Prece. O Pai Nosso
(Mateus,
6:5-15)
1. E
sucedeu que, tendo estado a orar em certo lugar, quando acabou, um de seus
discípulos lhe disse: Senhor, ensina-nos a orar, assim como João ensinou a seus
discípulos. 2. Disse-lhes Ele então: Quando orardes, dizei: Pai, santificado
seja o teu nome, que o teu reino venha; 3, dá-nos hoje o pão de cada dia; 4,
perdoa as nossas ofensas, como perdoamos aos que nos devem e não nos deixes
entregues à tentação.
A prece! Antes que a luz do
Espiritismo nos banhasse a alma, não sabíamos o que é verdadeiramente prece,
nem qual o seu poder e a sua eficácia. Ela não passava, para nós, de uma
prática costumeira, a que nos habituara nossa mãe e a que recorríamos, sempre
que nos sentíamos aflito. Rogávamos então a Nosso Senhor Jesus Cristo um
remédio para o nosso sofrimento. Apesar, porém, de lhe ignorarmos o valor e a
eficácia, mesmo fazendo-a por simples hábito, ela nos enchia de doces
esperanças o coração e nos proporcionava conforto. Faltava-nos, entretanto, a
convicção de que aqueles por quem pedíamos beneficiavam dos nossos rogos.
Essa, aliás, a situação em
que se encontra, com relação à prece, a generalidade das criaturas, devido à
ignorância em que se mantêm da verdade, por efeito da incompreensão das coisas
santas, donde a indiferença geral, cuja responsabilidade pesa toda sobre os
que, monopolizando a interpretação das letras sagradas, fazem dos Evangelhos
hieróglifos semelhantes aos do antigo Egito.
Considere-se, porém, que, se entre os egípcios o sacerdócio proibia aos leigos a leitura e a explicação dos livros sagrados, era porque, para os ler e explicar, mister se fazia uma iniciação longa, que se praticava através de estudo profundo e continuado e de provas que capacitavam o indivíduo para um estado de desprendimento que lhe permitia penetrar no mundo da verdade. Assim, esta, naquela época, como ao tempo de Jesus, só era ministrada ao povo de modo muito restrito, em proporções compatíveis com o desenvolvimento comum das inteligências. Aos fracos, precisava ser transmitida veladamente, para os não tornar insanos; aos maus, para lhes não aumentar as responsabilidades, ou lhes facultar meios de praticarem o mal. Os sacerdotes egípcios, no entanto, os iniciados, esses já conheciam o magnetismo, o sonambulismo e praticavam a sugestão, chamada então magia, segundo refere Estrabão, o célebre geógrafo grego.
Vê-se assim que, no Egito,
iniciados eram aqueles para quem a luz da verdade brilhava com grande fulgor.
Eles não ficavam, como os que se dizem representantes de Jesus na Terra e
únicos possuidores do conhecimento da sua doutrina, envoltos na obscuridade dos
mistérios, dos milagres e dos dogmas, em contrário ao que quer o manso Rabi de
Nazaré, que veio à Terra precisamente para iluminar com seus ensinos e exemplos
o caminho da salvação a todas as criaturas de Deus. E são do estudo e da
prática sincera e simples desses ensinos que ressaltam o poder extraordinário,
o valor inigualável e a prodigiosa eficácia da prece.
Um exemplo: certa vez,
durante algumas noites seguidas, à hora de nos deitarmos, oramos em favor de um
irmão do espaço que, por um médium, nos fizera a narração de seus sofrimentos.
Decorridos algumas semanas, por ocasião de outro trabalho, disse-nos o médium,
ao ouvido: F. agradece os benefícios que colheu das tuas preces. Despertada a
nossa reminiscência, pelo irmão agradecido, sentimo-nos surpreso, mas, ao mesmo
tempo, cheio de grande contentamento.
Doutra feita, havendo
acompanhado o bom irmão Bittencourt Sampaio, nosso mestre e companheiro de
saudosa memória, em visita que fez a uma infeliz irmã que tinha o rosto já todo
devorado por um cancro e à qual ia ele levar algum alívio, na primeira sessão
que realizamos depois desse fato, o anjo de guarda da pobrezinha se manifestou,
para-nos- agradecer, dizendo: “O Pai celestial ouviu as vossas preces e
Francisca deixa de sofrer neste momento”. Desencarnara. Desde então se nos
firmou definitivamente a convicção de que a prece opera prodígios de misericórdia,
é um recurso de valor inapreciável, que a bondade infinita de Deus nos concede
para obtermos o de que necessitam os nossos Espíritos, uma vez que o
empreguemos com humildade, submissão e fé.
A ciência espírita ensina
como se produzem esses efeitos, fazendo-nos compreender que a prece,
considerada do ponto de vista espiritual, é uma emanação dos mais puros
fluídos, por meio da qual amparo e força recebem, mesmo a seu mau grado,
aqueles a cujo favor é ela feita; que é uma magnetização moral, operando-se a
distância; que, assim sendo, orar é emitir fluídos sutis que, propelidos pela
força da vontade, do amor, vão envolver aquele por quem se ora, fortalecer-lhe
o Espírito e esclarecê-lo. Pela prece, exercemos, de um ponto de vista mais
alto, ação idêntica à que desenvolve o magnetizador sobre um paciente.
Recomendando, para a prece,
o segredo, o silêncio, o recolhimento, e aconselhando seja ela feita em poucas
palavras, Jesus, ipso facto,
condenou, assim com relação àquela época, como em relação ao futuro, as pompas
cultuais e as cerimônias ritualísticas, a multiplicidade das rezas que os
lábios pronunciam, conservando-se-lhes alheio o coração.
Jesus orou ao Pai por nós,
do mesmo modo que o fez Moisés que, dando um ensinamento aos hebreus, levantou
para os céus as mãos, sempre que precisou vencer a Israel. (Êxodo, capítulo 17,
versículo 11).
Jesus Cristo vive sempre
para interceder por nós. (Paulo, “Epístola aos Hebreus”, capítulo 7, versículo
25; “Epístola aos Romanos”, capítulo 8, versículo 34; 1ª. a Timóteo, capítulo
2, versículo 5; João, 1ª Epístola”, capítulo 2, versículo 1). Pai, perdoa-lhes.
(Lucas, capítulo 23, versículo 34). Pai santo, guarda em teu nome aqueles que
me deste. (João capítulo 17, versículo 11). Eu rogarei ao Pai e Ele vos dará outro
Consolador, para que fique eternamente convosco. (João, capítulo 14, versículo
16).
Intercedendo, pois, pelas
ovelhas de seu rebanho, Jesus nos deu um exemplo que devemos seguir
constantemente, orando, sempre com o pensamento nele, que ora por nós, que por
nós vive e reina.
Foi num desses dias, em que
o viram absorvido na oração, que seus discípulos, pela boca de um deles, lhe
pediram, terminada a sua prece: “Senhor, ensina-nos a orar.” E o divino Mestre,
satisfazendo de pronto a esse pedido, lhes ensinou a oração, que ficou sendo
chamada dominical, porque dirigida a Deus, o Senhor, em latim — dominus.
Santificado
seja o teu nome: que cada uma das tuas criaturas te bendiga
o nome, pelos seus pensamentos e atos, como pelas suas palavras; que seus
corações nada abriguem capaz de lhes macular os lábios com uma blasfêmia,
tornando-os impuros para proferir o nome daquele que é a pureza absoluta.
Que
o teu reino venha: pois que o teu reino é da justiça, da paz e
do amor; que a paz, o amor e a justiça reinem entre os homens.
Dá-nos
hoje o pão de cada dia: concede-nos, Senhor, o alimento
necessário à sustentação do corpo material que nos deste, como instrumento para
a obra da nossa purificação espiritual; mas, dá-nos, sobretudo, o pão da vida
eterna, o viático indispensável a todos os Espíritos que faliram, como os
nossos, para que tenham a força de subir até ao sólio da tua eternidade.
Perdoa
as nossas dívidas, como perdoamos aos nos devem:
Perdoa-nos as ofensas que te temos feito, os pecados em que a todo instante
caímos, as faltas em que ainda a todo o momento incorremos, transgredindo os
preconceitos da tua santa lei. Mas, como o amor e o perdão formam a essência
dessa lei, a que se acha submetida a nossa existência, que a tua justiça caia
sobre nós, pois que disseste, pelo teu Filho bem-amado, o nosso Mestre divino:
“Amai os vossos inimigos; fazei bem aos que vos odeiam; abençoai os que vos
amaldiçoam.” Usa, porém, de misericórdia para conosco, se misericordiosos
formos para com os nossos irmãos, perdoando-nos tanto quanto houvermos perdoado
as faltas dos nossos semelhantes.
Não
nos deixes entregues à tentação: bem conhecendo a extensão
da nossa fraqueza, forra-nos, Senhor, às provas demasiado fortes para a nossa
virtude e dá-nos forças para resistirmos aos nossos maus pendores;
fortalece-nos a coragem, revigora-nos as energias, a fim de que possamos
vencer, sem tibiezas, nem desfalecimentos, na luta que precisamos travar com as
paixões grosseiras e os sentimentos inferiores, que nos tentam de contínuo,
para a nossa perdição.
Livra-nos
de todo mal: permite, Senhor, que cercados pelos bons
Espíritos, dóceis aos seus conselhos e inspirações, possamos sempre resistir às
nossas paixões e vícios, às nossas inclinações más, e repelir assim os maus
Espíritos que, atraídos por essas inclinações, paixões e vícios, tentam
constantemente apoderar-se de nós e arrastar-nos ao caminho do mal.
Por concluir, repitamos o
conselho com que os evangelistas e os apóstolos puseram fecho a essa explicação
da oração dominical: “Meditai, amados irmãos, este ensinamento que, em nome e
da parte do Cristo, Espírito da Verdade, acabamos de dar-vos, acerca da oração
dominical. Estudai com o coração tudo quanto esta sublime prece inspira ao
homem, para se manter no bom caminho, desenvolvendo e fortificando em si os
sentimentos do dever para com Deus, para com seus irmãos e para consigo mesmo.
Estudai com o coração tudo o que ela encerra de amor, de reconhecimento e de
submissão Àquele que, desde toda a eternidade, foi, é e será Deus de bondade,
de perfeições absolutas e infinitas. Que esse Deus, o Deus de amor vos
abençoe.”
A prece. Pedi e se vos dará. Buscai e
achareis. Batei e se vos abrirá
(Mateus,
7:7-11)
5.
Disse-lhes ainda: Se alguém que tiver um amigo o for procurar alta noite,
dizendo: Meu amigo, empresta-me três pães, 6, pois um de meus amigos, que está
viajando, acaba de chegar a minha casa e nada tenho para lhe dar; 7, e o amigo
lhe responder, de dentro de casa: Não me importunes; minha porta já está
fechada e meus servos deitados assim como eu: não posso levantar-me para te dar
o que pedes; 8, se, apesar disso, o primeiro insistir em bater, digo-vos que,
quando o segundo não se levante para dar o que lhe é pedido por ser seu amigo o
pedinte, se levantará pelo menos por causa da importunação e dará ao outro tudo
o que lhe seja necessário. 9. E eu vos digo: Pedi e se vos dará, procurai e
achareis, batei e se vos abrirá; 10, porquanto quem pede recebe, quem procura
acha e àquele que bate se abre. 11. Se algum de vós pedir pão a seu pai, este
lhe dará uma pedra? Ou, se lhe pedir um peixe, lhe dará uma serpente? 12. Ou,
se lhe pedir um ovo, lhe dará um escorpião? 13. Ora, se maus como sois, sabeis
dar boas coisas a vossos filhos, com mais forte razão vosso Pai, que está nos
céus, dará o bom Espírito aos que lho peçam.
Com estas palavras, Jesus
animava a seus discípulos, a fim de que não caíssem no abatimento e no
desânimo, que o mau êxito costuma acarretar.
A perseverança fortalece,
melhora e garante o bom êxito às nossas resoluções, às nossas obras e à nossa
fé, tornando-nos dignos da atenção do Mestre que, pelos nossos esforços
reiterados, nos concede o que antes não concedera, quando ainda não estávamos
seguros de nós mesmos.
Coisa alguma deve o homem
fazer ou empreender, sem primeiro invocar e implorar a assistência do Senhor
que, cheio sempre de bondade, sabe o que convém a seus filhos e lhes dá,
segundo esse critério, o de que necessitem, muito embora sejam eles as mais das
vezes tão cegos e ingratos, que lhe não percebem os providenciais desígnios.
Nós quase sempre pedimos,
sem sabermos se nos convém ou não aquilo que desejamos, se está de acordo com a
natureza das provas que devamos sofrer. Ele, porém, que é nosso Pai e tudo sabe
acerca de cada um de nós, nos alimenta de conformidade com a nossa
constituição.
Peçamos-lhe o pão de vida e
Ele nos facultará abundantes meios de o adquirirmos. Conceder-nos-á luz, para
compreendermos por que sofremos, e as forças da fé e da humildade, para
sofrermos com paciência, resignação e amor as mais rigorosas provas.
Se nem sempre nos concede a
graça que lhe solicitamos, é porque vê, que, em vez de ser ela para nós um bem,
grande mal poderia trazer-nos. Mas, ao filho que se lhe dirige com sinceridade,
abre-lhe Ele o entendimento que dá o bom Espírito, isto é, a capacidade de
amá-lo e a inteligência das coisas sob a influência espírita, permitindo que
seus mensageiros o esclareçam. Aquinhoado com essa graça, compreende o homem os
ensinos do Mestre; esforça-se pelos praticar, e jamais desespera do seu amor e
da sua justiça.
Possesso mudo. Blasfêmia dos fariseus
(Mateus
9:32-34)
14.
Jesus expulsou o demônio de um homem que estava mudo e, logo que expulsou o
demônio, o mudo falou e todo o povo se encheu de admiração. 15. Mas, entre os
populares, alguns diziam: É por Belzebu, príncipe dos demônios, que ele expulsa
os demônios. 16. Outros, para o tentarem, lhe pediam um sinal do céu. 17.
Jesus, porém, conhecendo-lhes os pensamentos, disse: Todo reino dividido contra
si mesmo será desolado e casa sobre casa cairá. 18. Se, pois, Satã está
dividido contra si mesmo, como subsistirá o seu reino? Sim, porquanto dizeis
que é por Belzebu que expulso os demônios. 19. Ora, se é por Belzebu que
expulso os demônios, por quem os expulsam vossos filhos? Eis porque serão eles
mesmos os vossos juízes. 20. Se, porém, eu expulso os demônios pelo dedo de
Deus, é que o reino de Deus veio até vós.
Era exercendo uma ação
fluídica sobre os órgãos da voz, da palavra, que o mau Espírito, obsessor
daquele homem, a quem chamavam possesso do demônio, o tornava mudo. Jesus o
afastou, cessou a ação fluídica, o mudo falou.
Quanto à acusação dos
Fariseus e dos Padres da época, que atribuíam o fato à influência de Belzebu,
era análoga à que fazem aos espíritas os Sacerdotes de hoje, dignos sucessores
dos sacerdotes hebreus. Assim sendo, bem é de ver-se que nenhuma atenção nos
pode ela merecer.
Com efeito, aqueles diziam
de Jesus que ele era assistido por Belzebu; dizem seus sucessores que a
Doutrina Espírita é demoníaca. Ë natural e não podia ser de outra maneira, uma
vez que esta ensina e prega exatamente o mesmo que ensinava e pregava o Divino
Mestre: o amor de Deus e do próximo, a renúncia às coisas da Terra, a prática
ilimitada da caridade, o perdão sem restrições, a humildade, a benevolência, a
observância, em suma, de todos os preceitos e mandamentos divinos,
exemplificados pelo manso Cordeiro de Deus.
E não só propaga
ensinamentos idênticos aos deste, como explica, em espírito e verdade, o que
nos Evangelhos, que encerram toda a verdadeira Doutrina Cristã, se acha
encoberto pelo véu da letra, pelo simbolismo da parábola, pela capa do
mistério, escoimando-a de todos os mandamentos humanos que, oriundos de
interpretações falsas ou tendenciosas e de tradições caducas, adulteraram
completamente as palavras e lições do Enviado do Senhor.
Se estamos em erro, se não é
esta a verdade, que no-la mostrem, que nos convençam do nosso erro e
abaixaremos a cabeça, porque a mais ardente aspiração de nossa alma é sermos
humildes e fiéis servos de Nosso Senhor Jesus Cristo.
O forte armado. Pecado remido. Blasfêmia
contra o Espírito Santo. Tesouro do coração. Quem não está com Jesus está
contra ele.
(Mateus,
12:29-37; Marcos, 3:27-30)
21.
Quando um homem forte guarda armado a entrada de sua casa, em segurança está
tudo o que ele possua. 22. Porém, se outro mais forte vem e o vence, levará
consigo todas as armas em que ele confiava e se apossará dos seus haveres. 23.
Aquele que não está comigo está contra mim e aquele que comigo não entesoura
dissipa. Capítulo 12, versículo 10. Se alguém falar contra o filho do homem,
isso lhe será perdoado; mas não terá perdão aquele que blasfemar contra o
Espírito Santo.
A fim de apreendermos o
pensamento do Mestre através da linguagem de que Ele usava, precisamos despojar
da letra o espírito, para o que mister se faz compreendamos bem o sentido
verdadeiro destas palavras suas ditas especialmente aos que são chamados a
receber a revelação nova: “O espírito é que vivifica; as palavras que vos digo
são espírito e vida”.
Dizendo o que se lê no
capítulo 12, versículo 29 de Mateus e capítulo 3, versículo 27 de Marcos, alude
Jesus ao pecado que, por suas seduções, se apodera do homem e o despoja de
todas as virtudes. Eram, pois, palavras emblemáticas.
Pelas do capítulo 11, versículo
21 de Lucas, vemos que precisamos estar vigilantes sobre a nossa consciência, a
fim de nos acharmos sempre prontos a combater os maus instintos e pendores e as
paixões más. Se deixamos de conservar-nos cautelosamente em guarda e ativos na
prática do bem, os vícios penetram em nosso coração e nos tomam uma a uma as
armas. Porque, não basta deixar de praticar o mal; é necessário praticar o bem,
que só ele nos resguarda de cairmos no mal. Com efeito, que é, senão egoísta e
orgulhoso, aquele que falta à caridade? Que é, senão ímpio, aquele que se
esquece do seu Deus? O mesmo se dá com todas as virtudes que não são
praticadas. Tomam-lhes o lugar os vícios que elas, se cultivadas, teriam
destruído.
No versículo 22 de Lucas
completam a figura material que o divino Mestre compusera para a inteligência
dos Hebreus. Sem dúvida, os vícios que substituam as virtudes no coração
daquele que se tornou descuidoso e não tirou proveito delas antes de serem
destruídas, para aproveitarem da sua destruição despojam as ditas virtudes do
asilo que lhes fora preparado e nele se alojam.
Aquele
que não está comigo está contra mim. Quer isto dizer: quem não
segue a lei do Cristo, isto é, a doutrina moral de que Ele é a personificação,
dela se aparta; logo, está contra Ele, pois que trilha senda oposta à que Ele
traçou. Do mesmo modo, quem caminha por essa senda reúne os tesouros que o
Senhor reserva para os justos; quem dela se desvia dissipa esses tesouros e
perde precioso tempo. Eis por que também Ele disse: “Quem comigo não entesoura
dissipa”.
A blasfêmia consiste em
negar a Deus, em acusar de injustiça ou erro àquele que é todo amor, ciência e
justiça, que é a verdade absoluta. Que crime se pode a este comparar?
Quanto ao pretender-se que,
por haver dito que o que blasfema contra o Espírito Santo não terá perdão na
eternidade, será réu de eterno delito, o divino Mestre haja formulado uma
ameaça de penas eternas, nenhum fundamento há para semelhante dedução. Para os
Hebreus, de acordo com seus preconceitos, tradições e escrituras, os termos
“eternidade”, “eterno”, “eternamente”, apresentavam dois sentidos, podiam ser
tomados em duas acepções diversas: um sentido absoluto, quando se referiam a
Deus; um sentido relativo, quando empregados com referência aos homens, caso em
que indicavam uma duração imensa, mas, por maior que fosse, limitada,
condicionada a ter fim. Veja-se, em confirmação do que dizemos: Êxodo, capítulo
15, versículo 18; Miqueias, capítulo 4, versículo 5; Esdras, capítulo 3,
versículo 3; Josué, capítulo 14, versículo 9; Isaías, capítulo 57, versículo
16. Foi, pois, em sentido relativo, querendo exprimir dilatadíssimo período de
tempo, como o concebemos, que Jesus usou daquelas palavras, falsamente
interpretadas pelos homens, quando lhes deram um sentido absoluto.
Quantas vezes não se
manifestam em nossas sessões Espíritos grandemente sofredores, por se sentirem
imensamente culpados, dizendo que se acham condenados a penas eternas, que seus
sofrimentos não mais terão fim? A existência, neles, dessa crença constitui um
dos meios providenciais de serem levados ao arrependimento. Com efeito, a
agudeza e a longa duração do sofrimento acabam consumindo as energias do
culpado para o mal. Cansado de sofrer, aterrorizado com a perspectiva de dores
sem fim, ele se volta para si mesmo, olha com desespero para o seu passado,
aprecia todos os crimes e faltas que o precipitaram no abismo e, afinal,
exclama: Se eu houvesse de recomeçar! Então, os bons Espíritos, sempre atentos
aos transviados, o impelem a ver como faria, se tivesse de recomeçar e o
induzem, assim, pouco a pouco ao arrependimento, fazendo-lhe nascer no íntimo a
esperança do perdão, esperança a cujo influxo o arrependimento se desenvolve e
se acentua o desejo de expiar, reparar e progredir, mediante provas adequadas a
esse efeito. E Deus lhe perdoa, concedendo-lhe a reencarnação, a fim de que,
pelo caminho da reparação se purifique e eleve.
Disse Jesus: “Meu pai não
quer que nenhum destes pequeninos pereça. Vim salvar o que estava perdido. Sede
perfeitos, como é perfeito vosso Pai que está nos céus”. Essas palavras bem
mostram que não há Espírito culpado e rebelde, que não experimente o influxo
das leis imutáveis do progresso e do aperfeiçoamento, às quais todos os que se
transviaram são levados a obedecer, pelo sofrimento e pela expiação. Nenhum há
que, com o tempo e a reencarnação, deixe, ovelha tresmalhada, de voltar ao
aprisco.
Dever, que tem o homem, de resistir aos
maus instintos, às más paixões. Resposta de Jesus ao que, do meio do povo, lhe
disse uma mulher
(Mateus,
12:43-45)
24.
Quando o Espírito impuro tem saído de um homem, anda por lugares áridos em
busca de repouso. Não o encontrando, diz: Voltarei para a casa donde saí. 25. E
voltando, a encontra varrida e ornada. 26. Vai-se, então, de novo, reúne outros
sete Espíritos mais malvados do que ele e, entrando todos na casa, lá se
instalam. E o último estado do homem fica sendo pior do que antes. 27. Ora,
sucedeu que, quando ele dizia estas coisas, uma mulher, elevando a voz do meio
do povo, lhe disse: Felizes o ventre que te trouxe e os seios que te
amamentaram! 28. Jesus, porém, disse: Mais felizes são os que ouvem a palavra
de Deus e a praticam.
Os Espíritos imundos que
influenciam para o mal o homem são atraídos pelos seus maus sentimentos. Ora,
se o homem limpar sua alma de todas as impurezas e a adornar das virtudes
opostas a tais sentimentos ocupá-la-á o seu anjo de guarda, tornando impossível
àqueles Espíritos fazerem nela morada, como antes. Ornemos, pois, de virtudes
as nossas almas, a fim de que o Senhor as possa considerar habitações dignas
dos seus mensageiros, os Espíritos bons, de cuja inspiração e assistência
gozaremos, então, constantemente.
Nenhuma relação tem o que
acabamos de dizer com o chamado “sacrifício da eucaristia”, pelo qual entendeu
a Igreja romana de fazer do corpo humano morada da divindade. Semelhante
absurdo, como todos os outros erros dessa igreja, provém das interpretações
literais por ela dadas às Escrituras, interpretações que, se outrora puderam
legitimar-se com o grande atraso intelectual da Humanidade, hoje constituem uma
das causas principais do desprestígio em que a vemos e da generalização da
descrença.
A comunhão do Cristo,
simbolizada pela Ceia, foi um último e solene apelo por ele feito aos homens,
para o cultivo da fraternidade. A comunhão dos discípulos era um repasto
comemorativo, uma lembrança simbólica daquela outra comunhão.
Dizendo respeito unicamente
ao Espírito toda a Doutrina de Nosso Senhor Jesus Cristo, pelo lado unicamente
espiritual é que deveram ter encarado e ensinado os preceitos evangélicos
aqueles que se intitulam seus representantes na Terra, com abstenção completa
dos cultos e cerimônias puramente materiais, que nada valem e para nada servem.
A mulher que elevou a voz do
meio da multidão, para louvar a Maria, como mãe de Jesus, conforme a
consideravam os homens, falou como médium, sob a inspiração momentânea de um
guia que, desse modo, abriu ensejo à resposta de Jesus, que foi um ensinamento:
“Mais felizes são os que ouvem a palavra de Deus e a praticam”. Sim,
bem-aventurados os que estudam e ensinam a moral pregada por Jesus e põem-na em
prática, não fazendo da profissão de fé um meio de vida, de satisfazerem às
suas ambições de mando e predomínio, como infelizmente ainda vemos.
Prodígio pedido pelos fariseus. Resposta
de Jesus. Prodígio de Jonas
(Mateus,
12:38-42)
29.
Disse então à turba que o cercava: Esta geração é uma geração perversa; pede um
prodígio; não lhe será dado outro diverso do profeta Jonas. 30. Assim como
Jonas foi um prodígio para os de Nínive, também o filho do homem será um
prodígio para esta geração. 31. A rainha do meio-dia se levantará, no dia do
Juízo, contra os homens desta geração e os condenará, pois que ela veio dos
confins da terra para escutar a sabedoria de Salomão; e, aqui, há mais do que
Salomão. 32. Os Ninivitas se levantarão no dia do juízo contra esta geração e a
condenarão, pois que eles fizeram penitência atendendo a pregação de Jonas; e
há, aqui, mais do que Jonas.
Passados que estão os tempos
dos milagres, o homem, hoje, não pode suportar as imposições dos que se opõem à
difusão da luz à marcha do progresso, a menos que faça o que, em geral, se
observa em tudo o que diz respeito à religião pregada e exemplificada pelo
clero romano.
Para admitirmos que Deus,
onipotente e, por conseguinte, onisciente, nosso Pai celestial, que nos criou
perfectíveis, tanto que sujeitos à lei imprescritível e fatal do progresso,
operasse milagres, teríamos de admitir como possível que Ele derrogue suas
leis, ou abra nelas exceções, porquanto o milagre não seria senão a derrogação
parcial de uma ou algumas leis, ou exceção ao que elas prescrevem. Mas, a
possibilidade de tais derrogações ou exceções implicaria não serem as leis
divinas absolutamente sábias e perfeitas, o que vale dizer - eternas e
imutáveis, uma vez que só pode ser mutável o que seja perfectível. Ora, não
sendo perfeita uma lei, desde que admite exceções, forçoso fora
reconhecêssemos, para podermos admitir o milagre, que as leis divinas não
refletem a perfeição absoluta do supremo legislador. Porém, neste caso, a
consequência a que chegaríamos é que também o legislador não seria perfeito e
sim perfectível também. Absurdo dos absurdos, em se tratando de Deus, como o
deve conceber o cristão.
Nem se diga que, por ser
onipotente, pode Ele derrogar por arbítrio, como o entenda, suas leis. Por esse
lado, igualmente, chegaremos ao absurdo, visto que nenhuma ação arbitrária se
pode consorciar com a onisciência de um ser infinito em todos os seus
atributos, para quem portanto não há passado, nem presente, nem futuro, fora
que se acha de toda ideia de tempo, sem a qual o arbítrio carece de
significação, dado que este só se pode exercer ocasionalmente, advérbio que
subentende sucessão de fatos, ou de efeitos, só existente para seres limitados
como nós em todas as suas faculdades, capacidades e percepções, condição que
faz imprescindível o princípio convencional de tempo.
O “milagre”, portanto, não
passa, presentemente, de um esteio em que, valendo-se do precário conhecimento
que da verdade possuem as massas humanas, procuram apoio às igrejas terrenas,
no empenho de manterem o predomínio que alcançaram, explorando as superstições
populares e sustentarem crenças tradicionais, mas que perderam sua razão de
ser, em face do desenvolvimento da razão humana, e que, portanto, não podem
subsistir.
Agraciados pela misericórdia
divina com a luz viva da Nova Revelação, nós outros, os espíritas, temos o
dever de perquirir, até onde a mesma misericórdia no-lo permita, as causas, a
fim de compreendermos os efeitos e aproveitarmos das lições que eles nos
oferecem, porque não mais nos é lícito crer, senão no que seja fruto de
convicções adquiridas em consequência do estudo, da meditação e da iluminação
interior, que se consegue pela prece fervorosa, sentida e humildemente
formulada.
Aquela geração a que Jesus
se referia, que lhe repelia os esforços para reconduzi-la ao caminho da
verdade, qualificando-o de possesso do demônio, era má pela sua obstinação no
erro; era adúltera, porque desprezava a fé no seu Deus, para se entregar a
práticas materiais.
Essa geração é a mesma que
hoje chama demoníaca à ciência espírita, que vem dar cumprimento à lei e aos
profetas; que se baseia nos Evangelhos de N. Senhor Jesus Cristo, em espírito e
verdade, como Ele próprio mandou que os entendêssemos, fugindo à letra que
mata, tudo porque isso é contrário e prejudicial aos interesses materiais da
clerezia romana que, para conservar a sua dominação, precisa manter na
ignorância os fiéis da sua Igreja, que repudia a Deus para adorar o Papa.
Jonas constituíra para os
Ninivitas um prodígio, um milagre, porque acreditaram, sem sombra de dúvida,
que ele fora engolido por um peixe, em cujas entranhas permanecera três dias,
submerso no fundo do mar. Do mesmo modo Jesus, que, até para os discípulos, era
um homem igual aos outros, pela sua ressurreição e ascensão viria a constituir,
para a geração da sua época, um prodígio, um milagre, visto que, para essa
geração, tais fatos não podiam ser mais compreensíveis nem menos miraculosos, do
que, para os Ninivitas, o reaparecimento de Jonas, após três dias de
permanência no ventre de um peixe.
Dar-se-á, porém, que aqueles
fatos, que ontem não podiam ser explicados, nem compreendidos, que tiveram,
portanto, de ser impostos como milagrosos, devam hoje ser aceitos, com o mesmo
caráter, para glória de Deus, quando a Nova Revelação, que veio substituir a fé
cega pela fé raciocinada, no-los explica plena e satisfatoriamente? Certo que
não.
Com efeito, na ressurreição
e na ascensão do Cristo, nós espíritas podemos e devemos crer, sem de nenhum
modo aceitarmos, no que quer que seja, o milagre, desde que aquela Revelação
nos mostra e prova, com os textos evangélicos, compreendidos em seu espírito,
que Jesus só aparentemente era homem, que Ele desempenhou a sua missão como
Espírito, Espírito livre, de pureza perfeita e imaculada, portanto, isento da
lei da encarnação, apenas revestido de um corpo fluídico, de um perispírito
tornado visível e tangível, com o qual possível e fácil lhe foi sair do sepulcro,
conservando-se este fechado e selado.
Igualmente, com relação a
Jonas, ela nos faz saber que ele apenas esteve durante três dias preso a ferros
a bordo de um navio, em que viajava, donde um marinheiro devotado, condoído da
sua sorte, o transportara às escondidas num bote até à praia, aí o deixando. A
tendência que tem o homem para dar a tudo o cunho do maravilhoso e a atração
que este sobre ele exerce criou a lenda de Jonas engolido e vomitado por um
peixe. Semelhante maravilha logo se impôs à imaginação humana como um “milagre”
e como “milagre” foi tido e crido.
Os Ninivitas que,
aproveitando da pregação de Jonas, entraram e permaneceram nas vias do Senhor e
a rainha do Meio-dia que reconheceu a grandeza de Deus e a sabedoria daquele a
quem Deus fizera rei, para reinar com equidade e distribuir justiça, era a
condenação dos Judeus, que resistiam a todos os esforços de Jesus para reconduzi-los
ao bom caminho. Foi o que o divino Mestre acentuou, dizendo: “E há, aqui, mais
do que Jonas; e há, aqui, mais do que Salomão”.
Jonas e Salomão eram
Espíritos em missão, porém de ordem inferior. Citando-os, de modo algum pensou
Jesus em se lhes equiparar, sendo, como era, o Cristo de Deus e, como
representante do Pai, o Mestre, o Rei do nosso planeta e da Humanidade terrena.
Ao contrário, o que fez, lembrando os exemplos de Jonas e Salomão, foi chamar a
atenção dos homens para a superioridade da sua missão, superioridade que a Nova
Revelação patenteia aos nossos olhos, e chamar-lhes também a atenção para a
culpabilidade dos que se rebelavam contra seus ensinos.
Daí o dizer: “Assim como
Jonas foi um sinal para os de Nínive, assim também o filho do homem será um
prodígio para esta nação”.
Doutores hipócritas que têm o coração
viciado e enganam os homens pelos atos exteriores, que os afastam da luz e da
verdade
(Mateus,
23:23-39)
Capítulo
11, 37. E estando a falar, um fariseu o convidou para jantar. Ele lhe entrou em
casa e tomou lugar à mesa. 38. Começou então o fariseu a dizer de si para si:
Por que não se lavou ele antes de comer? 39. Disse-lhe então o Senhor: Vós, os
fariseus limpais o exterior do copo e do prato, mas o vosso íntimo está cheio
de rapina e iniquidade. 40. Insensatos! Aquele que fez o que está por fora não
fez também o que está por dentro? 41. Entretanto, dai de esmola o que tendes e
eis que todas as coisas se vos tornarão limpas. 42. Mas, ai de vós fariseus,
que pagais o dízimo da hortelã, da arruda, de todas as ervas e desprezais a
justiça e o amor de Deus! Estas coisas, porém, é que devíeis primeiro praticar,
sem omitirdes as outras. 43. Ai de vós, fariseus! Que gostais das primeiras
cadeiras nas sinagogas e de que vos saúdem nas praças públicas. 44. Ai de vós,
que sois como os sepulcros que não aparecem e por 384 sobre os quais andam os
homens sem o saberem. 45. Observou-lhe então um dos doutores da lei: Mestre,
falando assim, também a nós outros nos afrontas! 46. Respondeu Jesus: Ai,
também de vós, doutores da lei, que carregais os homens de fardos que eles não
podem suportar e nos quais não tocais sequer com a ponta do dedo. 47. Ai de vós
que erigis túmulos aos profetas, quando foram vossos pais que os mataram. 48.
Certo, dais assim testemunho de que concordais com as obras de vossos pais,
pois que estes os mataram e vós lhes construís os túmulos. 49. Por isso mesmo
disse a sabedoria de Deus: Enviar-lhes-ei profetas e apóstolos e a uns eles
matarão e a outros perseguirão, 50, para que a esta geração se peça conta do
sangue de todos os profetas, derramado desde o principio do mundo, 51, desde o
sangue de Abel até o sangue de Zacarias, que foi morto entre o altar e o
templo. Sim, eu vos declaro que a esta, geração contas serão pedidas. 52. Ai de
vós, doutores da lei que vos apoderastes da chave da Ciência e que não
entrastes e impedistes a entrada aos que queriam entrar. 53. Como desta maneira
lhes falasse, começaram os fariseus e os doutores da lei a insistir fortemente
com ele, importunando-o com perguntas sobre muitos assuntos, 54, armando-lhe
assim ciladas com o fim de nalguma de suas palavras acharem motivo para o
acusar, capítulo 13, 31. Naquele mesmo dia alguns fariseus lhe vieram dizer:
Retira-te, vai-te daqui, porque Herodes te quer matar. 32. Respondeu-lhe Jesus:
Ide dizer a essa raposa que hoje e amanhã ainda tenho que expulsar os demônios
e curar os enfermos e que no terceiro dia serei consumado. 33. Todavia, cumpre
que eu caminhe ainda hoje; amanhã e depois de amanhã, porque não convém que um
profeta morra fora de Jerusalém. 34, Jerusalém! Que matas os profetas e
apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes quis reunir teus filhos como a
galinha reúne debaixo das asas os seus pintos e não quiseste! 35. Eis que
deserta vos será deixada a vossa casa. E eu vos digo em verdade que não mais me
vereis até que digais: Bendito o que vem em nome do Senhor!
“Ai de vós, fariseus
hipócritas, que pagais o dízimo da hortelã, da arruda, de todas as ervas e
desprezais a justiça e o amor de Deus! Estas coisas, porém, é que devíeis
primeiro praticar, sem omitirdes as outras”.
Nestas palavras de Jesus
devem atentar muito a fim de bem as compreenderem, pois que é a eles que se
aplicam, os que vendem as orações e os que as compram, os que fazem doações às
igrejas e aos conventos, pensando que assim resgatam suas faltas e pagam a Deus
a sua justiça; os que procedem como os escribas e os fariseus hipócritas, que
se limitavam à prática de atos exteriores, a prosternar-se diante dos altares,
curvando as frontes com aparente humildade, mas conservando os corações cheios
de rancor, de orgulho, de inveja.
Pelo que consta nos
versículos 47 a 51, o divino Mestre aludia à morte e às perseguições que os
profetas tinham sofrido, ao sacrifício que breve se consumaria no Gólgota, às
perseguições, aos martírios e à morte que os apóstolos, os discípulos e os
primeiros cristãos viriam a sofrer, aos esforços que Ele fizera para reunir as
ovelhas em torno do cajado do bom pastor, à destruição de Jerusalém, à
dispersão dos Judeus e, finalmente, à época alegórica do fim do mundo, isto é,
a época em que, operada pela depuração e transformação do nosso planeta e da
Humanidade terrena a regeneração desta, vindo o nosso protetor, governador e
mestre em toda a sua glória, os homens (Judeus e Gentios), regenerados,
clamarão, num brado uníssono de amor, como outrora a multidão que o acompanhava
à sua entrada na cidade santa: Bendito o que vem em nome do Senhor!
Versículos 50 e 51. As
palavras constantes nestes versículos, no seu sentido oculto, se referem à
reencarnação. Deus é infinitamente justo para não punir nos descendentes as
faltas dos ascendentes, se aqueles não foram cúmplices destes. Jesus falava
assim porque os que haviam matado os profetas ali estavam em sua presença,
dispostos a derramar o seu próprio sangue, considerando-o um homem como os
demais. Teriam, portanto, que prestar contas de todo o sangue que anteriormente
haviam derramado e de todo o que ainda derramariam.
O sangue que os hebreus
derramaram corria sempre, vindo a cair sobre a cabeça de seus descendentes
segundo a carne, mas, efetivamente, por meio da reencarnação, sobre a cabeça
dos mesmos que o tinham vertido em suas existências anteriores, até que
ficassem purificados pelo fogo, isto é, pelo fogo moral dos remorsos e da
expiação, que leva o Espírito culpado ao arrependimento e ao desejo de reparar
suas faltas, à purificação pela reparação e pelo progresso.
SAYÃO, Antonio Luiz. Elucidações evangélicas.
FEB (e-book).
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