Aos jovens

O entusiasmo em demasia é caminho para o fanatismo; a ponderação das ideias nos leva para o roteiro do equilíbrio.

Os moços têm a essência dinâmica; são irrequietos, expansivos, desdobrando-se em todas as oportunidades para se fazerem vistos, mostrando que são criaturas importantes, ainda que em formação. Se o lar não é bem formado, os jovens tomarão com facilidade caminhos indesejáveis, o que poderá, mais tarde, trazer desgostos à família e dificuldades à sociedade. Eis porque o ninho familiar deve ser bem estruturado, dentro da ética cristã. A lei da evolução nos fala que nem todos os jovens são iguais, mas quase todos são influenciáveis pelos ambientes nos quais nascem e vivem.

Na verdade, a alma dinamiza as suas próprias qualidades, já conquistadas na luta com seus instintos inferiores e influências exteriores, vencendo-as. Todavia, isso somente acontece quando já si venceu considerável porcentagem das lutas travadas para se conhece a si mesmo. Mesmo assim, o Espírito carece das indispensáveis ajuda exteriores, nas lutas de cada dia. Só o Espírito puro, que estagia r Terra para ajudar seus irmãos da retaguarda é que sai ileso das agressões exteriores. Não podemos prescindir da ajuda de outros, nós e estamos tateando na subida da vida. Somos, por assim dizer, jovens espera das experiências dos velhos.

Em companhia do instrutor Emerson, penetramos em uma sala de proporções enormes, onde estavam recolhidos duas centenas de jovens, absorvidos pela palavra fácil do professor Eduardo, velho assistente de um reformatório. Ele costumava falar por aproximadamente dez minutos e, em seguida, intercalar um humorismo sadio, para não cansar os rapazes. É de se deduzir que era uma figura amável, no ser da comunidade.

O velho professor, aureolado pela cor da alegria, sustentava o ambiente na mais perfeita ordem, motivando em nós, Espíritos visitantes, grande admiração, em virtude de aquela ser uma casa de correção para jovens transviados. O Prof. Eduardo buscava contos edificantes por onde andava, para depois narrá-los aos seus amiguinhos da instituição, procurando, com a devida ética, aumentar ou diminuir algo nos apólogos, quando não se ajustavam bem à moral evangélica.

Naquele dia, porém, o velho mestre estava com a mente vazia de histórias para contar. Buscara todo o arquivo interno, sem resultado; quando estava se vendo apertado, o benfeitor Emerson adiantou-se uns passos, colocando a destra em sua fronte, e daí a segundos, o velho começou a falar:

— Não carecemos de confessar a grande necessidade que temos uns dos outros. Por esse motivo, que é um dos mais elevados, vemos os santos a fazerem amigos e a incentivarem o amor, colocando-se como medianeiros entre a guerra e a paz, entre o ódio e o amor, entre a discórdia e a compreensão, entre a caridade e a usura, entre o bem e o mal, entre o céu e a terra, porque um precisa do outro, desde que haja um agente de luz na distribuição dos valores.

Os jovens não podem viver isolados da sociedade, porque não podem viver sem ela, e ela precisa da ajuda de todos, em todas as dimensões evolutivas. O que acontece com determinados moços é que distorcem as forças que possuem, associando-as por lei com aquelas compatíveis aos seus sentimentos; mas, quando encontram um agente entre as duas potências, interligando-as a serviço do bem, produzem milagres.

O professor limpou a garganta e continuou, com facilidade:

- A nossa natureza é regida peia mesma lei que ampara os animais de variadas qualidades. E significante lembrarmos aqui o que se passa no reino deles, para que possamos nos inteirar dos nossos deveres para com os mais velhos, em busca da felicidade a que tanto aspiramos. A galinha é acompanhada aonde for pelos pintinhos, que se valem da experiência da mãe para se protegerem quando pequenos, pois de outra forma sucumbiriam quase todos, se não encontrassem outro tipo de amparo. Sempre precisam de ajuda. Depois do nascimento do bezerro, enquanto esse não se dispõe a caminhar sozinho, a vaca não arreda pé do local onde nasceu seu filho. E quando este começa a andar por si mesmo, acompanha a mãe que, com a sua velha experiência, o defende de todas as emboscadas da natureza, ou de alguém que queira tocá-lo.

O elefante, pela mesma forma, usa da sua longa tromba tanto para defender o filho, como para corrigi-lo quando necessário. Em muitos casos, leva-o aonde há água e, enchendo a tromba, banha o seu pequerrucho. Os pássaros têm todos os cuidados com os seus implumes filhotes, levando-lhes alimentos nos ninhos, ensinando-os a voar, quando mais crescidos, em voos rasantes, ensinando-lhes a se protegerem dos maiores obstáculos ao seguimento da vida.

Poderemos analisar a linha evolutiva de todos os animais, pois nós também precisamos da ajuda dos nossos irmãos e parentes. No entanto, é imperioso afirmar que, quando jovens, andamos quais os animais mencionados seguindo os mais velhos, com obediência, com atenção, com boa vontade, com humildade copiando mais ou menos a natureza dos animais e das coisas. Os mais velhos interessar-se-ão por nós e nos ensinarão com amor todas as coisas que já aprenderam na vida, como se se tratasse de uma conquista que eles repartem com amor, por entre nós todos; e a vida espera que, quando maduros, façamos o mesmo. Todos vocês são jovens que, para viverem bem e serem felizes, precisam das experiências dos velhos e essa aparece, dependendo do seu comportamento perante eles. Deus não se esquece de ninguém.

O silêncio reinava, estampando-se nas feições da juventude a alegria pura, apanágio da idade. E o professor bateu algumas palmas, encerrando a reunião, sem saber como e por que inventara tudo aquilo para falar...

Jovens de todas as idades, eis que falamos a todos com o coração. É justo que cada um tenha um ideal, porém, é indispensável que cada alma tenha igualmente um plano inteligente de como vencer na vida. E quem já passou por várias existências na Terra poderá apontar as estradas que deverão ser palmilhadas por vocês, instruindo- os acerca das investidas dos lobos, às margens dos roteiros.

Sejam precavidos; cuidado com as facilidades, pois elas são portas abertas para a perturbação da consciência no futuro. Sejam comedidos no que fizerem, no que falarem, no que pensarem. A ponderação é filha da caridade, que devemos ter com nós mesmos. Evitem maltratar os mais velhos, mesmo se tiverem razão, pois a razão só é lícita e confortadora quando os outros nos proporcionam usá-la. O entusiasmo é necessário aos jovens; no entanto, em demasia, corrompe os bons sentimentos. Aproveitem bem os estudos, pois eles lhes concederão meios de viver com mais alegria na Terra. Acima de tudo, amem a Deus, cultivando a oração nos moldes que melhor entenderem, pois ela lhes trará sempre um pouco de paz. Respeitem e ajudem os mais velhos, por onde transitarem, pois eles são livros abertos que poderão ler com proveito.

Que Deus abençoe a todos, hoje e pela eternidade afora.

Fonte:
Cinquenta epístolas, João Nunes Maia, pelo Espírito Miramez. 

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