Cura de um hidrópico, em dia de sábado,
na casa de um dos principais fariseus
1.
Tendo Jesus entrado em certo sábado na casa de um dos principais fariseus para
comer, os que lá estavam se puseram a observá-lo. 2. Defronte dele se achava um
homem hidrópico. 3. E Jesus, dirigindo-se aos doutores da lei e aos fariseus,
perguntou: É lícito curar em dia de sábado? 4. Todos guardaram silêncio. Jesus
então, pondo a mão no homem, o curou e mandou embora. 5. Disse-lhes em seguida:
Qual de vós, cujo boi ou jumento que caia num poço, não o tirará daí por ser
dia de sábado? 6. A isto nada puderam responder.
O hidrópico (3) fora levado
à presença de Jesus pelos doutores da lei, pelos escribas e fariseus, para
verem se o apanhavam em culpa, ou por violar o sábado, caso, cedendo aos
piedosos impulsos do seu coração, o curasse naquele dia, ou por faltar à
caridade, se, para guardar escrupulosamente o sábado, não o fizesse. Porém,
Jesus, que lhes lia no íntimo os pensamentos, efetuou a cura, inibindo-os de
formular contra Ele qualquer acusação, mediante as perguntas que lhes dirigiu e
a que eles se viram impossibilitados de responder.
Quanto à cura, o Mestre a
operou, como todas as outras que os Evangelhos registram, pelo poder da sua
vontade, exercendo sobre o doente uma ação magnética, que lhe saturou o
organismo dos fluídos apropriados a restabelecer ali o equilíbrio desfeito.
A hidropisia tem a sua causa num empobrecimento do sangue, cujo quilo diminui, sendo substituído pelas partes aquosas que ele contém, devido isso a uma alteração dos princípios vitais, por efeito de privações ou de excessos.
Bem dirigida, a ação
magnética humana pode deter os progressos dessa decomposição do sangue e mesmo
fazê-la cessar; mas, só com tempo e perseverança, porquanto os instrumentos
ainda não são bastante puros, para não alterarem ou apoucarem, pelo seu
contacto, os fluídos de que possam dispor.
Jesus, magnetizador
perfeito, empregava os princípios curativos em toda a sua pureza e,
conseguintemente, no máximo grau de eficácia.
Não diz o evangelista que a
tumefação produzida pela enfermidade cessou inopinadamente; diz apenas que a
enfermidade foi curada. Significa isso que a causa do mal foi destruída,
restabelecendo-se o equilíbrio como consequência da ação magnética exercida, da
ação dos fluídos de que Jesus impregnara o organismo do enfermo.
O mal chegara a uma de suas
últimas fases e a fraqueza obstava a que o hidrópico fizesse qualquer esforço.
Jesus, entretanto, o mandou embora. É que lhe deu forças, para se retirar, e
esse era o prenúncio da cura visível: a desinchação.
(3) Indivíduo que apresenta
hidropisia, acúmulo anormal de líquido em um tecido, cavidade ou outras
estruturas corporais.
Ocupar o último lugar. Humildade
7. Notando, em seguida, que
os convidados escolhiam os primeiros lugares à mesa, propôs-lhes esta parábola:
8. Quando fores convidado para alguma boda, não tomes o primeiro lugar, para
não suceder que, havendo entre os convidados pessoa de mais consideração do que
tu, 9, aquele que te convidou a ti e a essa pessoa venha dizer-te: Dá a este
esse lugar; e te vejas constrangido a ir, envergonhado, ocupar o último lugar. 10.
Ao contrário, quando fores convidado, vai e toma o último lugar, a fim de que
aquele que te convidou, quando chegar, te diga: Amigo, senta-te mais para cima;
o que será para ti uma glória diante de todos os que contigo estiverem à mesa. 11.
Porquanto, todo aquele que se exalta será humilhado e todo aquele que se
humilha será exaltado.
“Humildade”. Jesus repete
amiúde, sob diversas formas, em ocasiões e lugares diferentes, a lição da
humildade, pois que a humildade é a fonte de todas as virtudes, de todo o
progresso e de toda a elevação moral e intelectual, sendo o orgulho, ao
contrário, o vício mais difícil de desarraigar do coração do homem e a causa
principal dos vícios que degradam o Espírito, assim como das suas quedas e das
perdas que sofre.
Convidar os pobres, os estropiados, os
coxos e os cegos. Desinteresse
12.
Disse também ao que o havia convidado: Quando deres algum jantar ou ceia, não
convides teus amigos, nem teus irmãos, nem teus parentes, nem teus vizinhos
ricos, para não suceder que também eles te convidem por sua vez e assim te
retribuam. 13. Ao contrário, quando deres algum festim, convida os pobres, os
estropiados, os coxos e os cegos. 14. E bem-aventurado serás porque esses não
têm com que te retribuir; Deus é quem te retribuirá na ressurreição dos justos.
15. Ao ouvir essas palavras, disse-lhe um dos que estavam à mesa:
Bem-aventurado aquele que comer do pão no reino de Deus.
Desinteresse! O homem está
sempre propenso a só pensar em si. O mais das vezes, o bem que faz não passa de
um empréstimo, do qual espera auferir largos juros. Esquadrinhe-se a maior
parte dos atos humanos e descobrir-se-á no homem o desejo de ser pago do bem
praticado, seja pelo reconhecimento do beneficiado, seja pelos elogios do
mundo, seja pelo merecimento que julgue adquirir desse modo aos olhos de Deus.
Estes móveis, particularmente o último, podem ser nobres, mas não devem ser
exclusivos.
Nunca, entendamos bem, nunca
devemos cogitar do proveito que possamos tirar de uma boa ação, de um bom
pensamento. Devemos sempre ter por objetivo principal dar testemunho do nosso
reconhecimento ao Senhor.
Efetivamente, que
responderíamos ao nosso filho, que não cumprisse um só de seus deveres para
conosco ou para com seus irmãos ou irmãs, sem nos vir imediatamente dizer:
“Fiz isto; que me darás em
recompensa?” Sem dúvida lhe responderíamos: “A principal recompensa está em
haveres cumprido o teu dever”.
Não nos atenhamos à letra
que mata, busquemos sempre o espírito que vivifica, nas palavras de Jesus. Ele
não pensou em condenar as relações de família, de amizade. Apenas ensinou a
prática do desinteresse, por toda a parte e constantemente, no seio da grande
família humana. Ensinou que os festins da caridade material, que sustenta o
corpo, dando-lhe alimento, vestes e abrigo, assim como os da caridade moral,
que alimenta e desenvolve a alma, devem substituir o luxo, a ostentação e o
orgulho desses festins que se originam do interesse calculado, da vaidade, ou
da sensualidade, nos quais se dissipa o supérfluo devido aos pobres que, material,
moral e intelectualmente, carecem do necessário.
Jesus apropriava sua
linguagem às inteligências de homens materiais, a fim de os abalar e
impressionar fortemente.
“Bem-aventurado serás, disse
Ele, porque os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos não têm com que te
retribuir: Deus é quem te retribuirá na ressurreição dos justos. Ao ouvir isso,
diz o Evangelho, um dos que estavam à mesa disse: Bem-aventurado aquele que
comer do pão no reino de Deus”.
Perfeitamente compreensíveis
são estas palavras. Do ponto de vista humano, aludem aos que participam da vida
feliz dos justos. Para homens materiais, qualquer pensamento se reporta à
matéria. Daí o apresentar-se ao espírito do Judeu a ideia dos festins celestes.
A ressurreição do justo é o
seu regresso à pátria. Aquele, que, durante a sua peregrinação humana, viveu
submisso às vontades do Senhor, será por este recebido, quando voltar à pátria.
Para o Espírito, a ressurreição do justo consiste em libertar-se da necessidade
de volver aos mundos inferiores de provações e expiações; consiste em ascender
a mundos superiores ao nosso.
Parábola das bodas e dos convidados que
se excusam
(Mateus,
22:1-14)
16.
Disse-lhes então Jesus: Um homem preparou uma grande ceia e convidou a muitas
pessoas. 17. A hora da ceia, mandou que um servo fosse dizer aos convidados que
viessem, pois que tudo estava pronto. 18. Todos, como de comum acordo,
começaram a escusar-se. Disse o primeiro: Comprei uma quinta e preciso ir
vê-la; peço-te que me dês por escusado. 19. Comprei cinco juntas de bois e vou
experimentá-las, disse outro. Rogo-te que me dês por escusado. 20. Casei-me,
disse um terceiro, e por isso não posso ir. 21. Voltando o servo, tudo relatou
a seu Senhor. Encolerizado, disse então o pai de família ao servo: Vai já às praças
e ruas da cidade e traze para aqui os pobres e estropiados, os coxos e os
cegos. 22. Disse-lhe depois o servo: Senhor, está feito o que ordenaste e ainda
há lugar para outros mais. 23. Retrucou-lhe o Senhor: Vai por essas estradas e
veredas e aos que encontrares obriga a entrar a fim de que se encha minha casa.
24. Porque, eu vos declaro, nenhum daqueles homens que foram convidados provará
da minha ceia.
Idênticos são o sentido e o
fundamento das parábolas das bodas do filho do rei e da ceia do pai de família.
Ambas exprimem o convite que o Senhor faz às suas criaturas, pelos seus
enviados, para que se regenerem e purifiquem, isto é, para que se limpem das
manchas do pecado, a fim de participarem do festim celeste, que proporciona ao
Espírito adiantar-se, moral e intelectualmente, tornar-se rico de coração e de
inteligência, pela humildade, pelo saber, pela caridade e pelo amor; recobrar a
liberdade de suas faculdades e a de caminhar pela senda do progresso; recobrar
a visão espiritual e ver cada vez mais a luz, avançar com passo firme e em
linha reta para a perfeição, que lhe faculta entrar no palácio eterno, nas
regiões da pureza, nas esferas celestes e divinas e aproximar-se do foco da
onipotência.
Todos são convidados, porque
todos, bons ou maus, sem exceção de nenhum, são filhos, foram criados para o
mesmo fim e têm que participar do banquete de núpcias. Cumpre, porém, que, para
entrarem na sala da festa, previamente dispam suas vestes manchadas, sob pena
de serem rechaçados para as trevas exteriores, isto é, para os planetas
inferiores, para longe das venturosas moradas, onde o Espírito continua a se
depurar, até poder vestir a túnica imaculada.
Dizendo que o rei só
encontrou à mesa um conviva que não trazia a veste nupcial, quis Jesus mostrar,
sob o manto da parábola, que, nos tempos da regeneração, quase todos
compreenderão a felicidade que se lhes oferece. Apenas uma insignificante
minoria se manterá obstinada em resistir aos esforços dos servos de Deus para
lhes vestirem o traje de núpcias, antes que entrem na sala do festim.
O choro e o ranger de dentes
simbolizam as torturas morais na erraticidade e os sofrimentos da encarnação em
mundos inferiores à Terra.
As palavras: “Porque muitos
são os chamados, mas poucos os escolhidos” não se referem unicamente ao que foi
expulso por não estar dignamente vestido. Referem-se também a. todos os que
anteriormente cerraram os ouvidos e o coração à voz que os chamava. Esses
mesmos, porém, sob a ação das leis imutáveis da expiação, do progresso, pelo
renascimento, pelas reencarnações, chegarão à condição de envergarem o traje de
núpcias, para entrarem nos mundos felizes. Vê-se assim que todos os chamados
virão a ser escolhidos, porque dos filhos de Deus nenhum ficará perdido para
sempre.
Ainda não soara a hora de
serem ensinadas abertamente estas coisas, que só a Revelação Espírita, então
futura, tornaria claramente compreensíveis. Muitos séculos era preciso que se
escoassem, para chegar o momento dessa revelação, os dias de hoje, os tempos
preditos da regeneração, que o Espírito da Verdade agora prepara.
Amor da família. Cumprimento do dever
acima de todas as coisas. Paciência e resignação nas provações terrenas
(Mateus,
10:37-39)
25.
Jesus, voltando-se para a multidão que o acompanhava, disse; 26. Aquele que vem
a mim e não odeia a seu pai e a sua mãe, a sua mulher, a seus filhos, a seus
irmãos, a suas Irmãs e até a sua própria vida, não pode ser meu discípulo; 27,
e aquele que não toma sua cruz e me segue não pode ser meu discípulo.
Os santos Evangelhos são o
código, ou a tábua dos preceitos e sentenças do Divino Mestre. Para bem se
conhecerem esses preceitos e sentenças, necessário se faz estudá-los,
interpretando-os, de modo a lhes alcançar o sentido profundo. Para isso, não
basta ter deles a compreensão literal ou gramatical; é preciso pesquisar-lhes
os fundamentos, apreciá-los em conjunto, buscar-lhes o espírito.
Jesus veio dar cumprimento
ao Decálogo e confirmar as profecias que lhe eram relativas. Veio congraçar a
Humanidade, fazendo-lhe ver que os seus membros devem unir-se pela amizade,
pelo afeto, pelo carinho, que produzem a concórdia, pelo amor paterno e filial.
Veio, enfim, mostrar-lhe que a vida real é a do Espírito liberto da escravidão
da matéria, isto é, purificado, e que o Espírito só se depura na adversidade,
que é o crisol das grandes obras.
Ele, portanto, jamais
poderia ter dito o que quer que importasse em condenação do amor da família. O
que, com relação a esta, como a respeito de tudo mais, condenou foi o excesso,
que em todas as coisas prejudica o ser humano e o transvia. É dever do homem
consagrar-se à família e preencher para com esta todas as obrigações que lhe
impõem as leis divinas, cuja síntese é a lei do amor.
Não deve, porém, fazer do
cumprimento dessas obrigações um culto. Não lhe deve sacrificar o amor ao
próximo, nem os interesses superiores e a felicidade real de seus outros irmãos
em Deus, pois que isso seria egoísmo e o egoísmo contravém aos ensinos do Filho
de Deus.
Assim, aquele que, para
agradar a seu pai ou a sua mãe, praticar um ato contrário a esses ensinos não é
digno do Mestre, não pode ser seu discípulo. Essa a lição constante dos
versículos acima, para cuja compreensão cumpre não constituam obstáculo os
termos odiar e aborrecer, porquanto nenhum desses vocábulos traduz com exatidão
a palavra correspondente no texto hebraico, a qual não tem a significação
violenta daquelas outras e carece de equivalente nos modernos idiomas. Além
disso, importa não esqueçamos que Jesus frequentemente usava de expressões
demasiado fortes, para impressionar os Hebreus de então, profundamente
materializados.
Quanto ao ser a vida do
Espírito a única real e, pois, a única digna de apreço e valiosa, a prova
temo-la em que, falando a seus discípulos, o Senhor lhes recomendava que
nenhuma importância dessem à vida do corpo, sempre que lhes fosse mister
sacrificá-la, a bem daquela outra.
A cruz a que aludia, quando
sentenciava que quem não tomar a sua para segui-lo não pode ser seu discípulo,
é a das expiações e das provas necessárias e inevitáveis, por isso que mediante
elas somente é que o Espírito se depura, quando as aceita com humildade,
resignação e, até, reconhecimento, conforme o exemplificou Ele que, aliás, era
justo, inocente e imaculado, que, por conseguinte, nada tinha que expiar, nem
que o tornasse merecedor de qualquer provação.
Dizendo que “aquele que acha
a sua vida a perderá e que aquele que perde a vida por sua causa a achará”, o
Divino Mestre se dirigia especialmente a seus discípulos, para lhes significar
que, dentre eles, o que falisse à sua missão, para conservar a vida humana,
renunciaria ao acabamento da obra, comprometendo, assim, gravemente, a sua vida
espiritual; que, ao contrário, aquele que não recuasse diante da morte e a
sofresse, para levar a cabo a obra, desempenhando a sua missão, teria a vida
eterna.
Tais palavras, entretanto,
podem e devem considerar-se como dirigidas, no mesmo sentido, aos que
posteriormente, em todas as épocas, viessem ou venham a constituir-se
continuadores da alta missão em que se investiram os apóstolos e os discípulos
imediatos do Cristo.
Examinar antes de obrar. Não parar na
estrada do progresso. Não dar apreço aos bens materiais, senão como meio de
fazer caridade
28.
Qual aquele dentre vós que, desejando edificar uma torre, não orça de antemão,
com vagar e calma, a despesa necessária, para saber se tem com que terminá-la, 29,
a fim de que, por não a poder acabar, depois de lhe haver lançado as fundações,
todos os que a vejam entrem a escarnecê-lo, 30, dizendo: Esse homem começou a
construir, mas não pôde acabar? 31. Ou, qual o rei que, tendo de entrar em
guerra com outro rei, não examina antes, com vagar e calma, se pode marchar com
dez mil homens contra o inimigo que vem ao seu encontro com vinte mil? 32. Se o
não pode fazer, manda embaixadores, quando o inimigo ainda está longe, e lhe
apresenta propostas de paz. 33. Assim, pois, aquele dentre vós, que não
renunciar a tudo o que tem, não pode ser meu discípulo.
Antes de enveredarmos por um
caminho novo, precisamos certificar-nos de que dispomos de uma vontade bastante
forte, para percorrê-lo todo; pois, se assim o não fizermos, ficaremos sujeitos
a perder o nosso tempo, o que se dará, desde que paremos hesitantes e
indecisos, sobretudo em se tratando do caminho do progresso.
Em tal caso, preferível é
esperemos, até nos fortalecermos bastante, antes que nos arriscarmos a
tentativas infrutíferas, que amargos pesares nos trarão.
Para caminharmos pela senda
do progresso, que é a da caridade universal, devemos desprender-nos dos bens
materiais, considerando-os simples meio de fazermos o bem e proporcionarmos
alívio aos nossos irmãos que sofrem.
Renunciar a tudo o que
possuímos não quer dizer que devamos esbanjar, pôr fora os nossos bens; mas,
que não lhes devemos criar uma afeição que nos impeça de dar-lhes a aplicação
para que nos foram confiados, isto é, de praticarmos a caridade, condição
essencial de todo progresso, porque sem ela não há salvação.
Sal e luz da Terra. Lâmpada. Nada oculto
que não venha a ser manifesto e nada secreto que não venha a ser conhecido e a
tornar-se público
(Mateus,
5:13-16; Marcos, 9:49)
34. O sal é bom, mas se se
deteriorar, com que se há de temperar? 35. Não servirá mais nem para a terra
nem para a estrumeira, será posto fora. Ouçam os que têm ouvidos de ouvir. Capítulo
8, versículo 16. Ninguém, depois de acender uma lâmpada, a cobre com um vaso ou
a coloca debaixo do leito; põe-na no candeeiro a fim de que os que entrarem
vejam a luz. 17. Porque, nada há oculto que não venha a tornar-se manifesto,
nada secreto que não venha a ser conhecido e a fazer-se público. Capítulo 11,
versículo 33. Ninguém acende uma lâmpada e a coloca em lugar escondido ou
debaixo de um alqueire; coloca-a no candeeiro, a fim de que todos os que
entrarem vejam a luz. 34. Teu olho é a lâmpada do teu corpo; se teu olho é
simples, todo o teu corpo será luzente; mas, se for mau, todo o teu corpo será
tenebroso. 35. Toma, pois, cuidado: não seja treva a luz que está em ti. 36.
Se, portanto, todo o teu corpo for luminoso, sem que haja nele parte alguma
tenebrosa, todo ele luzirá e te iluminará, qual se fora brilhante lâmpada.
Para que se apreenda o pensamento do divino
Mestre neste passo, preciso é se compreendam bem as figuras em que Ele o
envolveu, ou, antes, a comparação de que se serviu para exprimi-lo. O sal,
substância incorruptível e preservadora de toda corrupção, representa aqui o
conhecimento que, da verdade, já o homem possua, por efeito dos ensinamentos
que tenha recebido e que lhe cabe espalhar. Se o sal, porém, perde o sabor, se
fica insípido, de nenhuma utilidade se torna, para nada mais presta, senão para
ser posto fora.
Assim, o homem, ou, de modo
mais geral, ‘o Espírito. Sua moralidade, seu amor a Deus, sua submissão às leis
divinas, sua fiel observância de todos os mandamentos que vêm de Deus e do seu
Cristo, decorrendo tudo isso do aproveitamento daqueles ensinos, são o que lhe
constitui o saber. Se não há esse aproveitamento, se, deixando-se dominar por
maus pendores, o homem perde de vista a meta que lhe cumpre atingir, perde ele
igualmente o seu sabor, passa a ser sal insípido. Desde então, tem que ser
posto fora, o que significa: tem que ser afastado do convívio dos que
conservaram o sabor e submetido, para novamente o adquirir, a sofrimentos e
torturas morais, na erraticidade, adequados àquele efeito e, depois, à
reencarnação na Terra, ou em planetas inferiores a este, onde, por meio das
provas, correspondentes aos seus delitos, se purifique e eleve.
Uma época tem que vir, a da
regeneração humana, em que somente Espíritos bons deverão habitar o nosso
mundo. Nessa época, os que, tendo até então aí encarnado, se conservarem
culpados e rebeldes, estacionários na senda do progresso, serão afastados dele,
“lançados fora”. Irão reencarnar em mundos apropriados às suas condições morais,
onde terão que permanecer, até que se lhes ache vencida a obstinação no mal e a
cegueira voluntária.
De modo particular, as
figuras do sal da Terra, da luz do mundo, da lâmpada que se não deve esconder,
para que possa alumiar e esclarecer, se aplicam aos que se constituem
propagadores de uma parcela da verdade divina, apóstolos de uma revelação vinda
do Alto.
Como divulgá-la, como lhes cumprem,
pela palavra e pelo exemplo, eles se constituem o sal que preserva da corrupção
as almas, a luz que ilumina as consciências, a lâmpada cujo foco atrai os que
anseiam por sair das trevas em que caíram. Assim, os espíritas são, no
presente, ou devem ser, o sal da Terra, a luz do mundo, relativamente à
revelação nova, como os apóstolos e os discípulos do Cristo o foram
relativamente à que ele trouxe à Humanidade.
Dizendo que nada ficaria
oculto, ou desconhecido, Jesus se referia às gerações futuras que, não se
satisfazendo com a letra, haveriam de procurar o espírito e de compreender,
encontrando-o, que Ele, o enviado de Deus, não viera opor barreira à
inteligência humana, ou lhe traçar limites aos esforços; que, ao contrário,
viera alargar-lhe os horizontes e patentear a estrada do verdadeiro progresso
aos Espíritos progressistas.
Se falava por parábolas,
símbolos e figuras, era porque as inteligências de então ainda não estavam
bastante aptas a suportar, se fossem apresentadas sem véus, o peso das
revelações que Ele trazia e que, por isso, velava daquele modo. Chegados,
porém, que são os tempos, tudo tem que ser esclarecido e explicado, se bem que
com as devidas cautelas, porquanto, como bem dizia Moisés, quando recomendava
ao povo de Israel que se não aproximasse muito da sarça ardente, o fogo que nos
aquece também nos queima.
Esse fogo, que abrasava a
sarça e que impedia ao povo hebreu o acesso ao monte onde ele supunha estar
Moisés em comunicação direta com Deus, quando, como grande médium que era,
recebia pela audição as leis constitutivas do Decálogo, esse fogo, que ardia,
mas não consumia a sarça, como se lê em Êxodo (capítulo 3, versículo 2)... e
Moisés via que a sarça ardia sem se consumir , simboliza a purificação dos
culpados por meio da expiação. É o mesmo fogo a que também se refere o
Deuteronômio (capítulo 33, versículo 2), quando diz: “Na sua direita (do
Senhor), vinha a lei do fogo”.
Não se nos estranhe fazermos
frequentes citações da Bíblia, porquanto o Velho Testamento é sem dúvida
subsidiário do Novo. São enxertos, sim, mas da mesma planta, na mesma haste,
para continuação da mesma vida, O Monte Sinai só é visto distintamente, quando
iluminado pelo sol do Evangelho, que, a seu turno, só pode ser bem
compreendido, como desdobramento da lei que irradiou daquelas alturas o
Decálogo. Nesse código está a base de toda a doutrina de Nosso Senhor Jesus Cristo,
que nos deu a conhecer, sob o seu verdadeiro aspecto, o Santo, Santo, Santo, o
Senhor Deus Onipotente de que fala o Apocalipse (capítulo 4, versículo 8).
Essa lei esteve sempre
manifestada ao Espírito, enquanto este se conservou inocente, como saíra das
mãos do Criador, sabendo que a obediência é a vida, que a desobediência é a
morte. Ele desobedeceu, faliu, morreu. Teve que ser, encarnado, sepultado na
terra da expiação e do resgate.
A lei, pois, proclamada no
Sinai, em forma de estatuto, é aquela mesma lei, sempre una e imutável. Como,
porém, o Sinai não tenha bastado para vencer a rebeldia do homem, preciso se
tornou o Calvário. Na pessoa de Moisés, reviveu o Elias que se refugiara no
monte Horeb, para fugir às perseguições de Josabel e que voltou ao mundo para
ouvir os mandamentos do Senhor, no mesmo lugar onde foi promulgada a lei que
vigora até hoje e irá, como o Senhor, “além da eternidade”, na frase do Êxodo
(capítulo 15, versículo 18); ou “até à eternidade e além dela”, como diz
Miqueias (capítulo 4, versículo 5), expressões que bem mostram devermos
distinguir duas eternidades: uma, absoluta; relativa, a outra.
Nada, portanto, terá de
ficar oculto. Chegamos ao tempo em que tudo tem que ser esclarecido, não,
certamente, de modo completo, mas tanto quanto o exija e comporte o nosso
adiantamento.
Não esqueçamos, porém, que,
principalmente, da pureza da nossa consciência é que depende a intensidade da
luz que tudo nos clareará, por isso que dessa pureza é que depende o sermos
bons Espíritos e, conseguintemente, assistidos, inspirados, protegidos e
guiados no conhecimento da verdade, como o são os Espíritos bons. Não
desconheçamos que a Ciência é fonte de luz para o desenvolvimento da nossa
inteligência, fator importante de progresso intelectual. Mas, aproximemo-nos
cautelosos dessa fonte, porquanto, com o ministrar o saber e o poder, a Ciência
raras vezes deixa de inocular no espírito o veneno do orgulho, que é a perdição
do homem.
Conjuguemos devidamente os
dois elementos: moral e ciência, e teremos toda a luz de que necessitarmos e
seremos luz do mundo e sal da Terra.
SAYÃO, Antonio Luiz. Elucidações evangélicas.
FEB (e-book).
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