Fazer penitência
1.
Por esse mesmo tempo vieram dizer a Jesus o que sucedera a uns galileus cujo
sangue Pilatos misturara com o do sacrifício que eles faziam. 2. Jesus, em
resposta, disse: Pensais acaso que esses galileus, por terem sido tratados
assim, fossem os maiores pecadores da Galileia? 3. Declaro-vos que não, e que,
se não fizerdes penitência, perecereis todos do mesmo modo. 4. Acreditais
igualmente que os dezoito homens sobre os quais caiu a torre de Siloé e os
matou tossem mais devedores do que todos os habitantes de Jerusalém? 5.
Declaro-vos que não, e que, se não fizerdes penitência, parecereis todos do
mesmo modo.
Os judeus consideravam as
calamidades, as dores morais e físicas como castigos que a cólera de Deus fazia
cair sobre os que as experimentavam, os quais, por isso mesmo que sofriam, eram
considerados culpados. Logicamente, os que nada sofriam eram tidos por
inocentes. Jesus tratou de destruir essa crença errônea, mas sem entrar em
explicações, que o levariam a falar das encarnações e reencarnações, como meio
de expiação, reparação e progresso, o que fora inconveniente, por não estar
ainda a Humanidade apta a receber essas explicações.
Acreditavam eles, os judeus,
na volta do Espírito a uma nova existência terrena, mas unicamente com relação
aos profetas, aos grandes enviados, qual Elias, por exemplo, que criam ter
vindo depois como João, o Precursor.
Entretanto, no colóquio que teve com Nicodemos (João, capítulo 3), Jesus afirmou, ainda que veladamente, a realidade da lei natural da reencarnação e essa lei mostra que somos culpados todos os que nos achamos neste planeta, que todos a ele viemos para expiar e reparar não só as faltas de que temos consciência, como as de que nos não lembramos, cometidas em outras existências. Todos, portanto, temos que fazer penitência, se não quisermos agravar as nossas culpas e tornar-nos passíveis de maiores “castigos”. Mas, que vem a ser penitência? Pode ela dispensar a expiação e a reparação?
A lei das encarnações e
reencarnações, cuja realidade, conforme acima dissemos, as palavras de Jesus a
Nicodemos atestaram, nos dá solução satisfatória para muitos problemas, que
permanecem insolúveis ante os ensinos do Catolicismo, por isso que este, em
presença de qualquer dificuldade, logo apela para o dogma e para o milagre, em
suma, para o sobrenatural. Assim, por exemplo, a desigualdade das condições
sociais, que, segundo aquela lei, se explica com lógica e justiça, ele, nenhuma
explicação podendo oferecer, a atribui ora ao pecado original, ora às faltas
dos pais, sem atentar em que de tal modo nega um dos atributos de Deus a
justiça perfeita e misericordiosa e em que os absurdos impostos com a
autoridade, de que se presume revestido, a outro resultado não conduzem senão a
aumentar a descrença, a matar a fé nas almas que, atribuladas, buscam conforto
e esperança.
Pois que não há efeito sem
causa, alguma ou algumas forçosamente existem para aquela desigualdade, bem
como para as dores e sofrimentos de que é pródiga a vida terrena. A lei das
encarnações e reencarnações, apresentando-nos essa vida como a continuação de
outra precedentemente vivida, esta como a sequencia de uma anterior e assim por
diante, nos aponta, nas culpas, nos erros e nos crimes praticados nas
pretéritas existências corpóreas, as causas das vicissitudes em que se nos
transcorre a atual. Demonstra-nos ela, assim, que as nossas vidas sucessivas no
mundo são solidárias entre si.
A penitência, que Jesus
aconselhou, não consiste, como se entendeu outrora, na reclusão em claustros,
nos cilícios e outras tribulações materiais, quais as a que se submeteu uma
Teresa de Jesus, aliás, com o desprezo altamente meritório das glórias e
grandezas do mundo.
A penitência a que aludia o
divino Mestre é a que constitui meio de tornarmos cada vez menos ásperas,
dificultosas e tormentosas as nossas existências na Terra, e de passarmos,
afinal, a habitar mundos mais elevados, até chegarmos à condição de já não
termos que ser habitantes de mundos quaisquer. Ela, pois, consiste no
arrependimento sincero, profundo, e no propósito firme em que a criatura se
coloca de não tornar a cometer as faltas que a arrastaram à mísera condição
humana e, ainda, no esforço decidido pelas apagar de todo, a fim de que a
lembrança delas não continue a acicatar a consciência. Assim entendida, a
penitência dá lugar ao perdão divino.
Mas, por isso mesmo que pelo
esforço, consequente ao arrependimento, por não reincidir nas faltas
praticadas, é que a lembrança destas se dilui, deixando de atormentar a
consciência, claro é que o arrependimento e, portanto, a penitência, não basta
para o apagamento das culpas que o determinaram. E bastará, para esse efeito, o
perdão, que decorre do arrependimento ou penitência? Também não porque, nesse
caso, todo aquele esforço se tornaria desnecessário à criatura, uma vez que se
houvesse arrependido. Se a tal resultado conduzisse, o perdão de Deus
comprometeria o conceito de perfeição absoluta, inerente à sua justiça.
Qual então o efeito do
perdão concedido ao pecador? Facultar-lhe os meios de resgate e reparação das
faltas de que se acha arrependido, dar-lhe, de par com a iluminação interior, a
fim de que bem compreenda seus deveres de filho de Deus, caridosa assistência
espiritual aos esforços que faça por avançar, mediante aquele resgate e aquela
reparação, na via do progresso, que o conduzirá, de mérito em mérito, aos olhos
do Senhor, à perfeição e, pois, à felicidade perene para que foi criado.
Desde que o arrependimento
não sofra intermitências e que por ele o Espírito se conserve voltado de
contínuo para o seu Criador, o perdão, que em consequência lhe é outorgado, o
coloca sob o influxo constante do amor sem limites do Pai celestial, das graças
e misericórdias de que são transmissores os seus mensageiros, de sorte que
fácil se lhe torna cada vez mais a realização de seus destinos.
O Espírito penitente absorve-se
todo na oração e na vigilância que Jesus recomendava e que formam um como
antemural às ondas de paixões que nos lançam no abismo do infortúnio.
Compreendidos assim, em
espírito e verdade, o que vem a ser penitência e o perdão que dela decorre,
também facilmente se compreende em que consistem os efeitos, a que chamamos
“prêmio”, do bem que a criatura fez, e os que denominamos “castigo”, do mal que
pratica. (2) Aqueles se traduzem na paz de espírito, na serenidade da
consciência, na satisfação íntima que toda ação boa ocasiona e no progresso
moral a que dá sempre lugar. Os outros se expressam pelo desassossego, pelo
sofrimento, pelo remorso, pelas angústias e aflições e, muitas vezes, pelo
desespero.
Aos efeitos do mal
praticado, ou, seja, ao “castigo”, o Espírito culpado se forra pelo perdão,
obtido mediante a penitência, mas que, como acima dissemos, não o forra à
expiação, ao resgate, à provação e à reparação.
Temos assim que, à falta, se
sobrevém o arrependimento, se segue o perdão e, a este, o resgate, depois a
provação, que representa a contraprova da firmeza dos propósitos de
regeneração, e, finalmente, a reparação, que testifica a conversão definitiva
ao bem, através de tantas encarnações sucessivas, quantas forem necessárias.
Não é de fácil inteligência,
bem o reconhecemos, este ponto, um dos mais transcendentes da Doutrina Cristã,
compreendida à luz dos ensinos dados ao mundo pelo Paracleto, ou Consolador
prometido pelo divino Mestre. Por isso mesmo, insistimos nele, repetindo o que
nos disse o nosso bom Guia e Mestre: Expiação, provação, reparação, palavras
são estas que exprimem ideias completamente distintas. A expiação é a primeira
consequência da falta ou crime praticado, mediante a qual a consciência do
criminoso acaba por despertar para o arrependimento; este o conduz a buscar a
provação, com que efetua, conscientemente, o resgate da sua dívida, ao mesmo
tempo que demonstra ser decisiva a sua resolução de emendar-se. Vem,
finalmente, a reparação, pela qual, como a própria palavra o indica, ele repara
o mal que haja feito, praticando todo o bem que lhe seja possível e atestando
desse modo haver tomado o caminho da regeneração. Como é fácil de perceber-se,
o sofrimento, sob modalidades diversas, constitui a característica dessas três
fases da depuração espiritual.
Ele é sempre o cadinho
desta. Assim se cumpre a justiça indefectível, mas misericordiosa, de Deus.
A obsessão, como qualquer
outro sofrimento, nem sempre é uma expiação, representativa do que chamamos
“castigo”. Pode já ser uma prova. Diante das explicações que deixamos dadas,
desacertado é ver-se em todos os sofrimentos humanos um castigo, uma punição.
Em muitos casos, eles são uma provação confirmativa do arrependimento. Sendo o
perdão consequência natural do arrependimento, onde este exista verdadeiro,
sincero, profundo, já não há lugar para o que vulgarmente se considera castigo,
ou punição.
Perdoado, em virtude da
sinceridade do seu arrependimento, que implica a lealdade dos seus propósitos e
promessas de regeneração, o próprio Espírito é que se submete espontaneamente
às provações ou provas que lhe ratificarão o arrependimento e o mostrarão digno
do perdão recebido de seu Deus. Muitos exemplos corroboram estas nossas
asserções.
Assim, tendo Moisés, ao
tempo em que fora Elias, mandado matar grande número de sacerdotes, contrários
à doutrina que ele pregava, como se vê em Reis, capítulo 3 versículo 18, quando
voltou à Terra e foi João Batista, o Precursor, o maior dentre os varões
nascidos de mulher, convidou todos os seus companheiros de outrora, espíritos
também elevados, a virem ao mundo celebrar com assinalado sacrifício o advento
do Salvador, oferecendo suas cabeças ao cutelo de Herodes. E ele, por seu lado,
veio completar, no mesmo meio terrestre, a obra de purificação do seu Espírito,
entregando igualmente a sua, mais tarde, ao mesmo déspota, como haviam feito os
protagonistas da “degolação dos inocentes”.
Como se depreende desse
caso, que é bem de prova e reparação, o Espírito, tendo-se elevado pelo
arrependimento e adquirido, pela sinceridade e amplitude deste, as virtudes da
submissão, da humildade e da fé, como que insensibiliza a matéria, para o
sacrifício reparador a que se submete e faz, com o sorriso da alegria que lhe
causa a certeza da sua redenção, o que o impenitente faz com o desespero n’alma
e raivoso ranger de dentes.
Agora, compare-se, na sua
razão de ser e nos seus efeitos lógicos, porque conformes com a justiça divina,
a penitência, ou arrependimento, ensinada, aconselhada e recomendada pelo
divino Mestre, à penitência feita sacramento pela Igreja Romana, que lhe
condicionou o perdão divino; pondere-se que este, segundo ela, não existe, com
eficiência para a salvação do pecador, senão depois que o padre diga eu te
absolvo, e não haverá como deixar de reconhecer-se quão divorciada do vero
Cristianismo se acha essa Igreja e até que ponto as elucubrações teológicas dos
santos padres, nos concílios, desfiguraram e adulteraram a doutrina simples e
pura do meigo Nazareno. E que nesses concílios a preocupação avassaladora da
mentalidade dos mesmos santos padres era a de estabelecer e firmar, como
suprema, a autoridade que se atribuíam, a fim de chegarem à dominação material
que ambicionavam. Daí o transformarem em algemas de escravidão os ensinos de
libertação espiritual, ou, seja, de salvação, que trouxe ao mundo o manso
Cordeiro de Deus.
(2) Assim nos exprimimos
porque, em realidade, não há prêmio, nem castigo, na acepção humana e vulgar
destes termos. Deus a ninguém premia, nem castiga, porquanto, na lei universal
de causa e efeito, vigente em todos os planos da criação Infinita, estão,
reguladas, com absoluta justiça, todas as sanções, a se efetivarem em
consequências naturais, para todos os atos, praticados ou simplesmente
pensados, de todos os seres dotados de Inteligência e razão, portanto de todos
os Espíritos. A ideia de prêmios e castigos, com o significado comum que damos
a essas palavras, é simples resultado da concepção de uma divindade mais ou
menos humanizada.
Parábola da figueira estéril
6.
Disse-lhes também esta parábola: Um homem havia plantado uma figueira na sua
vinha, e, vindo colher-lhe os frutos, nenhum achou. 7. Disse então ao seu
vinhateiro: há já três anos que venho buscar os frutos dessa figueira e não
acho nenhum; corta-a; por que há de estar ela ocupando a terra? 8. O vinhateiro
respondeu: Senhor, deixa-a mais este ano, a fim de que eu lavre a terra em
torno dela e lhe ponha estrume. 9. Depois, se der fruto, muito bem; se não,
depois a mandarás cortar.
Facilmente se apreende o
sentido desta parábola, com a qual, sobretudo, o que Jesus teve em mira foi pôr
em evidência a longanimidade do Senhor e a assistência caridosa e devotada que
incansavelmente nos dispensam os Espíritos prepostos à nossa guarda e
progresso.
Assim, segundo a parábola, aquele
que se mostra rebelde às inspirações do seu anjo de guarda, ingrato à sua
dedicação, indiferente ao auxílio que lhe presta, insensível a todos os
benefícios que recebe; aquele que se obstina em viver contrariamente aos
ditames da moral, sem dar, pelas provas por que passa, os frutos que devia
produzir, é como a figueira que, apesar de todos os cuidados do agricultor, do
auxílio que lhe dispensa, do adubo que lhe põe, permanece estéril, sem
frutificar. Tem que ser cortada e retirada do campo onde fora plantada, pois
que a sua permanência ali acabaria por prejudicar as outras plantas.
Contudo, o agricultor,
benévolo, paciente e desejoso sempre de vê-la produzir, não a corta logo;
contenta-se em podá-la, na esperança de que, fortalecida assim a seiva que
ainda lhe dá vida e que se acha como que adormecida, ela venha a se cobrir de
frutos. Poda-a, pois, revolve-lhe a terra em derredor, chega-lhe em abundância
estrume novo e espera.
Verificando, por fim, que
nada obteve, que estéril como era a árvore se conserva, manda cortá-la e
lançá-la ao fogo, para que não continue a ocupar, junto das que abundantemente
produzem, um lugar que pode ser ocupada por outra também produtiva.
É o que faz conosco o
Senhor. Ele nos faculta todos os recursos e meios de levarmos a efeito a nossa
salvação, ou redenção, tendo chegado a enviar-nos o seu Filho bem-amado, para
nos mostrar, palmilhando-o até ao cume do Gólgota, Ele que nada tinha de que se
remir, o caminho que à redenção conduz. Como isso, entretanto, ainda não tenha bastado,
faz que do céu caiam as estrelas, se abalem as virtudes, a trazer-nos, com seus
conselhos e ensinamentos, sublimes exemplos de humildade, caridade e
devotamento. E não é tudo: para que amplamente aproveitemos desses exemplos e
ensinos, concede-nos, através de tantas reencarnações quantas sejam
necessárias, o tempo preciso, colocando-nos, em cada uma, na posição mais
conveniente à expiação das nossas faltas, à reparação do mal que tenhamos
praticado e, conseguintemente, à produção dos frutos, que devemos dar, de
progresso, representados pelas virtudes de que cumpre exornemos nossas almas.
Se, porém, apesar de tudo
isso, perseveramos na prática do mal, temos que ser apartados da companhia
daqueles que progridem, regenerando-se, para sermos lançados no fogo das
torturas morais proporcionadas ao nossos delitos e crimes e das encarnações em
mundos onde mais acerbos são os sofrimentos, até que, despertada a nossa
consciência a seiva espiritual que nos alimenta o ser nos disponhamos à
purificação dos nossos sentimentos, tornando-nos, desse modo, dignos de
receber, como co-herdeiros que somos, a parte que nos caiba da herança que Ele,
o Pai celestial, instituiu para todos os seus filhos, sem exceção.
Mulher doente, curvada
10.
Certo sábado em que Jesus ensinava numa das sinagogas deles, 11, veio aí ter
uma mulher possessa de um espírito de enfermidade que a tornara doente, havia
dezoito anos. Tão curvada era que absolutamente não podia olhar para cima. 12.
Vendo-a, Jesus a chamou e lhe disse: “Mulher, estás livre da tua doença.” 13.
E, Impondo-lhe as mãos, ela se endireitou no mesmo Instante e rendeu graças a
Deus.
Os judeus atribuíam a
satanás, isto é, aos Espíritos, tudo o que não podiam compreender, nem
explicar. Daí o empregarem muitas vezes o termo “possessão” referindo-se a
casos que eram apenas de doente.
O de que falam os versículos
acima era um destes, de simples doença. Verifica-se isso, notando-se o
seguinte: ao passo que o Evangelista, de acordo com o modo de ver de então e
usando da linguagem então corrente, diz que a mulher estava possessa de um
“espírito de enfermidade” spiritum
infirmitatis Jesus, quando se lhe dirige, apenas diz: Mulher, estás livre da tua enfermidade “ab infiírmitate tua”.
Entretanto, quando o caso era de possessão, isto é, de obsessão, de subjugação,
Ele intimava o Espírito obsessor a que se afastasse.
Aquela mulher sofria de um
amolecimento da medula espinhal e, como consequência, de enfraquecimento da
coluna vertebral, pelo que não podia levantar o busto.
A cura se operou por efeito
da aplicação, que Jesus lhe fez, mediante uma ação espírito-magnética, ou de
magnetismo espiritual, de fluídos apropriados a restituir ao órgão enfraquecido
a força de que carecia.
A natureza desses fluídos,
bem como suas propriedades atuantes nos são desconhecidas e ainda não estamos
em condições de os poder conhecer. Pelos efeitos, porém, que conhecemos e que,
de boa-fé, são incontestáveis, do “magnetismo humano”, podemos até certo ponto
imaginar quais os que produzirão o “magnetismo espiritual”, quando aplicado por
um Espírito de sublimada pureza e, portanto, de inexcedível poder, como o de
Jesus.
Aliás, dos efeitos da
aplicação desse magnetismo (espiritual), em toda a sua amplitude, já podemos
fazer ideia mais ou menos aproximada, sem recorrermos à comparação com os que
resultam da do magnetismo humano, somente observando o que se passa nas sessões
espíritas bem orientadas, onde os nossos guias, embora se nos conservem
invisíveis, secundam por essa forma a nossa ação, desde que objetivamos dar
alívio a um irmão nosso e que para eles apelamos pela prece feita com fervor e
fé.
Vê-se assim que nos corre o
dever de estudar e praticar com ardor, desinteresse e perseverança essa ciência
celeste, que o Senhor nos confiou, precioso tesouro que nos facultará fazer
obras análogas às que Ele fez, o que lograremos com o tempo, a continuidade do
esforço, o desprendimento da matéria e a assistência dos nossos guias e, em
geral, dos espíritos de eleição.
Acrescentemos que o fato
evangélico que apreciamos encerra outro ensinamento da maior importância, sobre
o qual muito devemos meditar, para o aproveitarmos bem, de modo a corrigirmos
uma tendência que se vai prejudicialmente generalizando. Essa tendência é a de
atribuir-se toda e qualquer doença a uma atuação de Espíritos e o ensino
consiste em que devemos examinar cuidadosamente cada caso que se nos apresente,
a fim de não confundirmos os que sejam de simples enfermidade com os em que os
sofrimentos decorrem, principalmente, da ação de espíritos malfazejos, por
índole, ou por inconsciência.
O dia de sábado. Culto do sábado
14. O chefe da sinagoga,
indignado por haver Jesus feito uma cura em dia de sábado, tomou a palavra e
disse ao povo: “Há seis dias destinados ao trabalho vinde num desses dias para
serdes curados e não nos de sábado.” 15. O Senhor, respondendo, disse-lhe:
“Hipócritas, qual de vós deixa de soltar o seu boi ou o seu jumento em dia de
sábado, de o tirar do estábulo para lhe dar de beber? 16. Por que então não se
devia libertar em dia de sábado esta filha de Abraão dos laços com que satanás
a teve presa durante dezoito anos?” - 17. Ouvindo-lhe estas palavras, seus
adversários ficaram envergonhados e todo o povo se regozijava de o ver praticar
gloriosamente tantas coisas.
O sábado, Moisés o instituiu
como meio de refrear a avareza, a cobiça, a ambição e a desumanidade dos
senhores de escravos e de animais, que lhes não permitiam descansar das fadigas
do trabalho cotidiano.
“O sábado foi feito em
contemplação do homem e não o homem em contemplação do sábado”, como diz Marcos
(capítulo 2, versículo 27). Sua instituição representava uma medida útil, pois
que destinada a proteger o corpo do esgotamento resultante do excesso de
trabalho. Com esse único objetivo, é claro que de nenhum modo criava embaraço
ou inibia a prática do bem.
Como, pois, se poderia
pretender defesa a de uma ação benfazeja, qual a de livrar um obsidiado das
garras do seu obsessor, ou, como disse Jesus, libertar dos laços de satanás uma
filha de Abraão?
Note-se, porém, que o divino
Mestre usou dessas expressões, não porque se tratasse de um caso de possessão,
ou subjugação, por parte do espírito das trevas, mas, pois que assim o supunham
todos, para que o seu ato fosse mais facilmente aceito, visto que, conforme
ficou explicado na lição precedente, o caso era de moléstia, de enfermidade.
Grão de mostarda. Fermento da massa.
Semente lançada à terra
(Mateus,
13:31-35; Marcos, 4:26-34)
18.
Dizia: O reino dos céus a que se assemelha e com que o compararei? 19.
Assemelha-se ao grão de mostarda que o homem toma e planta no seu horto; ele
germina, cresce e se torna árvore grande em cujos ramos pousam os pássaros do
céu. 20. E repetiu: Com que compararei o reino de Deus? 21. Ele se assemelha ao
fermento que uma mulher toma e mistura com três medidas de farinha até que a
massa fique completamente levedada. 22. E assim ia ensinando pelas cidades e
aldeias a caminho de Jerusalém.
Comparando o reino dos céus
ao grão de mostarda, quis Jesus mostrar à multidão que o gérmen, por mínimo que
seja, donde se parta para chegar ao céu, pode desenvolver-se e produzir grandes
resultados.
No seu pensamento acerca do
futuro, a comparação do reino dos céus com um grão de mostarda, que, de
pequenino que é, se torna árvore grande, em cujos ramos os pássaros vêm
habitar, constitui uma alegoria em que aquele grão representa o ponto de
partida, a origem do planeta e da Humanidade, o estado rudimentar de uma e
outro; em que o crescimento oculto do grão, sua afloração, desenvolvimento e
transformação em árvore simbolizam as fases por que tem passado o nosso mundo,
as da formação e desenvolvimento dos reinos mineral, vegetal, animal e humano e
as de depuração e transformação física do planeta e física, moral e intelectual
da Humanidade. Os ramos da árvore indicam o grau de evolução que aquele
atingirá, para se tornar morada de paz e de felicidade, que os Espíritos
purificados virão habitar e onde, continuando a progredir com ela, chegarão à
perfeição.
Na parábola em que comparou
o reino de Deus ao fermento que se lança na massa de farinha para levedá-la e
torná-la em pão, figurou Jesus o trabalho de transformação e purificação das
almas, por efeito da doutrina de amor e bondade que Ele lançava nos corações
único fermento apropriado à preparação do pão espiritual, que alimenta para a
vida eterna.
Na em que o reino dos céus é
comparado à semente que o homem lançou à terra, o divino Mestre indicava o
trabalho, secreto, mas contínuo, da semente de regeneração que Ele imergia nos
corações, ao mesmo tempo que mostrava as fases de germinação, crescimento,
transformação, desenvolvimento e frutificação que o Espírito atravessa, para
atingir a maturidade moral e intelectual, estado em que será aproveitado pelos
ceifadores incumbidos de proceder à colheita para o celeiro divino, o reino de
Deus.
Por outro lado, esta última
parábola, despojado da letra o Espírito, é o emblema dos períodos que a nossa
Humanidade tem percorrido e transposto na via do progresso, desde o
aparecimento do homem na Terra, assim como dos períodos que ela tem de
percorrer e transpor, para sua regeneração completa.
A erva, que aflorou ao solo,
como produto da germinação da semente, designa o tempo que se escoou antes que
Jesus aparecesse na Terra; a formação da espiga indica o que decorreu desde
esse aparecimento até os nossos dias; a formação dos grãos que cobrem a espiga,
os próprios grãos já formados e o fruto ao qual, quando maduro, se passa a
foice, por ser essa a época da ceifa, indicam os tempos atuais e futuros da era
do Espiritismo, que vem preparar e efetivar a regeneração da Humanidade e as
promessas que as proféticas palavras do Salvador encerram.
Neste momento, o grão, aqui,
se está formando; ali, amadurece e, em certas partes escolhidas, já se acha
maduro, ou já foi ceifado.
Tais os resultados que o
Espiritismo, que apenas há alguns anos apareceu, está produzindo.
Esforçai-vos por entrar pela porta
estreita
23.
E alguém lhe perguntou: Senhor, tão poucos são os que se salvam? Ao que ele
respondeu: 24. Esforçai-vos por entrar pela porta estreita; porquanto eu vos
digo que muitos procurarão entrar e não poderão. 25. E quando o pai de família
houver entrado e fechado a porta, se, do lado de fora, começardes a bater,
dizendo: Senhor, abre-nos; o Senhor, respondendo, dirá: Não sei donde sois. 26.
Se então disserdes: Bebemos e comemos na tua presença e ensinaste nas nossas
praças públicas, 27, ele vos responderá: Não sei donde sois; afastai-vos de
mim, vós todos os que praticais iniquidades. 28. Haverá prantos e ranger de
dentes, quando virdes que Abraão, Isaque, Jacó estão no reino de Deus e que vós
sois repelidos de lá. 29. Do Oriente e do Ocidente, do Setentrião e do Meio-dia
virão os que se hão de sentar à mesa no reino de Deus. 30. E eis que serão os
últimos os que eram primeiros e os primeiros serão os que eram últimos.
É árduo, escabroso, cheio de
espinhos e urzes, o caminho que nos leva à Casa do Pai.
Muitos recuam dele,
amedrontados com os obstáculos que terão de superar. Esses são os que não podem
passar pela porta estreita. Aquele, porém, que segue sempre a senda que a sua
consciência lhe traça, ouvindo-lhe os conselhos e pondo-os em prática, esse
transpõe facilmente a porta da salvação, por mais estreita que pareça. Ao
aproximar-se dela, verá que se torna ampla e aberta de par em par, a fim de deixá-lo
passar.
Muitos procurarão passar e
não poderão. São os que tentam, mas não perseveram. Os espíritas devem tomar
para si essas palavras. Muitos, de fato, são os que, vendo entreaberta a porta,
para ela se encaminham, mas com passo incerto e hesitante, levando consigo o
cortejo de vícios, fraudes e impurezas que os acompanha. O caminho, entretanto,
cada vez se lhes alonga mais e a porta volta gradualmente a fechar-se. Quer
isso dizer que só uma consciência pura nos pode conduzir até essa porta e fazer
que a transponhamos.
Versículo 25. Se o Espírito,
chamado a progredir na vida corporal, se obstina em ficar estacionário, apesar
de todos os esforços de seus guias e protetores, o Senhor o degreda para
planetas inferiores à Terra, onde terá que fazer uma nova série de
peregrinações, até que compreenda a necessidade de progredir.
Versículos 26 e 27. Há
nestes versículos uma alusão aos que, embora professando ostensivamente um
culto qualquer, se conservam desviados do caminho traçado pela lei divina. Não
basta que o homem se intitule profitente, desta ou daquela religião; é preciso
que pratique a moral, que toda se contém, como o disse Jesus, no duplo
mandamento: Amar a Deus e amar ao próximo. Não basta dizer: Senhor! Senhor! É
preciso fazer a vontade do Pai, que está nos céus.
As locuções choro, ranger de dentes são empregadas
em sentido alegórico. Exprimem as torturas morais por que forçosamente tem de
passar o Espírito endurecido e consciente de que esse endurecimento é a causa
única de seu sofrer.
Conosco vivem de novo,
presentemente, na Terra, dentre os Espíritos que acompanharam a Jesus, muitos
que progrediram quanto à inteligência e ao saber, mas que, por desgraça deles,
nenhum progresso fizeram, quanto à simplicidade do coração. Julgam possuir tudo;
entretanto, chegados que seja o dia, verão a nudez de suas almas.
Versículo 29. Virão do
Oriente e do Ocidente, etc. Alusão à comunhão de pensamentos e crenças, que
reinará entre os homens, ao tempo da regeneração. Alusão igualmente aos
Espíritos depurados que virão de diversos outros planetas à Terra, quando
também esta já se achar depurada, isto é, na época em que Jesus, Espírito da
Verdade, baixará de novo ao nosso globo, de conformidade com o que nos está
predito e anunciado.
Versículo 30. E eis que
serão os últimos os que eram os primeiros e os primeiros serão os que eram os
últimos. Os que primeiro se puseram a caminho, demandando a casa do Pai, mas
não tiveram a perseverança necessária, retardaram-se e ficaram para trás dos
que começaram depois a jornada e nela perseveraram. Aqueles são, em geral, os
que, tomados de orgulho, se fiam em si exclusivamente. O mesmo orgulho lhes
torna tardos os passos.
Para Deus nada é o tempo que
o Espírito gaste na realização do seu progresso. Para ele, o arrependimento e
as virtudes são tudo. Assim o Espírito que tardiamente entrou na senda do bem,
mas que por ela caminha com perseverança e atividade, pode não só alcançar,
como ainda passar adiante do Espírito preguiçoso, senão culpado, que nenhum
esforço faz, mesmo que tenha começado mais cedo a sua rota ascensional.
SAYÃO, Antonio Luiz. Elucidações evangélicas. FEB (e-book).
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