ESPERANÇAS
E CONSOLAÇÕES
CAPÍTULO
II - PENAS E GOZOS FUTUROS
Paraíso,
inferno e purgatório
1014. Como se explica que
Espíritos, cuja superioridade se revela na linguagem de que usam, tenham respondido
a pessoas muito sérias, a respeito do inferno e do purgatório, de conformidade
com as ideias correntes?
“É
que falam uma linguagem que possa ser compreendida pelas pessoas que os interrogam.
Quando estas se mostram imbuídas de certas ideias, eles evitam chocá-las muito
bruscamente, a fim de lhes não ferir as convicções. Se um Espírito dissesse a
um muçulmano, sem precauções oratórias, que Maomé não foi profeta, seria muito
mal acolhido.”
a) - Concebe-se que assim
procedam os Espíritos que nos querem instruir. Como, porém, se explica que,
interrogados acerca da situação em que se achavam, alguns Espíritos tenham
respondido que sofriam as torturas do inferno ou do purgatório?
“Quando são inferiores e ainda não completamente desmaterializados, os Espíritos conservam uma parte de suas ideias terrenas e, para dar suas impressões, se servem dos termos que lhes são familiares. Acham-se num meio que só imperfeitamente lhes permite sondar o futuro. Essa a causa de alguns Espíritos errantes, ou recém-desencarnados, falarem como o fariam se estivessem encarnados. Inferno pode traduzir por uma vida de provações, extremamente dolorosa, com a incerteza de haver outra melhor; purgatório, por uma vida também de provações, mas com a consciência de melhor futuro. Quando experimentas uma grande dor, não costumas dizer que sofres como um danado? Tudo isso são apenas palavras e sempre ditas em sentido figurado.”
Linguagem dos espíritos
A linguagem dos Espíritos
Superiores se realiza de acordo com as necessidades do momento, no tocante à
elevação dos que perguntam. Eles não violentam mente alguma, no entanto, de
tempos em tempos as revelações vão tomando caráter mais verdadeiro para que a
verdade se mostre como o sol.
A Doutrina dos Espíritos,
revelação mais adiantada, retirou muitos véus que encobriam aspectos da
verdade, tornando as mentes dos encarnados mais aguçadas e predispostas ao
desconhecido. Mesmo os Espíritos mais elevados costumam fazer afirmações que se
parecem com ensino de outras organizações religiosas, dependendo de quem os
interroga. Mas, agora, no seio da luz, da chave de conhecimentos que descem do
céu à Terra, a verdade vem sem a capa da letra. Os Espíritos falam mais
claramente, mas, se entre os próprios espíritas há quem refugue e combata
determinadas revelações, quanto mais entre os que desconhecem a Doutrina!
Os Céus, porém, conhecem as
posições dos seres humanos e têm tolerância para com eles, porque esses
contraditores, ao se desencarnarem, deparam com a realidade, chorando e pedindo
para reparar o que fizeram. Eles sempre têm essa oportunidade. Assim, surge a
luz, pelos esforços de quem desejava apagá-la no passado.
Observa na Terra: mesmo
grandes medianeiros esforçam-se para limpar o que fizeram contra as
comunicações dos Espíritos. O exemplo maior foi o apóstolo Paulo: de perseguidor,
passou a ser perseguido, experimentando na carne o que fez aos outros. Vamos mostrar-te
um exemplo: se porventura os Espíritos falassem claramente aos judeus que
Moisés experimentou instantes nas regiões purgatórias, sofrendo por seus
deslizes, eles aceitariam? Isto chocaria seus princípios e eles entrariam em
perturbação. Por isso determinadas revelações não podem ser ditas claramente, a
não ser para Espíritos já preparados para ouvi-las.
Somente depois que o poço
está pronto é que a água aparece. Devemos ter muito cuidado no ouvir e dizer
aos outros. Estamos em planos que muitos estão acima de nós, com os mesmos
cuidados. O evangelista narra: Então lhes disse: Atentai no que ouvis. Com a
medida com que tiverdes medido vos medirão também, e ainda se vos acrescentará.
(Marcos, 4:24)
A lei é para todos nós, em
qualquer faixa que ocupemos. Deus é justiça. Aos doentes, devemos ter os
cuidados próprios de enfermos; aos ignorantes, haveremos de ter cuidados para
não turvar mais suas mentes acerca da sabedoria. A natureza regula tudo na
vida, de modo a chegar a todas as criaturas na diferenciação do estado
espiritual de cada uma.
Existem muitas comunicações
de Espíritos que falam do inferno e do purgatório, no entanto, isto ocorre por
falta de conhecimentos e mesmo de recursos de linguagem para descrever o que se
passa com eles. Mas, os benfeitores da eternidade, conhecedores de todas as
leis e da verdade, vêm retificando as revelações, aprimorando-as.
Fonte:
O livro dos
Espíritos. Allan Kardec. Tradução de Guillon Ribeiro. FEB, DF.
Filosofia espírita. Psicografada por João Nunes Maia/Miramez. Fonte viva, Belo Horizonte. 10 volumes.
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