Evangelho segundo Lucas - cap. 17

É necessário que se deem escândalos, é impossível que não se deem. Mas, ai do homem que cause o escândalo

(Mateus, 18:6-11; Marcos, 9:42-50)

1. Disse Jesus a seus discípulos: É impossível que não venham escândalos; mas ai daqueles por quem vêm os escândalos. 2. A esse melhor fora lhe atassem ao pescoço uma mó de moinho e o lançassem ao mar do que escandalizar a um destes pequeninos.

No planeta atrasado em que habitamos, as encarnações, em geral, são concedidas aos Espíritos que as pedem, para expiação e reparação de faltas que anteriormente cometeram. Consistem as expiações em sofrimentos físicos e morais, sofrimentos esses que, muitas vezes, são causados pelos maus atos, maus conselhos, maus exemplos de outros que, obstinados no mal, se tornam assim causas ou instrumentos de escândalo. Constitui este, para o que lhe experimenta as consequências, uma como punição de suas culpas e, portanto, um fator do seu progresso.

Necessário é, pois, que haja escândalo no mundo, visto que só mediante eles muitas consciências despertam para o reconhecimento dos erros praticados e para o arrependimento, e que, pelo contacto com os vícios, e que as virtudes se fortalecem e deles triunfam. Ai, porém, dos que ocasionem o escândalo, e ai também, ainda que menor lhes seja a culpa, dos que se deixem levar até ao escândalo. Mais valera não houvessem encarnado, antes de estarem bastante amadurecidos para uma vida melhor.

Qualquer que seja o sacrifício que nos custe à destruição, em nossas almas, de todas as causas do mal, preferível é que o façamos, a que nos tornemos causa de escândalo, com o que nos condenaremos a sofrer, durante séculos talvez, na vida errante do Espírito culpado, uma tortura de todos os momentos, sem que nos sorria a esperança de ver-lhe o fim, enquanto o arrependimento não nos abrir o coração para aninhá-la, induzindo-nos ao desejo de baixarmos de novo ao mundo, para, numa outra vida, expiar e reparar o mal praticado.

Palavras de Jesus relativas ao perdão e ao esquecimento das injúrias e das ofensas

(Mateus, 18:15-17)

3. Tende cuidado convosco: se contra ti pecou o teu irmão, repreende-o. Se se arrepender, perdoa-lhe. 4. Se contra ti ele pecar sete vezes no dia e sete vezes no dia te procurar para dizer: Eu me arrependo perdoa-lhe.

Quer isto dizer: se houverdes de fazer a algum de vossos irmãos uma censura qualquer, procurai formulá-la com palavras brandas, persuasivas, a fim de que ele se corrija. Se vos houver ofendido, perdoai-lhe com sinceridade a ofensa recebida, ocultando-a dos estranhos, para que ele não fique vexado, e Deus vos perdoará do mesmo modo por que houverdes perdoado.

Não guardeis jamais prevenção alguma contra um irmão vosso. Jamais, cedendo a um rancor que, em certos casos, do ponto de vista humano, possa parecer legítimo, vos arrisqueis a fazer que aquele que vos ofendeu recalque para o fundo do coração o seu arrependimento sincero.

Razão nenhuma, aliás, pode haver, para procedermos de modo contrário, pois sabemos que, conforme o disse Nosso Senhor Jesus Cristo, seremos julgados como houvermos julgado. Além disso, não nos devemos esquecer de que, amiúde, não apenas sete vezes no dia, mas setenta vezes sete vezes ofendemos a Majestade divina, ofensas estas que consistem na transgressão de suas leis e em todas as tentativas que façamos para nos subtrairmos à ação delas.

Usemos, pois, para com os nossos irmãos, da benevolência de que tanta necessidade temos e digamos, sinceros, ao Senhor: “Perdoa as minhas ofensas, como perdoo as de meus Irmãos. 

Cumprimento do dever com humildade e desinteresse, com o sentimento de amor e gratidão ao Criador

7. Qual de vós o que, tendo um servo ocupado em lhe lavrar a terra, ou em lhe apascentar os rebanhos, diz a esse servo, ao voltar ele dos campos: Vem sentar-te à mesa? 8. Não lhe dirá antes: Prepara-me a ceia, cinge-te e serve-me, até que eu tenha comido e bebido; depois comerás e beberás? 9. E o amo deve porventura agradecimento ao servo por ter feito o que lhe fora ordenado? 10. Penso que não. Assim, quando houverdes feito tudo o que vos foi ordenado, dizei: Somos servos inúteis; fizemos o que éramos obrigados a fazer.

Significa isto que nada somos, em comparação com o Senhor, que tem o direito de tudo exigir de nós, a quem tudo foi dado. Não nos devemos, portanto, vangloriar do que fizermos, tendo em vista agradá-lo. Temos que esforçar-nos por cumprir o nosso dever, sem que a isso nos mova unicamente a esperança de uma recompensa. A preocupação do cumprimento do dever, o reconhecimento para com Deus e a esperança de satisfazê-lo, tais os sentimentos exclusivos que nos devem animar.

Os dez leprosos

11. Ora, sucedeu que, dirigindo-se para Jerusalém, teve Jesus que atravessar a Samaria e a Galileia. 12. Ao entrar numa aldeia, saíram-lhe ao encontro dez leprosos que pararam ao longe, 13, e lhe bradaram: Jesus, Mestre, tem piedade de nós. 14. Assim que os viu, Jesus disse: Ide mostrar-vos aos sacerdotes. E aconteceu que, enquanto iam, ficaram limpos. 15. Vendo-se curado, um deles retrocedeu, glorificando a Deus em altas vozes. 16. E se prostrou, rosto em terra aos pés de Jesus, rendendo-lhe graças. Esse era Samaritano. 17. Perguntou-lhe Jesus: Os dez não ficaram limpos? Onde estão os outros nove? 18. Então, nenhum mais, senão este estrangeiro, voltou para glorificar a Deus? 19. E, dirigindo-se ao estrangeiro, disse: Levanta-te, vai, tua fé te salvou.

Com o fato aqui narrado, ensinou Jesus que não basta, a quem quer que seja, haver nascido sob uma doutrina religiosa qualquer, aceitar, praticar mesmo seus dogmas, para adquirir méritos perante o Senhor; que o seu manto de misericórdia se estende sobre todos, sem distinguir o Samaritano do Judeu, o ortodoxo do herético, conforme Ele tornou claro no seu colóquio com a Samaritana (Evangelho de João, capítulo 4), onde mostrou aos homens que, para o Pai, não há heréticos, nem ortodoxos, mas tão-somente filhos mais ou menos amorosos, mais ou menos submissos, aos quais Ele transmite suas instruções, sejam quais forem as crenças que professem, a pátria onde tenham nascido, uma vez que seus corações os encaminhem para Ele e que se revelem prontos a receber os ensinos, as graças que Ele lhes manda e que abrem ao Espírito as sendas do progresso, assim de ordem física, como de ordem moral e intelectual e o levam à perfeição.

O Samaritano, de que fala o texto evangélico, logo que se viu limpo, voltou, cheio de reconhecimento, para se prostrar aos pés do caridoso Médico e lhe render graças por tamanho benefício, enquanto os Judeus, que se julgavam os filhos privilegiados, trataram de ir cumprir as formalidades legais, para sem demora voltarem ao convívio dos outros homens, convívio de que tinham sido expulsos, porque eram leprosos. Foi também o que se deu com os comprovincianos da mulher de Samaria, a quem Jesus, à borda do “poço de Jacó”, ofereceu a água nova, que mata para sempre toda sede. Eles logo se reuniram em torno do Mestre, a lhe dizerem: Senhor, a tua palavra penetrou em nossos corações, a tua luz nos deslumbrou, cremos em ti.

Como se explica que, em face de tais ensinamentos e exemplos, a Igreja romana persista em chamar de diabólica a Doutrina Espírita e em considerar excomungados os que a professam? É que ela se acha completamente divorciada do Evangelho, nada tendo de comum com a Doutrina Cristã a de que é chefe o Pontífice Romano.

Em oposição aos ensinos de Jesus, ela adota o princípio de ortodoxia, em que se apoiavam os Judeus, e declara heréticos e persegue como tais todos os que professam crenças divergentes dos seus dogmas humanos, das suas interpretações humanas, de seus preceitos, fundados principalmente em interesses materiais.

Assim, pois, se considerando o que éramos, pudermos reconhecer, pelo que somos, quanto o Senhor há feito por nós, no sentido de curar-nos da lepra do pecado, de limpar-nos das imperfeições morais, em vez de continuarmos pelo caminho que levávamos e irmos preencher vãs formalidades de culto exterior, retrocedamos, em busca do Senhor, para nos prosternarmos aos seus pés, com os corações transbordantes de reconhecimento e de amor e com o firme propósito de lhe seguirmos os passos.

Quanto à cura dos leprosos, operou-a como todas as outras de que tratam os Evangelhos e como já deixamos explicado, uma ação fluídica exercida por Jesus sobre os doentes.

O reino de Deus está dentro de nós

20. Como os fariseus lhe perguntassem: Quando vem o reino de Deus? Ele respondeu: O reino de Deus não virá de modo a que possa ser notado. 21. Não se dirá: Ele está aqui ou está ali, porquanto o reino de Deus está dentro de vós. 22. E disse aos discípulos: Tempo virá em que querereis ver um dos dias do filho do homem e não o vereis. 23. Dir-vos-ão: Ei-lo aqui, ei-lo ali; não vades, não os sigais; 24, pois, tal como o relâmpago que brilha de um lado a outro do céu, assim será o filho do homem no seu dia.

O reino de Deus o homem o traz em si mesmo, pois que é no exercício de suas faculdades que se lhe depara o meio de alcançá-lo, isto é, de atingir a perfeição moral. Ele não virá, como o relâmpago, produzindo um clarão que o faça notado, por isso que só lentamente, de progresso em progresso, de ascensão em ascensão, pode o homem aproximar o advento em si daquele reino. Só a perfeição moral humana o fará vir implantar-se na Terra.

Nenhum abalo brusco a trará. Unicamente por um trabalho demorado, penoso, incessante, o homem o conquistará.

O reino de Deus não é um lugar circunscrito, qual o imaginaram as criaturas terrenas.

Não é uma habitação venturosa, onde logremos penetrar. Não. É a imensidade na virtude.

Vê-se, pois aí, que o reino de Deus está em nós; se não o percebemos, é porque ainda não sabemos descobri-lo. Ele, em suma, é a União das almas depuradas. Depuremos, pois, as nossas, para o possuirmos.

Tempo virá, em que desejareis ver um dos dias do filho do homem e não o vereis. Quantos e quantos, com efeito, não desejariam presenciar os atos e as obras praticados por Nosso Senhor Jesus Cristo? Quantos não quereriam ver passar aqueles dias, em que o Senhor pregava e exemplificava a moral de que fora portador ao mundo. Certo o desejariam todos os que já compreendem que o único remédio para os males da Humanidade consiste na observância dos dois grandes preceitos do amor e da caridade, que implicam a prática da união, da solidariedade, da justiça, da fraternidade, do mútuo auxílio. Aqueles dias, porém, não voltaram e muito tardarão ainda a vir. Só virão de novo, quando nos despegarmos das influências e dos apetites da matéria, fontes do orgulho, do egoísmo, do sensualismo e da sensualidade, de modo a podermos assimilar a moral do filho do homem, que, se volvesse à Terra, antes de estarmos amadurecidos para contemplarmos o renascer do seu dia, seria tratado, pelos novos escribas, fariseus e doutores da lei, como o foi pelos de antanho.

Dir-vos-ão, ei-lo aqui, ei-lo ali; não vades, não sigais os que assim falem. Estas palavras se aplicavam aos abusos a que, com a sua presciência, o divino Mestre via sujeita a sua doutrina, no correr dos tempos, abusos que se traduziriam como de fato sucedeu, pela utilização do seu nome e da Sua autoridade, para se transviarem ou cegarem os fracos e os crédulos; pelas adições feitas à lei e que, não constituindo, como não constituem, por isso mesmo que são adições, partes integrantes da lei de fraternidade, igualdade, liberdade e, pois, de justiça, de amor e de caridade, representam deturpações da lei; pelos falazes ornamentos de que cobriram os puros e suaves preceitos da moral sublime que Ele personifica.

São aditamentos à sua lei tudo o que tender a materializar o que está e não pode deixar de estar submetido à inteligência e ao coração dos homens, inteligência e coração para os quais fora feita e se dirige, como se dirigirá sempre, aquela lei.

Momento, no entanto, virá, em que, despojada dos enganosos ornamentos com que a cobriram, a lei do Cristo se mostrará repentinamente aos homens, como um relâmpago, em toda a sua pureza. É o momento em que se fará a reforma na gente dos cultos. A isso proverá Deus, mediante as encarnações, que forem precisas, de Espíritos em missão, os quais conduzirão a Humanidade a conhecer, em espírito e verdade, o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

Essa reforma determinará o desaparecimento dos diversos cultos exteriores, que dividem e separam os homens, e os levará a se unirem num culto único: o de adoração sincera do Pai Deus, uno, único indivisível por meio da prece do coração e não dos lábios somente, da prece espiritual, do jejum espiritual, da prática do amor ao Criador acima de tudo e ao próximo, como a si mesmo. Essa adoração se expressará também pelo amor, pelo respeito e pelo reconhecimento para com o Filho, Jesus, protetor e governador do nosso planeta e da Humanidade terrena; pela invocação feita a Deus e ao seu Cristo, para que conceda às suas criaturas o auxílio, o concurso e a proteção do Espírito Santo: os bons Espíritos.

Pela reforma de que falamos, terão cumprimento estas palavras do Senhor: “Tempo virá, em que não será mais no cume do monte, nem em Jerusalém, que adorareis o Pai”.

Tornados os verdadeiros adoradores que o Pai reclama, os homens o adorarão em espírito e verdade e todos esses lugares, chamados sinagogas, igrejas, mesquitas, templos, se mudarão, indistintamente, em lugares de reunião, de prece, de instrução, onde, impelidos pelos sentimentos da humildade, da caridade, do amor, todos se congregarão em assembleias, para, sob a influência e a proteção dos bons Espíritos, elegerem unanimemente o mais digno, o mais esclarecido, o de maior merecimento, para presidir a todas.

O Universo é o templo do Senhor. Não queiramos antecipar o futuro.

Sinais precursores da segunda vinda de Jesus

25. Mas, é necessário que antes ele sofra muito e seja sujeitado por esta geração. 26. E, tal como sucedeu ao tempo de Noé, assim sucederá nos dias do filho do homem. 27. Comiam e bebiam, os homens desposavam as mulheres e as mulheres tomavam marido até ao dia em que Noé entrou na arca; veio então o dilúvio e os fez perecer a todos. 28. Semelhantemente sucedeu nos dias de Ló: Comiam e bebiam, compravam e vendiam, plantavam e edificavam. 29. No dia, porém, em que Ló saiu de Sodoma, choveu do céu fogo e enxofre, que os fez perecer a todos. 30. Assim será no dia em que o filho do homem aparecer. 31. Nesse dia, aquele que se achar no eirado e tiver dentro de casa seus haveres não desça para os tirar de lá e do mesmo modo não volte atrás aquele que estiver no campo. 32. Lembrai-vos da mulher de Ló. 33. Todo aquele que procurar salvar a vida perdê-la-á e todo aquele que a perder salvá-la-á. 34. Digo-vos que nessa noite, de duas pessoas que estiverem no mesmo leito, uma será tomada e deixada a outra; 35, de duas mulheres que juntas estiverem moendo, uma será tomada e deixada a outra, de dois homens que estiverem no mesmo campo, um será tomado e o outro deixado. 36. Perguntaram-lhe então os discípulos: Onde será isso, Senhor? 37. Respondeu ele: Onde quer que esteja o corpo, aí se reunirão as águias.

Respondendo aos fariseus, Jesus lhes declarou que o reino de Deus está em nós e que se nos tornará patente, quando estivermos em condições de bem assimilar a moral do Filho do Homem, libertos da influência da matéria, o que significa: quando houvermos atingido a perfeição moral. Continuando, disse ainda o divino Mestre ser, entretanto, necessário que Ele, o Filho do Homem, sofresse muito e fosse rejeitado por aquela geração. Com efeito, foi preciso que o legislador apusesse à lei, que trouxera ao mundo, o selo do seu amor, levando o devotamento que viera exemplificar diante dos homens ao extremo limite, que está, para os mesmos homens, no sacrifício da vida. Apesar disso, porém, repeliu aquela lei a geração que a recebeu, como a de hoje ainda a repele. É que muitos Espíritos, rebeldes quando da missão do Cristo, na Terra vivem de novo, sempre rebeldes.

Ao mesmo tempo, pela sua “morte”, Jesus nos ensinou a não ligarmos exagerada importância à nossa existência, do mesmo modo que, pela sua vida, nos mostrou que não devemos prodigalizá-la inutilmente, salvaguardando-a, aos olhos dos homens, com o lhes desaparecer das vistas todas as vezes que ela correu perigo, antes do momento em que, pela “morte”, remataria o edifício que seu amor construiu. Está claro que, falando, assim, da “morte” de Jesus, da “preservação da sua vida”, dos “perigos” que esta correu, fazemo-lo de acordo com a maneira de entender dos homens, pois, pela Nova Revelação, sabemos que, não sendo carnal o seu corpo, mas fluídico, celeste, Ele não se achava sujeito a nenhuma dessas vicissitudes.

As alusões do Divino Mestre aos tempos de Noé e de Ló, à chuva de fogo e de enxofre, tiveram por fim compor uma alegoria capaz de produzir efeito naquela época em que, engolfados nas preocupações e cuidados, de uma vida toda material, os homens não cogitavam, sequer, da vida eterna, de progredir, do futuro que os aguardaria, como com tantos e tantos ainda hoje sucede. Inesperadamente, porém, chega o momento, como chegaram o do dilúvio, o da destruição de Sodoma, em que todos os Espíritos materiais, todos os Espíritos carnais serão afastados do nosso planeta, onde só a espiritualidade terá que reinar, indo, depois de se sentirem deslumbrados pela luz que de súbito lhes brilhará ante os olhos, para planetas inferiores à Terra, nos quais o fogo dos remorsos os devorará e sofrerão duríssimas expiações, até que, pelo arrependimento, volvam ao caminho que os levará à conquista do lugar que lhes está reservado, visto que a   lei do progresso ninguém jamais poderá furtar-se.

Versículos 31 e 32. Que as preocupações de ordem material nos não dominem o pensamento, desde que tenhamos compreendido que nos cumpre, sem mais demora, pensar em nosso futuro espiritual, para que nos não aconteça como à mulher de Ló que, segundo a narrativa da Gênese (capítulo 19, versículo 26), “se transformou em estátua de sal, que se derreteu”. Lenda pueril, oriunda da ingenuidade das épocas primitivas. O que se deu com aquela mulher que, preocupada com os bens materiais que era forçada a abandonar, se demorou em fugir, consistiu no seguinte: foi atingida por um raio e, quando caiu ao chão, estava reduzida a cinzas.

As palavras de Jesus, constantes nos versículos que estamos estudando, destinadas a impressionar fortemente as inteligências dos que as ouviam e a tocar também as das gerações que se sucederam, Ele as dirigia igualmente à nossa e às que se seguirão, porquanto já vêm próximos os tempos em que começará a depuração da Terra, pelo que com zelo e solicitude devemos cuidar do progresso moral e intelectual nosso e dos nossos irmãos, do futuro dos nossos e dos seus Espíritos.

Versículo 33. Compreendamos bem, em espírito e verdade, o pensamento de Jesus, dizendo, de um duplo ponto de vista, o que consta neste versículo.

Aquele que só vive para o presente, preocupado unicamente em conservar a vida material, virá, mais cedo ou mais tarde, a perdê-la, pois que morrerá. Mas, como, ao perdê-la, não tenha cuidado do seu progresso espiritual, que é o em que consiste a salvação da alma, terá de recomeçar, achando assim de novo a vida que perdera e pela qual se lhe reabre a estrada que o conduzirá à meta.

Aquele que trata de salvar a vida espiritual perderá a vida material, mas achará do outro lado do túmulo a que não tem fim, a que ambicionava.

Versículos 34 e 35. Como nem todos se acharão no mesmo grau de adiantamento, na época da purificação do planeta, forçoso será que haja uma escolha dos que possam continuar a reencarnar na Terra, uma vez concluída a separação do joio e do trigo.

Versículos 36 e 37. À sua resposta deu Jesus uma forma evasiva, pela mesma razão por que muitas vezes falava servindo-se de figuras emblemáticas, isto é, porque os discípulos o não compreenderiam, se respondesse de modo preciso. Hoje, pela nova revelação, sabemos que as palavras do Mestre querem dizer: por toda parte onde haja na Terra humanidade, haverá progresso e mudança e onde quer que a depuração se tenha completado, aí se reunirão os Espíritos purificados, os guias, as águias. (3)

(3) Afigura-se-nos que às palavras do versículo 37 se pode dar a seguinte interpretação mais precisa e que, em essência, não difere da que os Evangelistas lhe atribuíram: onde quer que haja Espíritos encarnados, aí se reunirão Espíritos desencarnados, simbolizados nas águias pela liberdade e amplitude de ação, pelo poder. Reunir-se-ão, a fim de tornar efetivo, para os primeiros, o cumprimento das provas, das expiações, dos resgates a que se achem sujeitos, auxiliando-os, de tal forma, na efetivação do progresso que lhes cumpra realizar. As águias serão, nesse caso, assim os Espíritos bons, elevados, mais ou menos purificados, cuja ação se exerce no sentido de amparar e fortalecer os encarnados, para que vençam com felicidade suas provações, colhendo bons frutos da encarnação em que se encontram, como também os Espíritos atrasados, inferiores, moralmente cegos, cuja ação maléfica intensifica as dores e os sofrimentos dos encarnados, que, por efeito da lei de afinidade, os atraiam de preferência aos que poderiam e desejariam ajudá-los, dando àquelas dores e sofrimentos um acréscimo de intensidade, correspondente à rebeldia que manifestem em face da lei divina. Numa hipótese, como noutra, haverá sempre, conforme claramente se verifica, execução plena da lei de justiça e misericórdia.

 SAYÃO, Antonio Luiz. Elucidações evangélicas. FEB (e-book).

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