Jesus cura um cego de nascença
1. Caminhando, viu Jesus um
cego de nascença.
Trata-se
de mais um episódio da vida de Jesus, do qual se podem extrair dois
ensinamentos: há Espíritos tão idealistas que encarnam em condições precárias
para servirem à causa do bem; “o sábado foi feito para o homem e não o homem
para o sábado”, ou seja, os preconceitos devem ser enfrentados e superados para
que o progresso se realize. Jesus quis ensinar essas duas lições.
2. Os seus discípulos
indagaram dele: Mestre, quem pecou, este homem ou seus pais, para que nascesse
cego?
Que
crença mais rigorista: alguém tem sempre de assumir a culpa de algum fato como
as doenças, os sofrimentos! Jesus, por exemplo, arrostou situações adversas
desde seu nascimento sem ter culpa alguma, pois é um Espírito Puro, que nunca
errou. O divino Mestre aproveitou a oportunidade para ensinar essa verdade,
igualmente não perdendo a ocasião para mostrar que as convenções humanas nem
sempre devem prevalecer, como aquela de não poder fazer o bem em determinado dia
da semana, quando o bem deve ser feito sempre e em qualquer lugar. Deus nunca
aprovaria uma justificativa dessa a pretexto de respeitá-lo.
3. Jesus respondeu: Nem este
pecou nem seus pais, mas é necessário que nele se manifestem as obras de Deus.
Jesus
afirmava sempre que as curas e outros prodígios que realizava eram “obras de
Deus”, o qual deveria ser glorificado, e não Ele, Jesus. É importante notarmos
esse detalhe, que faz muita diferença e mostra a verdadeira personalidade de
Jesus, muito diferente do que muitos pensam, tendo-o como “um de nós
melhorado”, quando, na verdade, era totalmente diferente, pois nunca errou e
sempre agia com humildade, desapego e simplicidade absolutos. Com razão, dizia
Emmanuel que, em qualquer tema que diga respeito a Jesus, não temos a mínima
condição de formular uma hipótese e um juízo.
4. Enquanto for dia, cumpre-me terminar as obras daquele que me enviou. Virá a noite, na qual já ninguém pode trabalhar.
As
oportunidades surgem e passam: enquanto temos como fazer o bem, façamo-lo,
porque, daqui a pouco tempo, será tarde!
5. Por isso, enquanto estou
no mundo, sou a luz do mundo.
Jesus
sabia que tinha muito a realizar em pouco tempo.
6. Dito isso, cuspiu no
chão, fez um pouco de lodo com a saliva e com o lodo ungiu os olhos do cego.
A força
magnética de Jesus produziu algum medicamento desconhecido da nossa Ciência.
7. Depois lhe disse: Vai,
lava-te na piscina de Siloé (esta palavra significa emissário). O cego foi,
lavou-se e voltou vendo.
A
cura foi instantânea, qual a do paralítico, narrada linhas atrás.
8. Então os vizinhos e
aqueles que antes o tinham visto mendigar perguntavam: Não é este aquele que,
sentado, mendigava?
O
assombro foi grande: quem conhecia o homem cego de nascença ficou ciente de que
realmente estava curado.
9. Respondiam alguns: É ele.
Outros contestavam: De nenhum modo, é um parecido com ele. Ele, porém, dizia:
Sou eu mesmo.
Alguns
tiveram o desplante de afirmar que não era o cego de nascença, mas alguém
parecido com ele, pois sempre há quem duvide das maiores evidências: são os
Tomés, para quem nenhuma evidência é suficiente.
10. Perguntaram-lhe, então:
Como te foram abertos os olhos?
Veio
então a pergunta previsível: “Como te foram abertos os olhos?”, ou seja, quem
lhe concedeu a cura? Seria mais uma demonstração de que Jesus era o Messias aos
olhos das pessoas de boa fé e um motivo de irritação para os que questionavam
que um homem do perfil de Jesus pudesse ser o Messias esperado, que deveria ser
um arrogante homem de estado e, ao mesmo tempo, um guerreiro, para dar a Israel
a supremacia mundial.
11. Respondeu ele: Aquele
homem que se chama Jesus fez lodo, ungiu-me os olhos e disse-me: Vai à piscina
de Siloé e lava-te. Fui, lavei-me e vejo.
O
número de adeptos e de contraditores aumentava sempre, como sempre acontece
quando se faz o bem. Jesus veio suscitar a reflexão e aqueles acontecimentos
passaram a ser comentados até por aqueles que procuravam nada saber do que
estava ocorrendo na sua cidade e no seu país: a propaganda das “obras de Deus”
aumentava dia a dia. Aquela última cura foi o tema de muitos debates e
reflexões.
12. Interrogaram-no: Onde
está esse homem? Respondeu: Não o sei.
Queriam
vê-lo, conversar com Ele, pedir-lhe alguma coisa. E aquele Espírito idealista
tinha cumprido sua tarefa de servir na propagação do poder de Deus, manifestado
pelo seu Médium, que era Jesus.
Líderes religiosos interrogam o cego
13. Levaram então o que fora
cego aos fariseus.
Os
fariseus tinham de ficar sabendo de mais essa “obra de Deus” realizada por
Jesus, e o souberam.
14. Ora, era sábado quando
Jesus fez o lodo e lhe abriu os olhos.
Pela
segunda vez, Jesus curou em dia de sábado, mais irritando os ortodoxos.
15. Os fariseus indagaram
dele novamente de que modo ficara vendo. Respondeu-lhes: Pôs-me lodo nos olhos,
lavei-me e vejo.
Aquele
homem demonstrava sua superioridade inclusive ao confirmar, perante os
detratores de Jesus, indiretamente, que Ele era o Messias.
16. Diziam alguns dos
fariseus: Este homem não é o enviado de Deus, pois não guarda sábado. Outros
replicavam: Como pode um pecador fazer tais prodígios? E havia desacordo entre
eles.
Não
guardar o sábado era um pecado grave para uns; para outros Jesus, pelo fato de
desobedecer a tradição de guardar os sábados, não poderia ser o intermediário
do poder de Deus. No entanto, o ex-cego afirmava que foi curado por Jesus, com
um medicamento que incluía saliva e lodo.
17. Perguntaram ainda ao
cego: Que dizes tu daquele que te abriu os olhos? É um profeta, respondeu ele.
Mais
complicada ficou a situação para os ortodoxos quando o ex-cego afirmou que
Jesus só poderia ser um profeta, ou seja, um médium de elevada sintonia
espiritual! Jesus veio para despertar os que dormiam o sono do descompromisso
com Deus: as formas que utilizou foram todas as que se fizeram possíveis, pois
nenhuma ovelha poderia permanecer perdida.
18. Mas os judeus não
quiseram admitir que aquele homem tivesse sido cego e que tivesse recobrado a
vista, até que chamaram seus pais.
A
que ponto chegaram os julgadores do caso!
19. E os interrogaram: É
este o vosso filho? Afirmais que ele nasceu cego? Pois como é que agora vê?
Não
havia como negarem mais uma evidência.
20. Seus pais responderam:
Sabemos que este é o nosso filho e que nasceu cego.
Não
havia mais o que fazer, a não ser reconhecer que Jesus era o Messias ou, como
se faz ainda hoje, eliminar a vida de quem passa a ser um motivo de desconforto
para os poderosos do momento.
21. Mas não sabemos como
agora ficou vendo, nem quem lhe abriu os olhos. Perguntai-o a ele. Tem idade.
Que ele mesmo explique.
Os
pais não tinham o estofo moral do ex-cego e procuraram eximir-se de
responsabilidades. Esses são os que retardam o próprio progresso espiritual,
omitindo-se, quando surgem as oportunidades de afirmarem a verdade.
22. Seus pais disseram isso
porque temiam os judeus, pois os judeus tinham ameaçado expulsar da sinagoga
todo aquele que reconhecesse Jesus como o Cristo.
O
temor acomete os apegados aos interesses materiais. Jesus não temia nada,
porque, além de amar a todos, indistintamente, nada tinha a perder, pois o
próprio corpo Ele afirmou poder reconstruí-lo quando quisesse. O amor
incondicional dá a coragem ilimitada enquanto que o desapego também prepara
para qualquer perda, pois se sabe que tudo pertence a Deus. Aquele casal,
todavia, pensava nas conveniências da sua vida horizontal e perdeu a
oportunidade de testemunhar em favor do próprio Governador planetário, médium
de Deus.
23. Por isso é que seus pais
responderam: Ele tem idade, perguntai-lho.
O
evangelista reprovou-lhes a conduta omissiva.
24. Tornaram a chamar o
homem que fora cego, dizendo-lhe: Dá glória a Deus! Nós sabemos que este homem
é pecador.
Pressionaram
o ex-cego a desdizer-se, mas ele, como Espírito Superior, deu seu testemunho em
favor da verdade, como todos devemos fazer.
25. Disse-lhes ele: Se esse
homem é pecador, não o sei... Sei apenas isto: sendo eu antes cego, agora vejo.
Estava
realizada a defesa do médium de Deus: a defesa da verdade, da realidade
inquestionável do fato ocorrido, que, em são consciência, ninguém tinha
condições de negar.
26. Perguntaram-lhe ainda
uma vez: Que foi que ele te fez? Como te abriu os olhos?
Não
queriam reconhecer a verdade do fato e voltaram à carga.
27. Respondeu-lhes: Eu já
vo-lo disse e não me destes ouvidos. Por que quereis tornar a ouvir? Quereis
vós, porventura, tornar-vos também seus discípulos?
O
ex-cego pareceu, no final, responder com uma pitada de ironia àquele
interrogatório tendencioso: “Quereis vós, porventura, tornar-vos também seus
discípulos?...” Era o que mereciam, pela desonestidade na apuração da verdade.
Como julgadores que eram cabia-lhes reconhecer o fato como provado e proferir
sua decisão, assumindo a responsabilidade pelo erro ou acerto que ela
contivesse!
28. Então eles o cobriram de
injúrias e lhe disseram: Tu que és discípulo dele! Nós somos discípulos de
Moisés.
Agredir
verbalmente os que testemunham em favor da verdade é o máximo da injustiça e
foi assim que aqueles julgadores se desmereceram e denegriram o nome da justiça
que representavam.
29. Sabemos que Deus falou a
Moisés, mas deste não sabemos de onde ele é.
Moisés
não estava presente para impedir que lhe usassem o nome respeitável de maneira
tão desonesta! Era apenas um pretexto para justificarem sua própria descrença
em Deus!
30. Respondeu aquele homem:
O que é de admirar em tudo isso é que não saibais de onde ele é, e entretanto
ele me abriu os olhos.
O
ex-cego representou um papel muito mais relevante que muitos discípulos,
expondo a realidade do fato frente à frente com os julgadores do caso. Um
Espírito Superior, que o evangelista fez questão de destacar, para servir de
exemplo para as gerações que se sucederiam.
31. Sabemos, porém, que Deus
não ouve a pecadores, mas atende a quem lhe presta culto e faz a sua vontade.
O
testemunho daquele homem evoluído tornou-se em verdadeira preleção sobre
religiosidade no verdadeiro sentido da palavra.
32. Jamais se ouviu dizer
que alguém tenha aberto os olhos a um cego de nascença.
E
continuou expondo suas reflexões, que incomodavam a consciência defunta
daqueles homens que de religiosidade só tinham a casca.
34. Se esse homem não fosse
de Deus, não poderia fazer nada.
Terminou
por afirmar seu entendimento no sentido do messianato de Jesus.
34. Responderam-lhe eles: Tu
nasceste todo em pecado e nos ensinas? E expulsaram-no.
No
entanto, aqueles falsos religiosos já tinham recebido a semente de Deus, que
iria germinar algum dia. Assim se faz a evolução: os detratores acabam se
tornando adeptos e propagadores quando chega a hora da sua “estrada de
Damasco”.
Jesus revela-se ao cego. Ensina sobre a
cegueira espiritual
35. Jesus soube que o tinham
expulsado e, havendo-o encontrado, perguntou-lhe: Crês no Filho do Homem?
Jesus
o procurou e dialogou com ele, como dois homens de boa fé e sinceros cultores
de Deus, apenas que sendo um caminheiro ainda tentando superar algumas falhas,
mas firme no propósito de servir a Deus e o outro um Espírito Puro como a luz
do Sol. Lindo esse diálogo, que mostra como são os puros de coração.
36. Respondeu ele: Quem é
ele, Senhor, para que eu creia nele?
Queria
encontrar a verdade e indagava como proceder: assim deveriam ter procedido
aqueles que questionavam Jesus, se fossem humildes e bem intencionados.
37. Disse-lhe Jesus: Tu o
vês, é o mesmo que fala contigo!
Tinha-se
realizado um encontro entre o céu e a terra, num abraço de intenso amor à verdade,
que iluminou quilômetros em volta e repercutiu junto ao próprio Pai celestial.
38. Creio, Senhor, disse
ele. E, prostrando-se, o adorou.
Eis
um dos maiores discípulos de Jesus, exemplo a ser seguido por todos os que
querem merecer a denominação de aprendizes do Evangelho.
39. Jesus então disse: Vim a
este mundo para fazer uma discriminação: os que não veem vejam, e os que veem
se tornem cegos.
O
importante é abrir a visão espiritual, através da qual se enxerga o Universo
como uma obra maravilhosa de Deus e as outras criaturas como irmãos e irmãs
muito amados. Jesus não tinha outro sentimento pelos empedernidos no orgulho
que não a compaixão, que o levava sempre a procurar dialogar com eles, para
despertá-los.
Daí
os seguidos relatos do evangelista sobre esses diálogos, onde Jesus saía sempre
com a palma da vitória, não por ter tido melhores argumentos, mas por ter
enxertado em cada um daqueles corações as flores que iriam desabrochar no
porvir. Louvado seja o divino Mestre por seu amor e sabedoria!
40. Alguns dos fariseus, que
estavam com ele, ouviram-no e perguntaram-lhe: Também nós somos, acaso, cegos?
Eram
questionadores, como as crianças que perguntam sobre os porquês de tudo, sem
aguardarem a s respostas. Jesus tinha infinita paciência e lhes respondia às
indagações ansiosas.
41. Respondeu-lhes Jesus: Se
fôsseis cegos, não teríeis pecado, mas agora pretendeis ver, e o vosso pecado
subsiste.
Depois
de terem tido contato com a verdade, não poderiam mais pretextar ignorância
para continuarem errando: nascia na consciência deles a responsabilidade se
continuassem negando o próprio Deus, que diziam representar na Terra.
Fonte:
O Evangelho de João na visão espírita (e-book)
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