O ferrador Michel François,
que vivia no fim do século XVII, dirigiu-se ao intendente de Provence e lhe
anunciou que um espectro lhe aparecera e ordenara que fosse revelar ao Rei Luís
XIV certas coisas consideradas as mais importantes e as mais secretas.
Mandaram-no para a corte no
mês de abril de 1697. Dizem uns que ele falou ao rei; outros, que o rei se
recusou a vê-lo.
O que é certo,
acrescenta-se, é que em lugar de o mandarem para a prisão, deram-lhe dinheiro
para a viagem, isenção de talha e de outros impostos reais.
1. (Evocação).
─ Aqui estou.
2. ─ Como soube que lhe
desejamos falar?
─ Como fazeis esta pergunta?
Não sabeis que estais rodeados de Espíritos, que avisam àqueles com quem
desejais falar?
3. ─ Onde estava quando nós o chamamos?
─ No espaço, pois ainda
estou errante.
4. ─ Está surpreendido de
encontrar-se entre pessoas vivas?
─ Absolutamente. Encontro-me
muitas vezes entre pessoas vivas.
5. ─ Lembra-se da sua
existência em 1697, ao tempo de Luís XIV, quando era ferrador?
─ Muito confusamente...
6. ─ Lembra-se da revelação
que queria fazer ao rei?
─ Lembro-me que tinha uma
revelação a fazer-lhe.
7. ─ E fez essa revelação?
─ Sim.
8. ─ Disse-lhe que um
espectro lhe havia aparecido e ordenado que fosse revelar certas coisas ao rei.
Quem era o espectro?
─ Era o seu irmão.
9. ─ Quer dizer o nome?
─ Não. Vós me compreendeis.
10. ─ Era ele o homem
designado pelo apelido de Máscara de Ferro?
─ Sim.
11. ─ Agora que já estamos
muito distanciados daqueles tempos, poderia dizer-nos qual era o objetivo
daquela revelação?
─ Era exatamente de
informá-lo da sua morte.
12. ─ Da morte de quem? Do
irmão dele?
─ É claro.
13. ─ Que impressão causou
ao rei a sua revelação?
─ Um misto de tristeza e de
satisfação. Aliás, isto ficou provado pela maneira como que ele me tratou.
14. ─ Como o tratou ele?
─ Com bondade e afabilidade.
15. ─ Dizem que uma coisa
semelhante aconteceu a Luís XVIII. Sabe se isto é verdade?
─ Creio que houve qualquer
coisa parecida, mas não estou bem informado.
16. ─ Por que aquele
Espírito o escolheu para tal missão, sendo você um homem obscuro, em vez de
escolher um personagem da corte, que poderia acercar-se do rei mais facilmente?
─ Eu fui encontrado em seu
caminho, dotado da faculdade que ele queria encontrar e que era necessária, e
ainda porque um personagem da corte não seria capaz de fazer com que aceitassem
a revelação. Teriam pensado que tivesse sido informado por outros meios.
17. ─ Qual era o fim dessa
revelação desde que o rei estaria necessariamente informado da morte de seu
irmão, antes de sabê-la por seu intermédio?
─ Era para fazê-lo refletir
sobre a vida futura e sobre a sorte a que se expunha e realmente se expôs. Seu
fim foi manchado por ações com as quais supunha garantir um futuro que aquela
revelação poderia tornar melhor.
Revista espírita — Jornal de
estudos psicológicos, dezembro 1859.
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