Aos pais

Pais: cuidem bem de seus filhos, pois amanhã eles serão pais e se lembrarão do que fizeram em benefício deles, fazendo o mesmo para os seus descendentes.

Os deveres dos pais para com os filhos diante da vida são muito grandes, senão dos maiores, durante a sua existência terrena. É importante lembrar que um pai ombreia um peso de responsabilidades bem acima do que muitos julgam como deveres. A tarefa de educar os filhos carece de muita renúncia, de bastante boa vontade e de gigantesco esforço próprio, no sentido de consolidar o ideal dos pais, em plena conexão com os compromissos assumidos no mundo espiritual. Eles se compromissaram com outros Espíritos bem antes de renascerem em seus lares.

Sobrevém, a propósito, a ideia de narrar um fato, que assim ocorreu:

Dois Espíritos entrelaçados por grande amor recíproco no plano espiritual, combinaram renascer na Terra, com imenso empenho de ressarcir dívidas pretéritas, recebendo no lar meia dúzia de almas, dentre as quais uma viria vestir o corpo de carne como missionária de evangelização nas Terras do Cruzeiro; os cinco Espíritos restantes eram atrasados e, certamente, iriam balançar todos os ideais de paz e de alegria dos pais.

No entanto, a primeira filha viria abrir as portas do lar com um esplendor de luzes espirituais e, com seu ingente esforço para fazer o bem a todas as criaturas, compensaria a distonia espiritual dos irmãos. E o casal, após formar seu ninho na Terra, já pressentia a presença dos inimigos desencarnados, que haveriam de receber como filhos do coração, pois eles já se encontravam unidos aos futuros pais, para que se processasse a troca de alguns fluidos, em clima de perdão.

Quase todas as noites, o casal era retirado das formas somáticas para a necessária reconciliação, meios esses que eram tentados há muito tempo, com poucos resultados. Por fim, tomaram a aquiescer em receber os cinco desajustados, conquanto a missionária do amor nascesse também corr. eles. O ambiente foi preparado e a mulher engravidou-se. Com o passar dos tempos os problemas se avolumavam para os recém-casados.

Tomava-se imprescindível compreender que a presença demorada dos cinco Espíritos desajustados no lar perturbava os cônjuges, que mesmo sendo afins em quase todos os pontos de vista, começaram a discutir, a ponto de o ambiente denunciar a falência dos compromissos. O magnetismo ali respirável era do mais baixo teor. O marido estava com medo de desgraças futuras e pensava que, com filhos, ficaria preso à mulher, que começava a detestar. Tomou a resolução de provocar o aborto. Usaria de todos os meios possíveis, pois não queria filhos. A mulher, apavorada, com a consciência a lhe dizer que aquilo era um crime e que a missão maior da mulher é ter filhos, chorava todos os dias, orava a Deus e a Jesus. Pedia a todos os santos que a ajudassem, a fim de que o marido mudasse de opinião.

A mulher falava aos santos com amor e carinho sobre as responsabilidades que o casal assumira ao consorciar-se, chorava, pedindo que, se fosse possível, trocaria a sua vida por aquela que haveria de ser seu filho do coração. E acrescentava nas suas preces: "como matar um ser inocente, sem recursos ao menos para chorar?" E as lágrimas eram derramadas aos borbotões, sem comover seu marido, que se tomara carrasco do seu próprio sangue.

Uma bela noite, o Espírito da missionária, vendo a perda da oportunidade de renascer, encontrava-se no meio do quarto onde o casal dormia de corpos juntos, mas de Espíritos separados, conforme assinalavam os cordões fluídicos dos dois, libertos pelo sono. De joelhos, ela assumiu a posição mais humilde possível e rogou a Jesus a intervenção dos Seus emissários, para que não fosse interceptada a sua oportunidade de retornar ao mundo pela lei da reencarnação, solicitando que fizessem seu futuro pai compreender o erro que iria cometer.

Com alguns minutos de prece, o quarto escuro tomou-se como um dia de claridade celestial, e o Espírito da missionária tomou a forma de uma linda criança que os nossos recursos não conseguem descrever, de tão encantadora. Estendeu as duas mãozinhas para os pais em sono e esses acordaram assustados! A mulher viu, então, a forma divina de um anjinho, falando:

- “Mamãe, eu quero nascer... diga ao papai que não faça isso comigo... eu peço em nome de Jesus... o mesmo direito que foi concedido a vocês, de viver um pouco com a roupa da carne!”.

A mulher, antes impedida de gritar, soltou a voz e deu um grito, avançou para acender a luz, mas a emoção fez com que sua mão perdesse o lugar do acendedor. O Espírito projetou um foco de luz na visão do seu futuro pai, envolveu seu coração acelerado com as duas mãozinhas e deu-lhe um beijo no centro dos sentimentos. O marido não pôde ver o espetáculo, mas sentiu a realidade, não conseguindo dormir mais naquela noite. Quando a mulher narrou o que havia ocorrido, os dois se abraçaram e choraram até alta madrugada, tomando a se amarem mutuamente.

Com pouco tempo mais, nasceu na casa uma linda menina, como o maior instrumento de paz naquele lar.

O lar é uma escola primeira, imprescindível para os primeiros passos da alma no mundo. Todos nós, encarnados e desencarnados, devemos muito ao aconchego familiar, pois ele nos fornece experiências notáveis para a indispensável ascensão. Procuremos, pois, valorizar o lar em que porventura nascemos, dando as mãos aos nossos pais e irmãos como companheiros em busca da felicidade. Quando se forma um lar, por bênção de Deus, o mundo espiritual se encarrega de tutelar o conjunto familiar, seja ele abastado ou paupérrimo. A bondade dos Céus não se esquece de ninguém, dando todo apoio espiritual para que as almas congregadas em arrulhar despertem para a verdadeira paz, para a verdadeira compreensão espiritual.

Todavia, essa assistência obedece a uma relatividade, deixando que as pessoas mesmas decidam o que devem ou não fazer. E é a oração que fornece os melhores meios para os cônjuges sentirem com mais profundidade a realidade da vida, conhecendo mais de perto as leis do Criador o lar que ora, mesmo dentro de certas proporções, é um lar feliz. Pelo processo dá oração, a atmosfera ambiental é sempre renovada e os Espíritos superiores encontram facilidade de auxiliarem com mais propriedade. Os pais materiais de filhos eternos de Deus, que se propuseram a se revestir de corpos de carne, realizam uma tarefa difícil, mas nunca impossível.

Um pai no mundo representa um professor, e os filhos, alunos que seguirão quase sempre os seus passos. Procure dar todo exemplo de homem justo, de homem honesto, de homem cumpridor dos deveres, porquanto talvez sejam seus filhos, retratos fieis dos seus atos. A mente da criança é qual papel em branco e seu campo emocional, estruturalmente jovem, plasma com fulgor aquilo que observa no lar. De certa maneira, eles estão ligados espiritualmente com os pais, recebendo constantemente descargas vibratórias dos seus genitores; essas descargas, sendo boas, farão com que se sintam confortados; se forem más, sentir-se-ão atrofiados no seu mundo psicofísico.

Pais compreendam bem suas tarefas no campo do lar. Em muitos casos, os Espíritos que vão reencarnar por seu intermédio já os acompanham há muito tempo, esperando essa oportunidade. Sejam benevolentes, caridosos e tolerantes. Um desentendimento entre o casal causa grandes danos ao Espírito em preparo para renascer e o ambiente de oração no lar fornece ao candidato à reencarnação uma transfusão de energias superiores. Se quiserem ajudar a seus filhos no equilíbrio e na paz de espírito, comecem a semear essa paz espiritual antes de eles nascerem, corrigindo-se a si mesmos, e servindo-se do exemplo de Jesus, para toda a vida. Se o aborto é um crime para com o Espírito em reajuste, o que será a oportunidade de um anjo renascer? 

Fonte: Cinquenta epístolas, João Nunes Maia, pelo Espírito Miramez. 


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