Do ponto de vista teológico,
o fundamentalismo é uma manifestação religiosa onde os praticantes de uma
determinada crença promovem a compreensão literal de sua literatura sagrada.
Não se limitando à realidade do mundo oriental, o fundamentalismo religioso
aparece entre alguns grupos cristãos que empreendem uma compreensão literal da
Bíblia. Entre os muçulmanos, este tipo de manifestação apareceu somente no
início do século XX.
A vertente política do
fundamentalismo passou a se organizar entre os muçulmanos quando alguns
estudiosos e líderes fabricaram uma visão de mundo calcada em ideologias
contemporâneas e interpretações particulares do passado. Em suma, observamos
que os líderes fundamentalistas do Islã reivindicam toda uma ordem de símbolos
tradicionais na construção de políticas externas e formas de organização dos
governos que fazem parte do mundo islâmico.
Contrariando a impressão de
muitos, o movimento fundamentalista islâmico não possui o “horror ao Ocidente”
e o “combate aos Estados Unidos” em sua gênese. A ação destes grupos aconteceu
primordialmente na década de 1950, quando autoridades norte-americanas se mostravam
visivelmente preocupadas com a ascensão de “populistas de esquerda” no Oriente
Médio. Nessa época, os EUA temiam que algumas nações árabes integrassem o bloco
socialista e, com isso, ameaçassem a indústria petrolífera.
Entre as décadas de 1950 e 1990, a associação entre os EUA e os grupos fundamentalistas esteve no epicentro de alguns fatos históricos. No governo do ditador Sukharno, mais de um milhão de comunistas indonésios foram assassinados pelos militantes do Sarakat-para-Islã. Em outras nações, como Síria e Egito, esse mesmo tipo de apoio logístico e militar foi empregado pelos norte-americanos para que os governos de esquerda perdessem seu respaldo.
O bom relacionamento com os
fundamentalistas deu seus primeiros sinais de crise nos fins da década de 1970.
No ano de 1979, os EUA forneceram armas e treinamento para que grupos afegãos
lutassem contra os invasores soviéticos. Em contrapartida, naquele mesmo ano,
os iranianos fundamentalistas derrubavam o governo apoiado pelos
norte-americanos por meio da revolução. Nas décadas subsequentes, os Estados
Unidos financiaram a chegada dos talibãs ao governo do Afeganistão.
Nesse momento, vários grupos
fundamentalistas defendiam a tese de que os EUA promoviam as intervenções e
alianças que se ajustassem melhor a seus interesses. Desse modo, a antiga
aliança foi se transformando em uma relação de ódio em que os “terroristas”
confrontavam o poder do “demoníaco império do Ocidente”. Em 2001, essa
rivalidade chegou ao seu ápice quando os integrantes da organização Al-Qaeda
organizaram o ataque às torres do World Trade Center.
Ao expor as relações entre a
ascensão dos grupos radicais islâmicos e a política externa norte-americana,
podemos notar que a questão religiosa tem função quase acessória. A ideia de
que o islamismo em si fomenta essa situação de conflito renega todo um conjunto
de situações construídas ao longo do século XX. Com toda certeza, o problema do
terrorismo hoje enfrentado pelos EUA decorre de políticas e ações diplomáticas
equivocadas.
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