Hamas

O Hamas, oficialmente conhecido como Movimento de Resistência Islâmica é uma organização política e militar sunita islâmica que governa a Faixa de Gaza nos territórios palestinos. Embora tenha sua sede na Cidade de Gaza, também tem presença na Cisjordânia (o maior dos dois territórios palestinos), onde seu rival secular, o Fatah, exerce controle. Hamas é amplamente considerado a "força política dominante" nestes territórios.

Hamas é uma organização política e militar palestina fundada em 1987 por Ahmed Yassin, um imã e ativista palestino. Surgiu a partir de um grupo chamado Mujama al-Islamiya, estabelecido em Gaza em 1973 como uma instituição de caridade religiosa associada à Irmandade Muçulmana egípcia. Ao longo dos anos, o Hamas se envolveu cada vez mais no conflito israelense-palestino; no final da década de 1990, foi contra as Cartas de Reconhecimento mútuo Israel-Palestina da Organização para a Libertação da Palestina, bem como os Acordos de paz de Oslo, nos quais o Fatah renunciou "ao uso de terrorismo e outros atos de violência" e reconheceu Israel em busca de uma solução de dois estados. O Hamas continuou a advogar pela resistência armada palestina. Em 2006, venceu as eleições legislativas palestinas, obtendo maioria no Conselho Legislativo Palestino. Posteriormente assumiu o controle da Faixa de Gaza após uma guerra civil com a Fatah em 2007. Desde então, tem governado Gaza como um estado autocrático de fato e de partido único.

Sob os princípios ideológicos do islamismo, o Hamas promove o nacionalismo palestino, tem seguido uma política de jihad (luta armada) antissionista contra Israel. Ele possui uma ala de serviços sociais, Dawa, e uma ala militar, as Brigadas Izz ad-Din al-Qassam. O governo do Hamas implementou mudanças que aumentaram a influência da lei islâmica na Faixa de Gaza. Desde meados da década de 1990, o Hamas ganhou ampla popularidade na sociedade palestina devido à sua postura anti-israelense. Os ataques do grupo, incluindo atentados suicidas contra alvos civis e ataques com foguetes, levaram muitos acadêmicos e países a classificarem o Hamas como uma organização terrorista. Em 2018, as Nações Unidas tentaram condenar o Hamas por “atos de terror”, embora tenham falhado nesta tentativa.

Atualmente, a Faixa de Gaza governada pelo Hamas, encontra-se sob bloqueio. Ao longo do tempo, Israel e o grupo travaram uma série de guerras, incluindo um conflito em 2008-09, em 2012 e em 2014. Na guerra de 2023, o Hamas lançou a "Operação Al-Aqsa Flood", onde seus combatentes romperam a barreira de Gaza, atacaram bases militares israelitas e levaram civis e soldados como reféns para Gaza. O ataque foi descrito como o maior revés dos militares israelenses desde a guerra de 1973. Em resposta, Israel iniciou o seu bombardeamento aéreo de Gaza e anunciou a sua intenção de destruir o Hamas. A União Europeia e os EUA condenaram os ataques e apelaram para eliminação do Hamas.

História

Origens

Quando Israel ocupou os Territórios palestinos em 1967, os membros da Irmandade Muçulmana não participaram ativamente da resistência, preferindo focar em reformas sociais, religiosas e na restauração dos valores islâmicos. Essa perspectiva mudou no início da década de 1980 e as organizações islâmicas tornaram-se mais envolvidas na política palestina. A força motriz por trás dessa transformação foi o xeique Ahmed Yassin, um refugiado palestino de Al-Jura. De origens humildes e tetraplégico, ele se empenhou para se tornar um dos líderes da Irmandade Muçulmana em Gaza. Seu carisma e convicção lhe trouxeram um grupo leal de seguidores, dos quais ele, como tetraplégico, dependia para tudo, desde alimentá-lo até transportá-lo para eventos, para comunicar sua estratégia ao público. Em 1973, Yassin fundou a organização de caridade social-religiosa al-Mujama al-Islamiya ("Centro Islâmico") em Gaza como um desdobramento da Irmandade Muçulmana.

As autoridades israelenses nas décadas de 1970 e 1980 mostraram indiferença ao al-Mujama al-Islamiya. Eles o viam como uma causa religiosa menos militante contra Israel do que a Fatah e a Organização para a Libertação da Palestina; muitos também acreditavam que os conflitos entre organizações islâmicas e a OLP levariam ao enfraquecimento desta última. Assim, o governo israelense não interveio em conflitos entre a OLP e forças islâmicas. Oficiais israelenses discordam sobre o quanto a indiferença governamental (ou até mesmo apoio) a essas disputas contribuiu para o aumento do islamismo na Palestina. Alguns, como Arieh Spitzen, argumentaram que "mesmo que Israel tivesse tentado deter os islamistas mais cedo, ele duvida que poderia ter feito muito para conter o Islã político, um movimento que se espalhava pelo mundo muçulmano". Outros, incluindo o oficial de assuntos religiosos de Israel em Gaza, Avner Cohen, acreditavam que a indiferença à situação alimentava o aumento do islamismo, afirmando que era "uma criação e um fracasso de Israel". Outros atribuem o aumento do grupo a patrocinadores estatais, incluindo o Irã.

Em 1984, Yassin foi preso depois que os israelenses descobriram que seu grupo estava reunindo armas, mas foi libertado em maio de 1985 como parte de uma troca de prisioneiros. Ele continuou a expandir o alcance de sua organização de caridade em Gaza. Após sua libertação, ele estabeleceu o al-Majd (um acrônimo para Munazamat al-Jihad wa al-Da'wa), liderado pelo ex-líder estudantil Yahya Sinwar e Rawhi Mushtaha, encarregado de lidar com a segurança interna e caçar informantes locais dos serviços de inteligência israelenses. Ao mesmo tempo, Yassin ordenou ao ex-líder estudantil Salah Shehade que estabelecesse o al-Mujahidun al-Filastiniun (Lutadores Palestinos), mas seus militantes foram rapidamente detidos pelas autoridades israelenses e tiveram suas armas confiscadas.

A ideia do Hamas começou a tomar forma em 10 de dezembro de 1987, quando vários membros da Irmandade Muçulmana se reuniram no dia seguinte a um incidente em que um caminhão do exército israelense colidiu com um carro em um posto de controle em Gaza, matando 4 trabalhadores palestinos. Eles se encontraram na casa de Yassin e decidiram que também precisavam reagir de alguma forma à medida que os tumultos e protesto desencadearam a Primeira Intifada. Um panfleto emitido em 14 de dezembro, pedindo resistência, é considerado sua primeira intervenção pública, embora o nome Hamas em si não tenha sido usado até janeiro de 1988. Yassin não estava diretamente ligado à organização, mas deu sua bênção a ela. Em uma reunião com a Irmandade Muçulmana jordaniana em fevereiro de 1988, esta também deu sua aprovação. Para muitos palestinos, isso significava se envolver de forma mais autêntica com suas expectativas nacionais, já que o manifesto fornecia uma versão islâmica dos objetivos originais da OLP, a luta armada para libertar toda a Palestina, em vez do compromisso territorial tímido ao qual a OLP havia concordado - um pequeno fragmento do Mandato Britânico da Palestina.

Criar o Hamas como uma entidade distinta da Irmandade Muçulmana foi uma questão de praticidade; a Irmandade Muçulmana recusou-se a envolver-se em violência contra Israel,[108] e sem participar da intifada, os islamitas da Irmandade temiam perder o apoio para seus rivais, a Jihad Islâmica Palestina e a OLP. Eles também esperavam que, mantendo suas atividades militantes separadas, Israel não interferisse em seu trabalho social

A Primeira Intifada

O primeiro ataque do Hamas contra Israel ocorreu na primavera de 1989, quando o grupo sequestrou e matou Avi Sasportas e Ilan Saadon, dois soldados israelenses Na época, Shehade e Sinwar estavam cumprindo pena em prisões israelenses e o Hamas havia criado um novo grupo, a Unidade 101, liderada por Mahmoud al-Mabhouh, cujo objetivo era sequestrar soldados. A descoberta do corpo de Sasportas desencadeou, nas palavras de Jean-Pierre Filiu, "uma resposta israelense extremamente violenta": centenas de líderes e ativistas do Hamas, incluindo Yassin, que foi condenado à prisão perpétua, foram presos e o Hamas foi proibido. Essa detenção em massa de ativistas, juntamente com uma nova onda de prisões em 1990, desmantelou o Hamas que devastado, foi forçado a se adaptar; seu sistema de comando foi regionalizado para tornar sua estrutura operacional mais difusa e minimizar as chances de ser detectado.

Após o massacre de al-Aqsa em outubro de 1990, no qual fiéis muçulmanos tentaram impedir extremistas judeus de colocar uma pedra fundamental para o Terceiro Templo no Monte do Templo e a polícia israelense usou munição real contra palestinos no complexo de al-Aqsa, matando 17 pessoas, o Hamas intensificou sua campanha de sequestros. O Hamas declarou todo soldado israelense como alvo e convocou uma "jihad contra o inimigo sionista em todos os lugares, em todas as frentes e por todos os meios".

Em dezembro de 1992, Israel respondeu ao assassinato de um policial de fronteira exilando 415 membros do Hamas e da Jihad Islâmica para o sul do Líbano, que na época estava ocupado por Israel. Lá, o Hamas estabeleceu contatos com o Hezbollah, com palestinos que viviam em campos de refugiados e aprendeu a construir bombas suicidas e para carros. Israel acompanhou as deportações impondo um toque de recolher de duas semanas na Faixa de Gaza, causando um déficit de receita diário de US$ 1.810.000 para sua economia. Os deportados foram autorizados a retornar nove meses depois. A deportação provocou condenação internacional e uma resolução unânime do Conselho de Segurança da ONU condenando a ação. Em retaliação pela deportação, o Hamas ordenou dois atentados com carros-bomba.

O primeiro atentado suicida do Hamas ocorreu em um acesso a cidade de Mehola, na Cisjordânia, em abril de 1993, usando um carro estacionado entre dois ônibus que transportavam soldados. Além do terrorista, a explosão matou um palestino que trabalhava em um assentamento próximo. O projeto da bomba tinha falhas, mas o Hamas logo aprenderia a fabricar bombas mais letais.

As ações do Hamas na Primeira Intifada aumentaram sua popularidade. Em 1989, menos de três por cento dos palestinos em Gaza apoiavam o Hamas. Em outubro de 1993, esse número aumentou para 13%, ainda aquém dos 45% de apoio que o Fatah desfrutava entre os palestinos nos territórios ocupados.

Os anos após o Acordo de Oslo

Em fevereiro de 1994, Baruch Goldstein, um colonizador judeu vestido com uniforme militar, assassinou 29 muçulmanos durante as orações na Mesquita de Ibrahimi em Hebron, na Cisjordânia, durante o mês do Ramadã. Outros 19 palestinos foram mortos pelas forças israelenses nos tumultos que se seguiram. O primeiro-ministro israelense Yitzhak Rabin condenou o massacre, mas temendo um confronto com a violenta comunidade de colonos em Hebron, ele se recusou a retirá-los. O Hamas jurou vingar as mortes e anunciou que, se Israel não fizesse distinção entre "combatentes e civis", seria "forçado... a tratar os sionistas da mesma maneira. Tratar igual com igual é um princípio universal."

O massacre de Hebron teve um profundo efeito na militância do Hamas. Durante seus primeiros sete anos, o Hamas atacava apenas o que considerava "alvos militares legítimos", ou seja, soldados israelenses e instalações militares. No entanto, após o massacre, o grupo sentiu que não precisava mais fazer distinção entre alvos militares e civis. O líder da Irmandade Muçulmana na Cisjordânia, xeique Ahmed Haj Ali, mais tarde argumentou que "se não fosse pelo massacre de 1994 na Mesquita de Ibrahimi, não haveria ataques suicidas". Al-Rantisi, em uma entrevista em 1998, afirmou que os ataques suicidas "começaram após o massacre cometido pelo terrorista Baruch Goldstein e se intensificaram após o assassinato de Yahya Ayyash". Musa Abu Marzouk atribuiu a escalada aos israelenses: "Éramos contra atacar civis... Após o massacre de Hebron, decidimos que era hora de atacar os civis de Israel... nós oferecemos parar se Israel fizesse o mesmo, mas eles rejeitaram essa oferta."

Em 6 de abril, um terrorista suicida explodiu seu carro em um ponto de ônibus lotado em Afula, matando oito israelenses e ferindo 34. Uma semana depois, um palestino se detonou em um ônibus em Hadera, matando mais cinco israelenses e deixando 30 feridos. O Hamas reivindicou a responsabilidade por ambos os ataques. Os ataques podem ter sido planejados para interromper as negociações entre Israel e a OLP sobre a implementação do Acordo de Oslo. Em outubro de 1994, uma bomba em um ônibus no centro de Tel Aviv matou 22 pessoas e feriu outras 45.

Em dezembro de 1995, o Hamas prometeu à Autoridade Palestina (AP) cessar as operações militares. No entanto, isso não aconteceu, pois o Shin Bet assassinou Ayyash, o líder de 29 anos das Brigadas al-Qassam, em 5 de janeiro de 1996, usando um celular preparado com uma armadilha dada a Ayyash por seu tio, que trabalhava como informante. Cerca de 100.000 habitantes da Faixa de Gaza, aproximadamente 11% da população total, participaram de seu funeral. O Hamas retomou sua campanha de ataques suicidas, que havia estado inativa por boa parte de 1995, em retaliação ao assassinato.

Embora os ataques suicidas das Brigadas al-Qassam e de outros grupos tenham violado os acordos de Oslo de 1993 (que o Hamas se opunha), Arafat relutava em perseguir os agressores e talvez não tivesse meios adequados para fazê-lo.

Enquanto os palestinos estavam acostumados à ideia de que seus jovens estavam dispostos a morrer pela luta, a ideia de que eles se explodiriam com explosivos amarrados aos corpos era um desenvolvimento novo e pouco apoiado. Uma pesquisa realizada em 1996, após a onda de atentados suicidas realizados pelo Hamas em retaliação ao assassinato de Ayyash por Israel, mostrou que a maioria, 70%, era contra essa tática, e 59% pediam que Arafat tomasse medidas para evitar mais ataques. No cenário político, o Hamas continuava muito atrás de seu rival Fatah; 41% confiavam em Arafat em 1996, mas apenas 3% confiavam em Yassin.

Em 1999, o Hamas foi banido na Jordânia, supostamente em parte a pedido dos Estados Unidos, Israel e da Autoridade Palestina. O Rei Abdullah da Jordânia temia que as atividades do Hamas e de seus aliados jordanianos colocassem em risco as negociações de paz entre a Autoridade Palestina e Israel, e acusou o Hamas de envolver-se em atividades ilegítimas dentro da Jordânia. Em meados de setembro de 1999, as autoridades prenderam os líderes do Hamas, Khaled Mashal e Ibrahim Ghosheh, quando retornaram de uma visita ao Irã, acusando-os de serem membros de uma organização ilegal, armazenar armas, conduzir exercícios militares e usar a Jordânia como base de treinamento. Os líderes do Hamas negaram as acusações. Mashal foi exilado e momentaneamente se estabeleceu em Damasco, na Síria, em 2001. Como resultado da guerra civil na Síria, ele se distanciou do regime de Bashar al-Assad em 2012 e mudou-se para o Catar.

Segunda Intifada

Durante a Segunda Intifada, também conhecida como Al-Aqsa, ao contrário do levante anterior, começou de forma violenta, com manifestações em massa e táticas letais de contra-insurgência por parte de Israel. Antes dos incidentes em torno da visita de Ariel Sharon ao Monte do Templo, o apoio palestino à violência contra os israelenses e ao Hamas era de 52% e 10%, respectivamente. Em julho do ano seguinte, após quase um ano de conflito intenso, pesquisas indicaram que 86% dos palestinos endossavam a violência contra os israelenses, e o apoio ao Hamas havia aumentado para 17%.

As Brigadas al-Qassam foram um dos muitos grupos militantes que realizaram ataques militares e atentados suicidas contra alvos civis e militares israelenses durante esse período. Nos anos seguintes, quase 5000 palestinos e mais de 1100 israelenses foram mortos. Embora tenha havido um grande número de ataques palestinos contra israelenses, a forma mais eficaz de violência dos palestinos foram os ataques suicidas; nos primeiros cinco anos da intifada, um pouco mais da metade de todas as mortes israelenses foram vítimas de ataques suicidas. O Hamas foi responsável por cerca de 40% dos 135 ataques suicidas nesse período.

De acordo com Tristan Dunning, Israel nunca respondeu às ofertas repetidas do Hamas ao longo dos anos para um moratório de ataques contra civis. Israel participou de vários períodos de calma (tadi'a) e propôs diversos cessar-fogos. Em janeiro de 2004, o líder do Hamas, Ahmed Yassin, antes de seu assassinato, afirmou que o grupo encerraria a resistência armada contra Israel por um hudna de 10 anos, em troca de um estado palestino na Cisjordânia, Faixa de Gaza e Jerusalém Oriental, e que a restauração dos "direitos históricos" dos palestinos (relacionados à expulsão e fuga dos palestinos em 1948) "seria deixada para as gerações futuras". Suas opiniões foram rapidamente ecoadas pelo alto funcionário do Hamas, Abdel Aziz al-Rantissi, que acrescentou que o Hamas imaginava uma "libertação faseada". A resposta de Israel foi assassinar Yassin em março, em um ataque aéreo israelense direcionado, e depois al-Rantisi em um ataque semelhante em abril.

Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre.


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