Parte da entrevista
concedida pela única dos irmãos ainda vivos de Chico Xavier, A Ismael Gobbo, e
publicada na Folha Espírita, de São Paulo, em 2009
FE.
E a família Xavier?
Cidália - “Papai, João
Cândido Xavier, que se casou com Cidália, minha mãe, já tinha nove filhos do
primeiro casamento, com dona Maria João de Deus, entre eles o Chico. Mamãe teve
seis filhos: André, o mais velho, depois, Lucília, Neuza, eu, Dóris (Doralice)
e João, o caçula. Vivos somos eu e o André, que mora em São Paulo. Mamãe era um
sonho. O Chico, que tinha apanhado muito depois da morte da sua mãe, encontrou
nela o carinho que precisava. A história é bonita. Ficamos sabendo que, logo
depois do casamento com papai, mamãe colocou um banco e enfileirou todas as
canequinhas para servir o café e o bolo para cada um dos filhos que recebia com
todo amor e carinho. Ela era muito calma, muito meiga. Papai já tinha um
temperamento meio nervoso, principalmente em relação ao Chico, porque ele
ficava até tarde nos trabalhos de psicografia e de atendimento. Era quando ele
falava: “Esse povo não dá sossego pro Chico. Será que não vê que ele precisa
dormir para acordar cedo e ir trabalhar?”.
FE.
João frequentava os trabalhos espíritas?
Cidália - “Ele não
frequentava, mas o filhos todos iam ao centro espírita. José, que dos homens
era o mais velho e muito alegre, foi o braço direito de Chico Xavier. Quando
ele desencarnou o Chico ficou numa tristeza enorme porque sempre trabalharam
juntos”.
FE. Como era o Chico no dia a dia?
Cidália - “Ele era
maravilhoso, brincalhão, trabalhador, lindo. Não era vaidoso, mas sempre
gostava de andar bem arrumado. Tinha um paletó xadrez que amava! Nunca me
esqueço que à noite, quando a gente se preparava para dormir, ele marcava um
horário para ser chamado de manhã porque tinha de ir para o serviço. E assim a
gente fazia. Se era para chamar às 7 horas, a gente o chamava pontualmente. Ai
ele dava uma acordadinha e falava para nós: “Me dá mais cinco minutinhos? ”.
Passados os cinco minutos a gente o acordava de novo e ai não tinha jeito. “Já
passáramos cinco minutos, então vou levantar”, dizia”.
FE.
Chico assumiu muitos encargos com a morte de dona Cidália, sua mãe?
Cidália - “O Chico foi, ao
mesmo tempo, irmão, pai e mãe. Com a morte de mamãe ele assumiu muitas
responsabilidades e, embora moço, soube distribuir atenção e zelar por todos
nós. Lembro-me que eu trabalhava com minha irmã Neuza na fábrica até meia
noite, e ele ficava nos esperando enquanto fazia as suas psicografias. Quando a
gente chegava, ele parava de psicografar e nos perguntava como tinha sido o dia
de trabalho, se tudo tinha corrido bem, queria saber das novidades, das
pessoas. Às vezes, a gente falava que fulano estava gostando de cicrana, que
outro estava namorando beltrana. Ele ficava contente e dizia: “É verdade?. Que
coisa boa!”. No meu caso, lembro-me que ele dava os conselhos: “Olha, Dália,
você precisa encontrar um moço bom, mais velho que você, que seja responsável e
que lhe faça feliz”. Ao conhecer o Chiquinho, que era chefe na fábrica, fui
falar com ele e disse: “Acho que estou gostando do Chiquinho, ele parece ser
muito bom, mas estou achando-o meio idoso, mais velho que eu.” E Chico
respondeu: “Ah, esse vai ser muito bom para você!”. E realmente foi.”
FE.
Do que o Chico mais gostava?
Cidália - “As pessoas as
vezes pensam que o Chico era tão diferente dos outros... Ele era uma pessoa
normal. Chico gostava de cinema, de televisão, de teatro e muito de música.
Achava interessante o povo sair para as ruas cantando em serenatas”.
FE.
Na música, o que ele apreciava?
Cidália - “Ele gostava
demais de musicas clássicas. O Geraldo Leão, nosso grande amigo aqui de Pedro
Leopoldo, fez muitas fitas para ele. Uma do Waldo de Los Rios, o Chico gostou
demais. Era muito linda, ele tinha mesmo razão. Mas o Chico gostava dos
cantores também. Amava ouvir Roberto Carlos, Vanusa e muitos outros. Quando
Elis Regina morreu, ele ficou arrasado. Uma música que o marcou muito foi
Hi-Lilli Hi-Lo. Eu tenho tantas coisas dele que em um dia, dois dias... não dá
pra contar...”
FE
O Chico continua recebendo muitas homenagens...
Cidália - “Fizeram um
memorial na região do Açude através da Câmara e da Prefeitura quando era prefeito
o sr. Ademir Gonçalves. Mas o povo quebrou tudo. Deus permita que as homenagens
alegrem o Chico. Ele era uma pessoa muito simples e humilde. A gente precisa se
fazer uma pergunta quando vai fazer alguma coisa para ele: será que o Chico
ficará contente? Será que isso o deixa alegre?. Temos de fazer as coisas
pensando em dar alegrias para ele”
FE
Neste ano, em abril, teremos aqui, em Pedro Leopoldo, novo Encontro dos Amigos
de Chico Xavier.
Cidália - “Deus permita que
isso aconteça. Temos o interesse do Geraldinho que é uma pessoa muito especial.
Ele é o nosso sucesso. Apesar de não ter tido muito contato com ele, digo que é
uma pessoa maravilhosa. O Chico dedicava a ele a maior consideração. Se a minha
saúde estiver boa, irei ao encontro para retribuir aos amigos as alegrias que
proporcionam ao Chico”.
FE.
Uma mensagem para os Espíritas.
Cidália “Quem sou eu para
dar mensagem aos espíritas... Diria apenas que fico muito feliz por amarem o
Chico da forma como amam, dentro dos princípios da Doutrina Espírita”.
FOTOS
Quando Ismael fazia a entrevista com D. Cidália Xavier Carvalho, fotografou-a em seu jardim, oferecendo a rosa da foto para o irmão Chico Xavier. |
D. Cidália defronte de sua casa que foi muito frequentada por Chico Xavier, próxima da fabrica de tecidos. |
Rua São Sebastião em Pedro Leopoldo com a casa onde Chico Nasceu – a primeira de duas águas à esquerda da foto. |
Fábrica de tecidos Cachoeira
Grande, onde Chico começou a trabalhar aos nove anos. |
Casa onde Chico residiu em Pedro Leopoldo até o ano de 1959, hoje um centro de referência da vida e da obra de Chico Xavier. |
A Cama de Chico Xavier, preservada. |
Dona Cidália (direita) com a filha Mary Rose. |
Cartão de Carmem Miranda, a pequena notável, enviado para Chico Xavier pelo irmão de Carmem, Oscar Miranda. |
Fonte: Blog
de notícias do movimento Espírita.Araçatuba – SP
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