Evangelho segundo Marcos - cap. 6

Nenhum profeta é desestimado sendo no seu país, na sua casa e entre seus parentes

1. Dali saindo, voltou Jesus para o seu país acompanhado pelos discípulos. 2. E, chegando o dia de sábado, começou a ensinar na sinagoga; e muitos dos que o ouviam, admirando-se da sua doutrina, diziam: Donde lhe vieram todas estas coisas? Que sabedoria é essa que lhe foi dada? Como é que suas mãos obram tais maravilhas? 3. Não é ele o carpinteiro filho de Maria e irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão? E suas irmãs não estão aqui entre nós? E se escandalizavam dele. 4. Jesus, porém, lhes disse: Nenhum profeta é desestimado senão no seu país, na sua casa e entre os seus parentes. 5. E não pôde fazer lá nenhum milagre; apenas curou alguns poucos doentes, impondo-lhes as mãos. 6. E se admirava da incredulidade deles. E lá ia percorrendo as aldeias dos arredores a ensinar.

No parecer dos homens, Jesus era filho de Maria e de José, crença que a Igreja Romana continua a sustentar, firmada no milagre, tendo feito dela um dogma. Convindo em que essa crença tenha sido necessária naquelas prístinas épocas, hoje, nós outros, os espíritas, não podemos sobrepô-la à verdade que nos trouxe a nova revelação, acerca da origem espírita de Jesus, das condições em que se deu o seu aparecimento na Terra e da sua genealogia espiritual.

Nenhum profeta é desestimado, senão no seu país, na sua casa e entre seus parentes. Essas palavras, confirmativas destas outras que a sabedoria popular consagrou: “Ninguém é profeta na sua terra” e “santo de casa não faz milagre”, encerram uma reflexão filosófica, cujo valor todos tem podido verificar.

Quanto ao não haver Jesus, ali, feito milagres, foi porque grande era a incredulidade, a cegueira voluntária dos que o cercavam. A obstinação os levaria a fechar os olhos, para não verem a luz, o que os tornaria mais culpados e passíveis de maiores castigos. Vendo isso, o Mestre que, pela doçura do seu coração, jamais provocou a revolta de qualquer Espírito, não quis vencer a oposição que à sua influência levantavam encarnados e desencarnados, dominando-lhes a resistência, para lhes poupar o remorso da falta em que incorriam.

Verifica-se assim que não houve, para Jesus, impossibilidade de operar “milagres” naquela ocasião e naquele lugar. O que houve foi, de sua parte, “ausência de vontade”. Ele se forrou a exercer a sua autoridade incontestável sobre os Espíritos que se lhe opunham à ação, para lhes não aumentar o grau da culpabilidade.

Nada obstante, sempre operou algumas curas, pela imposição das mãos.

Missão, poder, pobreza e pregação dos apóstolos. Instruções que lhes foram dadas

(Mateus, 10:1,5-15; Lucas, 9:1-6)

7. Jesus chamou os doze e começou a enviá-los dois a dois, dando-lhes poder sobre os Espíritos impuros. 8. Recomendou-lhes que levassem consigo apenas o bordão; que não levassem nem saco, nem pão, nem dinheiro nos cintos. 9. Que calçassem unicamente suas sandálias, mas não cuidassem de ter duas túnicas. 10. E lhes dizia: Na casa em que entrardes, permanecei até que partais de novo. 11. Quando encontrardes pessoas que não vos queiram receber nem escutar, sacudi, ao vos retirardes, a poeira dos vossos pés, dando assim testemunho contra elas. 12. Tendo partido, os apóstolos pregavam aos povos que fizessem penitência; 13. Expulsavam muitos demônios e ungiam com óleo muitos doentes, curando-os.

Jesus mandou que os apóstolos primeiramente anunciassem o reino de Deus e curassem os enfermos da sua nação humana, para que mais se apertassem entre eles os laços de família, de fraternidade e de pátria. Recomendou-lhes que nada levassem consigo, pois que tudo deviam confiar dele; que abençoassem os lugares onde fossem bem acolhidos e sacudissem dos pés a poeira, onde fossem repelidos.

Como missionários do Senhor, protegidos por este, nenhuma importância deviam dar às comodidades materiais, cumprindo-lhes estar persuadidos de que o Mestre os seguia, ligando, ou desligando o que eles ligassem, ou desligassem, isto é, sancionando o que fizessem.

Aos apóstolos e discípulos de Jesus cabia espalhar o conhecimento da verdade. O mesmo compete hoje aos espíritas fazer; mas, para que sejam verdadeiros sucessores dos discípulos do Cristo e disponham de autoridade e poder idênticos aos destes, necessário é adquiram a pureza que eles possuíam. Só assim lograrão elevar-se ao Senhor e se acharão em condições de ligar e desligar, na Terra, certos de que ligaram e desligaram igualmente no céu.

Mister, porém, se faz compreendam bem o em que consiste esse ligar e desligar.

Sem dúvida, não consiste em absolver e condenar, porque isto compete unicamente ao Juiz supremo. Consiste, sim, em sentir em si mesmo o encarnado, o que, aliás, só é possível a Espíritos que já atingiram certo grau de elevação moral, o julgamento que será proferido e, pela sinceridade do arrependimento do culpado, a indulgência com que o juiz sentenciará. Tal o sentido em que devemos compreender aquelas palavras, que o orgulho humano falseou, fazendo-as exprimir um ato de arbítrio do homem que, desde então, se arrogou o poder de absolver e condenar, de perdoar ou deixar de perdoar pecados, não como simples declaração, mas como sentença proferida em julgamento. E não é tudo: a cobiça humana as tomou para justificativa de um tráfico vergonhoso o das indulgências.

Os discípulos fiéis de Jesus eram Espíritos elevados, que se não deixavam dominar pelo sentimento da animosidade pessoal, médiuns inspirados que, sob a influência espírita, se achavam em condições de apreciar o valor daqueles a quem se dirigiam. Do conjunto das virtudes que possuíam e que lhes asseguravam a assistência, a inspiração, a proteção, o amparo e o concurso dos Espíritos superiores, é que lhes advinha a infalibilidade naquela apreciação, infalibilidade de que a Igreja Romana pretendeu fazer-se herdeira, mas esquecendo-se de chamar a si a herança de santidade, de virtudes e de elevação moral por eles legada aos que lhes aspirassem à concessão. Ao invés disso, voluntariamente cega, ela se engolfou cada vez mais nas trevas que o orgulho e a confiança em si mesmo geram.

A Igreja, porém, despertará, disseram os Evangelistas MATEUS, MARCOS, LUCAS e JOÃO, numa de suas comunicações insertas na obra A Revelação da Revelação. Despertará e o sonho, em que ainda se compraz dissipar-se-á ao clarão da nova aurora.

A trombeta do “juízo final” vai retumbar para ela nos quatro cantos do mundo, Os anjos do Senhor aparecerão em sua glória, não do modo por que ela o diz nas suas errôneas interpretações, mas na glória da pureza; e os discípulos de Jesus, reencarnando novamente, para concluir a obra que começaram, virão ainda ligar e desligar na Terra e o Senhor ligará e desligará no céu, pois que tal será deles a missão, e o juízo não se achará inquinado de nulidade.

E com as seguintes palavras terminaram aqueles altos Espíritos a sua bela comunicação explicativa:

“Coragem, filhos da nossa Igreja, da Igreja do Senhor. Aproximam-se os tempos em que os discípulos e o Mestre aparecerão de novo entre vós, em que vossos olhos desvendados verão o Justo nas nuvens do céu em que os anjos os Espíritos purificados descerão à Terra, para mais eficazmente vos estenderem seus braços fraternais.

“Entoai cânticos de alegria; rejubilai, rejubilai: os tempos se aproximam”.

Dai de graça o que de graça recebestes. Isto, que Jesus disse a seus discípulos, ensinando-lhes que as coisas de Deus jamais devem constituir objeto de tráfico, de especulação, de meio de existência material, se aplica hoje a todos os espíritas e, particularmente, aos que, médiuns, investidos das faculdades mediúnicas, são chamados a servir de intérpretes aos bons Espíritos e a pregar, inspirados por eles, a lei de Jesus, em espírito e verdade. Pelos seus mensageiros de luz, do mesmo modo que pelos seus Evangelhos, o Cristo lhes repete a eles, assim como a todos os que nos dizemos profitentes da Nova Revelação: Dai de graça, seguindo as pegadas dos Apóstolos, o que de graça haveis recebido, porquanto, para vós, como para eles, tudo vem de Deus e vos é concedido graciosamente, a fim de desempenhardes a vossa tarefa.

Atentando nessas palavras suas, lembremo-nos de que também disse o divino Mestre: No dia do julgamento, menos rigor haverá para com a terra de Sodoma e de Gomorra, do que para com os que recusam a luz que Ele a todos envia. Mais severo, portanto, do que o daqueles povos, que não tiveram socorro algum direto, para sair das trevas em que viviam imersos, será o julgamento dos que, como nós, hoje recebem os ensinos claros e os copiosos auxílios que trazem seus emissários celestes.

Longa será, para os que recusarem esses ensinos e auxílios, ou fizerem mau uso deles, a duração das provas e expiações. Haverá, para os que assim procederem, eternidades de sofrimentos, correspondendo a eternidade de faltas.

É claro que o termo eternidade - se acha aqui empregado em sentido relativo, como correspondente à locução - penas eternas -, para exprimir prolongadas expiações na erraticidade e através de sucessivas reencarnações, em mundos inferiores mesmo à Terra. A única eternidade real, que se possa citar, é Deus.

Morte de João Batista. Palavras que, ditas com relação a Jesus, confirmam a crença dos Hebreus na reencarnação

(Mateus, 14:1-12; Lucas, 3:19,20;9:7-9)

14. Ora, o rei Herodes ouviu falar de Jesus, cuja nomeada se espalhara muito, e dizia: João Batista ressuscitou dentre os mortos; daí vem que tantos milagres se operam por seu intermédio. 15. Outros, porém, diziam: É Elias, outros: É um profeta igual a um dos profetas. 16. Ouvindo isso, disse Herodes: Este homem é João a quem mandei cortar a cabeça e que ressuscitou dentre os mortos. 17. Herodes, tendo desposado Herodíades, não obstante ser ela mulher de Filipe, irmão dele, mandara prender João, o pusera a ferros e metera na prisão por causa dela, 18, porque João lhe dizia: Não te é permitido ter por mulher a mulher de teu irmão. 19. Desde então, Herodíades sempre lhe armava ciladas, desejosa de fazê-lo morrer, o que não conseguia, 20, visto que Herodes temia a João por saber que era um varão justo e santo. Guardava-o, pois, e fazia muitas coisas aconselhando-se com ele e o escutava de boamente. 21. Afinal, chegou um dia favorável, o do aniversário de Herodes, no qual este ofereceu um banquete aos grandes de sua corte, aos tribunos e aos maiorais da Galileia. 22. A filha de Herodíades teve entrada, dançou diante de Herodes e de tal modo lhe caiu no agrado, bem como no de todos quantos se achavam à mesa, que ele lhe disse: Pede-me o que quiseres e eu te darei. 23. E acrescentou, jurando: Sim, o que me pedires eu te darei, ainda que seja a metade do meu reino. 24. Ela, quando saiu, perguntou à mãe: Que é o que pedirei? Sua mãe lhe respondeu: A cabeça de João Batista. 25. Ela se deu pressa em voltar à sala onde estava o rei e fez o seu pedido, dizendo: Quero que neste mesmo instante me dês num prato a cabeça de João Batista. 26. O rei se aborreceu com esse pedido; mas, por causa do juramento que fizera e dos que com ele estavam à mesa, não quis desatendê-la. 27. Tendo ordenado a um dos da sua guarda que trouxesse a cabeça de João Batista num prato, o guarda foi ao cárcere e ai degolou João; 28, trouxe a sua cabeça num prato, deu-a à moça e esta a deu à sua mãe. 29. Sabendo do ocorrido, os discípulos de João vieram, levaram-lhe o corpo e o puseram num sepulcro.

Ditas e repetidas como sendo o que a voz pública afirmava com relação a Jesus, estas palavras: Elias; é João Batista, que ressuscitou dentre os mortos; é Elias que voltou; é um dos antigos profetas, que ressurgiu, bem como estas outras, que o rumor público levara Herodes a proferir: Pois que mandei cortar a cabeça a João Batista, quem é este? Este homem é João Batista a quem mandei cortar a cabeça. João Batista ressuscitou dentre os mortos, confirmam a existência, entre os Hebreus, da crença popular na reencarnação.

Efetivamente, os homens não poderiam ter a Jesus como sendo ou Elias, ou João Batista, ou algum dos antigos profetas, que voltara a viver na Terra, senão admitindo que a alma, ou Espírito, quer de Elias, quer de João, quer de um dos antigos profetas, reencarnara naquele corpo que, conforme então acreditavam, era obra humana de José e de Maria, os quais, como sabemos, passavam por ser o pai e a mãe do Salvador.

Quanto à morte de João Batista e às particularidades que lhe são relativas, suficientemente explanadas se acham nas narrativas dos três Evangelistas, as quais se completam umas pelas outras.

Multiplicação dos cinco pães e dos dois peixes

(Mateus, 14:13-22; Lucas, 9:10-17)

30. Ora, os apóstolos, reunindo-se em torno de Jesus, lhe deram conta de tudo que haviam feito e ensinado. 31. E ele lhes disse: Vinde, retiremo-nos para um lugar deserto, a fim de aí repousardes um pouco. Ë que eram tantos os que iam e vinham que eles não tinham tempo para comer. 32. Subindo, pois, para uma barca, retiraram-se para um lugar deserto. 33. Mas, muitos, tendo-os visto partir e muitos tendo sido informados da partida, grande multidão acorreu a pé de todas as cidades e chegou antes deles. 34. Ao saltar da barca, vendo Jesus grande multidão, dela se compadeceu, pois era como rebanho que não tem pastor, e começou a ensinar-lhe muitas coisas. 35. E como já se fizesse tarde, os discípulos se aproximaram dele e lhe disseram: Este lugar é deserto e a hora já vai adiantada; 36. Manda-os embora, a fim de que vão às cidades e aos povoados dos arredores comprar o que comer. 37. Respondendo, disse Jesus: Dai-lhes vós mesmos de comer. Eles replicaram: Aonde iremos comprar por duzentos denários pães que bastem para lhes darmos de comer? 38. Jesus perguntou: Quantos pães tendes? Ide e vede. Depois de o verificarem, disseram eles: Cinco pães e dois peixes. 39. Jesus então lhes ordenou que fizessem o povo sentar-se em ranchos na relva. 40. Todos se assentaram formando diversos ranchos, uns de cem pessoas outros de cinquenta. 41. E Jesus, tomando os cinco pães e os dois peixes e olhando para o céu, abençoou e partiu os pães e os entregou aos discípulos para que os pusessem diante do povo; repartiu assim também os dois peixes com todos. 42. Todos comeram e ficaram fartos. 43. E ainda levaram doze cestos cheios de pedaços de pão e de peixe que haviam sobrado, 44. Não obstante serem em número de cinco mil os que comeram.

Jesus dispunha do poder de atrair os fluídos de que precisava e, pela sua potente vontade, atuava sobre os Espíritos, que pressurosamente lhe obedeciam. Assim foi que conseguiu, mediante transportes e pelo emprego de fluídos apropriados, multiplicar a diminuta quantidade de alimentos que os discípulos tinham ao seu dispor e desse modo satisfazer às necessidades da multidão que o rodeava.

Preparados com fluídos próprios à sua produção ordinária, aqueles alimentos adquiriram as necessárias propriedades nutritivas, de sorte que em porções mínimas saciavam a maior fome.

Aliás, para que a multidão ficasse saciada, bastaria que Jesus o quisesse, da mesma forma que bastava o seu querer, para que se operassem as curas dos doentes. Teria sido bastante que reunisse em torno dela os fluídos convenientes, reparadores e fortificantes, para que, aspirados esses fluídos, cessassem todas as exigências do estômago. Era mister, porém, que, para serem abaladas aquelas criaturas materiais, um efeito físico se produzisse, como se produziu.

Para os apóstolos, os discípulos e a multidão, foi, com os pedaços, multiplicados ao infinito, em que Jesus dividiu os cinco pães e os dois peixes, que todos se saciaram. Isso foi o que todos viram, esse o fato que às vistas de todos se verificou. Como ignorassem a origem, as causas e os meios ocultos que o produziram, todos o consideraram um milagre, conforme ainda o consideram os que se conservam estranhos à nova revelação.

Eis, porém, o que se passou: tendo nas mãos os pães e os peixes, Jesus os envolvia em fluídos apropriados à produção de tais alimentos e, dando a esses fluídos as formas e o sabor de peixes e de pães, os tornava visíveis e tangíveis e substituía os pedaços que ia retirando dos pães e dos peixes que os discípulos lhe haviam entregado. Comendo-os com o sabor e a consistência que deviam ter, a multidão estava certa de que comia sempre porções dos alimentos que o divino Mestre subdividia.

Não há nisso o que cause espanto, nem o que justifique se considere impossível o fato. Os sonâmbulos magnéticos não tomam a água, o vinho, ou qualquer alimento, como sendo o que se lhes diga que são, tudo em virtude da influência espírita a se exercer no homem por intermédio de um magnetizador humano? Que é, pois, o que nesse terreno não poderia fazer Jesus, pela ação da sua vontade potentíssima e tendo a secundá-lo inumeráveis falanges de Espíritos superiores?

Além disso, que a nós outros já nenhuma dúvida pode oferecer, para que nenhuma estranheza nos cause o fenômeno de que vimos tratando, será suficiente nos lembremos dos casos de transporte, tornados por assim dizer vulgares entre os pesquisadores dos fenômenos psíquicos; fenômenos pelos quais são trazidos ao compartimento onde os experimentadores se reúnem, a portas e janelas fechadas, flores e outros objetos, sem que alguém possa dizer por onde penetraram ali.

Tanto quanto a multiplicação dos pães e dos peixes, são milagrosos esses fatos, mas, apenas, para os que nada sabem da Doutrina Espírita e se lhe conservam alheios.

Jesus e Pedro caminham por sobre o mar

45. Em seguida, Jesus mandou que os discípulos tomassem de novo a barca, passassem para a outra margem do lago em direção a Betsaida, enquanto Ele ficava despedindo o povo. 46. Depois de haver despedido o povo, subiu a um monte para orar. 47. Ao cair da noite, a barca se achava no meio do mar; e Jesus estava só em terra. 48. Vendo que seus discípulos tinham grande dificuldade em remar, por lhes ser contrário o vento, Jesus, por volta da quarta vigília da noite, veio ter com eles, caminhando sobre o mar; e queria passar-lhes adiante. 49. Eles, porém, desde que o viram caminhando sobre o mar, supuseram ser um fantasma e começaram a gritar; 50, pois que todos o viram e ficaram apavorados. Ele logo falou, dizendo: Tranquilizai-vos, sou eu, nada temais. 51. Subiu para a barca onde eles estavam e o vento cessou, e eles ainda mais espantados ficaram; 52, visto que não tinham compreendido a multiplicação dos pães; é que seus corações estavam cegos.

Jesus e Pedro caminham sobre o mar.

Nada de mais singular ou estranhável apresenta este fenômeno, do que qualquer dos outros que o divino Mestre operou e que foram tidos por “milagres”.

E tanto mais facilmente compreensível este se torna, desde que consideremos que Jesus não se achava revestido de um corpo material humano, como os nossos, que Ele era sempre um Espírito livre, com um corpo fluídico de natureza perispirítica, de forma e aparência humanas, ao qual, pela ação exclusiva da sua vontade, privava das características humanas, dando-lhe as condições etéreas das formas puramente espirituais.

Ora, assim como o Espírito livre, sem envoltório corporal terreno, pode atravessar os ares, sem que qualquer obstáculo o detenha, igualmente pode caminhar, ou, antes, deslizar sobre as águas.

Quanto ao fato de também Pedro haver podido andar sobre o mar, para o compreendermos, basta nos lembremos de que ele era, em grau elevadíssimo, o que chamamos médium de efeitos físicos, próprio, portanto, para o fenômeno da levitação. E este foi o fenômeno que com ele se produziu. Utilizando-se dos fluídos de que dispunha, por possuir aquela faculdade mediúnica, os Espíritos prepostos o mantiveram suspenso sobre as águas, de modo a lhe tornar possível avançar por cima da superfície líquida, como se estivesse andando sobre terreno sólido.

Graças ainda a essa mediunidade de efeitos físicos, de que era possuidor, foi que ele também conseguiu, mais tarde, auxiliado pelos Espíritos prepostos, libertar-se das correntes com que o ataram na prisão. (Atos dos Apóstolos, capítulo 12, versículos 6 e 7.)

Razão não há para que aqui discutamos os fatos desta, ou de natureza semelhante, tão copiosos nas narrativas evangélicas, nem para que nos preocupemos com os que dizem não serem satisfatórias as explicações que deles dá a Doutrina Espírita. Trata-se de fatos que ora se tornaram frequentes e que podem ser presenciados, examinados e analisados por quem os queira compreender. Os que o fizerem de ânimo desprevenido e com o desejo sincero de encontrar a verdade perceberão que eles são simples efeitos da ação de uma lei ainda desconhecida, ou mal conhecida na sua essência e no seu mecanismo.

Que os sábios, que pretendem tudo saber, os observem devidamente e expliquem de outra forma, se o puderem. Eles, entretanto, preferem nada ver, nada observar, nada pesquisar, para tudo negarem, como se efetivamente já tudo soubessem. Tal o invariável critério que revelam.

Curas operadas pelo contacto com as vestes de Jesus

53. Tendo atravessado o lago, vieram à terra de Genesaré onde aportaram. 54. Assim que desembarcaram, os habitantes do lugar reconheceram a Jesus. 55. Transmitiram a notícia a todo o país e começaram a trazer de todos os lados os doentes em seus leitos, para onde quer que ouviam dizer que ele estava. 56. Em qualquer lugar que entrasse, burgo, aldeia, ou cidade, punham os doentes nas praças públicas e pediam lhes fosse permitido apenas tocar a fimbria de suas vestes; e todos os que nelas tocavam se curavam.

Já temos visto, a propósito de outros casos deste gênero, a grandeza do poder magnético de que Jesus dispunha. O tocar-lhe nas vestes, fato que, devido à ignorância das causas e dos efeitos, os homens de então tinham por necessário para que o “milagre” se operasse, não passava de um meio material que, por isso mesmo, lhes era indispensável.

A cura, porém, neste caso, como em todos os demais, resultou da ação da vontade daquele que exercia poder soberano sobre os elementos etéreos.

Os doentes se curaram todos, não por terem tocado na fímbria das vestes do Senhor, mas pela ação da sua vontade poderosa, pela ação magnética que exercia, pela emissão que fazia de si, sob aquela ação, dos fluídos apropriados a cada espécie de doença, os quais eram dirigidos para o organismo do doente.

Pelos resultados que já alcançamos ou observamos com o magnetismo humano, podemos imaginar quais fossem os que era capaz de produzir o magnetismo espiritual, manejado por um Espírito, qual o de Nosso Senhor Jesus Cristo. Já entre nós existem médiuns que curam quase instantaneamente, por meio de passes magnéticos; outros que só com a sua presença obtêm curas admiráveis e fatos já se têm verificado de o médium obter efeitos surpreendentes com o só olhar.

SAYÃO, Antonio Luiz. Elucidações evangélicas. FEB (e-book).

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