Perguntam
algumas pessoas: Ensinam os Espíritos qualquer moral nova, qualquer coisa
superior ao que disse o Cristo? Se a moral deles não é senão a do Evangelho, de
que serve o Espiritismo? Este raciocínio se assemelha notavelmente ao do califa
Omar, com relação à biblioteca de Alexandria: “Se ela não contém, dizia ele, mais
do que o que está no Alcorão, é inútil. Logo deve ser queimada. Se contém coisa
diversa, é nociva. Logo, também deve ser queimada.” Não, o Espiritismo não traz
moral diferente da de Jesus. Mas, perguntamos, por nossa vez: Antes que viesse
o Cristo, não tinham os homens a lei dada por Deus a Moisés? A doutrina do
Cristo não se acha contida no Decálogo? Dir-se-á, por isso, que a moral de
Jesus era inútil?
Perguntaremos,
ainda, aos que negam utilidade à moral espírita: Por que tão pouco praticada é
a do Cristo? E por que, exatamente os que com justiça lhe proclamam a sublimidade,
são os primeiros a violar-lhe o preceito capital: o da caridade universal? Os
Espíritos vêm não só confirmá-la, mas também mostrar-nos a sua utilidade
prática. Tornam inteligíveis e patentes verdades que haviam sido ensinadas sob
a forma alegórica. E, justamente com a moral, trazem-nos a definição dos mais
abstratos problemas da psicologia. Jesus veio mostrar aos homens o caminho do
verdadeiro bem. Por que, tendo-o enviado para fazer lembrada Sua lei que estava
esquecida, não havia Deus de enviar hoje os Espíritos, a fim de a lembrarem
novamente aos homens, e com maior precisão, quando eles a olvidam, para tudo
sacrificar ao orgulho e à cobiça? Quem ousaria pôr limites ao poder de Deus e
traçar-Lhe normas? Quem nos diz que, como o afirmam os Espíritos, não estão
chegando os tempos preditos e que não chegamos aos em que verdades mal
compreendidas, ou falsamente interpretadas, devam ser ostensivamente reveladas
ao gênero humano, para lhe apressar o adiantamento? Não haverá alguma coisa de
providencial nessas manifestações que se produzem simultaneamente em todos os
pontos do globo? Não é um único homem, um profeta quem nos vem advertir. A luz
surge por toda parte. É todo um mundo novo que se desdobra às nossas vistas.
Assim como a invenção do microscópio nos revelou o mundo dos infinitamente
pequenos, de que não suspeitávamos; assim como o telescópio nos revelou milhões
de mundos de cuja existência também não suspeitávamos, as comunicações
espíritas nos revelam o mundo invisível que nos cerca, nos acotovela
constantemente e que, à nossa revelia, toma parte em tudo o que fazemos. Decorrido
que seja mais algum tempo, a existência desse mundo, que nos espera, se tornará
tão incontestável como a do mundo microscópico e dos globos disseminados pelo
espaço. Nada, então, valerá o nos terem feito conhecer um mundo todo; o nos
haverem iniciado nos mistérios da vida de além-túmulo? É exato que essas
descobertas, se se lhes pode dar este nome, contrariam algum tanto certas ideias
aceitas. Mas, não é real que todas as grandes descobertas científicas hão
igualmente modificado, subvertido até, as mais correntes ideias? E o nosso
amor-próprio não teve que se curvar diante da evidência? O mesmo acontecerá com
relação ao Espiritismo, que, em breve, gozará do direito de cidade entre os
conhecimentos humanos.
As comunicações com os seres de além-túmulo deram em resultado fazer-nos compreender a vida futura, fazer-nos vê-la, iniciar-nos no conhecimento das penas e gozos que nos estão reservados, de acordo com os nossos méritos e, desse modo, encaminhar para o espiritualismo os que no homem somente viam a matéria, a máquina organizada. Razão, portanto, tivemos para dizer que o Espiritismo, com os fatos, matou o materialismo. Fosse este único resultado por ele produzido e já muita gratidão lhe deveria a ordem social. ele, porém, faz mais: mostra os inevitáveis efeitos do mal e, conseguintemente, a necessidade do bem. Muito maior do que se pensa é, e cresce todos os dias, o número daqueles em que ele há melhorado os sentimentos, neutralizado as más tendências e desviado do mal. É que para esses o futuro deixou de ser coisa imprecisa, simples esperança, por se haver tornado uma verdade que se compreende e explica, quando se veem e ouvem os que partiram lamentar-se ou felicitar-se pelo que fizeram na Terra. Quem disso é testemunha entra a refletir e sente a necessidade de a si mesmo se conhecer, julgar e emendar.
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