Aborto

A pílula do dia seguinte é considerada aborto mesmo que não tenha havido fecundação ainda, e esta tenha evitado que ela ocorresse?

Esta questão é de grande importância, pois trata de bioética, isto é, uma reflexão crítica e imparcial, apoiada sobre fatos, que estuda a melhor conduta do ser humano diante das descobertas e dados científicos na área da biologia e da saúde. O Espiritismo, que trata da natureza, da origem e do destino da criatura humana, fornece a contribuição profunda a essas questões.

Uma questão muito simples, mas que confunde muitos pensadores, é sobre o começo da vida. Quando podemos dizer que o ser humano adquire vida? O Livro dos Espíritos (nas questões 344 a 360) e A Gênese (capítulo XI, item 18), ambos de Allan Kardec, não deixam dúvidas de que a vida começa na fecundação, em geral na tuba uterina da mulher, quando o perispírito do reencarnante liga-se fortemente à célula-ovo, ou zigoto (produto diplóide - com 46 cromossomos - da união da célula germinativa masculina e da feminina)1. Depois da fecundação no terço distal da tuba uterina, o embrião, o novo indivíduo (a tríade hominal - corpo geneticamente ímpar, perispírito e Espírito) deve caminhar até o útero, levando cerca de 1 (uma) semana para implantar-se (nidação). Para essa caminhada e nidação, é necessário que todos o aparelho feminino esteja funcionando adequadamente e o útero esteja na fase secretória (adequada para o embrião), sob um controle hormonal natural da mulher. Em qualquer atraso, o embrião “morre de fome”, por falta de nutrientes, e é absorvido pelo próprio organismo da mulher e o Espírito desliga-se para aguardar nova oportunidade reencarnatória.

A “pílula do dia seguinte” ou anticoncepcional de emergência, nada mais é do que uma dose muito alta de hormônio feminino (estrógeno e/ou progesterona) sintético, o mesmo utilizado em pílulas anticoncepcionais “normais”, elaborado para prevenir uma gravidez indesejada após o coito supostamente desprotegido, ou seja, sem nenhum outro método anticoncepcional. Pode ser usado até 72 h após a relação sexual, mas sua eficiência é proporcional à precocidade do uso. É administrado livremente ou legalmente em caso de estupro (a lei brasileira é a favor do aborto em caso de estupro). Independente de qualquer reflexão ética, o fato de ser uma alta dose de hormônio sintético, além dos efeitos colaterais imediatos que causa, o uso repetitivo predispõe a diversas doenças na mulher, dentre elas, o câncer de mama. Seu mecanismo de ação na contracepção é múltiplo e repousa sobre as alterações hormonais sobre o trato genital feminino. Pode retardar ou inibir a ovulação, dificultar a união do espermatozoide e do óvulo, mas, principalmente, age sobre as tubas uterinas e a parede uterina para desfavorecer a migração do embrião (já formado) e sua implantação na parede uterina.

Portanto, o anticoncepcional de emergência é, segundo o Espiritismo, aborto se já tiver ocorrido a fecundação e a ligação do perispírito. Se não houver ocorrido a fecundação, não é aborto. Porém, a ética não pode lidar com hipóteses, já que trata do comportamento humano: usar ou não usar, qual é o mais ético? Se há a possibilidade do aborto (não conhecemos pesquisas sobre a porcentagem), por menor que seja, a ética e o bom senso, diante da Consciência, indicam para não usar, pois é impossível a mulher saber o que realmente está acontecendo e se há um Espírito reencarnante desejoso de ser “embalado” carinhosamente no colo materno, na expectativa de uma nova existência de lutas e realizações, junto de sua mãe. Se a mulher optou por essa alternativa impensada é porque, em geral, ela ainda não teve essas nossas reflexões e, por isso, não pode ser considerada “antiética” ou “imoral”. Sua responsabilidade diante da consciência é menor. Porém, uma vez tendo sido conscientizada, eticamente sua opção terá muito maior peso. De qualquer forma, todos os enganos podem e devem ser corrigidos pela própria doação e oferecimento, na proporção daquilo que se tirou da Natureza.

1. Para maiores detalhes de como ocorre essa ligação, numa bela descrição do Espírito André Luiz, leia “Missionários da Luz”, psicografia de Francisco Cândido Xavier, capítulos XIII e XIV.

Fonte: IRC – Espiritismo. 

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