e beba.

O chamamento geral era feito para chegar aos olhos e ouvidos de quem tinha “olhos de ver e ouvidos de ouvir”, pois o tempo urgia e chegava a hora de Jesus retornar ao mundo espiritual.

38. Quem crê em mim, como diz a Escritura: Do seu interior manarão rios de água viva (Zacarias, 14:8; Isaías, 58:11).

O despertamento é individual, resultado do amadurecimento a tempo e modo, porque “a natureza não dá saltos”. Jesus se dirigia aos que já tinham condições de assimilar a verdade, ficando cada um livre para admiti-la ou não. Quanto aos Espíritos muito primitivos, não estariam desamparados, pois chegaria sua vez de ouvirem o chamamento, que ocorre não exteriormente, mas no íntimo de cada um. Jesus nunca pretendeu centralizar nada, aliás, muito pelo contrário, afirmava que o Pai é que detinha o poder, sendo que Ele, Jesus, era seu mandatário.

39. Dizia isso, referindo-se ao Espírito que haviam de receber os que cressem nele, pois ainda não fora dado o Espírito, visto que Jesus ainda não tinha sido glorificado.

A evolução é resultado do mérito individual. Jesus não objetivava conseguir ser acreditado pelas pessoas, mas sim que se adequassem às regras morais estabelecidas por Deus.

41. Ouvindo essas palavras, alguns daquela multidão diziam: Este é realmente o profeta.

Os de boa fé reconheciam que Jesus era o porta-voz de Deus, muito mais pela sua exemplificação diária do que pelas lições ensinadas por outras formas.

41. Outros diziam: Este é o Cristo. Mas outros protestavam: É acaso da Galileia que há de vir o Cristo?

Os partidários de Jesus afirmavam que Ele era o Messias, enquanto que seus opositores utilizavam como um dos argumentos o desprezo que tinham pela Galileia, de onde Ele provinha.

42. Não diz a Escritura: O Cristo há de vir da família de Davi, e da aldeia de Belém, onde vivia Davi?

Seus simpatizantes e seus adeptos justificavam com argumentos do Antigo Testamento que Ele era o Messias.

43. Houve por isso divisão entre o povo por causa dele.

Fazia parte da estratégia de Jesus despertar o debate sobre suas lições e, realmente, esse passou a ser o assunto do momento entre os seus patrícios.

44. Alguns deles queriam prendê-lo, mas ninguém lhe lançou as mãos.

Até então, não tinha chegado o momento das intenções malévolas de alguns se concretizarem na prisão e condenação de Jesus. Ele disseminava a verdade aparentemente sob ameaça constante, mas a verdade é que, como Governador do planeta, poderia ter afastado o perigo facilmente. Seu objetivo, porém, era outro, qual seja, resgatar para o bem os Espíritos transviados no mal e encaminhar aqueles que se mostravam receptivos.

45. Voltaram os guardas para junto dos príncipes dos sacerdotes e fariseus, que lhes perguntaram: Por que não o trouxestes?

Até os militares encarregados de o prenderem se recusaram a cometer aquela injustiça.

46. Os guardas responderam: Jamais homem algum falou como este homem.

Novas adesões ocorriam a todo momento, na certa incomodando os dirigentes daquela sociedade distante dos padrões morais pregados até por Moisés e os profetas antigos.

47. Replicaram os fariseus: Porventura também vós fostes seduzidos?

Os membros das elites não pretendiam que alguém os lembrasse dos deveres impostos pela Lei Mosaica e muito menos por quem lhes falasse em autorreforma mora, pois a religiosidade, então, para a maioria se resumia em cumprir determinadas prescrições exteriores.

48. Há, acaso, alguém dentre as autoridades ou fariseus que acreditou nele?

Ficou a indagação sobre se alguma pessoa importante na sociedade tivesse “perdido o juízo” e aderido à ideologia de Jesus...

49. Este poviléu que não conhece a lei é amaldiçoado.

Então, chamou-se o povo de ignaro, facilmente enganável, mas esqueceram-se de que o amor é que funcionava como verdadeiro ímã.

50. Replicou-lhes Nicodemos, um deles, o mesmo que de noite o fora procurar:

Nicodemos, tendo participado daquela assembleia, defendeu Jesus, demonstrando coragem e integridade moral, que estivesse convencido da veracidade ou não das lições de Jesus.

51. Condena acaso a nossa lei algum homem, antes de o ouvir e conhecer o que ele faz?

Nicodemos queria ser justo. O diálogo com Jesus produziu resultados concretos, induzindo-o à sua autorreforma moral.

52. Responderam-lhe: Porventura és também tu galileu? Informa-te bem e verás que da Galileia não saiu profeta.

Não ficaram satisfeitos com a imparcialidade de Nicodemos, que tinha passado a representar um tropeço para seus pares, a quem interessava somente o apoio incondicional, sem imparcialidade.

Tratava-se de um alerta a Nicodemos para não defender Jesus. Nicodemos já não era o antigo aliado incondicional dos facciosos fariseus: a semente plantada por Jesus tinha frutificado!

53. E voltaram, cada um para sua casa.

Encerrada a reunião cada qual foi para casa.

Fonte:

O Evangelho de João na visão espírita (e-book)

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