A cultura do apego está
muito presente desde a infância, quando se refere ao pai e a mãe como “meus
pais”. Quando o brinquedo não pode ser compartilhado com o coleguinha porque
ele é “meu brinquedo”. Nas relações afetivas, o outro as vezes é privado da
liberdade e privacidade porque ele é “meu marido/esposa/namorado (a)”. Zíbia
Gasparetto já dizia: ninguém é de ninguém!
O desapego é uma qualidade que muitos buscam desenvolver em suas vidas, pois acreditam que ele é essencial para alcançar a paz interior e a evolução espiritual. Uma perspectiva valiosa sobre o desapego pode ser encontrada na Filosofia Espírita, cujo fundador, Allan Kardec, ofereceu diversas reflexões sobre o tema em suas obras.
Uma dessas reflexões encontra-se na questão 917 em “O Livro dos Espíritos”, sobre como destruir o egoísmo, esse que está arraigado no ser humano que só pensa no interesse próprio.
“De todas as imperfeições
humanas, o egoísmo é a mais difícil de desenraizar-se porque deriva da
influência da matéria, influência de que o homem, ainda muito próximo de sua
origem, não pôde libertar-se e para cujo entretenimento tudo concorre: suas leis,
sua organização social, sua educação. O egoísmo se enfraquecerá à proporção que
a vida moral for predominando sobre a vida material e, sobretudo, com a
compreensão, que o Espiritismo vos faculta, do vosso estado futuro, real e não
desfigurado por ficções alegóricas.”
O Espiritismo como
codificado por Allan Kardec, traz a ideia fundamental da imortalidade da alma e
da reencarnação. Através desses princípios, Kardec nos convida a considerar o
desapego de uma maneira única e profunda. Abaixo citações extraídas do livro “O
Evangelho Segundo o Espiritismo” afim de elucidar os tópicos e trazer
compreensão do processo que levará o indivíduo a verdadeira felicidade.
1.
Desapego aos bens materiais: Allan Kardec enfatiza que a
verdadeira riqueza está na evolução espiritual, não na acumulação de bens
materiais. Ele nos lembra que ao desapegar-nos das preocupações excessivas com
a posse material, podemos abrir espaço para o crescimento espiritual e para o
auxílio aos outros.
“sabei contentar-vos com
pouco. Se sois pobres, não invejeis os ricos, porquanto a riqueza não é
necessária à felicidade. Se sois ricos, não esqueçais que os bens de que
dispondes apenas vos estão confiados e que tendes de justificar o emprego que
lhes derdes, como se prestásseis contas de uma tutela.”
2.
Desapego em relação às paixões e vícios: Kardec também nos adverte
sobre a importância de nos desapegarmos das paixões e vícios que podem
prejudicar nosso progresso espiritual. Ele nos encoraja a cultivar virtudes
como a humildade, a caridade e a paciência.
“Toda a moral de Jesus se
resume na caridade e na humildade, isto é, nas duas virtudes contrárias ao
egoísmo e ao orgulho. Em todos os seus ensinos, Ele aponta essas duas virtudes
como as que conduzem à eterna felicidade: “Bem-aventurados”, disse, “os pobres
de espírito”, isto é, “os humildes, porque deles é o Reino dos Céus;
bem-aventurados os que têm puro o coração; bem-aventurados os que são brandos e
pacíficos; bem-aventurados os que são misericordiosos”.
3.
Desapego aos sentimentos negativos: O mestre espírita nos
lembra que o ressentimento, o ódio e a raiva são sentimentos que nos afastam da
luz espiritual. O desapego emocional nos permite perdoar, compreender e
encontrar paz interior.
“Reconciliai-vos o mais
depressa possível com o vosso adversário, enquanto estais com ele a caminho,
para que ele não vos entregue ao juiz, o juiz não vos entregue ao ministro da
justiça e não sejais metido em prisão. Digo-vos, em verdade, que daí não
saireis, enquanto não houverdes pago o último ceitil.”
4.
Desapego em relação ao ego: Kardec nos convida a transcender o ego,
reconhecendo nossa interconexão com todos os seres. O desapego do ego nos ajuda
a compreender que somos parte de um todo maior e a agir com amor e compaixão.
“Amar o próximo como a si mesmo:
fazer pelos outros o que quereríamos que os outros fizessem por nós”, é a
expressão mais completa da caridade, porque resume todos os deveres do homem
para com o próximo.”
5.
Desapego à ansiedade pelo futuro: A crença na reencarnação
nos ensina que a vida é uma jornada contínua e de muitos aprendizados. O
desapego em relação à ansiedade pelo futuro nos permite viver o presente com
gratidão e confiança no plano divino.
“Coragem, amigos! Tendes no
Cristo o vosso modelo. Mais sofreu Ele do que qualquer de vós e nada tinha de
que se penitenciar, ao passo que vós tendes de expiar o vosso passado e de vos
fortalecer para o futuro. Sede, pois, pacientes, sede cristãos. Essa palavra
resume tudo.”
O Espiritismo trazido por
Allan Kardec oferece uma abordagem espiritualmente enriquecedora ao conceito de
desapego. Ele nos convida a refletir sobre o que realmente importa em nossa
jornada espiritual e a soltar as amarras que nos impedem de crescer e evoluir.
O desapego não é um ato de renúncia, mas sim um caminho para a verdadeira
liberdade espiritual e felicidade.
Que possamos, através do
entendimento desses princípios, buscar o desapego como um meio de crescimento
espiritual e de contribuição para um mundo mais harmonioso e amoroso.
Ajustar as velas é preciso
para que ao sair do leme com o seu barco você tenha certeza de onde estava e
para aonde irá. Daqui nada se leva, a não ser o bem praticado, o amor doado.
Não deixe que o apego mine
sua razão de viver, vida essa que quando bem vivida deixa a certeza de que foi
feito o que se podia com o que se tinha em determinados momentos, tornando
assim a partida mais branda quando olharmos para trás.
A vida é sobre o que se leva
e não sobre o que se deixa, pensemos nisso!
Letra Espírita, por Ludmila
de Almeida Rosa.
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