O Sufismo Islâmico consiste
num conjunto de práticas místicas, de caráter iniciático, desenvolvido por
sábios islâmicos.
No mundo ocidental, sobretudo a partir da virada do século XX para o século XXI, construiu-se uma visão um tanto quanto enviesada, para não dizer negativa, da religião islâmica. Isto se deve a vários fatores, mas um dos principais é a questão das práticas terroristas perpetradas por grupos radicais islâmicos, como a Al Qaeda e o Estado Islâmico, geralmente inspirados em Sayyid Qutb, um dos ideólogos da Irmandade Muçulmana. A associação direta entre terrorismo islâmico e religião islâmica decorre também de um profundo desconhecimento da própria estrutura do islamismo. Uma das características menos conhecidas da religião islâmica é sua vertente mística, expressa no sufismo, nome que remete à túnica de lã usada pelos primeiros mestres sufis.
Todo grande sistema religioso produziu santos e místicos. Isto é, pessoas que tentaram elevar-se espiritualmente por meio da excelência do exercício das virtudes e por meio da ascese – prática de abstenção dos prazeres terrenos. O cristianismo (tanto católico e ortodoxo quanto protestante) teve seus místicos, o hinduísmo e o budismo também. Não é diferente com o Islã.
Na verdade, o termo islã é
apenas uma das partes da religião que e o leva como nome. Como diz o estudioso
de religiões comparadas e da sabedoria perene, William Stoddard, em sua obra
Sufismo: Doutrina metafísica e via espiritual no Islã, a prática da religião
islâmica “compreende, para o crente, três grandes categorias: islam (submissão
à lei revelada), iman (fé na shahada) e ihsan (virtude ou sinceridade).” A
prática do sufismo está relacionada a essa última categoria, a ihsan, ou
prática da virtude.
Sendo assim, sufismo se
organiza em torno de uma via (ou caminho) espiritual do islã, um caminho
trilhado através do cultivo das virtudes. Para este caminho, os sufis dão o
nome de dhirk, isto é, a prece
invocatória que veicula a “lembrança de Deus”. Um dos métodos mais praticados
para se atingir a dhirk é a recitação
do rosário sufi, chamado de wird. Há várias fórmulas de recitação, que podem
variar de tariqa para tariqa. As taricas são organizações que comportam os
praticantes da mística islâmica – apesar de haver exemplos de muitas taricas
ecumênicas. Toda tarica é encabeçada por um shaikh (ou cheike) que orienta os
iniciados que querem se aprofundar no cultivo das virtudes e no estudo da
religião. O shaikh, grosso modo, é um mestre sufi.
Por se organizar desta
maneira, o sufismo possui uma característica iniciática. Isto é, mantém um
círculo fechado de orientação entre mestre e discípulo. Este último depende,
por tanto, da iniciação do primeiro – precisa ser iniciado na prática sufi.
Essa característica diferencia radicalmente misticismo islâmico do cristão, por
exemplo, que não possui nada de iniciático ou esotérico.
A prática do sufismo
conduziu vários místicos islâmicos à composição de obras magníficas relativas
ao conhecimento religioso e interior, que são testemunhos da grandeza da
civilização islâmica. A visão que temos do islamismo, distorcida pelo
terrorismo – que quer reivindicar para si o monopólio das virtudes do Islã –
esconde essa grandeza.
Fonte:
https://www.historiadomundo.com.br/curiosidades/o-sufismo-islamico.htm
Por Cláudio Fernandes
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