Evangelho segundo João - cap. 2

As bodas em Caná da Galileia

1. Três dias depois, celebravam-se bodas em Caná da Galileia, e achava-se ali a mãe de Jesus.

A narrativa de João procura ser a mais precisa possível em termos de época, tanto que afirma três dias após o último fato mencionado, ou seja, o diálogo entre Jesus e Natanael, houve um casamento em Caná da Galileia, estando ali presente Maria, mãe de Jesus.

2. Também foram convidados Jesus e os seus discípulos.

É interessante o fato de Jesus estar presente com seus discípulos de então, ou sejam, os referidos acima. Jesus não se furtou a comparecer a uma festividade aparentemente mundana, levando ainda seus discípulos, a fim de lhes ensinar, pelo exemplo, a confraternização. A presença do Divino Pastor àquele evento tem muito mais importância do que pode parecer à primeira vista, para a reflexão dos aprendizes do Evangelho, que deixam esse fato meio que à margem, quando, na verdade, tem profunda importância como lição de vida para quem pretenda evoluir espiritualmente. É evidente que não se deve concentrar todo o tempo a comparecer a festividades, mas a ida de Jesus àquela comemoração foi para exemplificar a solidariedade. Os nubentes, parentes e amigos estavam vivendo momentos de felicidade e Jesus quis prestigiá-los. Meditemos sobre o significado profundo daquele acontecimento, já que a finalidade deste presente estudo é ressaltar muito mais os exemplos do que as “falas” de Jesus, pois, “se a palavra convence, o exemplo arrasta”, e Jesus exemplificou muito mais do que “falou”.

3. Como viesse a faltar vinho, a mãe de Jesus disse-lhe: Eles já não têm vinho.

Se a Mãe Santíssima dirigiu-se ao filho naqueles termos é porque sabia dos poderes que o caracterizavam, praticamente sugerindo-lhe que desse uma solução para a situação desagradável para os noivos e suas respectivas famílias. Mãe Santíssima, que muitos acham, equivocadamente, que teve pequena participação na missão de Jesus, demonstrou estar ciente da superior condição espiritual de Jesus, de quem esperava que apresentasse, naquele instante crítico, alguma solução extraordinária, à altura de um Espírito que transcendesse, de muito, as limitações humanas dos seres medianos.

4. Respondeu-lhe Jesus: Mulher, isso compete a nós? Minha hora ainda não chegou.

Maria poderia estar pedindo a Jesus que fizesse um milagre ou que ajudasse a resolver o grande problema. A tradição diz que José, esposo de Maria, já havia morrido, assim, provavelmente era costume pedir ajuda ao filho, em certas situações.

Jesus, de início, não quis atender ao pedido da mãe, pois que ali estavam apenas em atitude de solidariedade com a alegria alheia.

5. Disse, então, sua mãe aos serventes: Fazei o que ele vos disser. Então ela falou aos serventes: Fazei tudo o que ele vos disser

Ela, porém, utilizou a autoridade materna frente ao filho e determinou-lhe que agisse.

6. Ora, achavam-se ali seis talhas de pedra para as purificações dos judeus, que continham cada qual duas ou três medidas.

Jesus obedeceu à ordem materna. Havia recipientes onde condicionar a bebida que seria materializada por Jesus, aliás, mais do que suficientes para tanto.

7. Jesus ordena-lhes: Enchei as talhas de água. Eles encheram-nas até em cima.

Iniciam-se as providências para o trabalho de materialização. Para um Espírito da envergadura espiritual de Jesus, que formou um planeta, o que não seria transformar alguns litros de água em vinho?

8. Tirai agora, disse-lhes Jesus, e levai ao chefe dos serventes. E levaram.

Continua-se a cumprir o que Jesus ia determinando, agora já transformada a água em vinho.

9. Logo que o chefe dos serventes provou da água tornada vinho, não sabendo de onde era (se bem que o soubessem os serventes, pois tinham tirado a água), chamou o noivo

10. e disse-lhe: É costume servir primeiro o vinho bom e, depois, quando os convidados já estão quase embriagados, servir o menos bom. Mas tu guardaste o vinho melhor até agora.

O vinho materializado era de melhor sabor que o que foi servido no início da celebração. É certo que o referido vinho não continha álcool, mas apenas imitasse as características dos vinhos da época, pois Jesus não iria pretender que os convivas se embriagassem.

11. Este foi o primeiro milagre de Jesus, realizou-o em Caná da Galileia. Manifestou a sua glória, e os seus discípulos creram nele.

Com essa demonstração de poder psíquico, os discípulos acreditaram que Ele era realmente o Messias. Até então nenhum deles tinha presenciado nada parecido. Jesus tencionava ensinar-lhes que os poderes psíquicos são inerentes a todos os seres humanos, que devem desenvolvê-los. Mais adiante diria: “Vós sois deuses; vós podeis fazer tudo que Eu faço e muito mais ainda.”

12. Depois disso, desceu para Cafarnaum, com sua mãe, seus irmãos e seus discípulos, e ali só demoraram poucos dias.

Não precisando o evangelista quanto tempo demoraram em Caná após o casamento, afirma que Jesus, sua mãe, seus irmãos e seus discípulos foram a Cafarnaum, permanecendo nessa última cidade por poucos dias.

É a primeira menção que o evangelista faz aos irmãos de Jesus, não sendo correto pensar que eram parentes, pois tratavam-se de irmãos, filhos, portanto, de sua mãe. O número de irmãos não é mencionado pelos evangelistas, mas pode-se presumir que seu número seria o maior possível, pois Jesus não planejaria uma família reduzida, perdendo a oportunidade de influenciar direta e constantemente maior número de ovelhas do seu rebanho.

(Mateus, 4:13)

Jesus purifica o templo

13. Estava próxima a Páscoa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém.

Aqui já há um referencial de época, ou seja, pouco antes da Páscoa, quando Jesus resolveu ir a Jerusalém.

A celebração da Páscoa acontecia anualmente no templo em Jerusalém. Todo varão judeu deveria fazer uma peregrinação até Jerusalém nesta ocasião (Deuteronômio 16:16). Esta era uma festa que durava uma semana e durante toda a semana se comemorava a libertação dos judeus da escravidão do Egito (Êxodo 12:1-3).

14. Encontrou no templo os negociantes de bois, ovelhas e pombas, e mesas dos trocadores de moedas.

No templo presenciou negociantes de várias especialidades praticando suas respectivas especialidades. Tinha chegado a oportunidade de ensinar a reverência a Deus.

15. Fez ele um chicote de cordas, expulsou todos do templo, como também as ovelhas e os bois, espalhou pelo chão o dinheiro dos trocadores e derrubou as mesas.

Trata-se do incidente que ficou conhecido como a “expulsão dos vendilhões do templo”, que não representa um mero simbolismo, mas se concretizou como está descrito pelo evangelista, com atitudes firmes e concretas. Jesus não visava outra coisa que gravar naquelas mentes a reverência a Deus, porque o respeito e a gratidão a Deus já tinham sido ensinadas por Moisés e os profetas: era, contudo, uma lição que Jesus teve de repetir, porque não tinha sido aprendida por muitos. Aliás, até hoje muitos ainda não se compenetraram desse dever que compete a cada ser humano, de enxergar em Deus nosso Pai, a quem devemos a vida.

16. Disse aos que vendiam as pombas: Tirai isto daqui e não façais da casa de meu Pai uma casa de negociantes.

Procurou fazer todos entenderem que os templos não devem servir de locais para se tratar dos interesses materiais, mas sim para orar a Deus. Depois, quando dialogou com a samaritana, estendeu a noção de “templo” ao Universo todo, mas, no templo de Jerusalém, quis ensinar a reverência a Deus.

17. Lembraram-se então os seus discípulos do que está escrito: O zelo da tua casa me consome (Salmos 68,10).

Os discípulos viram confirmado, mais uma vez, que Jesus era mesmo o Messias, pois outro não agiria daquela forma, com tanto zelo e tanto poder.

18. Perguntaram-lhe os judeus: Que sinal nos apresentas tu, para procederes deste modo?

Os inconformados questionaram Jesus pela sua atitude, indagando-lhe que autoridade Ele tinha para contrariar aquela tradição arraigada desde há muito tempo. Tinha a autoridade de ser médium de Deus.

19. Respondeu-lhes Jesus: Destruí vós este templo, e eu o reerguerei em três dias.

Jesus então reafirmou-lhes seu poder, sua condição de Messias, dizendo-lhes que poderiam decretar-lhe a morte, que não conseguiriam atingir-lhe o Espírito, que é imortal.

(Mateus, 26:61, 27:40; Marcos, 14:58, 15:29)

20. Os judeus replicaram: Em quarenta e seis anos foi edificado este templo, e tu hás de levantá-lo em três dias?

Os descrentes continuaram duvidando da condição de Messias daquele homem que lhes cobrava respeito a Deus. Tudo interpretavam com o cérebro enferrujado pelo materialismo.

21. Mas ele falava do templo do seu corpo.

Esclarece o evangelista que Jesus estava se referindo ao poder que tinha de recompor seu próprio corpo em pouco tempo e não ao templo de pedra, o qual, sabemos, na verdade, Ele poderia materializar em muito menos que três dias, mas não lhe interessava demonstrar seu poder, e sim conquistar as criaturas para investirem na própria evolução intelecto-moral.

22. Depois que ressurgiu dos mortos, os seus discípulos lembraram-se destas palavras e creram na Escritura e na palavra de Jesus.

Somente depois que Jesus reapareceu aos seus discípulos, após sua morte, eles entenderam o que o Mestre tinha pretendido significar com aquelas afirmativas quanto a reconstruir o templo em três dias, que, aliás, confirmavam o que estava escrito no Antigo Testamento.

Muitos creem em Jesus

23. Enquanto Jesus celebrava em Jerusalém a festa da Páscoa, muitos creram no seu nome, à vista dos milagres que fazia.

Durante o período em que Jesus esteve em Jerusalém, na Páscoa, manifestou seus poderes espirituais em muitas ocasiões, fazendo adeptos, que passaram a ver nele o Messias. Visava, não a glorificar-se, mas chamar a atenção para o poder de Deus, que Ele simplesmente representava, na condição de médium do Pai, pois ninguém, a não ser Deus, detém qualquer poder.

24. Mas Jesus mesmo não se fiava neles, porque os conhecia a todos.

Todavia, conhecendo as fragilidades dos Espíritos da Terra, sabia que não podia esperar uma melhoria moral a curto prazo daqueles que presenciavam sua atuação poderosa. Eles queriam presenciar fenômenos inusitados e maravilhavam-se à sua vista, mas continuavam frios moralmente, como antes.

25. Ele não necessitava que alguém desse testemunho de nenhum homem, pois ele bem sabia o que havia no homem.

Daquelas multidões somente os já amadurecidos espiritualmente colheram frutos morais a curto prazo, sendo que outros somente iriam despertar posteriormente, quando tivessem alcançado melhor condição de entender a necessidade da autorreforma moral.

Fonte: O Evangelho de João na visão espírita (e-book)

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