Chico, diálogos e recordações – Homenagem aos amigos

Iniciamos o trabalho homenageando Clóvis Tavares, hoje no mundo espiritual. Clóvis é um dos Amigos para Sempre, muito citado por Arnaldo Rocha, em suas recordações.

Reeditando a sua escrita poética, temos a certeza de que, de onde ele está, as suas vibrações de eterno carinho auxiliarão a reabrir os portais da eterna Pedro Leopoldo para todos nós.

“Em nosso pequenino círculo de estudos, junto ao coração amorável e iluminado de nosso querido Chico, um dos temas muitas vezes debatidos foi justamente esse, o da palingenesia, em correlação com os demais ensinos da Codificação Kardequiana. (...)

No estudo desses vários aspectos do carma e da reencarnação, devo consignar aqui: nunca se desviaram nossos colóquios e comentários para a vã curiosidade ou para pesquisas de vidas anteriores, tão ao gosto de confrades desavisados e médiuns inexperientes, em juvenil incensação de vaidades mortas...

Assim como tem acontecido com a mediunidade em geral, o problema da difusão da verdade reencarnacionista tem sofrido o impacto dessa irresponsabilidade que, infelizmente, ainda persiste em certos ambientes doutrinários.

(...)

Quantas lições preciosas sobre ‘carma acumulado’, ‘carma atual’, ‘carma nascente’ em nossos estudos no inesquecível “home circle” de Pedro Leopoldo!...

E assim desfilavam, ante nossos espíritos deslumbrados, os mais luminosos conceitos filosóficos, sábias elucidações evangélicas, exposições a respeito da complexidade da Evolução, sobre o fundamento vivo da experiência milenar da raça humana. A História se nos revelava verdadeiramente como aquela “magistra vitae”, “mestra da vida”, da definição de Cícero.

Heróis sem nome e faraós menfitas, mártires anônimos da fé cristã e vaidosos imperadores romanos, tragédias merovíngias e profetas da Bíblia, almas angélicas e valorosas missionárias em obscuras existências de penúria e dor, grandezas humanas e quedas espirituais, orgulhosos coroados e expiações dolorosas, tronos e misérias – tudo víamos, ouvíamos, sentíamos, aprendíamos, sensibilizados, atônitos muitas vezes, agradecidos sempre...

Em lágrimas do coração, compartilhávamos dos sofrimentos de Inácio de Antioquia e de Simão Pedro, sofríamos a incompreensão de que foi vítima o grande Ario, presbítero de Alexandria, ou assistíamos ao desfecho, nos nossos dias, em panorama de extrema renúncia e sublime humildade, de uma história dolorosa do Ducado de Parma, iniciada no longínquo século XVI...

Ao recebermos – os de nosso humilde grupo – tão grandes bênçãos, não as tínhamos por privilégios injustificáveis. Recebíamos esses favores Espirituais como abençoadas concessões, no melhor sentido jurídico do termo, isto é, a fim de que as exercêssemos ‘por nossa conta e risco, mas no interesse geral”.

Ah! Pedro Leopoldo... quantas saudades!!!

Dessa época em diante, e sempre mais, Pedro Leopoldo se transmudou, na sintonia de sua bonançosa paisagem, para alguns companheiros queridos e para mim, num verdadeiro centro de estudos espirituais, qual modesta Sagres, oculta e abençoada, onde nos preparávamos humildemente, não para glórias de grandes navegações, mas para a descoberta do verdadeiro caminho da evolução, através do exame e da vivência dos sagrados roteiros e dos experimentados portulanos do Evangelho. (...)

Com o querido Chico, percorria suas ruas ou meditávamos em recantos tranquilos, junto ao Ribeirão da Mata ou nas proximidades da Represa.

– Aqui, junto ao Açude, em fins de 1931 – dizia-me o Chico – foi que eu vi Emmanuel pela primeira vez. (...) Foi ali que nosso querido médium se comprometeu com o grande Benfeitor Espiritual a aceitar as três condições exigidas pelo Alto em troca do apoio em favor de sua missão: disciplina, disciplina, disciplina.

Açude do Capão

Nas noites frias de julho ou nas cálidas noites de verão, as pedras das ruas, as abas dos montes, o marulhoso Ribeirão da Mata, os concretos do Açude, ouviam nossas confidencias amigas e eram testemunhas mudas de nossas palestras ou das instruções que, através da inspiração mediúnica de Chico, nos esclareciam ou confortavam... Tudo era poesia, amizade, comunhão espiritual, imaculada alegria. (...)

Reuníamos em casa de André, irmão de Chico, que nos oferecia, após os estudos ou preces, um ‘lanche da madrugada’. Ou na antiga sede do “Luiz Gonzaga”, onde Geni, a viúva de José Xavier (também hoje desencarnada) com muito carinho preparava a mesa da reunião, com a bilha de água que seria magnetizada, papel em abundância e vários lápis devidamente apontados...

Em companhia de Chico, sempre visitávamos enfermos ou lares humildes, onde a chegada do querido médium era festejada com intraduzível alegria. As vezes, demandávamos locais distantes da cidade, como a Lapinha, onde em penúria total vivia aquela sofredora Maria da Conceição que, mais tarde, já desencarnada, em mensagem psicofônica recebida no Grupo Meimei (de Pedro Leopoldo) relataria sua dolorosa experiência, remontando à faustosa corte de Felipe II de Espanha.

Minha alma se transporta a Pedro Leopoldo e tudo recorda: a cidadezinha cercada de montes, as ruas movimentadas ou singelas, as pequeninas praças, a Fábrica de Tecidos, ao lado de modestas residências de operários, com o pátio fronteiro coberto de fiapos de lã e algodão; a ponte Cachoeira Grande sobre o Ribeirão da Mata; os bairros distantes como o Cauê; o Correio de D. Miloca e de D. Cefisa; a entrada arquitetural da Fazenda Modelo, onde os eucaliptos, formando magníficas ogivas, sombreiam a estrada; o lar hospitaleiro de Dr. Rômulo Joviano...

Casa onde Chico Xavier nasceu, em Pedro Leopoldo, MG.

Grande número de pequenos bares em quase todas as ruas. E nosso Chico, grande amigo do café, sempre a parar conosco, muitas vezes atendendo a gentis convites, para saborear o bom cafezinho mineiro...

Impossível esquecer o lar do querido José Cândido, onde funcionou, durante muitos anos, o “Luiz Gonzaga”. O ambiente acolhedor do Grupo Meimei, sob a cuidadosa direção de Arnaldo Rocha, queridíssimo amigo... A nova sede do Grupo Espírita Luiz Gonzaga... construída no local onde se erguia antigamente (e que cheguei a conhecer) a casinha de Maria João de Deus, a bondosa genitora de nosso Chico. Foi nesse lar humilde, modestíssimo, que nasceu Francisco Cândido Xavier. Mais tarde, sob a presidência do Dr. Rômulo Joviano, o Grupo Luiz Gonzaga adquiriu o terreno em que se situava a singela casinha e ali edificou sua nova sede. Numa de suas dependências, uma sala de oração para os médiuns, encontra-se o famoso retrato mediúnico de Emmanuel, trabalho do conceituado pintor mineiro Delpino Filho. Esse compartimento foi, outrora, na velha casinha de João Cândido e Maria João de Deus, o humilde quarto onde, a 2 de abril de 1910, nasceu Francisco Cândido Xavier... E nosso querido Chico, na maravilhosa potencialidade de sua memória mediúnica, qual se fora misterioso ‘arquivo de microfilmes’, recorda-se dos preparativos de sua atual reencarnação, quando era trazido pelos Benfeitores Espirituais, muitas vezes, ao lar humílimo da inesquecível autora de “Cartas de uma Morta”, a bondosa Maria João de Deus...

(...)

E um desfile de almas queridas, na órbita de tantas bênçãos, a começar pela alma boa de Chico Xavier e pela visão agradecida dos Benfeitores Espirituais: o velho João Cândido, José, André, Bita, Luísa, Zina, Maria, Mundico, Geralda, Lucila, Neusa, Cidália, Dorinha, Joãozinho... Professor Cícero Pereira e D. Guiomar, José e Joffre Lellis, Arnaldo Rocha, Oscar Coelho dos Santos e D. Lola, Joaquim Alves, Gonçalves Pereira, Lindolfo Ferreira, Zeca Machado, Geni, Pachequinho, Manuel Ferreira Diniz, “José do S”, os dois Martins, Isaltino Silveira, César Burnier, Rodrigo Antunes, Efigênio Vítor, Dr. Camilo Chaves, Nelson Sbampatto, Jacques Aboab, José Paulo Virgílio...”

Do Amigo para sempre

Clóvis Tavares1.

(1) TAVARES, Clóvis. Trinta Anos com Chico Xavier. IDE, 5a ed. pág. 92 a 96 e 181 a 184.
Fonte:
COSTA, Carlos Alberto Braga. Chico, diálogos e recordações. BH. União Espírita Mineira, 2006.

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