Evangelho segundo Lucas - cap. 8

Parábola do semeador. Explicação dessa parábola

(Mateus, 13:1-23; Marcos, 4:1-20,25)

1. Algum tempo depois, ia Jesus de cidade em cidade, de aldeia em aldeia, pregando e evangelizando o reino de Deus. Acompanhavam-no os doze, 2, e algumas mulheres, que tinham sido livradas dos Espíritos malignos e curadas de enfermidades; Maria, apelidada a Madalena, da qual sete demônios haviam saído; 3. Joana, mulher de Cuza, Intente de Herodes; Susana e muitas outras que o assistiam com seus bens. 4. Como o cercasse grande multidão de gente vinda de todas as cidades, disse Ele esta parábola: 5. O semeador saiu a semear a sua semente e enquanto o fazia, uma parte dela caiu à margem do caminho, foi pisada e os pássaros do céu a comeram. 6. Outra parte caiu sobre pedras e, por falta de húmus, secou, logo depois de haver germinado. 7. Outra caiu entre espinheiros que, crescendo, a sufocaram 8. Outra parte, finalmente, caiu em terra boa, germinou e frutificou, produzindo cem por um. E, dizendo Isso, exclamava: Quem tem ouvido de ouvir, ouça. 9. Os discípulos lhe perguntaram o que queria dizer aquela parábola. 10. Ele lhes respondeu: Dado vos foi a vós conhecer o mistério do reino de Deus; mas aos outros só por parábolas se lhes fala, a fim de que vendo não vejam e ouvindo não compreendam. 11. Eis o que quer dizer esta parábola: A semente é a palavra de Deus. 12. A que cai junto do caminho indica os que ouvem a palavra, mas de cujos corações Satanás a vem arrancar, pelo temor de que, crendo, eles se salvem. 13. As que caem sobre pedras indicam os que, tendo-a Ouvido, recebem com alegria a palavra: esta, porém não cria raízes, porquanto eles creem apenas durante algum tempo, retrocedendo assim que chegam as tentações. 14. A parte que cai entre espinheiros corresponde aos que escutaram a palavra, mas em cujos corações ela é abafada pelas preocupações terrenas, pelas riquezas, pelos prazeres da vida e não produz frutos. 15. A boa terra onde cai a Última parte das sementes são os que, ouvindo a palavra, a guardam, em seus corações bons e excelentes e dela tiram fruto pela paciência.

8:18. Vede, pois, de que modo ouvis; porquanto mais se dará àquele que já tem e ao que não tem se tirará até o que julgue ter.

Capítulo 10, versículo 23. Voltando-se para os discípulos, disse-lhes: Felizes os olhos que veem o que vedes; 24, porquanto eu vos digo que muitos profetas e reis desejaram ver o que vedes e não viram, ouvir o que ouvis e não ouviram.

As explicações que Jesus deu da parábola do semeador era a que convinha aos Espíritos encarnados naquela época e a de que necessitavam os apóstolos, a fim de desempenharem suas missões. As mesmas explicações bastam para que a compreendamos.

A razão por que Jesus preferentemente falava por parábolas era evitar que muitos se enchessem de maiores responsabilidades, que lhes acarretariam grandes sofrimentos no futuro: aqueles que, capazes embora de receber sem véu a sua palavra, não se lhe submeteriam. Por outro lado, para os que estivessem dispostos a avançar, a caminhar para diante, nenhum inconveniente havia em que os ensinos lhes fossem ministrados veladamente, visto que se esforçariam, como o fizeram os discípulos, por lhes descobrir o sentido oculto e o apreenderiam. Os que, ao contrário, assim não procedessem, por considerarem pesadas demais para suas naturezas más a reforma que aqueles ensinos impunham, seriam culpados apenas de indiferença, de não procurarem devassar os mistérios que de pronto não compreendiam.

Dizendo, pois, que não lhes falava senão por parábolas, “para que não se convertessem”, aludia o Mestre aos que, cedendo a um primeiro impulso, tentariam avançar, mas que, detidos bruscamente pelos seus maus instintos, fariam sem demora um recuo, que lhes viria a ser causa de graves expiações, porquanto, conforme também o disse, “mais se dará àquele que já tem e ao que não tem se tirará até o que julgue ter”.

Estas palavras significam que aquele que deseja progredir e se esforça por consegui-lo, de todos os lados receberá amparo; enquanto que o outro, o que tem pouco, indiferente ao que lhe foi dado, negligente em guardar o que recebeu, deixará que as más paixões se apossem do seu coração, que os vícios e males, que o oprimirão durante séculos, tomem o lugar das poucas virtudes de cuja posse já desfrutasse.

Antes das revelações feitas por Jesus, o homem, nenhuma ideia clara formando da outra vida, não estava apto a conhecer os “mistérios do reino dos céus, os segredos do reino de Deus”, expressões que compõem uma imagem destinada a materializar, por assim dizer, para a compreensão de homens materiais, a felicidade dos bem-aventurados. Os “mistérios” do reino dos céus, os “segredos” do reino de Deus eram os meios, desconhecidos até então, de chegar-se àquela felicidade.

Jesus veio levantar o véu e esclarecer as inteligências. Porém, apenas uma ponta do véu foi levantada; a “luz” permaneceu velada. Hoje, a luz já brilha com mais vivo fulgor, porque os Enviados do Senhor ergueram um pouco mais o véu que a encobria, tanto quanto os olhos humanos, tornados mais fortes, o permitiam. O véu, entretanto, só será levantado completamente, quando os homens houverem alcançado alto grau de desenvolvimento moral e intelectual. Só então lhes será facultado conhecerem todos os “mistérios do reino dos céus”, todos os “segredos do reino de Deus”.

O irmão, a irmã e a mãe de Jesus são os que fazem a vontade de seu pai, ouvindo a palavra de Deus e pondo-a em prática

(Mateus, 12:46-50; Marcos, 3:31-35)

19. Sua mãe e seus irmãos vieram ter com Ele, mas não puderam aproximar-se dele por causa da multidão. 20. Disseram-lhe então: Estão lá fora tua mãe e teus irmãos que te querem ver. 21. Jesus, respondendo, disse: Minha mãe e meus irmãos são os que escutam a palavra de Deus e a praticam.

Não estando ligado a Maria por nenhum laço humano, Jesus mostrou aos homens os sentimentos de fraternidade e de amor que os devem unir. Qual poderia ser, de fato, o desejo do bom pastor, que vinha à procura das ovelhas tresmalhadas do seu rebanho? Qual poderia ser o seu objetivo? Reuni-las em torno de si. Todas, fossem quais fossem, eram e são dele bem-amadas.

Efetivamente, nenhum grau de parentesco humano havia entre Jesus, Maria e José, porquanto, Ele se achava apenas revestido de um corpo aparentemente humano, de um corpo fluídico, que, pelo poder da sua vontade e da sua sabedoria, se tornava visível e tangível, conforme as necessidades da sua missão. Trazia um corpo “celeste”, na expressão de Paulo, tendo sido a sua concepção, por Maria, obra do Espírito Santo, como também já explicamos e deve ser entendido.

Por essa explicação ficou patente que Maria não concebeu, não deu à luz filho algum, se conservou sempre virgem, pura e imaculada, sem que, na realidade, o aparecimento do nosso Salvador na Terra tenha apresentado o que quer que seja de milagroso ou de sobrenatural. Assim sendo, é claro que também nenhum grau de parentesco humano havia entre Ele e os que eram considerados seus irmãos, cumprindo ainda se advirta que, em hebreu, a palavra irmão tinha várias acepções. Significava, ao mesmo tempo, o irmão propriamente dito, o primo coirmão, o simples parente.

Tempestade aplacada

(Mateus, 8:23-27; Marcos, 4:35-40)

22. Certo dia, tendo entrado numa barca com os discípulos, disse-lhes: Passemos para a outra margem do lago; e partiram. 23. Enquanto faziam a travessia, Ele adormeceu e grande ventania se desencadeou sobre o lago, enchendo d’água a barca e pondo-os em perigo. 24. Os discípulos se acercaram dele e, despertando-o, disseram: Mestre, socobramos. Jesus, levantando-se, falou ameaçadoramente ao vento e às ondas agitadas. Tudo logo cessou e reinou grande calma. 25. Disse-lhes Ele então: Onde está a vossa fé? Eles, porém, cheios de temor e de admiração, perguntavam uns aos outros: Quem julgas seja este que dá ordens aos ventos e às ondas e é obedecido?

Jesus, como governador, diretor e protetor do nosso planeta, a cuja formação presidiu, missão que por si só indica a grandeza excelsa do seu Espírito, tinha, por efeito dessa excelsitude, o conhecimento de todos os fluídos e o poder de utilizá-los conforme entendesse, de acordo com as leis naturais que lhes regem as combinações e aplicações.

Ora, dados esse conhecimento e esse poder, tão fácil lhe era curar uma enfermidade, como aplacar uma tormenta, modificando as condições dos elementos que as produzem, todos de natureza fluídica, fazendo cessar entre eles o desequilíbrio que as ocasiona.

Cumpre ponderar que tais fenômenos visam a um fim providencial o aperfeiçoamento do orbe, em correspondência com o progresso da Humanidade e de tudo o que lhe concerne.

Os que sucumbem, vitimados por eles, são os que escolheram ou se viram obrigados a passar pela prova de terminarem dessa maneira a existência terrena. É o que igualmente se dá com os que perecem nos incêndios, nos terremotos, pela peste, pela fome, pela guerra, etc., visto que nada se dá por obra do acaso; que tudo tem uma justa razão de ser. A pena de talião, como já tivemos ensejo de mostrar, é uma realidade, do ponto de vista espiritual, para os Espíritos culpados, os quais, amiúde, sentem a necessidade de passar por aquilo que fizeram a outros e então encarnam nas condições apropriadas à satisfação dessa necessidade.

O certo é que tudo segue marcha regular, estabelecida pela onisciência divina, concorrendo tudo para um contínuo progresso, assim de ordem física, como de ordem intelectual e moral. Tudo, pois, em a Natureza, é preparado e conduzido pela ação de Espíritos prepostos à execução dos sábios desígnios de Deus, exercendo-se essa ação de conformidade com as leis naturais e imutáveis que o Supremo legislador do Universo pôs, desde toda a eternidade.

Com o conhecimento perfeito de todas essas leis e com o poder, por assim dizer, divino que possui, em relação ao nosso planeta, a vontade potentíssima de Jesus, o mais graduado daqueles Espíritos, era e foi bastante, para fazer que a tempestade cessasse, o tempo se tornasse de novo calmo e sereno o mar.

Também o homem operará um dia fatos desses, que aos seus olhos ainda assumem as proporções de verdadeiros prodígios, porque grande nele só há o orgulho, causador único da sua extrema fraqueza. Operá-los-á quando, pela elevação dos sentimentos, pelo progresso espiritual, se tornar senhor da ciência do Magnetismo e capaz de praticá-la, sob a influência e o auxílio espíritas, determinando, pelas combinações fluídicas, a atração magnética e todos os demais efeitos decorrentes daquele agente universal. Assim, dia virá em que todos os fatos que presentemente ainda nos maravilham e assombram se nos tornarão familiares. Tal se dará quando houvermos chegado a um alto grau de pureza moral. Ë esta uma verdade, cujo fundamento integral se encontra nas seguintes palavras do divino Mestre: Fareis as obras que eu faço e fareis outras ainda maiores. (João, capítulo 14, versículo 12.)

No estado de inferioridade em que ainda se acha o nosso planeta, as hecatombes, as pestes, a fome e a guerra contribuem para o progresso dos povos, porque são meios de provação e expiação e servem para o desenvolvimento da civilização e da Ciência, de adiantamento moral e intelectual, abrindo ensejos à atividade, à prática do devotamento e da caridade.

São efetivamente flagelos, no sentido de que atingem indistintamente grandes e pequenos; mas, são, principalmente, meios apropriados a lembrar ao homem que todos estamos sujeitos ao poder divino, perante o qual todas as cabeças se encontram à mesma altura. Não devemos, pois, lamentar que tais calamidades se abatam sobre este ou aquele país. Devemos, ao contrário, bendizer do Senhor, “que estende seu flagelo por sobre as massas e pesa na sua balança o valor de seus povos; que manda às nações o progresso e a paz aos homens de boa-vontade”.

Tudo, repetimos, segue marcha regular, objetivando o progresso, assim de ordem física, como de ordem intelectual e moral.

Legião de maus Espíritos expulsos. Libertação dos subjugados. Porcos precipitados no mar (ou lago)

(Mateus, 8:28-3; Marcos, 5:20)

26. Vieram navegando até ao país dos Cerasênios, que fica defronte da Galileia. 27. Ao saltar Jesus em terra, veio ter com Ele um homem que desde muito tempo estava possuído do demônio, que não trazia roupa alguma e que não morava em casa, mas nos sepulcros. 28. Logo que viu a Jesus, se prostrou diante dele e, em altos brados, dizia: Jesus, filho do Deus Altíssimo, que há entre ti e mim? Eu te suplico, não me atormentes. 29. Isso porque Jesus ordenava ao Espírito imundo que saísse daquele homem que, havia muito tempo, era por ele violentamente assaltado. De nada servia prenderem-no com correntes e porem-lhe ferros aos pés; quebrava as correntes e os ferros e era impelido pelo demônio para os lugares ermos. 30. Jesus lhe perguntou: Qual é O teu nome? Ele respondeu: Chamo-me Legião, pois que muitos demônios tinham entrado nele. 31. E esses demônios pediam a Jesus que os não mandasse para o abismo. 32. Como num monte próximo estivesse pastando uma grande vara de porcos, os demônios pediram a Jesus que lhes permitisse entrar nos porcos, o que lhes foi concedido. 33. Saíram então do homem, entraram nos porcos e logo toda a manada correu com impetuosidade a se precipitar no lago e aí se afogou. 34. Vendo isso, os que a guardavam fugiram e foram contar na cidade e nas aldeias o que se passara. 35. De uma e de outras acorreram muitas pessoas a ver o que sucedera e, vindo onde estava Jesus, encontraram o homem que ficara livre dos demônios, sentado a seus pés, vestido e de perfeito juízo, o que os encheu de temor. 36. E os que tinham visto o que se passara lhes referiram como o possesso fora libertado da legião dos demônios. 37. Então, toda a multidão de habitantes do país dos Gerasenios pediu a Jesus que se retirasse dali, por se acharem aterrorizados. Jesus tomou de novo a barca e partiu. 38. O homem de quem os demônios tinham saído suplicava que lhe fosse permitido acompanhá-lo. Jesus, porém, o mandou embora, dizendo: 39. Volta para tua casa; narra o que Deus fez por ti. E o homem foi por toda a cidade, espalhando a notícia do que lhe fizera Jesus. 40. Regressando este, o povo o recebeu com alegria, pois que todos o esperavam.

A subjugação consiste na ação dominadora que o mau Espírito exerce sobre outro Espírito que, por mais fraco, se deixou dominar e aquele sujeita temporariamente à sua vontade.

Para produzir esse efeito, o subjugador atua fluidicamente sobre o outro, encarnado, combinando com os fluídos deste os do seu perispírito, utilizando-se de todos os elementos de mediunidade, que lhe ofereça a organização da sua vítima. Fá-la então sentir a sua presença de todas as maneiras, ouvir, falar, ver e praticar os atos a que lhe apraza impeli-lo, efeitos que a medicina oficial capitula de loucura.

No caso de possessão, o domínio é mais completo. O Espírito obsessor como que se substitui ao do encarnado no seu corpo, donde, por assim dizer, expulsa o outro, para servir-se desse corpo, como se lhe pertencera, ficando a este ligada a vítima, apenas por um cordão fluídico, com o auxílio do perispírito. Combinando os fluídos do seu perispírito com os do perispírito do encarnado, o mau Espírito se introduz no instrumento corpóreo deste último e lhe imprime uma ação que é efeito daquela combinação fluídica. Essa substituição tanto pode dar-se no estado de vigília, como no de sonambulismo do encarnado.

Há ainda um caso excepcional de substituição, caso em que esta se dá voluntariamente, da parte do encarnado, e com permissão dos anjos de guarda, para fim útil, qual o da manifestação de um Espírito obsessor, a fim de ser doutrinado e esclarecido, a benefício seu e de suas vítimas.

Foi nessa condição de possessos de Espíritos maus que dois indivíduos, ou um só, o número pouco importa, se apresentaram a Jesus que, expelindo deles os seus perseguidores, fez que estes se manifestassem visualmente aos porcos, os quais, espavoridos com a visão, debandaram em precipitação tão grande, que foram cair no mar. Os Espíritos obsessores, obedecendo à vontade de Jesus, apenas se fizeram visíveis aos porcos, espantando-os. Não passaram para estes, como disseram os Evangelistas, pela ignorância do que só agora foi revelado a tal respeito, porquanto o perispírito do Espírito não pode atuar fluidicamente sobre o dos animais, por ser impossível a combinação dos respectivos fluídos, uma vez que os princípios não são idênticos.

Ocorre, porém, dizer, que, se bem não possam ser médiuns, na acepção exata do termo, os animais, alguns pelo menos possuem a faculdade da vidência, tanto que se espantam com as visões que têm, prevenindo desse modo o homem da presença do Espírito.

Quanto ao conhecimento dos meios e processos pelos quais se produzem esses fenômenos de visão nos animais, ainda o não podemos ter, porque nos falta o da natureza dos fluídos, de suas propriedades e das combinações de que são passíveis. Nem por isso, entretanto, nos deve importar a incredulidade e a negação dos sábios, dos materialistas, de todos os que se supõem senhores exclusivos da verdade, do bom-senso, da razão e do mundo, que chamam seu. Para firmarmos a nossa crença, na realidade dos efeitos terríveis e formidáveis da ação dos Espíritos inferiores, temos os fatos autenticados pelos Evangelistas, temos a ciência espírita, cujo estudo leva ao conhecimento de tais fatos, temos a nova revelação, que nos veio desvendar os segredos de além-túmulo, temos as manifestações mediúnicas que, cada vez em maior número, se dão por toda a parte, demonstrando o poder, a extensão e as modalidades várias da atuação dos seres do plano incorpóreo sobre os encarnados.

A subjugação, como a obsessão, em geral, é uma expiação, sempre adequada e proporcionada aos crimes e faltas cometidos pelos que a sofrem e a se verificar em condições de despertar a consciência, de ocasionar o remorso e acarretar o arrependimento, que determina o perdão, cujos misericordiosos efeitos sobre o Espírito já tivemos ocasião de apreciar.

A filha de Jairo. A hemorroíssa

(Mateus, 9:18-26; Marcos, 5:21-43)

41. Veio ter com ele então um homem chamado Jairo, que era príncipe da sinagoga e, lançando-se-lhe aos pés, lhe pediu que entrasse na sua casa, 42, dizendo ter uma única filha de cerca de doze anos que estava a morrer. Partiu com ele Jesus, apertado pela multidão. 43. Uma mulher que, havia doze anos, sofria de uma perda de sangue e que gastara com médicos tudo o que possuía, sem que nenhum houvesse conseguido curá-la, 44, se aproximou dele por detrás e lhe tocou a fimbria da túnica, com o que logo o fluxo de sangue cessou. 45. Perguntou então Jesus: Quem me tocou? Como todos negassem ter sido quem o tocara, Pedro e os que o cercavam lhe disseram: Mestre, pois que a multidão te aperta e oprime, como podes perguntar: Quem me tocou? 46. Jesus replicou: Alguém me tocou, porquanto percebi que uma virtude saiu de mim. 47. A mulher, verificando assim não poder ocultar-se, aproximou-se toda tremula e, prostrando-se aos pés de Jesus, declarou diante de todo o povo o motivo por que o tocara e que ficara imediatamente curada. 48. Jesus lhe disse: Filha, tua fé te salvou, vai em paz. 49. Ainda não acabara de falar, chegou alguém e disse ao príncipe da sinagoga: Tua filha morreu; não dês ao Mestre mais incômodo. 50. Mas, ouvindo isso, Jesus disse ao pai da menina: Não temas, tem fé somente e ela será salva. 51. Chegando à casa de Jairo, não deixou que aí entrassem senão Pedro, Tiago e João com o pai e a mãe da menina. 52. Todos a choravam e lamentavam. Ele, porém, disse: Não choreis, ela não está morta, apenas dorme. 53. Zombavam, porém, dele, por saberem que estava morta. 54. Jesus, pegando-lhe na mão, exclamou: Menina, levanta-te. 55. Seu Espírito voltou ao corpo, ela se levantou imediatamente e Jesus mandou que lhe dessem de comer. 56. Os pais da menina se mostraram cheios de espanto e Ele lhes ordenou que não dissessem a ninguém o que sucedera.

Ainda neste caso, o da hemorroíssa, a cura Jesus a operou, como em todos os outros, unicamente pelo poder magnético de que dispunha. Envolto sempre em fluídos vivificantes e reparadores, Ele os distribuía, sempre que oportuno, pelos que de tais fluídos necessitavam.

Foi, em suma, como nos demais, um efeito de combinações fluídicas, que ainda ignoramos, porque ainda não nos achamos capazes de compreender a natureza dos fluídos, seus efeitos e suas propriedades de ação, conhecimento a que só chegaremos, mediante a nossa depuração moral.

Os efeitos curativos que a medicina obtém dos minerais e vegetais de que se utiliza, no tratamento das enfermidades humanas, são devidos aos fluídos, dotados de propriedades terapêuticas, de que se acham saturados os aludidos vegetais e minerais, fluídos idênticos aos que, como inúmeros outros, se acham espalhados na atmosfera terrena, sem que os homens lhes suspeitem a existência. Pois bem, desses mesmos fluídos é que se servia Jesus. Conhecendo-os todos, bem como as combinações de que são passíveis, ele não precisava recorrer às substâncias que os contêm. Pela ação exclusiva da sua vontade, reunia os que eram aplicáveis ao caso ocorrente, lançava-os sobre o enfermo e a cura se operava. Essa a explicação da mulher que, tocando-o, ficou livre do fluxo sanguíneo de que sofria.

Quanto à filha de Jairo, todos a tinham por morta, tanto que à porta da casa estavam flautistas a tocar os seus instrumentos, como era de uso entre os Hebreus e o é ainda nalguns lugares do nosso país, em os quais se costuma tocar música nas casas onde morreu alguém. Aquela morte, porém, era apenas aparente; tratava-se exclusivamente de um desses casos de catalepsia profunda, em que, de par com a suspensão de todos os sentidos e a cessação de todos os movimentos, há rigidez e aspecto cadavéricos, ausência absoluta de pulsações, de respiração e de calor, e tão completa insensibilidade física, que nenhuma impressão causa as mais fortes pancadas. A menina se achava, em suma, num desses estados catalépticos, que nem os mais hábeis profissionais da medicina logram distinguir da morte real.

Vê-se, portanto, que era apenas aparente a sua morte. Embora fosse extremo o desprendimento do Espírito que habitava aquele corpo, ele a este se conservava ligado por um tênue cordão fluídico o do perispírito, coisa que os homens não podem ver e que, na época, ignoravam. Sabia-o, porém, Jesus e, porque o sabia, chamou, com a suprema autoridade que lhe dava a sua excelsitude espiritual, o Espírito da suposta morta, ordenando-lhe que volvesse à sua prisão carnal. E a menina despertou, fato que, como era natural da parte de quantos a tinham por morta, foi considerado uma ressurreição, portanto, um milagre, visto que o julgavam impossível.

Como esse, foram todos os milagres que Jesus operou. Em nenhum houve mais do que um fenômeno absolutamente natural, apenas regido por leis naturais que os homens desconheciam e, na sua generalidade, ainda desconhecem, mas das quais chegarão um dia a ter conhecimento perfeito, tanto que Ele não hesitou em afirmar: Fareis as mesmas obras que eu faço e outras ainda maiores. (JOÃO, 14:12.)

 SAYÃO, Antonio Luiz. Elucidações evangélicas. FEB (e-book).

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