Parábola do semeador. Explicação dessa
parábola
(Mateus,
13:1-23; Marcos, 4:1-20,25)
1.
Algum tempo depois, ia Jesus de cidade em cidade, de aldeia em aldeia, pregando
e evangelizando o reino de Deus. Acompanhavam-no os doze, 2, e algumas
mulheres, que tinham sido livradas dos Espíritos malignos e curadas de
enfermidades; Maria, apelidada a Madalena, da qual sete demônios haviam saído;
3. Joana, mulher de Cuza, Intente de Herodes; Susana e muitas outras que o
assistiam com seus bens. 4. Como o cercasse grande multidão de gente vinda de
todas as cidades, disse Ele esta parábola: 5. O semeador saiu a semear a sua
semente e enquanto o fazia, uma parte dela caiu à margem do caminho, foi pisada
e os pássaros do céu a comeram. 6. Outra parte caiu sobre pedras e, por falta
de húmus, secou, logo depois de haver germinado. 7. Outra caiu entre
espinheiros que, crescendo, a sufocaram 8. Outra parte, finalmente, caiu em
terra boa, germinou e frutificou, produzindo cem por um. E, dizendo Isso,
exclamava: Quem tem ouvido de ouvir, ouça. 9. Os discípulos lhe perguntaram o
que queria dizer aquela parábola. 10. Ele lhes respondeu: Dado vos foi a vós
conhecer o mistério do reino de Deus; mas aos outros só por parábolas se lhes
fala, a fim de que vendo não vejam e ouvindo não compreendam. 11. Eis o que
quer dizer esta parábola: A semente é a palavra de Deus. 12. A que cai junto do
caminho indica os que ouvem a palavra, mas de cujos corações Satanás a vem
arrancar, pelo temor de que, crendo, eles se salvem. 13. As que caem sobre
pedras indicam os que, tendo-a Ouvido, recebem com alegria a palavra: esta,
porém não cria raízes, porquanto eles creem apenas durante algum tempo,
retrocedendo assim que chegam as tentações. 14. A parte que cai entre
espinheiros corresponde aos que escutaram a palavra, mas em cujos corações ela
é abafada pelas preocupações terrenas, pelas riquezas, pelos prazeres da vida e
não produz frutos. 15. A boa terra onde cai a Última parte das sementes são os
que, ouvindo a palavra, a guardam, em seus corações bons e excelentes e dela tiram
fruto pela paciência.
8:18.
Vede, pois, de que modo ouvis; porquanto mais se dará àquele que já tem e ao
que não tem se tirará até o que julgue ter.
Capítulo 10, versículo 23. Voltando-se para os discípulos, disse-lhes: Felizes os olhos que veem o que vedes; 24, porquanto eu vos digo que muitos profetas e reis desejaram ver o que vedes e não viram, ouvir o que ouvis e não ouviram.
As explicações que Jesus deu
da parábola do semeador era a que convinha aos Espíritos encarnados naquela
época e a de que necessitavam os apóstolos, a fim de desempenharem suas
missões. As mesmas explicações bastam para que a compreendamos.
A razão por que Jesus
preferentemente falava por parábolas era evitar que muitos se enchessem de
maiores responsabilidades, que lhes acarretariam grandes sofrimentos no futuro:
aqueles que, capazes embora de receber sem véu a sua palavra, não se lhe
submeteriam. Por outro lado, para os que estivessem dispostos a avançar, a
caminhar para diante, nenhum inconveniente havia em que os ensinos lhes fossem
ministrados veladamente, visto que se esforçariam, como o fizeram os
discípulos, por lhes descobrir o sentido oculto e o apreenderiam. Os que, ao
contrário, assim não procedessem, por considerarem pesadas demais para suas
naturezas más a reforma que aqueles ensinos impunham, seriam culpados apenas de
indiferença, de não procurarem devassar os mistérios que de pronto não
compreendiam.
Dizendo, pois, que não lhes
falava senão por parábolas, “para que não se convertessem”, aludia o Mestre aos
que, cedendo a um primeiro impulso, tentariam avançar, mas que, detidos
bruscamente pelos seus maus instintos, fariam sem demora um recuo, que lhes
viria a ser causa de graves expiações, porquanto, conforme também o disse,
“mais se dará àquele que já tem e ao que não tem se tirará até o que julgue
ter”.
Estas palavras significam
que aquele que deseja progredir e se esforça por consegui-lo, de todos os lados
receberá amparo; enquanto que o outro, o que tem pouco, indiferente ao que lhe
foi dado, negligente em guardar o que recebeu, deixará que as más paixões se
apossem do seu coração, que os vícios e males, que o oprimirão durante séculos,
tomem o lugar das poucas virtudes de cuja posse já desfrutasse.
Antes das revelações feitas
por Jesus, o homem, nenhuma ideia clara formando da outra vida, não estava apto
a conhecer os “mistérios do reino dos céus, os segredos do reino de Deus”,
expressões que compõem uma imagem destinada a materializar, por assim dizer,
para a compreensão de homens materiais, a felicidade dos bem-aventurados. Os
“mistérios” do reino dos céus, os “segredos” do reino de Deus eram os meios,
desconhecidos até então, de chegar-se àquela felicidade.
Jesus veio levantar o véu e
esclarecer as inteligências. Porém, apenas uma ponta do véu foi levantada; a
“luz” permaneceu velada. Hoje, a luz já brilha com mais vivo fulgor, porque os
Enviados do Senhor ergueram um pouco mais o véu que a encobria, tanto quanto os
olhos humanos, tornados mais fortes, o permitiam. O véu, entretanto, só será
levantado completamente, quando os homens houverem alcançado alto grau de
desenvolvimento moral e intelectual. Só então lhes será facultado conhecerem
todos os “mistérios do reino dos céus”, todos os “segredos do reino de Deus”.
O irmão, a irmã e a mãe de Jesus são os
que fazem a vontade de seu pai, ouvindo a palavra de Deus e pondo-a em prática
(Mateus,
12:46-50; Marcos, 3:31-35)
19.
Sua mãe e seus irmãos vieram ter com Ele, mas não puderam aproximar-se dele por
causa da multidão. 20. Disseram-lhe então: Estão lá fora tua mãe e teus irmãos
que te querem ver. 21. Jesus, respondendo, disse: Minha mãe e meus irmãos são
os que escutam a palavra de Deus e a praticam.
Não estando ligado a Maria
por nenhum laço humano, Jesus mostrou aos homens os sentimentos de fraternidade
e de amor que os devem unir. Qual poderia ser, de fato, o desejo do bom pastor,
que vinha à procura das ovelhas tresmalhadas do seu rebanho? Qual poderia ser o
seu objetivo? Reuni-las em torno de si. Todas, fossem quais fossem, eram e são
dele bem-amadas.
Efetivamente, nenhum grau de
parentesco humano havia entre Jesus, Maria e José, porquanto, Ele se achava
apenas revestido de um corpo aparentemente humano, de um corpo fluídico, que,
pelo poder da sua vontade e da sua sabedoria, se tornava visível e tangível,
conforme as necessidades da sua missão. Trazia um corpo “celeste”, na expressão
de Paulo, tendo sido a sua concepção, por Maria, obra do Espírito Santo, como
também já explicamos e deve ser entendido.
Por essa explicação ficou
patente que Maria não concebeu, não deu à luz filho algum, se conservou sempre
virgem, pura e imaculada, sem que, na realidade, o aparecimento do nosso
Salvador na Terra tenha apresentado o que quer que seja de milagroso ou de
sobrenatural. Assim sendo, é claro que também nenhum grau de parentesco humano
havia entre Ele e os que eram considerados seus irmãos, cumprindo ainda se
advirta que, em hebreu, a palavra irmão tinha várias acepções. Significava, ao
mesmo tempo, o irmão propriamente dito, o primo coirmão, o simples parente.
Tempestade aplacada
(Mateus,
8:23-27; Marcos, 4:35-40)
22.
Certo dia, tendo entrado numa barca com os discípulos, disse-lhes: Passemos
para a outra margem do lago; e partiram. 23. Enquanto faziam a travessia, Ele
adormeceu e grande ventania se desencadeou sobre o lago, enchendo d’água a
barca e pondo-os em perigo. 24. Os discípulos se acercaram dele e,
despertando-o, disseram: Mestre, socobramos. Jesus, levantando-se, falou
ameaçadoramente ao vento e às ondas agitadas. Tudo logo cessou e reinou grande
calma. 25. Disse-lhes Ele então: Onde está a vossa fé? Eles, porém, cheios de
temor e de admiração, perguntavam uns aos outros: Quem julgas seja este que dá
ordens aos ventos e às ondas e é obedecido?
Jesus, como governador,
diretor e protetor do nosso planeta, a cuja formação presidiu, missão que por
si só indica a grandeza excelsa do seu Espírito, tinha, por efeito dessa
excelsitude, o conhecimento de todos os fluídos e o poder de utilizá-los
conforme entendesse, de acordo com as leis naturais que lhes regem as
combinações e aplicações.
Ora, dados esse conhecimento
e esse poder, tão fácil lhe era curar uma enfermidade, como aplacar uma
tormenta, modificando as condições dos elementos que as produzem, todos de
natureza fluídica, fazendo cessar entre eles o desequilíbrio que as ocasiona.
Cumpre ponderar que tais
fenômenos visam a um fim providencial o aperfeiçoamento do orbe, em
correspondência com o progresso da Humanidade e de tudo o que lhe concerne.
Os que sucumbem, vitimados
por eles, são os que escolheram ou se viram obrigados a passar pela prova de
terminarem dessa maneira a existência terrena. É o que igualmente se dá com os
que perecem nos incêndios, nos terremotos, pela peste, pela fome, pela guerra,
etc., visto que nada se dá por obra do acaso; que tudo tem uma justa razão de
ser. A pena de talião, como já tivemos ensejo de mostrar, é uma realidade, do
ponto de vista espiritual, para os Espíritos culpados, os quais, amiúde, sentem
a necessidade de passar por aquilo que fizeram a outros e então encarnam nas
condições apropriadas à satisfação dessa necessidade.
O certo é que tudo segue
marcha regular, estabelecida pela onisciência divina, concorrendo tudo para um
contínuo progresso, assim de ordem física, como de ordem intelectual e moral.
Tudo, pois, em a Natureza, é preparado e conduzido pela ação de Espíritos
prepostos à execução dos sábios desígnios de Deus, exercendo-se essa ação de
conformidade com as leis naturais e imutáveis que o Supremo legislador do
Universo pôs, desde toda a eternidade.
Com o conhecimento perfeito
de todas essas leis e com o poder, por assim dizer, divino que possui, em
relação ao nosso planeta, a vontade potentíssima de Jesus, o mais graduado
daqueles Espíritos, era e foi bastante, para fazer que a tempestade cessasse, o
tempo se tornasse de novo calmo e sereno o mar.
Também o homem operará um
dia fatos desses, que aos seus olhos ainda assumem as proporções de verdadeiros
prodígios, porque grande nele só há o orgulho, causador único da sua extrema
fraqueza. Operá-los-á quando, pela elevação dos sentimentos, pelo progresso
espiritual, se tornar senhor da ciência do Magnetismo e capaz de praticá-la,
sob a influência e o auxílio espíritas, determinando, pelas combinações
fluídicas, a atração magnética e todos os demais efeitos decorrentes daquele
agente universal. Assim, dia virá em que todos os fatos que presentemente ainda
nos maravilham e assombram se nos tornarão familiares. Tal se dará quando
houvermos chegado a um alto grau de pureza moral. Ë esta uma verdade, cujo
fundamento integral se encontra nas seguintes palavras do divino Mestre: Fareis
as obras que eu faço e fareis outras ainda maiores. (João, capítulo 14,
versículo 12.)
No estado de inferioridade
em que ainda se acha o nosso planeta, as hecatombes, as pestes, a fome e a
guerra contribuem para o progresso dos povos, porque são meios de provação e
expiação e servem para o desenvolvimento da civilização e da Ciência, de
adiantamento moral e intelectual, abrindo ensejos à atividade, à prática do
devotamento e da caridade.
São efetivamente flagelos,
no sentido de que atingem indistintamente grandes e pequenos; mas, são,
principalmente, meios apropriados a lembrar ao homem que todos estamos sujeitos
ao poder divino, perante o qual todas as cabeças se encontram à mesma altura.
Não devemos, pois, lamentar que tais calamidades se abatam sobre este ou aquele
país. Devemos, ao contrário, bendizer do Senhor, “que estende seu flagelo por
sobre as massas e pesa na sua balança o valor de seus povos; que manda às
nações o progresso e a paz aos homens de boa-vontade”.
Tudo, repetimos, segue
marcha regular, objetivando o progresso, assim de ordem física, como de ordem
intelectual e moral.
Legião de maus Espíritos expulsos.
Libertação dos subjugados. Porcos precipitados no mar (ou lago)
(Mateus,
8:28-3; Marcos, 5:20)
26.
Vieram navegando até ao país dos Cerasênios, que fica defronte da Galileia. 27.
Ao saltar Jesus em terra, veio ter com Ele um homem que desde muito tempo
estava possuído do demônio, que não trazia roupa alguma e que não morava em
casa, mas nos sepulcros. 28. Logo que viu a Jesus, se prostrou diante dele e,
em altos brados, dizia: Jesus, filho do Deus Altíssimo, que há entre ti e mim?
Eu te suplico, não me atormentes. 29. Isso porque Jesus ordenava ao Espírito
imundo que saísse daquele homem que, havia muito tempo, era por ele
violentamente assaltado. De nada servia prenderem-no com correntes e porem-lhe
ferros aos pés; quebrava as correntes e os ferros e era impelido pelo demônio
para os lugares ermos. 30. Jesus lhe perguntou: Qual é O teu nome? Ele
respondeu: Chamo-me Legião, pois que muitos demônios tinham entrado nele. 31. E
esses demônios pediam a Jesus que os não mandasse para o abismo. 32. Como num
monte próximo estivesse pastando uma grande vara de porcos, os demônios pediram
a Jesus que lhes permitisse entrar nos porcos, o que lhes foi concedido. 33.
Saíram então do homem, entraram nos porcos e logo toda a manada correu com
impetuosidade a se precipitar no lago e aí se afogou. 34. Vendo isso, os que a
guardavam fugiram e foram contar na cidade e nas aldeias o que se passara. 35.
De uma e de outras acorreram muitas pessoas a ver o que sucedera e, vindo onde
estava Jesus, encontraram o homem que ficara livre dos demônios, sentado a seus
pés, vestido e de perfeito juízo, o que os encheu de temor. 36. E os que tinham
visto o que se passara lhes referiram como o possesso fora libertado da legião
dos demônios. 37. Então, toda a multidão de habitantes do país dos Gerasenios
pediu a Jesus que se retirasse dali, por se acharem aterrorizados. Jesus tomou
de novo a barca e partiu. 38. O homem de quem os demônios tinham saído
suplicava que lhe fosse permitido acompanhá-lo. Jesus, porém, o mandou embora,
dizendo: 39. Volta para tua casa; narra o que Deus fez por ti. E o homem foi por
toda a cidade, espalhando a notícia do que lhe fizera Jesus. 40. Regressando
este, o povo o recebeu com alegria, pois que todos o esperavam.
A subjugação consiste na
ação dominadora que o mau Espírito exerce sobre outro Espírito que, por mais
fraco, se deixou dominar e aquele sujeita temporariamente à sua vontade.
Para produzir esse efeito, o
subjugador atua fluidicamente sobre o outro, encarnado, combinando com os
fluídos deste os do seu perispírito, utilizando-se de todos os elementos de
mediunidade, que lhe ofereça a organização da sua vítima. Fá-la então sentir a
sua presença de todas as maneiras, ouvir, falar, ver e praticar os atos a que
lhe apraza impeli-lo, efeitos que a medicina oficial capitula de loucura.
No caso de possessão, o
domínio é mais completo. O Espírito obsessor como que se substitui ao do
encarnado no seu corpo, donde, por assim dizer, expulsa o outro, para servir-se
desse corpo, como se lhe pertencera, ficando a este ligada a vítima, apenas por
um cordão fluídico, com o auxílio do perispírito. Combinando os fluídos do seu
perispírito com os do perispírito do encarnado, o mau Espírito se introduz no
instrumento corpóreo deste último e lhe imprime uma ação que é efeito daquela
combinação fluídica. Essa substituição tanto pode dar-se no estado de vigília,
como no de sonambulismo do encarnado.
Há ainda um caso excepcional
de substituição, caso em que esta se dá voluntariamente, da parte do encarnado,
e com permissão dos anjos de guarda, para fim útil, qual o da manifestação de
um Espírito obsessor, a fim de ser doutrinado e esclarecido, a benefício seu e
de suas vítimas.
Foi nessa condição de
possessos de Espíritos maus que dois indivíduos, ou um só, o número pouco
importa, se apresentaram a Jesus que, expelindo deles os seus perseguidores,
fez que estes se manifestassem visualmente aos porcos, os quais, espavoridos
com a visão, debandaram em precipitação tão grande, que foram cair no mar. Os
Espíritos obsessores, obedecendo à vontade de Jesus, apenas se fizeram visíveis
aos porcos, espantando-os. Não passaram para estes, como disseram os
Evangelistas, pela ignorância do que só agora foi revelado a tal respeito,
porquanto o perispírito do Espírito não pode atuar fluidicamente sobre o dos
animais, por ser impossível a combinação dos respectivos fluídos, uma vez que
os princípios não são idênticos.
Ocorre, porém, dizer, que,
se bem não possam ser médiuns, na acepção exata do termo, os animais, alguns
pelo menos possuem a faculdade da vidência, tanto que se espantam com as visões
que têm, prevenindo desse modo o homem da presença do Espírito.
Quanto ao conhecimento dos
meios e processos pelos quais se produzem esses fenômenos de visão nos animais,
ainda o não podemos ter, porque nos falta o da natureza dos fluídos, de suas
propriedades e das combinações de que são passíveis. Nem por isso, entretanto,
nos deve importar a incredulidade e a negação dos sábios, dos materialistas, de
todos os que se supõem senhores exclusivos da verdade, do bom-senso, da razão e
do mundo, que chamam seu. Para firmarmos a nossa crença, na realidade dos
efeitos terríveis e formidáveis da ação dos Espíritos inferiores, temos os
fatos autenticados pelos Evangelistas, temos a ciência espírita, cujo estudo
leva ao conhecimento de tais fatos, temos a nova revelação, que nos veio
desvendar os segredos de além-túmulo, temos as manifestações mediúnicas que,
cada vez em maior número, se dão por toda a parte, demonstrando o poder, a
extensão e as modalidades várias da atuação dos seres do plano incorpóreo sobre
os encarnados.
A subjugação, como a
obsessão, em geral, é uma expiação, sempre adequada e proporcionada aos crimes
e faltas cometidos pelos que a sofrem e a se verificar em condições de
despertar a consciência, de ocasionar o remorso e acarretar o arrependimento,
que determina o perdão, cujos misericordiosos efeitos sobre o Espírito já
tivemos ocasião de apreciar.
A filha de Jairo. A hemorroíssa
(Mateus,
9:18-26; Marcos, 5:21-43)
41. Veio ter com ele então
um homem chamado Jairo, que era príncipe da sinagoga e, lançando-se-lhe aos
pés, lhe pediu que entrasse na sua casa, 42, dizendo ter uma única filha de
cerca de doze anos que estava a morrer. Partiu com ele Jesus, apertado pela
multidão. 43. Uma mulher que, havia doze anos, sofria de uma perda de sangue e
que gastara com médicos tudo o que possuía, sem que nenhum houvesse conseguido
curá-la, 44, se aproximou dele por detrás e lhe tocou a fimbria da túnica, com
o que logo o fluxo de sangue cessou. 45. Perguntou então Jesus: Quem me tocou?
Como todos negassem ter sido quem o tocara, Pedro e os que o cercavam lhe
disseram: Mestre, pois que a multidão te aperta e oprime, como podes perguntar:
Quem me tocou? 46. Jesus replicou: Alguém me tocou, porquanto percebi que uma
virtude saiu de mim. 47. A mulher, verificando assim não poder ocultar-se,
aproximou-se toda tremula e, prostrando-se aos pés de Jesus, declarou diante de
todo o povo o motivo por que o tocara e que ficara imediatamente curada. 48.
Jesus lhe disse: Filha, tua fé te salvou, vai em paz. 49. Ainda não acabara de
falar, chegou alguém e disse ao príncipe da sinagoga: Tua filha morreu; não dês
ao Mestre mais incômodo. 50. Mas, ouvindo isso, Jesus disse ao pai da menina:
Não temas, tem fé somente e ela será salva. 51. Chegando à casa de Jairo, não
deixou que aí entrassem senão Pedro, Tiago e João com o pai e a mãe da menina. 52.
Todos a choravam e lamentavam. Ele, porém, disse: Não choreis, ela não está
morta, apenas dorme. 53. Zombavam, porém, dele, por saberem que estava morta. 54.
Jesus, pegando-lhe na mão, exclamou: Menina, levanta-te. 55. Seu Espírito
voltou ao corpo, ela se levantou imediatamente e Jesus mandou que lhe dessem de
comer. 56. Os pais da menina se mostraram cheios de espanto e Ele lhes ordenou
que não dissessem a ninguém o que sucedera.
Ainda neste caso, o da
hemorroíssa, a cura Jesus a operou, como em todos os outros, unicamente pelo
poder magnético de que dispunha. Envolto sempre em fluídos vivificantes e
reparadores, Ele os distribuía, sempre que oportuno, pelos que de tais fluídos
necessitavam.
Foi, em suma, como nos
demais, um efeito de combinações fluídicas, que ainda ignoramos, porque ainda
não nos achamos capazes de compreender a natureza dos fluídos, seus efeitos e
suas propriedades de ação, conhecimento a que só chegaremos, mediante a nossa
depuração moral.
Os efeitos curativos que a
medicina obtém dos minerais e vegetais de que se utiliza, no tratamento das
enfermidades humanas, são devidos aos fluídos, dotados de propriedades
terapêuticas, de que se acham saturados os aludidos vegetais e minerais,
fluídos idênticos aos que, como inúmeros outros, se acham espalhados na
atmosfera terrena, sem que os homens lhes suspeitem a existência. Pois bem,
desses mesmos fluídos é que se servia Jesus. Conhecendo-os todos, bem como as
combinações de que são passíveis, ele não precisava recorrer às substâncias que
os contêm. Pela ação exclusiva da sua vontade, reunia os que eram aplicáveis ao
caso ocorrente, lançava-os sobre o enfermo e a cura se operava. Essa a
explicação da mulher que, tocando-o, ficou livre do fluxo sanguíneo de que
sofria.
Quanto à filha de Jairo,
todos a tinham por morta, tanto que à porta da casa estavam flautistas a tocar
os seus instrumentos, como era de uso entre os Hebreus e o é ainda nalguns
lugares do nosso país, em os quais se costuma tocar música nas casas onde
morreu alguém. Aquela morte, porém, era apenas aparente; tratava-se
exclusivamente de um desses casos de catalepsia profunda, em que, de par com a
suspensão de todos os sentidos e a cessação de todos os movimentos, há rigidez
e aspecto cadavéricos, ausência absoluta de pulsações, de respiração e de
calor, e tão completa insensibilidade física, que nenhuma impressão causa as
mais fortes pancadas. A menina se achava, em suma, num desses estados
catalépticos, que nem os mais hábeis profissionais da medicina logram
distinguir da morte real.
Vê-se, portanto, que era
apenas aparente a sua morte. Embora fosse extremo o desprendimento do Espírito
que habitava aquele corpo, ele a este se conservava ligado por um tênue cordão
fluídico o do perispírito, coisa que os homens não podem ver e que, na época,
ignoravam. Sabia-o, porém, Jesus e, porque o sabia, chamou, com a suprema
autoridade que lhe dava a sua excelsitude espiritual, o Espírito da suposta
morta, ordenando-lhe que volvesse à sua prisão carnal. E a menina despertou,
fato que, como era natural da parte de quantos a tinham por morta, foi
considerado uma ressurreição, portanto, um milagre, visto que o julgavam
impossível.
Como esse, foram todos os
milagres que Jesus operou. Em nenhum houve mais do que um fenômeno
absolutamente natural, apenas regido por leis naturais que os homens
desconheciam e, na sua generalidade, ainda desconhecem, mas das quais chegarão
um dia a ter conhecimento perfeito, tanto que Ele não hesitou em afirmar: Fareis as mesmas obras que eu faço e outras
ainda maiores. (JOÃO, 14:12.)
SAYÃO, Antonio Luiz. Elucidações evangélicas.
FEB (e-book).
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