Evangelho segundo João - cap. 4

Diálogo de Jesus com uma samaritana

1. O Senhor soube que os fariseus tinham ouvido dizer que ele recrutava e batizava mais discípulos que João

Os fariseus começaram a ficar incomodados com o número de pessoas que passaram a aceitar as lições de Jesus, suplantando a quantidade de adeptos do Batista, este último que os incomodava também. Agora já eram dois a falar a verdade, que não interessava aos homens e mulheres adeptos das trevas morais.

2. (se bem que não era Jesus quem batizava, mas os seus discípulos).

O evangelista esclarece que eram os discípulos de Jesus que batizavam, e não Ele próprio. De qualquer forma, devemos atentar para o crescente prestígio das ideias de Jesus junto às massas, sobretudo as pessoas desprezadas pela sociedade dura e fria daquele tempo de incipientes conquistas morais.

3. Deixou a Judeia e voltou para a Galileia.

Novamente Jesus, em companhia dos seus discípulos, foi divulgar a Boa Nova em outra região. Não relata o evangelista nenhum acontecimento ocorrido lá, mas pode-se ter certeza de que muitas lições foram dadas a quem tinha condições de assimilá-las.

4. Ora, devia passar por Samaria.

5. Chegou, pois, a uma localidade da Samaria, chamada Sicar, junto das terras que Jacó dera a seu filho José.

Samaria era um país estrangeiro, mas Jesus foi até lá difundindo sua mensagem, como se faz questão de ressaltar neste estudo, muito mais pelos exemplos do que pela palavra, inclusive devendo-se destacar que Jesus, como Espírito Puro, não utilizava a linguagem comum dos encarnados, mas a sua potência mental para gravar no psiquismo das pessoas o que elas tivessem capacidade de assimilar.

É importante observarmos que Jesus não se circunscreveu à divulgação da Boa Nova aos habitantes do seu país, porque, aliás, sua pátria era e é o Universo. Pregou, então, na Samaria, principalmente deixando-se observar pelas pessoas para convencê-las pela exemplificação, portanto, definitiva e irresistivelmente.

6. Ali havia o poço de Jacó. E Jesus, fatigado da viagem, sentou-se à beira do poço. Era por volta do meio-dia.

Sentou-se à beira do poço de Jacó, quando se daria um importante acontecimento, que o evangelista registrou.

7. Veio uma mulher da Samaria tirar água. Pediu-lhe Jesus: Dá-me de beber.

Jesus passou a dialogar com uma samaritana, com as finalidades de ensinar que não deveria continuar o preconceito que existia contra as mulheres; a animosidade contra os estrangeiros e quis mostrar como se deve orar a Deus.

8. Pois os discípulos tinham ido à cidade comprar mantimentos.

Os discípulos estavam ocupados com tarefas terrenas, mas Jesus não tinha tempo a perder: cada segundo era precioso para o cumprimento da sua missão.

9. Aquela samaritana lhe disse: Sendo tu judeu, como pedes de beber a mim, que sou samaritana!... (Pois os judeus não se comunicavam com os samaritanos.)

A indagação da samaritana sobre os dois preconceitos serviu de motivo para duas importantes lições do Divino Governador da Terra, que veio gravar a fogo no coração e na mente das criaturas as Leis Divinas, resumíveis no amor.

Aquela mulher (1) era uma samaritana, fazia parte de um povo mestiço odiado; (2) era conhecida por estar vivendo em pecado; e (3) estava em um lugar público. Nenhum judeu respeitável conversaria com uma mulher sob tais circunstâncias. Mas Jesus o fez.

10. Respondeu-lhe Jesus: Se conhecesses o dom de Deus, e quem é que te diz: Dá-me de beber, certamente lhe pedirias tu mesma e ele te daria uma água viva.

Jesus lhe afirma ser o Messias, que poderia ensinar-lhe as coisas de Deus, mas ela não entende, de início.

11. A mulher lhe replicou: Senhor, não tens com que tirá-la, e o poço é fundo... donde tens, pois, essa água viva?

Ela não conseguiu entender a profundidade da afirmação de Jesus.

12. És, porventura, maior do que o nosso pai Jacó, que nos deu este poço, do qual ele mesmo bebeu e também os seus filhos e os seus rebanhos?

Indagou dele sobre quem Ele era, afinal.

13. Respondeu-lhe Jesus: Todo aquele que beber desta água tornará a ter sede,

Jesus retrucou-lhe dizendo que as coisas materiais não saciam a sede do Espírito, que somente se resolve em contato com a ciência de Deus.

14. mas o que beber da água que eu lhe der jamais terá sede. Mas a água que eu lhe der virá a ser nele fonte de água, que jorrará até a vida eterna.

“Quem procura, em primeiro lugar, Deus e sua justiça tudo o mais lhe será dado por acréscimo.”: disse Jesus a ela, de outra forma.

15. A mulher suplicou: Senhor, dá-me desta água, para eu já não ter sede nem vir aqui tirá-la!

Ela ainda não tinha entendido, pois sua mente e seu coração estavam fixados nas realidades materiais.

16. Disse-lhe Jesus: Vai, chama teu marido e volta cá.

Jesus convidou-a sutilmente a reflexionar sobre a ética.

17. A mulher respondeu: Não tenho marido. Disse Jesus: Tens razão em dizer que não tens marido.

Ela afirmou não levar uma vida eticamente apresentável.

18. Tiveste cinco maridos, e o que agora tens não é teu. Nisto disseste a verdade.

Jesus sabia que aquele era um Espírito já amadurecido para receber uma revelação mais avançada e transformar-se em propagadora da verdade entre os samaritanos, sendo que, por isso, procurou dialogar com ela.

A verdadeira adoração

19. Senhor, disse-lhe a mulher, vejo que és profeta.

Demonstrando saber sobre detalhes da sua vida particular, Jesus captou seu respeito e ela se dispôs a aprender o que Ele viesse a ensinar-lhe. Assim Ele fazia: conquistava primeiro a confiança do futuro discípulo para, somente depois, ensinar-lhe a verdade. Assim também deveriam fazer os pais e mães terrenos e os professores e pedagogos, pois só o amor convence.

20. Nossos pais adoraram neste monte, mas vós dizeis que é em Jerusalém que se deve adorar.

Ela queria aprender a religião, pois às mulheres pouco se ensinava além dos afazeres domésticos.

21. Jesus respondeu: Mulher, acredita-me, vem a hora em que não adorareis o Pai, nem neste monte nem em Jerusalém.

Jesus descortinou para ela a noção de universalismo, sob a bandeira do amor, que unirá todos os seres do planeta, sem fronteiras, preconceitos e divisionismos.

22. Vós adorais o que não conheceis, nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus.

Deus é o Pai de todas as criaturas e não de algumas, preterindo as demais.

23. Mas vem a hora, e já chegou, em que os verdadeiros adoradores hão de adorar o Pai em espírito e verdade, e são esses adoradores que o Pai deseja.

Deus quer que seus filhos evoluam intelecto-moralmente e o reconheçam como Espírito e não como um homem melhorado.

24. Deus é espírito, e os seus adoradores devem adorá-lo em espírito e verdade.

Deus é a perfeição absoluta e devemos enxergá-lo dessa forma, dentro das limitações que temos, decorrentes da nossa condição evolutiva, mas devemos aperfeiçoar nossa maneira de pensar nele e nos dirigirmos a Ele. Tem razão irmã Tereza ao afirmar: “Curvem-se diante do poder de Deus!”.

25. Respondeu a mulher: Sei que deve vir o Messias (que se chama Cristo), quando, pois, vier, ele nos fará conhecer todas as coisas.

Aquele era um Espírito evoluído, que aguardava a vinda do Messias.

26. Disse-lhe Jesus: Sou eu, quem fala contigo.

Jesus então foi claro, dizendo-lhe: “Sou eu, quem fala contigo.”

27. Nisso seus discípulos chegaram e maravilharam-se de que estivesse falando com uma mulher. Ninguém, todavia, perguntou: Que perguntas? Ou que falas com ela?

Os discípulos chegaram e se escandalizaram de Ele estar dialogando com uma mulher, mas Ele queria ser visto falando com uma mulher, para ensinar-lhes a igualdade entre mulheres e homens: eis aí mais uma lição pela linguagem universal do exemplo, que iria marcar o psiquismo de todos os que o viram tomar atitudes até então inabituais entre as criaturas horizontais.

28. A mulher deixou o seu cântaro, foi à cidade e disse àqueles homens:

A samaritana, Espírito valoroso, passou a difundir a certeza entre os samaritanos de que Jesus era o Messias.

29. Vinde e vede um homem que me contou tudo o que tenho feito. Não seria ele, porventura, o Cristo?

As mulheres foram importantes divulgadoras da Boa Nova, o que nunca antes tinha acontecido por iniciativa dos antigos profetas e missionários, que consideravam-nas inferiores. Jesus foi o primeiro a valorizar nossas irmãs em humanidade e muito ganhou a Boa Nova com essas adesões, além dos próprios homens passarem a reconhecer que não deve haver diferenças entre as pessoas em virtude das características morfológicas, porque o Espírito encarna indiferentemente como homem e como mulher, de acordo com a programação espiritual que traz para cada encarnação.

30. Eles saíram da cidade e vieram ter com Jesus.

Os samaritanos que ouviram o convite da mulher foram ter com Jesus para conhecê-lo e dialogar com Ele.

A ceifa e os ceifeiros

31. Entretanto, os discípulos lhe pediam: Mestre, come!

Os discípulos, até então com os olhos espirituais fechados pelos preconceitos, queriam dissuadi-lo de dialogar com os estrangeiros.

32. Mas ele lhes disse: Tenho um alimento para comer que vós não conheceis.

Jesus foi firme na Sua decisão de dialogar com aqueles homens sedentos de aprendizado das coisas de Deus.

33. Os discípulos perguntavam uns aos outros: Alguém lhe teria trazido de comer?

Os discípulos estavam ainda sem condições de compreender o universalismo que Jesus veio ensinar.

34. Disse-lhes Jesus: Meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e cumprir a sua obra.

Jesus afirmou que sua meta era cumprir a missão de difundir as Leis Divinas acima de tudo.

35. Não dizeis vós que ainda há quatro meses e vem a colheita? Eis que vos digo: levantai os vossos olhos e vede os campos, porque já estão brancos para a ceifa.

Jesus ratificou para eles que o tempo do despertamento da humanidade havia chegado, pois Ele estava encarnado justamente para isso.

36. O que ceifa recebe o salário e ajunta fruto para a vida eterna, assim o semeador e o ceifador juntamente se regozijarão.

Jesus convidou seus discípulos para seguirem seus exemplos, ensinando a verdade a todos.

37. Porque eis que se pode dizer com toda verdade: Um é o que semeia outro é o que ceifa.

Jesus estava semeando, enquanto que os discípulos iriam continuar o trabalho, ceifando.

38. Enviei-vos a ceifar onde não tendes trabalhado, outros trabalharam, e vós entrastes nos seus trabalhos.

Os discípulos foram convidados a abrir o coração e a mente ao amor universal.

Muitos samaritanos creem em Jesus

39. Muitos foram os samaritanos daquela cidade que creram nele por causa da palavra da mulher, que lhes declarara: Ele me disse tudo quanto tenho feito.

A Boa Nova, a partir daquele momento, passou a se difundir naquele país estrangeiro, multiplicando-se o número de autorreformados moralmente. Alguns creram nele pelo poder espiritual demonstrando.

40. Assim, quando os samaritanos foram ter com ele, pediram que ficasse com eles. Ele permaneceu ali dois dias.

Jesus ficou dois dias naquela cidade estrangeira, semeando naqueles Espíritos a verdade, que eles se encarregariam de propagar, pela palavra, que tem alcance limitado, e pelo exemplo, que convence os mais renitentes e enraizados no mal.

41. Ainda muitos outros creram nele por causa das suas palavras.

Outros creram pela profundidade dos seus ensinamentos, resumíveis no amor, demonstrado pela sua exemplificação. A crença desses últimos seria muito mais consistente, porque não se baseava no mero deslumbramento, mas criou raízes na intimidade espiritual. Os fenômenos mediúnicos deslumbram, mas somente o investimento na autorreforma moral transforma o “homem velho” no “homem novo”. Esses últimos se tornaram “homens novos” e “mulheres novas”, portanto, discípulos de Jesus.

42. E diziam à mulher: Já não é por causa da tua declaração que cremos, mas nós mesmos ouvimos e sabemos ser este verdadeiramente o Salvador do mundo.

Esses se tornaram discípulos, como dito acima.

Jesus volta à Galileia

43. Passados os dois dias, Jesus partiu para a Galileia.

Dali Jesus retornou à Galileia.

44. (Ele mesmo havia declarado que um profeta não é honrado na sua pátria.)

A convivência mais estreita mostra nossos defeitos e a admiração inicial costuma ceder lugar ao desencanto. Por isso, Chico Xavier procurava desfazer, de imediato, qualquer deslumbramento acerca de sua pessoa. A uma senhora que o estava elogiando ele disse: - Sou uma pessoa comum, comparável a um sapo que traz nas costas uma vela acesa; se lhe tirarem a vela, que é a mediunidade, pulará na lagoa como qualquer outro sapo. Jesus alertou seus discípulos para não deixarem ninguém os cercarem com a bajulação.

André Luiz afirmou: “O elogio costuma ser lodo verbal.” Jesus não foi compreendido por todos os seus conterrâneos, pois o tinham visto menino e não acreditavam que aquele moço pobre pudesse ser o Messias esperado tão ansiosamente pelos judeus, que pretendiam ter nele um líder guerreiro, que levasse aquele povo à supremacia sobre o mundo inteiro.

Decepcionaram-se muitos ao verificar que o Messias pregava a humildade, o desapego e a simplicidade, virtudes que desagradavam a muita gente e, até hoje, não interessam a grande número até de quem se diz religioso.

(Mateus, 13:57, Marcos, 6:4; Lucas, 4:24)

45. Chegando à Galileia, acolheram-no os galileus, porque tinham visto tudo o que fizera durante a festa em Jerusalém, pois também eles tinham ido à festa.

O deslumbramento diante dos fenômenos mediúnicos costuma ceder lugar ao desencanto, se não se fizer acompanhar da autorreforma moral. Muitos presenciaram fenômenos de poder mental por parte de Jesus, admiraram esses fenômenos, mas continuaram como “homens velhos” ou “mulheres velhas”, de acordo com o caso.

A cura do filho de um oficial do rei

46. Ele voltou, pois, a Caná da Galileia, onde transformara água em vinho. Havia então em Cafarnaum um oficial do rei, cujo filho estava doente.

Quando a justiça Divina passa a utilizar o remédio amargo dos sofrimentos, então o Espírito desinteressado das coisas de Deus vai pedir socorro aos que vivem para o bem. Aquele oficial foi procurar Jesus em busca da cura do filho.

Aqui também cabe o alerta da irmã Tereza: - “Curvem-se diante do poder de Deus!”

47. Ao ouvir que Jesus vinha da Judeia para a Galileia, foi a ele e rogou-lhe que descesse e curasse seu filho, que estava prestes a morrer.

O pai aflito, mesmo sem crer em Jesus e nas coisas de Deus, queria ver o filho curado a qualquer preço. Assim procedem muitos, sem merecimento, todavia, para receberem auxílio espiritual.

O oficial do rei era provavelmente um oficial a serviço de Herodes. Ele deve ter andado aproximadamente 32 km para ver o Messias; tratou Jesus como “Senhor”, colocando-se sob sua autoridade, mesmo tendo autoridade legal sobre Ele.

48. Disse-lhe Jesus: Se não virdes milagres e prodígios, não credes.

Jesus lhe afirmou que a maioria somente acredita a peso de prodígios.

49. Pediu-lhe o oficial: Senhor, desce antes que meu filho morra!

O oficial insistiu no pedido de auxílio de Jesus.

50. Vai, disse-lhe Jesus, o teu filho está passando bem! O homem acreditou na palavra de Jesus e partiu.

Jesus garantiu que curaria o filho.

Esse oficial do rei não apenas creu que Jesus poderia curar; também obedeceu ao Messias, retornando para casa e demonstrando sua fé. Não é suficiente dizer que cremos que Jesus pode curar dos nossos problemas. Precisamos agir, a fim de demonstrar que Ele realmente pode.

51. Enquanto ia descendo, os criados vieram-lhe ao encontro e lhe disseram: Teu filho está passando bem.

No caminho de retorno, o pai ficou sabendo da cura do filho.

52. Indagou então deles a hora em que se sentira melhor. Responderam-lhe: Ontem à sétima hora a febre o deixou.

O pai confirmou a hora da cura do filho exatamente quando Jesus lhe disse que o curaria.

53. Reconheceu o pai ser a mesma hora em que Jesus dissera: Teu filho está passando bem. E creu tanto ele como toda a sua casa.

Observe como a fé do oficial cresceu. Primeiro, ele creu o suficiente para pedir que Jesus ajudasse seu filho; depois creu na afirmação de Jesus de que seu filho viveria e agiu de acordo com essa fé. Então, ele e toda sua casa creram em Jesus. A fé é um dom que cresce à medida que o utilizamos.

54. Esse foi o segundo milagre que Jesus fez, depois de voltar da Judeia para a Galileia.

O Poder Espiritual de Jesus Lhe possibilitava realizar prodígios, que assombravam as pessoas.

Fonte:

O Evangelho de João na visão espírita (e-book)

Bíblia de estudo aplicação pessoal. CPAD, 2004

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