É necessário que se deem escândalos, é
impossível que não se deem. Mas, ai do homem que cause o escândalo
(Mateus,
18:6-11; Marcos, 9:42-50)
1.
Disse Jesus a seus discípulos: É impossível que não venham escândalos; mas ai
daqueles por quem vêm os escândalos. 2. A esse melhor fora lhe atassem ao
pescoço uma mó de moinho e o lançassem ao mar do que escandalizar a um destes
pequeninos.
No planeta atrasado em que
habitamos, as encarnações, em geral, são concedidas aos Espíritos que as pedem,
para expiação e reparação de faltas que anteriormente cometeram. Consistem as
expiações em sofrimentos físicos e morais, sofrimentos esses que, muitas vezes,
são causados pelos maus atos, maus conselhos, maus exemplos de outros que,
obstinados no mal, se tornam assim causas ou instrumentos de escândalo.
Constitui este, para o que lhe experimenta as consequências, uma como punição
de suas culpas e, portanto, um fator do seu progresso.
Necessário é, pois, que haja
escândalo no mundo, visto que só mediante eles muitas consciências despertam
para o reconhecimento dos erros praticados e para o arrependimento, e que, pelo
contacto com os vícios, e que as virtudes se fortalecem e deles triunfam. Ai,
porém, dos que ocasionem o escândalo, e ai também, ainda que menor lhes seja a
culpa, dos que se deixem levar até ao escândalo. Mais valera não houvessem
encarnado, antes de estarem bastante amadurecidos para uma vida melhor.
Qualquer que seja o sacrifício que nos custe à destruição, em nossas almas, de todas as causas do mal, preferível é que o façamos, a que nos tornemos causa de escândalo, com o que nos condenaremos a sofrer, durante séculos talvez, na vida errante do Espírito culpado, uma tortura de todos os momentos, sem que nos sorria a esperança de ver-lhe o fim, enquanto o arrependimento não nos abrir o coração para aninhá-la, induzindo-nos ao desejo de baixarmos de novo ao mundo, para, numa outra vida, expiar e reparar o mal praticado.
Palavras de Jesus relativas ao perdão e
ao esquecimento das injúrias e das ofensas
(Mateus,
18:15-17)
3. Tende cuidado convosco:
se contra ti pecou o teu irmão, repreende-o. Se se arrepender, perdoa-lhe. 4.
Se contra ti ele pecar sete vezes no dia e sete vezes no dia te procurar para
dizer: Eu me arrependo perdoa-lhe.
Quer isto dizer: se
houverdes de fazer a algum de vossos irmãos uma censura qualquer, procurai formulá-la
com palavras brandas, persuasivas, a fim de que ele se corrija. Se vos houver
ofendido, perdoai-lhe com sinceridade a ofensa recebida, ocultando-a dos
estranhos, para que ele não fique vexado, e Deus vos perdoará do mesmo modo por
que houverdes perdoado.
Não guardeis jamais
prevenção alguma contra um irmão vosso. Jamais, cedendo a um rancor que, em
certos casos, do ponto de vista humano, possa parecer legítimo, vos arrisqueis
a fazer que aquele que vos ofendeu recalque para o fundo do coração o seu arrependimento
sincero.
Razão nenhuma, aliás, pode
haver, para procedermos de modo contrário, pois sabemos que, conforme o disse
Nosso Senhor Jesus Cristo, seremos julgados como houvermos julgado. Além disso,
não nos devemos esquecer de que, amiúde, não apenas sete vezes no dia, mas
setenta vezes sete vezes ofendemos a Majestade divina, ofensas estas que
consistem na transgressão de suas leis e em todas as tentativas que façamos
para nos subtrairmos à ação delas.
Usemos, pois, para com os nossos irmãos, da benevolência de que tanta necessidade temos e digamos, sinceros, ao Senhor: “Perdoa as minhas ofensas, como perdoo as de meus Irmãos.
Cumprimento do dever com humildade e
desinteresse, com o sentimento de amor e gratidão ao Criador
7. Qual de vós o que, tendo
um servo ocupado em lhe lavrar a terra, ou em lhe apascentar os rebanhos, diz a
esse servo, ao voltar ele dos campos: Vem sentar-te à mesa? 8. Não lhe dirá
antes: Prepara-me a ceia, cinge-te e serve-me, até que eu tenha comido e
bebido; depois comerás e beberás? 9. E o amo deve porventura agradecimento ao
servo por ter feito o que lhe fora ordenado? 10. Penso que não. Assim, quando
houverdes feito tudo o que vos foi ordenado, dizei: Somos servos inúteis;
fizemos o que éramos obrigados a fazer.
Significa isto que nada
somos, em comparação com o Senhor, que tem o direito de tudo exigir de nós, a
quem tudo foi dado. Não nos devemos, portanto, vangloriar do que fizermos,
tendo em vista agradá-lo. Temos que esforçar-nos por cumprir o nosso dever, sem
que a isso nos mova unicamente a esperança de uma recompensa. A preocupação do
cumprimento do dever, o reconhecimento para com Deus e a esperança de
satisfazê-lo, tais os sentimentos exclusivos que nos devem animar.
Os dez leprosos
11. Ora, sucedeu que, dirigindo-se
para Jerusalém, teve Jesus que atravessar a Samaria e a Galileia. 12. Ao entrar
numa aldeia, saíram-lhe ao encontro dez leprosos que pararam ao longe, 13, e
lhe bradaram: Jesus, Mestre, tem piedade de nós. 14. Assim que os viu, Jesus
disse: Ide mostrar-vos aos sacerdotes. E aconteceu que, enquanto iam, ficaram
limpos. 15. Vendo-se curado, um deles retrocedeu, glorificando a Deus em altas
vozes. 16. E se prostrou, rosto em terra aos pés de Jesus, rendendo-lhe graças.
Esse era Samaritano. 17. Perguntou-lhe Jesus: Os dez não ficaram limpos? Onde
estão os outros nove? 18. Então, nenhum mais, senão este estrangeiro, voltou
para glorificar a Deus? 19. E, dirigindo-se ao estrangeiro, disse: Levanta-te,
vai, tua fé te salvou.
Com o fato aqui narrado,
ensinou Jesus que não basta, a quem quer que seja, haver nascido sob uma
doutrina religiosa qualquer, aceitar, praticar mesmo seus dogmas, para adquirir
méritos perante o Senhor; que o seu manto de misericórdia se estende sobre
todos, sem distinguir o Samaritano do Judeu, o ortodoxo do herético, conforme
Ele tornou claro no seu colóquio com a Samaritana (Evangelho de João, capítulo
4), onde mostrou aos homens que, para o Pai, não há heréticos, nem ortodoxos,
mas tão-somente filhos mais ou menos amorosos, mais ou menos submissos, aos
quais Ele transmite suas instruções, sejam quais forem as crenças que
professem, a pátria onde tenham nascido, uma vez que seus corações os
encaminhem para Ele e que se revelem prontos a receber os ensinos, as graças
que Ele lhes manda e que abrem ao Espírito as sendas do progresso, assim de
ordem física, como de ordem moral e intelectual e o levam à perfeição.
O Samaritano, de que fala o
texto evangélico, logo que se viu limpo, voltou, cheio de reconhecimento, para
se prostrar aos pés do caridoso Médico e lhe render graças por tamanho
benefício, enquanto os Judeus, que se julgavam os filhos privilegiados,
trataram de ir cumprir as formalidades legais, para sem demora voltarem ao
convívio dos outros homens, convívio de que tinham sido expulsos, porque eram
leprosos. Foi também o que se deu com os comprovincianos da mulher de Samaria,
a quem Jesus, à borda do “poço de Jacó”, ofereceu a água nova, que mata para
sempre toda sede. Eles logo se reuniram em torno do Mestre, a lhe dizerem: Senhor,
a tua palavra penetrou em nossos corações, a tua luz nos deslumbrou, cremos em
ti.
Como se explica que, em face
de tais ensinamentos e exemplos, a Igreja romana persista em chamar de
diabólica a Doutrina Espírita e em considerar excomungados os que a professam?
É que ela se acha completamente divorciada do Evangelho, nada tendo de comum
com a Doutrina Cristã a de que é chefe o Pontífice Romano.
Em oposição aos ensinos de
Jesus, ela adota o princípio de ortodoxia, em que se apoiavam os Judeus, e
declara heréticos e persegue como tais todos os que professam crenças
divergentes dos seus dogmas humanos, das suas interpretações humanas, de seus
preceitos, fundados principalmente em interesses materiais.
Assim, pois, se considerando
o que éramos, pudermos reconhecer, pelo que somos, quanto o Senhor há feito por
nós, no sentido de curar-nos da lepra do pecado, de limpar-nos das imperfeições
morais, em vez de continuarmos pelo caminho que levávamos e irmos preencher vãs
formalidades de culto exterior, retrocedamos, em busca do Senhor, para nos
prosternarmos aos seus pés, com os corações transbordantes de reconhecimento e
de amor e com o firme propósito de lhe seguirmos os passos.
Quanto à cura dos leprosos,
operou-a como todas as outras de que tratam os Evangelhos e como já deixamos
explicado, uma ação fluídica exercida por Jesus sobre os doentes.
O reino de Deus está dentro de nós
20.
Como os fariseus lhe perguntassem: Quando vem o reino de Deus? Ele respondeu: O
reino de Deus não virá de modo a que possa ser notado. 21. Não se dirá: Ele
está aqui ou está ali, porquanto o reino de Deus está dentro de vós. 22. E
disse aos discípulos: Tempo virá em que querereis ver um dos dias do filho do
homem e não o vereis. 23. Dir-vos-ão: Ei-lo aqui, ei-lo ali; não vades, não os
sigais; 24, pois, tal como o relâmpago que brilha de um lado a outro do céu,
assim será o filho do homem no seu dia.
O reino de Deus o homem o
traz em si mesmo, pois que é no exercício de suas faculdades que se lhe depara
o meio de alcançá-lo, isto é, de atingir a perfeição moral. Ele não virá, como
o relâmpago, produzindo um clarão que o faça notado, por isso que só
lentamente, de progresso em progresso, de ascensão em ascensão, pode o homem
aproximar o advento em si daquele reino. Só a perfeição moral humana o fará vir
implantar-se na Terra.
Nenhum abalo brusco a trará.
Unicamente por um trabalho demorado, penoso, incessante, o homem o conquistará.
O reino de Deus não é um
lugar circunscrito, qual o imaginaram as criaturas terrenas.
Não é uma habitação
venturosa, onde logremos penetrar. Não. É a imensidade na virtude.
Vê-se, pois aí, que o reino
de Deus está em nós; se não o percebemos, é porque ainda não sabemos
descobri-lo. Ele, em suma, é a União das almas depuradas. Depuremos, pois, as
nossas, para o possuirmos.
Tempo virá, em que
desejareis ver um dos dias do filho do homem e não o vereis. Quantos e quantos,
com efeito, não desejariam presenciar os atos e as obras praticados por Nosso
Senhor Jesus Cristo? Quantos não quereriam ver passar aqueles dias, em que o
Senhor pregava e exemplificava a moral de que fora portador ao mundo. Certo o
desejariam todos os que já compreendem que o único remédio para os males da
Humanidade consiste na observância dos dois grandes preceitos do amor e da
caridade, que implicam a prática da união, da solidariedade, da justiça, da
fraternidade, do mútuo auxílio. Aqueles dias, porém, não voltaram e muito
tardarão ainda a vir. Só virão de novo, quando nos despegarmos das influências
e dos apetites da matéria, fontes do orgulho, do egoísmo, do sensualismo e da
sensualidade, de modo a podermos assimilar a moral do filho do homem, que, se
volvesse à Terra, antes de estarmos amadurecidos para contemplarmos o renascer
do seu dia, seria tratado, pelos novos escribas, fariseus e doutores da lei,
como o foi pelos de antanho.
Dir-vos-ão,
ei-lo aqui, ei-lo ali; não vades, não sigais os que assim falem.
Estas palavras se aplicavam aos abusos a que, com a sua presciência, o divino
Mestre via sujeita a sua doutrina, no correr dos tempos, abusos que se
traduziriam como de fato sucedeu, pela utilização do seu nome e da Sua
autoridade, para se transviarem ou cegarem os fracos e os crédulos; pelas
adições feitas à lei e que, não constituindo, como não constituem, por isso
mesmo que são adições, partes integrantes da lei de fraternidade, igualdade,
liberdade e, pois, de justiça, de amor e de caridade, representam deturpações
da lei; pelos falazes ornamentos de que cobriram os puros e suaves preceitos da
moral sublime que Ele personifica.
São aditamentos à sua lei
tudo o que tender a materializar o que está e não pode deixar de estar
submetido à inteligência e ao coração dos homens, inteligência e coração para
os quais fora feita e se dirige, como se dirigirá sempre, aquela lei.
Momento, no entanto, virá,
em que, despojada dos enganosos ornamentos com que a cobriram, a lei do Cristo
se mostrará repentinamente aos homens, como um relâmpago, em toda a sua pureza.
É o momento em que se fará a reforma na gente dos cultos. A isso proverá Deus,
mediante as encarnações, que forem precisas, de Espíritos em missão, os quais
conduzirão a Humanidade a conhecer, em espírito e verdade, o Pai, o Filho e o
Espírito Santo.
Essa reforma determinará o
desaparecimento dos diversos cultos exteriores, que dividem e separam os
homens, e os levará a se unirem num culto único: o de adoração sincera do Pai Deus,
uno, único indivisível por meio da prece do coração e não dos lábios somente,
da prece espiritual, do jejum espiritual, da prática do amor ao Criador acima
de tudo e ao próximo, como a si mesmo. Essa adoração se expressará também pelo
amor, pelo respeito e pelo reconhecimento para com o Filho, Jesus, protetor e
governador do nosso planeta e da Humanidade terrena; pela invocação feita a
Deus e ao seu Cristo, para que conceda às suas criaturas o auxílio, o concurso
e a proteção do Espírito Santo: os bons Espíritos.
Pela reforma de que falamos,
terão cumprimento estas palavras do Senhor: “Tempo virá, em que não será mais
no cume do monte, nem em Jerusalém, que adorareis o Pai”.
Tornados os verdadeiros
adoradores que o Pai reclama, os homens o adorarão em espírito e verdade e
todos esses lugares, chamados sinagogas, igrejas, mesquitas, templos, se
mudarão, indistintamente, em lugares de reunião, de prece, de instrução, onde,
impelidos pelos sentimentos da humildade, da caridade, do amor, todos se
congregarão em assembleias, para, sob a influência e a proteção dos bons
Espíritos, elegerem unanimemente o mais digno, o mais esclarecido, o de maior
merecimento, para presidir a todas.
O Universo é o templo do
Senhor. Não queiramos antecipar o futuro.
Sinais precursores da segunda vinda de
Jesus
25.
Mas, é necessário que antes ele sofra muito e seja sujeitado por esta geração. 26.
E, tal como sucedeu ao tempo de Noé, assim sucederá nos dias do filho do homem.
27. Comiam e bebiam, os homens desposavam as mulheres e as mulheres tomavam
marido até ao dia em que Noé entrou na arca; veio então o dilúvio e os fez
perecer a todos. 28. Semelhantemente sucedeu nos dias de Ló: Comiam e bebiam,
compravam e vendiam, plantavam e edificavam. 29. No dia, porém, em que Ló saiu
de Sodoma, choveu do céu fogo e enxofre, que os fez perecer a todos. 30. Assim
será no dia em que o filho do homem aparecer. 31. Nesse dia, aquele que se
achar no eirado e tiver dentro de casa seus haveres não desça para os tirar de
lá e do mesmo modo não volte atrás aquele que estiver no campo. 32. Lembrai-vos
da mulher de Ló. 33. Todo aquele que procurar salvar a vida perdê-la-á e todo
aquele que a perder salvá-la-á. 34. Digo-vos que nessa noite, de duas pessoas
que estiverem no mesmo leito, uma será tomada e deixada a outra; 35, de duas
mulheres que juntas estiverem moendo, uma será tomada e deixada a outra, de
dois homens que estiverem no mesmo campo, um será tomado e o outro deixado. 36.
Perguntaram-lhe então os discípulos: Onde será isso, Senhor? 37. Respondeu ele:
Onde quer que esteja o corpo, aí se reunirão as águias.
Respondendo aos fariseus,
Jesus lhes declarou que o reino de Deus está em nós e que se nos tornará
patente, quando estivermos em condições de bem assimilar a moral do Filho do
Homem, libertos da influência da matéria, o que significa: quando houvermos
atingido a perfeição moral. Continuando, disse ainda o divino Mestre ser,
entretanto, necessário que Ele, o Filho do Homem, sofresse muito e fosse
rejeitado por aquela geração. Com efeito, foi preciso que o legislador apusesse
à lei, que trouxera ao mundo, o selo do seu amor, levando o devotamento que
viera exemplificar diante dos homens ao extremo limite, que está, para os
mesmos homens, no sacrifício da vida. Apesar disso, porém, repeliu aquela lei a
geração que a recebeu, como a de hoje ainda a repele. É que muitos Espíritos,
rebeldes quando da missão do Cristo, na Terra vivem de novo, sempre rebeldes.
Ao mesmo tempo, pela sua
“morte”, Jesus nos ensinou a não ligarmos exagerada importância à nossa
existência, do mesmo modo que, pela sua vida, nos mostrou que não devemos
prodigalizá-la inutilmente, salvaguardando-a, aos olhos dos homens, com o lhes
desaparecer das vistas todas as vezes que ela correu perigo, antes do momento
em que, pela “morte”, remataria o edifício que seu amor construiu. Está claro
que, falando, assim, da “morte” de Jesus, da “preservação da sua vida”, dos
“perigos” que esta correu, fazemo-lo de acordo com a maneira de entender dos
homens, pois, pela Nova Revelação, sabemos que, não sendo carnal o seu corpo,
mas fluídico, celeste, Ele não se achava sujeito a nenhuma dessas vicissitudes.
As alusões do Divino Mestre
aos tempos de Noé e de Ló, à chuva de fogo e de enxofre, tiveram por fim compor
uma alegoria capaz de produzir efeito naquela época em que, engolfados nas
preocupações e cuidados, de uma vida toda material, os homens não cogitavam,
sequer, da vida eterna, de progredir, do futuro que os aguardaria, como com
tantos e tantos ainda hoje sucede. Inesperadamente, porém, chega o momento,
como chegaram o do dilúvio, o da destruição de Sodoma, em que todos os
Espíritos materiais, todos os Espíritos carnais serão afastados do nosso
planeta, onde só a espiritualidade terá que reinar, indo, depois de se sentirem
deslumbrados pela luz que de súbito lhes brilhará ante os olhos, para planetas
inferiores à Terra, nos quais o fogo dos remorsos os devorará e sofrerão
duríssimas expiações, até que, pelo arrependimento, volvam ao caminho que os
levará à conquista do lugar que lhes está reservado, visto que a lei do progresso ninguém jamais poderá
furtar-se.
Versículos 31 e 32. Que as
preocupações de ordem material nos não dominem o pensamento, desde que tenhamos
compreendido que nos cumpre, sem mais demora, pensar em nosso futuro
espiritual, para que nos não aconteça como à mulher de Ló que, segundo a
narrativa da Gênese (capítulo 19, versículo 26), “se transformou em estátua de
sal, que se derreteu”. Lenda pueril, oriunda da ingenuidade das épocas
primitivas. O que se deu com aquela mulher que, preocupada com os bens
materiais que era forçada a abandonar, se demorou em fugir, consistiu no
seguinte: foi atingida por um raio e, quando caiu ao chão, estava reduzida a
cinzas.
As palavras de Jesus,
constantes nos versículos que estamos estudando, destinadas a impressionar
fortemente as inteligências dos que as ouviam e a tocar também as das gerações
que se sucederam, Ele as dirigia igualmente à nossa e às que se seguirão,
porquanto já vêm próximos os tempos em que começará a depuração da Terra, pelo
que com zelo e solicitude devemos cuidar do progresso moral e intelectual nosso
e dos nossos irmãos, do futuro dos nossos e dos seus Espíritos.
Versículo 33. Compreendamos
bem, em espírito e verdade, o pensamento de Jesus, dizendo, de um duplo ponto
de vista, o que consta neste versículo.
Aquele que só vive para o
presente, preocupado unicamente em conservar a vida material, virá, mais cedo
ou mais tarde, a perdê-la, pois que morrerá. Mas, como, ao perdê-la, não tenha
cuidado do seu progresso espiritual, que é o em que consiste a salvação da
alma, terá de recomeçar, achando assim de novo a vida que perdera e pela qual
se lhe reabre a estrada que o conduzirá à meta.
Aquele que trata de salvar a
vida espiritual perderá a vida material, mas achará do outro lado do túmulo a
que não tem fim, a que ambicionava.
Versículos 34 e 35. Como nem
todos se acharão no mesmo grau de adiantamento, na época da purificação do
planeta, forçoso será que haja uma escolha dos que possam continuar a
reencarnar na Terra, uma vez concluída a separação do joio e do trigo.
Versículos 36 e 37. À sua
resposta deu Jesus uma forma evasiva, pela mesma razão por que muitas vezes
falava servindo-se de figuras emblemáticas, isto é, porque os discípulos o não
compreenderiam, se respondesse de modo preciso. Hoje, pela nova revelação,
sabemos que as palavras do Mestre querem dizer: por toda parte onde haja na
Terra humanidade, haverá progresso e mudança e onde quer que a depuração se
tenha completado, aí se reunirão os Espíritos purificados, os guias, as águias.
(3)
(3) Afigura-se-nos que às
palavras do versículo 37 se pode dar a seguinte interpretação mais precisa e
que, em essência, não difere da que os Evangelistas lhe atribuíram: onde quer
que haja Espíritos encarnados, aí se reunirão Espíritos desencarnados,
simbolizados nas águias pela liberdade e amplitude de ação, pelo poder.
Reunir-se-ão, a fim de tornar efetivo, para os primeiros, o cumprimento das
provas, das expiações, dos resgates a que se achem sujeitos, auxiliando-os, de
tal forma, na efetivação do progresso que lhes cumpra realizar. As águias
serão, nesse caso, assim os Espíritos bons, elevados, mais ou menos
purificados, cuja ação se exerce no sentido de amparar e fortalecer os
encarnados, para que vençam com felicidade suas provações, colhendo bons frutos
da encarnação em que se encontram, como também os Espíritos atrasados,
inferiores, moralmente cegos, cuja ação maléfica intensifica as dores e os
sofrimentos dos encarnados, que, por efeito da lei de afinidade, os atraiam de
preferência aos que poderiam e desejariam ajudá-los, dando àquelas dores e
sofrimentos um acréscimo de intensidade, correspondente à rebeldia que manifestem
em face da lei divina. Numa hipótese, como noutra, haverá sempre, conforme claramente
se verifica, execução plena da lei de justiça e misericórdia.
SAYÃO, Antonio Luiz. Elucidações evangélicas.
FEB (e-book).
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