Parábola do semeador. Explicação dessa
parábola
(Mateus,
13:1-23; Lucas, 8:1-15,18; 10:23,24)
1.
Pôs-se de novo a ensinar próximo ao mar e, como enorme fosse a multidão que ali
se reuniu, Ele subiu para uma barca e se sentou, ficando todo o povo na praia. 2.
Muitas coisas ensinava por parábolas, dizendo, segundo o seu modo de doutrinar:
3. “Escutai. O semeador saiu a semear: 4, e, enquanto semeava, uma parte das
sementes caiu à borda do caminho; vieram as aves do céu e a comeram. 5. Outra
parte caiu em terreno pedregoso, onde pouca terra havia; as sementes germinaram
logo, pois que pequena era a profundidade da terra; 6, veio, porém, o Sol,
crestou as plantas e estas, por não terem raízes, secaram. 7. Outra parte caiu
entre espinheiros, estes cresceram e a abafaram, de sorte que ela não deu
frutos. 8. Outra, finalmente, caiu em terra boa; os grãos deram fruto;
elevaram-se, multiplicaram-se e produziram cem, sessenta, trinta por um.’ 9. E
acrescentava: Ouça quem tiver ouvidos de ouvir. 10. Quando com Ele ficaram a
sós os doze que o seguiam interrogaram-no acerca dessa parábola, 11. e Ele lhes
respondeu: Dado vos é a vós conhecer o mistério do reino de Deus, mas, para
aqueles que são de fora, tudo se faz por parábolas; 12, a fim de que, vendo,
vejam e não vejam e, ouvindo, ouçam e não compreendam, para que não se
convertam e os pecados lhes sejam perdoados. 13. Perguntou-lhes em seguida: Não
entendeis esta parábola? Como podereis entender todas as parábolas? 14. O
semeador semeia a palavra. 15. A margem do caminho, ao longo do qual a semente
caiu, são aqueles de cujos corações Satanás vem arrancar a palavra logo depois
de ter sido nos seus corações semeada. 16. Semelhantemente, o terreno pedregoso
são os que, ouvindo a palavra, a recebem jubilosos. 17. Como, porém, nesses ela
não cria raízes, dura pouco tempo. Em vindo as tribulações e perseguições por
causa da palavra, eles logo se escandalizam. 18. Os outros, designados pela
parte das sementes lançadas entre espinheiros, são os que ouvem a palavra, 19,
mas os cuidados do século, a ilusão das riquezas e as outras paixões, entrando
em seus corações, a sufocam e ela não frutifica. 20. O terreno bom onde a
última parte das sementes é lançada são os que ouvem a palavra, a recebem e
dela tiram frutos, na proporção de cem, de sessenta, de trinta por um. 25. Mais
será dado ao que já tem e ao que não tem se tirará mesmo o que tem.
As explicações que Jesus deu da parábola do semeador era a que convinha aos Espíritos encarnados naquela época e a de que necessitavam os apóstolos, a fim de desempenharem suas missões. As mesmas explicações bastam para que a compreendamos.
A razão por que Jesus
preferentemente falava por parábolas era evitar que muitos se enchessem de
maiores responsabilidades, que lhes acarretariam grandes sofrimentos no futuro:
aqueles que, capazes embora de receber sem véu a sua palavra, não se lhe
submeteriam. Por outro lado, para os que estivessem dispostos a avançar, a
caminhar para diante, nenhum inconveniente havia em que os ensinos lhes fossem
ministrados veladamente, visto que se esforçariam, como o fizeram os
discípulos, por lhes descobrir o sentido oculto e o apreenderiam. Os que, ao
contrário, assim não procedessem por considerarem pesadas demais para suas
naturezas más a reforma que aqueles ensinos impunham, seriam culpados apenas de
indiferença, de não procurarem devassar os mistérios que de pronto não
compreendiam.
Dizendo, pois, que não lhes
falava senão por parábolas, “para que não se convertessem”, aludia o Mestre aos
que, cedendo a um primeiro impulso, tentariam avançar, mas que, detidos
bruscamente pelos seus maus instintos, fariam sem demora um recuo, que lhes
viria a ser causa de graves expiações, porquanto, conforme também o disse,
“muito será dado ao que já tem; ao passo que àquele que pouco tenha, mesmo esse
pouco será tirado”.
Estas palavras significam
que aquele que deseja progredir e se esforça por consegui-lo, de todos os lados
receberá amparo; enquanto que o outro, o que tem pouco, indiferente ao que lhe
foi dado, negligente em guardar o que recebeu, deixará que as más paixões se
apossem do seu coração, que os vícios e males, que o oprimirão durante séculos,
tomem o lugar das poucas virtudes de cuja posse já desfrutasse.
Antes das revelações feitas
por Jesus, o homem, nenhuma ideia clara formando da outra vida, não estava apto
a conhecer os “mistérios do reino dos céus, os segredos do reino de Deus”,
expressões que compõem uma imagem destinada a materializar, por assim dizer,
para a compreensão de homens materiais, a felicidade dos bem-aventurados. Os
“mistérios” do reino dos céus, os “segredos” do reino de Deus eram os meios,
desconhecidos até então, de chegar-se àquela felicidade.
Jesus veio levantar o véu e
esclarecer as inteligências. Porém, apenas uma ponta do véu foi levantada; a
“luz” permaneceu velada. Hoje, a luz já brilha com mais vivo fulgor, porque os
Enviados do Senhor ergueram um pouco mais o véu que a encobria, tanto quanto os
olhos humanos, tornados mais fortes, o permitiam. O véu, entretanto, só será
levantado completamente, quando os homens houverem alcançado alto grau de
desenvolvimento moral e intelectual. Só então lhes será facultado conhecerem
todos os “mistérios do reino dos céus”, todos os “segredos do reino de Deus”.
Grão de mostarda. Fermento da massa.
Semente lançada à terra
(Mateus,
13:31-35; Lucas, 13:18-22)
26.
E dizia: O reino de Deus é como quando um homem lança à terra a semente. 27.
Quer o homem durma quer vele dia e noite, a semente germina e cresce sem que
ele saiba como; 28, pois que a terra, por si mesma, produz primeiro a erva,
depois a espiga e afinal o grão que cobre a espiga. 29. E, amadurecido o fruto,
passa-se-lhe a foice, pois é esse o momento da ceifa. 30. E dizia: A que
compararemos o reino de Deus? Por que parábola o representaremos? 31. Ele se
assemelha a um grão de mostarda que, ao ser semeado, é a menor de todas as
sementes que existem na terra. 32. Uma vez, porém, semeada, ela cresce e se
torna maior do que todos os arbustos; dá galhos tão grandes que os pássaros do
céu se podem abrigar à sua sombra. 33. E assim lhes falava por muitas
parábolas, de acordo com o que eles podiam entender. 34. Não lhes falava sem
parábolas; mas, a sós com os discípulos, tudo lhes explicava.
Comparando o reino dos céus
ao grão de mostarda, quis Jesus mostrar à multidão que o gérmen, por mínimo que
seja, donde se parta para chegar ao céu, pode desenvolver-se e produzir grandes
resultados.
No seu pensamento acerca do
futuro, a comparação do reino dos céus com um grão de mostarda, que, de
pequenino que é, se torna árvore grande, em cujos ramos os pássaros vêm
habitar, constitui uma alegoria em que aquele grão representa o ponto de
partida, a origem do planeta e da Humanidade, o estado rudimentar de uma e
outro; em que o crescimento oculto do grão, sua afloração, desenvolvimento e
transformação em árvore simbolizam as fases por que tem passado o nosso mundo,
as da formação e desenvolvimento dos reinos mineral, vegetal, animal e humano e
as de depuração e transformação física do planeta e física, moral e intelectual
da Humanidade. Os ramos da árvore indicam o grau de evolução que aquele
atingirá, para se tornar morada de paz e de felicidade, que os Espíritos
purificados virão habitar e onde, continuando a progredir com ela, chegarão à
perfeição.
Na parábola em que comparou
o reino de Deus ao fermento que se lança na massa de farinha para levedá-la e
torná-la em pão, figurou Jesus o trabalho de transformação e purificação das
almas, por efeito da doutrina de amor e bondade que Ele lançava nos corações
único fermento apropriado à preparação do pão espiritual, que alimenta para a
vida eterna.
Na em que o reino dos céus é
comparado à semente que o homem lançou à terra, o divino Mestre indicava o
trabalho, secreto, mas contínuo, da semente de regeneração que Ele imergia nos
corações, ao mesmo tempo que mostrava as fases de germinação, crescimento,
transformação, desenvolvimento e frutificação que o Espírito atravessa, para
atingir a maturidade moral e intelectual, estado em que será aproveitado pelos
ceifadores incumbidos de proceder à colheita para o celeiro divino, o reino de
Deus.
Por outro lado, esta última
parábola, despojado da letra o Espírito, é o emblema dos períodos que a nossa
Humanidade tem percorrido e transposto na via do progresso, desde o
aparecimento do homem na Terra, assim como dos períodos que ela tem de
percorrer e transpor, para sua regeneração completa.
A erva, que aflorou ao solo,
como produto da germinação da semente, designa o tempo que se escoou antes que
Jesus aparecesse na Terra; a formação da espiga indica o que decorreu desde
esse aparecimento até os nossos dias; a formação dos grãos que cobrem a espiga,
os próprios grãos já formados e o fruto ao qual, quando maduro, se passa a
foice, por ser essa a época da ceifa, indicam os tempos atuais e futuros da era
do Espiritismo, que vem preparar e efetivar a regeneração da Humanidade e as
promessas que as proféticas palavras do Salvador encerram.
Neste momento, o grão, aqui,
se está formando; ali, amadurece e, em certas partes escolhidas, já se acha
maduro, ou já foi ceifado.
Tais os resultados que o
Espiritismo, que apenas há alguns anos apareceu, está produzindo.
Tempestade aplacada
(Mateus,
8:23-27; Lucas, 8:22-25)
35.
Nesse dia, ao cair da tarde, disse-lhes Ele: Passemos para a outra margem. 36.
E, despedida a multidão, levaram consigo Jesus na barca, onde Ele se achava,
outras barcas o seguiam. 37. Levantou-se grande ventania, que, atirando as
vagas sobre a barca, a enchiam d’água. 38. Jesus, que se achava à popa, dormia
reclinado num travesseiro. Eles o acordaram, dizendo-lhe: Mestre, não se te dá
que pereçamos? 39. Jesus, levantando-se, falou ao vento e ao mar dizendo:
Cala-te, emudece; o vento cessou e logo reinou grande calma. 40. E Ele lhes
disse: Por que sois tão tímidos? Ainda não tendes fé? E todos, cheios de temor,
diziam uns aos outros: Quem julgas seja este a quem o vento e o mar obedecem?
41. E eles, possuídos de grande temor, diziam uns aos outros: quem é este que
até o vento e o mar lhe obedecem?
Jesus, como governador,
diretor e protetor do nosso planeta, a cuja formação presidiu, missão que por
si só indica a grandeza excelsa do seu Espírito, tinha, por efeito dessa
excelsitude, o conhecimento de todos os fluídos e o poder de utilizá-los
conforme entendesse, de acordo com as leis naturais que lhes regem as
combinações e aplicações.
Ora, dados esse conhecimento
e esse poder, tão fácil lhe era curar uma enfermidade, como aplacar uma
tormenta, modificando as condições dos elementos que as produzem, todos de
natureza fluídica, fazendo cessar entre eles o desequilíbrio que as ocasiona.
Cumpre ponderar que tais
fenômenos visam a um fim providencial o aperfeiçoamento do orbe, em
correspondência com o progresso da Humanidade e de tudo o que lhe concerne.
Os que sucumbem, vitimados
por eles, são os que escolheram ou se viram obrigados a passar pela prova de
terminarem dessa maneira a existência terrena. É o que igualmente se dá com os
que perecem nos incêndios, nos terremotos, pela peste, pela fome, pela guerra,
etc., visto que nada se dá por obra do acaso; que tudo tem uma justa razão de
ser. A pena de talião é uma realidade, do ponto de vista espiritual, para os
Espíritos culpados, os quais, amiúde, sentem a necessidade de passar por aquilo
que fizeram a outros e então encarnam nas condições apropriadas à satisfação
dessa necessidade.
O certo é que tudo segue
marcha regular, estabelecida pela onisciência divina, concorrendo tudo para um
contínuo progresso, assim de ordem física, como de ordem intelectual e moral.
Tudo, pois, em a Natureza, é preparado e conduzido pela ação de Espíritos
prepostos à execução dos sábios desígnios de Deus, exercendo-se essa ação de
conformidade com as leis naturais e imutáveis que o Supremo legislador do
Universo pôs, desde toda a eternidade.
Com o conhecimento perfeito
de todas essas leis e com o poder, por assim dizer, divino que possui, em
relação ao nosso planeta, a vontade potentíssima de Jesus, o mais graduado
daqueles Espíritos, era e foi bastante, para fazer que a tempestade cessasse, o
tempo se tornasse de novo calmo e sereno o mar.
Também o homem operará um
dia fatos desses, que aos seus olhos ainda assumem as proporções de verdadeiros
prodígios, porque grande nele só há o orgulho, causador único da sua extrema
fraqueza. Operá-los-á quando, pela elevação dos sentimentos, pelo progresso
espiritual, se tornar senhor da ciência do Magnetismo e capaz de praticá-la,
sob a influência e o auxílio espíritas, determinando, pelas combinações
fluídicas, a atração magnética e todos os demais efeitos decorrentes daquele
agente universal. Assim, dia virá em que todos os fatos que presentemente ainda
nos maravilham e assombram se nos tornarão familiares. Tal se dará quando
houvermos chegado a um alto grau de pureza moral. Ë esta uma verdade, cujo
fundamento integral se encontra nas seguintes palavras do divino Mestre: Fareis
as obras que eu faço e fareis outras ainda maiores. (João, capítulo 14,
versículo 12.)
No estado de inferioridade
em que ainda se acha o nosso planeta, as hecatombes, as pestes, a fome e a
guerra contribuem para o progresso dos povos, porque são meios de provação e
expiação e servem para o desenvolvimento da civilização e da Ciência, de
adiantamento moral e intelectual, abrindo ensejos à atividade, à prática do
devotamento e da caridade.
São efetivamente flagelos,
no sentido de que atingem indistintamente grandes e pequenos; mas, são,
principalmente, meios apropriados a lembrar ao homem que todos estamos sujeitos
ao poder divino, perante o qual todas as cabeças se encontram à mesma altura.
Não devemos, pois, lamentar que tais calamidades se abatam sobre este ou aquele
país. Devemos, ao contrário, bendizer do Senhor, “que estende seu flagelo por
sobre as massas e pesa na sua balança o valor de seus povos; que manda às
nações o progresso e a paz aos homens de boa-vontade”.
Tudo, repetimos, segue
marcha regular, objetivando o progresso, assim de ordem física, como de ordem
intelectual e moral.
SAYÃO, Antonio Luiz. Elucidações evangélicas. FEB (e-book).
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