Nenhum profeta é desestimado sendo no
seu país, na sua casa e entre seus parentes
1.
Dali saindo, voltou Jesus para o seu país acompanhado pelos discípulos. 2. E,
chegando o dia de sábado, começou a ensinar na sinagoga; e muitos dos que o
ouviam, admirando-se da sua doutrina, diziam: Donde lhe vieram todas estas
coisas? Que sabedoria é essa que lhe foi dada? Como é que suas mãos obram tais
maravilhas? 3. Não é ele o carpinteiro filho de Maria e irmão de Tiago, de
José, de Judas e de Simão? E suas irmãs não estão aqui entre nós? E se
escandalizavam dele. 4. Jesus, porém, lhes disse: Nenhum profeta é desestimado
senão no seu país, na sua casa e entre os seus parentes. 5. E não pôde fazer lá
nenhum milagre; apenas curou alguns poucos doentes, impondo-lhes as mãos. 6. E
se admirava da incredulidade deles. E lá ia percorrendo as aldeias dos
arredores a ensinar.
No parecer dos homens, Jesus
era filho de Maria e de José, crença que a Igreja Romana continua a sustentar,
firmada no milagre, tendo feito dela um dogma. Convindo em que essa crença
tenha sido necessária naquelas prístinas épocas, hoje, nós outros, os
espíritas, não podemos sobrepô-la à verdade que nos trouxe a nova revelação,
acerca da origem espírita de Jesus, das condições em que se deu o seu
aparecimento na Terra e da sua genealogia espiritual.
Nenhum profeta é desestimado, senão no seu país, na sua casa e entre seus parentes. Essas palavras, confirmativas destas outras que a sabedoria popular consagrou: “Ninguém é profeta na sua terra” e “santo de casa não faz milagre”, encerram uma reflexão filosófica, cujo valor todos tem podido verificar.
Quanto ao não haver Jesus,
ali, feito milagres, foi porque grande era a incredulidade, a cegueira
voluntária dos que o cercavam. A obstinação os levaria a fechar os olhos, para
não verem a luz, o que os tornaria mais culpados e passíveis de maiores
castigos. Vendo isso, o Mestre que, pela doçura do seu coração, jamais provocou
a revolta de qualquer Espírito, não quis vencer a oposição que à sua influência
levantavam encarnados e desencarnados, dominando-lhes a resistência, para lhes
poupar o remorso da falta em que incorriam.
Verifica-se assim que não
houve, para Jesus, impossibilidade de operar “milagres” naquela ocasião e
naquele lugar. O que houve foi, de sua parte, “ausência de vontade”. Ele se
forrou a exercer a sua autoridade incontestável sobre os Espíritos que se lhe
opunham à ação, para lhes não aumentar o grau da culpabilidade.
Nada obstante, sempre operou
algumas curas, pela imposição das mãos.
Missão, poder, pobreza e pregação dos
apóstolos. Instruções que lhes foram dadas
(Mateus,
10:1,5-15; Lucas, 9:1-6)
7.
Jesus chamou os doze e começou a enviá-los dois a dois, dando-lhes poder sobre
os Espíritos impuros. 8. Recomendou-lhes que levassem consigo apenas o bordão;
que não levassem nem saco, nem pão, nem dinheiro nos cintos. 9. Que calçassem
unicamente suas sandálias, mas não cuidassem de ter duas túnicas. 10. E lhes
dizia: Na casa em que entrardes, permanecei até que partais de novo. 11. Quando
encontrardes pessoas que não vos queiram receber nem escutar, sacudi, ao vos
retirardes, a poeira dos vossos pés, dando assim testemunho contra elas. 12.
Tendo partido, os apóstolos pregavam aos povos que fizessem penitência; 13. Expulsavam
muitos demônios e ungiam com óleo muitos doentes, curando-os.
Jesus mandou que os
apóstolos primeiramente anunciassem o reino de Deus e curassem os enfermos da
sua nação humana, para que mais se apertassem entre eles os laços de família,
de fraternidade e de pátria. Recomendou-lhes que nada levassem consigo, pois
que tudo deviam confiar dele; que abençoassem os lugares onde fossem bem
acolhidos e sacudissem dos pés a poeira, onde fossem repelidos.
Como missionários do Senhor,
protegidos por este, nenhuma importância deviam dar às comodidades materiais,
cumprindo-lhes estar persuadidos de que o Mestre os seguia, ligando, ou
desligando o que eles ligassem, ou desligassem, isto é, sancionando o que
fizessem.
Aos apóstolos e discípulos
de Jesus cabia espalhar o conhecimento da verdade. O mesmo compete hoje aos
espíritas fazer; mas, para que sejam verdadeiros sucessores dos discípulos do
Cristo e disponham de autoridade e poder idênticos aos destes, necessário é
adquiram a pureza que eles possuíam. Só assim lograrão elevar-se ao Senhor e se
acharão em condições de ligar e desligar, na Terra, certos de que ligaram e
desligaram igualmente no céu.
Mister, porém, se faz
compreendam bem o em que consiste esse ligar e desligar.
Sem dúvida, não consiste em
absolver e condenar, porque isto compete unicamente ao Juiz supremo. Consiste,
sim, em sentir em si mesmo o encarnado, o que, aliás, só é possível a Espíritos
que já atingiram certo grau de elevação moral, o julgamento que será proferido
e, pela sinceridade do arrependimento do culpado, a indulgência com que o juiz
sentenciará. Tal o sentido em que devemos compreender aquelas palavras, que o
orgulho humano falseou, fazendo-as exprimir um ato de arbítrio do homem que,
desde então, se arrogou o poder de absolver e condenar, de perdoar ou deixar de
perdoar pecados, não como simples declaração, mas como sentença proferida em
julgamento. E não é tudo: a cobiça humana as tomou para justificativa de um
tráfico vergonhoso o das indulgências.
Os discípulos fiéis de Jesus
eram Espíritos elevados, que se não deixavam dominar pelo sentimento da
animosidade pessoal, médiuns inspirados que, sob a influência espírita, se
achavam em condições de apreciar o valor daqueles a quem se dirigiam. Do
conjunto das virtudes que possuíam e que lhes asseguravam a assistência, a
inspiração, a proteção, o amparo e o concurso dos Espíritos superiores, é que
lhes advinha a infalibilidade naquela apreciação, infalibilidade de que a
Igreja Romana pretendeu fazer-se herdeira, mas esquecendo-se de chamar a si a
herança de santidade, de virtudes e de elevação moral por eles legada aos que
lhes aspirassem à concessão. Ao invés disso, voluntariamente cega, ela se
engolfou cada vez mais nas trevas que o orgulho e a confiança em si mesmo
geram.
A Igreja, porém, despertará,
disseram os Evangelistas MATEUS, MARCOS, LUCAS e JOÃO, numa de suas
comunicações insertas na obra A Revelação da Revelação. Despertará e o sonho,
em que ainda se compraz dissipar-se-á ao clarão da nova aurora.
A trombeta do “juízo final”
vai retumbar para ela nos quatro cantos do mundo, Os anjos do Senhor aparecerão
em sua glória, não do modo por que ela o diz nas suas errôneas interpretações,
mas na glória da pureza; e os discípulos de Jesus, reencarnando novamente, para
concluir a obra que começaram, virão ainda ligar e desligar na Terra e o Senhor
ligará e desligará no céu, pois que tal será deles a missão, e o juízo não se
achará inquinado de nulidade.
E com as seguintes palavras
terminaram aqueles altos Espíritos a sua bela comunicação explicativa:
“Coragem, filhos da nossa
Igreja, da Igreja do Senhor. Aproximam-se os tempos em que os discípulos e o
Mestre aparecerão de novo entre vós, em que vossos olhos desvendados verão o
Justo nas nuvens do céu em que os anjos os Espíritos purificados descerão à
Terra, para mais eficazmente vos estenderem seus braços fraternais.
“Entoai cânticos de alegria;
rejubilai, rejubilai: os tempos se aproximam”.
Dai de graça o que de graça
recebestes. Isto, que Jesus disse a seus discípulos, ensinando-lhes que as
coisas de Deus jamais devem constituir objeto de tráfico, de especulação, de
meio de existência material, se aplica hoje a todos os espíritas e,
particularmente, aos que, médiuns, investidos das faculdades mediúnicas, são
chamados a servir de intérpretes aos bons Espíritos e a pregar, inspirados por
eles, a lei de Jesus, em espírito e verdade. Pelos seus mensageiros de luz, do
mesmo modo que pelos seus Evangelhos, o Cristo lhes repete a eles, assim como a
todos os que nos dizemos profitentes da Nova Revelação: Dai de graça, seguindo
as pegadas dos Apóstolos, o que de graça haveis recebido, porquanto, para vós,
como para eles, tudo vem de Deus e vos é concedido graciosamente, a fim de
desempenhardes a vossa tarefa.
Atentando nessas palavras
suas, lembremo-nos de que também disse o divino Mestre: No dia do julgamento,
menos rigor haverá para com a terra de Sodoma e de Gomorra, do que para com os
que recusam a luz que Ele a todos envia. Mais severo, portanto, do que o daqueles
povos, que não tiveram socorro algum direto, para sair das trevas em que viviam
imersos, será o julgamento dos que, como nós, hoje recebem os ensinos claros e
os copiosos auxílios que trazem seus emissários celestes.
Longa será, para os que
recusarem esses ensinos e auxílios, ou fizerem mau uso deles, a duração das
provas e expiações. Haverá, para os que assim procederem, eternidades de
sofrimentos, correspondendo a eternidade de faltas.
É claro que o termo
eternidade - se acha aqui empregado em sentido relativo, como correspondente à
locução - penas eternas -, para exprimir prolongadas expiações na erraticidade
e através de sucessivas reencarnações, em mundos inferiores mesmo à Terra. A
única eternidade real, que se possa citar, é Deus.
Morte de João Batista. Palavras que,
ditas com relação a Jesus, confirmam a crença dos Hebreus na reencarnação
(Mateus,
14:1-12; Lucas, 3:19,20;9:7-9)
14.
Ora, o rei Herodes ouviu falar de Jesus, cuja nomeada se espalhara muito, e
dizia: João Batista ressuscitou dentre os mortos; daí vem que tantos milagres
se operam por seu intermédio. 15. Outros, porém, diziam: É Elias, outros: É um
profeta igual a um dos profetas. 16. Ouvindo isso, disse Herodes: Este homem é
João a quem mandei cortar a cabeça e que ressuscitou dentre os mortos. 17.
Herodes, tendo desposado Herodíades, não obstante ser ela mulher de Filipe,
irmão dele, mandara prender João, o pusera a ferros e metera na prisão por
causa dela, 18, porque João lhe dizia: Não te é permitido ter por mulher a
mulher de teu irmão. 19. Desde então, Herodíades sempre lhe armava ciladas,
desejosa de fazê-lo morrer, o que não conseguia, 20, visto que Herodes temia a
João por saber que era um varão justo e santo. Guardava-o, pois, e fazia muitas
coisas aconselhando-se com ele e o escutava de boamente. 21. Afinal, chegou um
dia favorável, o do aniversário de Herodes, no qual este ofereceu um banquete
aos grandes de sua corte, aos tribunos e aos maiorais da Galileia. 22. A filha
de Herodíades teve entrada, dançou diante de Herodes e de tal modo lhe caiu no
agrado, bem como no de todos quantos se achavam à mesa, que ele lhe disse:
Pede-me o que quiseres e eu te darei. 23. E acrescentou, jurando: Sim, o que me
pedires eu te darei, ainda que seja a metade do meu reino. 24. Ela, quando
saiu, perguntou à mãe: Que é o que pedirei? Sua mãe lhe respondeu: A cabeça de
João Batista. 25. Ela se deu pressa em voltar à sala onde estava o rei e fez o
seu pedido, dizendo: Quero que neste mesmo instante me dês num prato a cabeça
de João Batista. 26. O rei se aborreceu com esse pedido; mas, por causa do
juramento que fizera e dos que com ele estavam à mesa, não quis desatendê-la. 27.
Tendo ordenado a um dos da sua guarda que trouxesse a cabeça de João Batista
num prato, o guarda foi ao cárcere e ai degolou João; 28, trouxe a sua cabeça
num prato, deu-a à moça e esta a deu à sua mãe. 29. Sabendo do ocorrido, os
discípulos de João vieram, levaram-lhe o corpo e o puseram num sepulcro.
Ditas e repetidas como sendo
o que a voz pública afirmava com relação a Jesus, estas palavras: Elias; é João
Batista, que ressuscitou dentre os mortos; é Elias que voltou; é um dos antigos
profetas, que ressurgiu, bem como estas outras, que o rumor público levara
Herodes a proferir: Pois que mandei cortar a cabeça a João Batista, quem é
este? Este homem é João Batista a quem mandei cortar a cabeça. João Batista
ressuscitou dentre os mortos, confirmam a existência, entre os Hebreus, da
crença popular na reencarnação.
Efetivamente, os homens não
poderiam ter a Jesus como sendo ou Elias, ou João Batista, ou algum dos antigos
profetas, que voltara a viver na Terra, senão admitindo que a alma, ou
Espírito, quer de Elias, quer de João, quer de um dos antigos profetas,
reencarnara naquele corpo que, conforme então acreditavam, era obra humana de
José e de Maria, os quais, como sabemos, passavam por ser o pai e a mãe do
Salvador.
Quanto à morte de João
Batista e às particularidades que lhe são relativas, suficientemente explanadas
se acham nas narrativas dos três Evangelistas, as quais se completam umas pelas
outras.
Multiplicação dos cinco pães e dos dois
peixes
(Mateus,
14:13-22; Lucas, 9:10-17)
30.
Ora, os apóstolos, reunindo-se em torno de Jesus, lhe deram conta de tudo que
haviam feito e ensinado. 31. E ele lhes disse: Vinde, retiremo-nos para um
lugar deserto, a fim de aí repousardes um pouco. Ë que eram tantos os que iam e
vinham que eles não tinham tempo para comer. 32. Subindo, pois, para uma barca,
retiraram-se para um lugar deserto. 33. Mas, muitos, tendo-os visto partir e
muitos tendo sido informados da partida, grande multidão acorreu a pé de todas
as cidades e chegou antes deles. 34. Ao saltar da barca, vendo Jesus grande
multidão, dela se compadeceu, pois era como rebanho que não tem pastor, e
começou a ensinar-lhe muitas coisas. 35. E como já se fizesse tarde, os
discípulos se aproximaram dele e lhe disseram: Este lugar é deserto e a hora já
vai adiantada; 36. Manda-os embora, a fim de que vão às cidades e aos povoados
dos arredores comprar o que comer. 37. Respondendo, disse Jesus: Dai-lhes vós
mesmos de comer. Eles replicaram: Aonde iremos comprar por duzentos denários
pães que bastem para lhes darmos de comer? 38. Jesus perguntou: Quantos pães
tendes? Ide e vede. Depois de o verificarem, disseram eles: Cinco pães e dois
peixes. 39. Jesus então lhes ordenou que fizessem o povo sentar-se em ranchos
na relva. 40. Todos se assentaram formando diversos ranchos, uns de cem pessoas
outros de cinquenta. 41. E Jesus, tomando os cinco pães e os dois peixes e
olhando para o céu, abençoou e partiu os pães e os entregou aos discípulos para
que os pusessem diante do povo; repartiu assim também os dois peixes com todos.
42. Todos comeram e ficaram fartos. 43. E ainda levaram doze cestos cheios de
pedaços de pão e de peixe que haviam sobrado, 44. Não obstante serem em número
de cinco mil os que comeram.
Jesus dispunha do poder de
atrair os fluídos de que precisava e, pela sua potente vontade, atuava sobre os
Espíritos, que pressurosamente lhe obedeciam. Assim foi que conseguiu, mediante
transportes e pelo emprego de fluídos apropriados, multiplicar a diminuta
quantidade de alimentos que os discípulos tinham ao seu dispor e desse modo
satisfazer às necessidades da multidão que o rodeava.
Preparados com fluídos
próprios à sua produção ordinária, aqueles alimentos adquiriram as necessárias
propriedades nutritivas, de sorte que em porções mínimas saciavam a maior fome.
Aliás, para que a multidão
ficasse saciada, bastaria que Jesus o quisesse, da mesma forma que bastava o
seu querer, para que se operassem as curas dos doentes. Teria sido bastante que
reunisse em torno dela os fluídos convenientes, reparadores e fortificantes,
para que, aspirados esses fluídos, cessassem todas as exigências do estômago.
Era mister, porém, que, para serem abaladas aquelas criaturas materiais, um
efeito físico se produzisse, como se produziu.
Para os apóstolos, os
discípulos e a multidão, foi, com os pedaços, multiplicados ao infinito, em que
Jesus dividiu os cinco pães e os dois peixes, que todos se saciaram. Isso foi o
que todos viram, esse o fato que às vistas de todos se verificou. Como
ignorassem a origem, as causas e os meios ocultos que o produziram, todos o
consideraram um milagre, conforme ainda o consideram os que se conservam
estranhos à nova revelação.
Eis, porém, o que se passou:
tendo nas mãos os pães e os peixes, Jesus os envolvia em fluídos apropriados à
produção de tais alimentos e, dando a esses fluídos as formas e o sabor de
peixes e de pães, os tornava visíveis e tangíveis e substituía os pedaços que ia
retirando dos pães e dos peixes que os discípulos lhe haviam entregado.
Comendo-os com o sabor e a consistência que deviam ter, a multidão estava certa
de que comia sempre porções dos alimentos que o divino Mestre subdividia.
Não há nisso o que cause espanto,
nem o que justifique se considere impossível o fato. Os sonâmbulos magnéticos
não tomam a água, o vinho, ou qualquer alimento, como sendo o que se lhes diga
que são, tudo em virtude da influência espírita a se exercer no homem por
intermédio de um magnetizador humano? Que é, pois, o que nesse terreno não
poderia fazer Jesus, pela ação da sua vontade potentíssima e tendo a secundá-lo
inumeráveis falanges de Espíritos superiores?
Além disso, que a nós outros
já nenhuma dúvida pode oferecer, para que nenhuma estranheza nos cause o
fenômeno de que vimos tratando, será suficiente nos lembremos dos casos de
transporte, tornados por assim dizer vulgares entre os pesquisadores dos
fenômenos psíquicos; fenômenos pelos quais são trazidos ao compartimento onde os
experimentadores se reúnem, a portas e janelas fechadas, flores e outros
objetos, sem que alguém possa dizer por onde penetraram ali.
Tanto quanto a multiplicação
dos pães e dos peixes, são milagrosos esses fatos, mas, apenas, para os que
nada sabem da Doutrina Espírita e se lhe conservam alheios.
Jesus e Pedro caminham por sobre o mar
45.
Em seguida, Jesus mandou que os discípulos tomassem de novo a barca, passassem
para a outra margem do lago em direção a Betsaida, enquanto Ele ficava
despedindo o povo. 46. Depois de haver despedido o povo, subiu a um monte para
orar. 47. Ao cair da noite, a barca se achava no meio do mar; e Jesus estava só
em terra. 48. Vendo que seus discípulos tinham grande dificuldade em remar, por
lhes ser contrário o vento, Jesus, por volta da quarta vigília da noite, veio
ter com eles, caminhando sobre o mar; e queria passar-lhes adiante. 49. Eles,
porém, desde que o viram caminhando sobre o mar, supuseram ser um fantasma e
começaram a gritar; 50, pois que todos o viram e ficaram apavorados. Ele logo
falou, dizendo: Tranquilizai-vos, sou eu, nada temais. 51. Subiu para a barca
onde eles estavam e o vento cessou, e eles ainda mais espantados ficaram; 52,
visto que não tinham compreendido a multiplicação dos pães; é que seus corações
estavam cegos.
Jesus e Pedro caminham sobre
o mar.
Nada de mais singular ou
estranhável apresenta este fenômeno, do que qualquer dos outros que o divino
Mestre operou e que foram tidos por “milagres”.
E tanto mais facilmente
compreensível este se torna, desde que consideremos que Jesus não se achava
revestido de um corpo material humano, como os nossos, que Ele era sempre um
Espírito livre, com um corpo fluídico de natureza perispirítica, de forma e
aparência humanas, ao qual, pela ação exclusiva da sua vontade, privava das
características humanas, dando-lhe as condições etéreas das formas puramente
espirituais.
Ora, assim como o Espírito
livre, sem envoltório corporal terreno, pode atravessar os ares, sem que
qualquer obstáculo o detenha, igualmente pode caminhar, ou, antes, deslizar
sobre as águas.
Quanto ao fato de também
Pedro haver podido andar sobre o mar, para o compreendermos, basta nos
lembremos de que ele era, em grau elevadíssimo, o que chamamos médium de
efeitos físicos, próprio, portanto, para o fenômeno da levitação. E este foi o
fenômeno que com ele se produziu. Utilizando-se dos fluídos de que dispunha,
por possuir aquela faculdade mediúnica, os Espíritos prepostos o mantiveram
suspenso sobre as águas, de modo a lhe tornar possível avançar por cima da
superfície líquida, como se estivesse andando sobre terreno sólido.
Graças ainda a essa
mediunidade de efeitos físicos, de que era possuidor, foi que ele também
conseguiu, mais tarde, auxiliado pelos Espíritos prepostos, libertar-se das correntes
com que o ataram na prisão. (Atos dos Apóstolos, capítulo 12, versículos 6 e
7.)
Razão não há para que aqui
discutamos os fatos desta, ou de natureza semelhante, tão copiosos nas
narrativas evangélicas, nem para que nos preocupemos com os que dizem não serem
satisfatórias as explicações que deles dá a Doutrina Espírita. Trata-se de
fatos que ora se tornaram frequentes e que podem ser presenciados, examinados e
analisados por quem os queira compreender. Os que o fizerem de ânimo
desprevenido e com o desejo sincero de encontrar a verdade perceberão que eles
são simples efeitos da ação de uma lei ainda desconhecida, ou mal conhecida na
sua essência e no seu mecanismo.
Que os sábios, que pretendem
tudo saber, os observem devidamente e expliquem de outra forma, se o puderem.
Eles, entretanto, preferem nada ver, nada observar, nada pesquisar, para tudo
negarem, como se efetivamente já tudo soubessem. Tal o invariável critério que
revelam.
Curas operadas pelo contacto com as
vestes de Jesus
53.
Tendo atravessado o lago, vieram à terra de Genesaré onde aportaram. 54. Assim
que desembarcaram, os habitantes do lugar reconheceram a Jesus. 55.
Transmitiram a notícia a todo o país e começaram a trazer de todos os lados os
doentes em seus leitos, para onde quer que ouviam dizer que ele estava. 56. Em
qualquer lugar que entrasse, burgo, aldeia, ou cidade, punham os doentes nas
praças públicas e pediam lhes fosse permitido apenas tocar a fimbria de suas
vestes; e todos os que nelas tocavam se curavam.
Já temos visto, a propósito
de outros casos deste gênero, a grandeza do poder magnético de que Jesus
dispunha. O tocar-lhe nas vestes, fato que, devido à ignorância das causas e
dos efeitos, os homens de então tinham por necessário para que o “milagre” se
operasse, não passava de um meio material que, por isso mesmo, lhes era
indispensável.
A cura, porém, neste caso,
como em todos os demais, resultou da ação da vontade daquele que exercia poder
soberano sobre os elementos etéreos.
Os doentes se curaram todos,
não por terem tocado na fímbria das vestes do Senhor, mas pela ação da sua
vontade poderosa, pela ação magnética que exercia, pela emissão que fazia de
si, sob aquela ação, dos fluídos apropriados a cada espécie de doença, os quais
eram dirigidos para o organismo do doente.
Pelos resultados que já
alcançamos ou observamos com o magnetismo humano, podemos imaginar quais fossem
os que era capaz de produzir o magnetismo espiritual, manejado por um Espírito,
qual o de Nosso Senhor Jesus Cristo. Já entre nós existem médiuns que curam
quase instantaneamente, por meio de passes magnéticos; outros que só com a sua
presença obtêm curas admiráveis e fatos já se têm verificado de o médium obter
efeitos surpreendentes com o só olhar.
SAYÃO, Antonio Luiz.
Elucidações evangélicas. FEB (e-book).
Nenhum comentário:
Postar um comentário