Evangelho segundo João - cap. 13

Jesus lava os pés dos discípulos

1. Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara a sua hora de passar deste mundo ao Pai, como amasse os seus que estavam no mundo, até o extremo os amou.

Sempre amou a todos, o que é confirmado pelo evangelista. Jesus sabia que seria traído por um de seus discípulos, negado por outro e abandonado por todos eles por um tempo. Todavia “como havia amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim”. Deus nos conhece completamente, assim como Jesus conhecia os seus discípulos (2:24,25; 6:64). Ele sabe dos pecados que cometemos e aqueles que ainda cometeremos. Entretanto, mesmo assim Ele nos ama.

2. Durante a ceia, - quando o demônio já tinha lançado no coração de Judas, filho de Simão Iscariotes, o propósito de traí-lo.

A ceia seria o arremate das orientações que os discípulos deveriam seguir, agora que começaria mesmo sua missão, pois antes estavam apenas em fase de preparação. Assim acontece com cada um, primeiro é preparado e depois tem de cumprir seu trabalho no bem.

3. sabendo Jesus que o Pai tudo lhe dera nas mãos, e que saíra de Deus e para Deus voltava,

Estaria delegando responsabilidades aos novatos, que se tornariam professores dos que vinham mais atrás e assim sucessivamente.

4. levantou-se da mesa, depôs as suas vestes e, pegando duma toalha, cingiu-se com ela.

Proferiria a aula da humildade, para não deixar dúvidas.

5. Em seguida, deitou água numa bacia e começou a lavar os pés dos discípulos e a enxugá-los com a toalha com que estava cingido.

Não poderia mais nenhum deles duvidar da igualdade, que é uma Lei de Deus.

6. Chegou a Simão Pedro. Mas Pedro lhe disse: Senhor, queres lavar-me os pés?

Simão Pedro não entendeu de início.

7. Respondeu-lhe Jesus: O que faço não compreendes agora, mas compreendê-lo-ás em breve.

Algum tempo depois iria praticar irrestritamente aquela lição, sem cuja assimilação o Espírito não evolui.

8. Disse-lhe Pedro: Jamais me lavarás os pés. Respondeu-lhe Jesus: Se eu não tos lavar, não terás parte comigo.

Tinham que realizar a aula, pois, em caso, contrário, a lição não se fixaria no seu psiquismo.

Coloque-se por alguns instantes no lugar de Pedro; ele viu Jesus lavar os pés dos outros discípulos e aproximar-se cada vez mais dele. Ver seu Mestre se comportar como um escravo deve ter confundido Pedro. Ele ainda não entendia a lição de Jesus que dizia que para ser um líder, uma pessoa deveria se um servo.

9. Exclamou então Simão Pedro: Senhor, não somente os pés, mas também as mãos e a cabeça.

Toda a alma de cada um dos discípulos ficaria impregnada com a marca da humildade a partir daquele momento.

10. Disse-lhe Jesus: Aquele que tomou banho não tem necessidade de lavar-se, está inteiramente puro. Ora, vós estais puros, mas nem todos.

Faltava Judas, que estava com os pés atolados no barro do materialismo e o corpo todo infectado pelo vírus dos seus defeitos morais.

11. Pois sabia quem o havia de trair, por isso, disse: Nem todos estais puros.

Era o discípulo necessitado de maior atenção, pois estava perto e não enxergava, tinha ouvidos mas não escutava. Seu dia de despertar estava distante. Há quem queira excluir os necessitados, mas Jesus exemplificou mostrando que sempre devemos trazê-lo junto de nós para que ele aprenda com nossos exemplos diários e nós aprendamos a ter paciência e amor aos que são menos evoluídos que nós.

12. Depois de lhes lavar os pés e tomar as suas vestes, sentou-se novamente à mesa e perguntou-lhes: Sabeis o que vos fiz?

Agora vinha o esclarecimento, para fixarem a lição.

13. Vós me chamais Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque eu o sou.

Jesus é o professor, aquele que ensina o caminho da evolução.

14. Logo, se eu, vosso Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar-vos os pés uns aos outros.

Pratiquem a humildade para serem mestres dos que sabem menos.

15. Dei-vos o exemplo para que, como eu vos fiz, assim façais também vós.

Estava demonstrado que sem o exemplo as lições se perdem.

16. Em verdade, em verdade vos digo: o servo não é maior do que o seu Senhor, nem o enviado é maior do que aquele que o enviou.

A Lei da Igualdade é universal. Quem não é humilde não é grande na realidade espiritual. Jesus é o mais humilde dos seres que passaram pela Terra, apesar da maioria dos crentes não acreditar que assim o seja, porque eles mesmos não são humildes. Só entende a humildade quem já adquiriu essa virtude.

17. Se compreenderdes estas coisas, sereis felizes, sob condição de as praticardes.

18. Não digo isso de vós todos, conheço os que escolhi, mas é preciso que se cumpra esta palavra da Escritura: Aquele que come o pão comigo levantou contra mim o seu calcanhar (Salmos 40,10).

Haveria o temor, que dispersaria temporariamente os futuros gigantes da fé.

19. Desde já vo-lo digo, antes que aconteça, para que, quando acontecer, creiais e reconheçais quem sou eu.

Não deveriam deixar a dúvida os abater à vista do que iria acontecer com Jesus.

20. Em verdade, em verdade vos digo: quem recebe aquele que eu enviei recebe a mim, e quem me recebe, recebe aquele que me enviou.

A sequência é essa: Deus, Jesus, seus emissários e assim por diante, até o que está dando os primeiros passos na estrada evolutiva: o dever de ensinar, pelo exemplo, vem de cima para baixo. Não é o aprendiz que tem de procurar o mestre, mas o mestre é que deve ir procurar o aluno, cumprindo a Lei da Caridade. Assim faz Deus em relação aos seus filhos. Assim Jesus procede quanto às suas ovelhas: por isso aceitava dialogar com os que o condenariam à morte do corpo.

Jesus e seus discípulos compartilham a última ceia

(Mateus, 26:20-30; Marcos, 14:17-26; Lucas, 22:14-30)

21. Dito isso, Jesus ficou perturbado em seu espírito e declarou abertamente: Em verdade, em verdade vos digo: um de vós me há de trair.

Jesus sofreu com o que iria declarar, pois se apiedava do discípulo despreparado.

22. Os discípulos olhavam uns para os outros, sem saber de quem falava.

Ninguém imaginava que tal pudesse ocorrer, depois de tantas Lições de nobreza de caráter!

23. Um dos discípulos, a quem Jesus amava, estava à mesa reclinado ao peito de Jesus.

Era o próprio evangelista, que tentava dar apoio moral ao seu amado Mestre.

24. Simão Pedro acenou-lhe para dizer-lhe: Dize-nos, de quem é que ele fala.

Ninguém ousava sequer pensar na possibilidade de tal acontecer, mas todos, menos o evangelista, o trairiam.

25. Reclinando-se este mesmo discípulo sobre o peito de Jesus, interrogou-o: Senhor, quem é?

Eram todos, menos o evangelista.

26. Jesus respondeu: É aquele a quem eu der o pão embebido. Em seguida, molhou o pão e deu-o a Judas, filho de Simão Iscariotes.

Jesus quis alertar Judas, concedendo-lhe a última chance de voltar atrás e não praticar o mal.

27. Logo que ele o engoliu, Satanás entrou nele. Jesus disse-lhe, então: O que queres fazer, faze-o depressa.

Não havia como clarear, à força, a mente sintonizada nas trevas.

28. Mas ninguém dos que estavam à mesa soube por que motivo lho dissera.

Jesus sabia que aquele discípulo estava sendo trabalhado para produzir bons frutos somente dali a muito tempo.

29. Pois, como Judas tinha a bolsa, pensavam alguns que Jesus lhe falava: Compra aquilo de que temos necessidade para a festa. Ou: Dá alguma coisa aos pobres.

João descreveu esses breves momentos com detalhes. Percebemos eu Jesus sabia exatamente o que aconteceria. Tinha certeza sobre o que Judas e Pedro fariam, mas não interveio na situação e não deixou de amá-los.

30. Tendo Judas recebido o bocado de pão, apressou-se em sair. E era noite.

Judas foi exercitar o direito de errar para aprender, depois, com os sofrimentos, a agir certo. Assim aconteceu com todos, menos Jesus, que nunca errou, por opção pessoal.

Pedro é avisado

31. Logo que Judas saiu, Jesus disse: Agora é glorificado o Filho do Homem, e Deus é glorificado nele.

Iniciar-se-ia a tragédia do Gólgota.

32. Se Deus foi glorificado nele, também Deus o glorificará em si mesmo, e o glorificará em breve.

A “glória de Deus” é o que importava ao Seu médium fiel, para que a humanidade aprender, de fato, que tem um Pai cheio de poder e amor, a quem deve se dirigir e seguir em sua direção, o que só se faz possível cumprindo suas Leis.

33. Filhinhos meus, por um pouco apenas ainda estou convosco. Vós me haveis de procurar, mas como disse aos judeus, também vos digo agora a vós: para onde eu vou, vós não podeis ir.

Não havia como ser diferente, pois cada um teria de evoluir com os próprios esforços. O professor não deve fazer os deveres de casa dos alunos.

34. Dou-vos um novo mandamento: Amai-vos uns aos outros. Como eu vos tenho amado, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros.

O novo mandamento é o da fraternidade, que deveria ser praticado e não teorizado, vivido em cada minuto da vida no mundo terreno e no mundo espiritual, sem excluir ninguém, por motivo algum.

35. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros.

Se amardes a todos, indistintamente, quis Jesus dizer.

36. Perguntou-lhe Simão Pedro: Senhor, para onde vais? Jesus respondeu-lhe: Para onde vou, não podes seguir-me agora, mas seguir-me-ás mais tarde.

Todos o seguirão, mais cedo ou mais tarde, no caminho da perfeição relativa, pois “nenhuma ovelha se perderá”, contanto que se reconheça como tal e atenda ao chamado do Pastor.

37. Pedro tornou a perguntar: Senhor, por que te não posso seguir agora? Darei a minha vida por ti.

A dúvida viria depois, no início do testemunho.

38. Respondeu-lhe Jesus: Darás a tua vida por mim. Em verdade, em verdade te digo: não cantará o galo até que me negues três vezes.

O novato precisaria de mais segurança interior, não de impetuosidade, mas de reflexão e fé inabalável.

Fonte:

O Evangelho de João na visão espírita (e-book)

Bíblia de estudo aplicação pessoal. CPAD, 2004

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